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LEILÃO SOLIDÁRIO


Localizado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, o projeto Faixa Preta de Jesus assiste 400 jovens e mostra, através da luta, a capacidade da criança em se opor ao adversário, combatendo as adversidade com determinação e fazendo florescer uma força interior.

Comovido com a causa, o craque Neymar doou duas camisas e um par de chuteiras autografados para serem leiloados. Vale destacar que o valor arrecadado será revertido para o projeto que, no total, já atendeu cerca de 25 mil jovens nesses dez anos de existência.

O “Leilão Solidário” em prol da instituição vai até o dia 15 de dezembro e, para participar, os interessados deverão se cadastrar no site (https://leiloar.net/cadast), se habilitar para o leilão e inserir seus lances. Visto pelos colecionadores e amantes do futebol como verdadeiras relíquias, as camisas e a chuteira são do tempo que o atleta jogava no Barcelona. Toda a ação será realizada com apoio da Piraquê, do Museu da Pelada e da Leiloar.net.

Além do leilão, você pode ajudar de diversas maneiras, basta entrar em contato e começar a fazer a diferença. 

     Nova Iguaçu
     Instituto Brasil
     Avenida Roberto Silveira 1050
     Centro – Nova Iguaçu
     Rio de Janeiro
     Telefone: (021) 3488-5928

LUAN E A ARTE DE UMA MUSA

por Rubens Lemos


A sensualidade do toque de Luan ao fazer o gol do Grêmio na final da Libertadores lembrou-me a beleza mediterrânea e sem exageros da atriz Dina Sfat, diva dos meus tempos de menino. Luan entrou sem pedir permissão aos argentinos do Lanus com a classe de Dina Sfat efeitiçando Francisco Cuoco em alguma novela dos anos 1970. O Museu da Pelada é nostalgia requintada e a beleza dos pés encantadores de Luan e o sorriso de esfinge-mulher de uma musa sem silicones ou botox.

Luan e Dina, um belo par de exuberância simples. Dina Sfat jamais exagerou em erotismos grosseiros nas tramas de Janete Clair, a mulher que prendia o país sem truculência nos idos da Ditadura. Suas novelas mantinham famílias inteiras sentadas e imóveis à espera do desfecho do mistério, da consumação do romance impossível, da maldade desmascarada do canalha-mor vivido por José Lewgoy.

O futebol é arte em roteiros imprevisíveis. Luan fez dos seus toques, a expectativa de milhões pelo florescer afirmativo de um craque. Autêntico e puramente brasileiro, sem obediências teóricas ou esquemáticas. Luan fez renascer dos velhos corações ávidos e mendicantes da arte, o brilho que surge de uma interpretação de verdade.

Dina Sfat, a musa discreta e edificada de charme, partiu em 1989, aos 50 anos, de câncer, 14 anos antes de Luan brotar, de uma manjedoura certamente tricolor, para repetir em campo a técnica primorosa de uma artista no palco. Luan, menino que tem Jesus no sobrenome, elevou as nuvens o futebol bonito, livre e cenográfico. Especial tanto quanto Dina Sfat, na capacidade única de construir finais felizes em cada último capítulo da vida.

O SALVADOR DA PÁTRIA

por Sergio Pugliese


O temporal desabou sem aviso prévio e encurralou Roberto Carlos no terreno onde plantava árvores frutíferas. Em minutos, poças se formaram, barreiras caíram e o lamaçal cobriu os principais acessos à área. A única saída para alcançar a estradinha principal era arriscar-se numa pirambeira, escalar um muro, abrir trilhas com a enxada, proteger-se dos raios, ultrapassar duas cercas de arame farpado e uma muralha de bananeiras. Homem do campo experiente, superou os obstáculos. Na pista, avistou um, dois, três, quatro carros entrando num sítio vizinho. Porto seguro, imaginou! Sem preocupar-se com possíveis cães de guarda, invadiu o local. Trôpego e guiado pelos gritos “é feito de açúcar?”, “futebol é para macho!” e “quantos faltam?”, Roberto Carlos acreditou ser miragem aqueles vultos tocando bola num campo totalmente encharcado e ainda sob chuva intensa.

— Estava fraco, podia ser fruto de minha imaginação — recordou, na divertida resenha, pré-pelada, da rapaziada do Águias FIR (Fraternidade, Igualdade e Respeito), no Sítio do Rogério, em Vargem Grande.

João do Muquiço não foi, mas chegaram o parceirão Preguiça; Caê, da Banda Brasil; Guerreiro, segundo-tenente do Corpo de Bombeiros; Seu Acácio, de 71 anos; Dudu; Jacaré; Ronaldo Fernandes, presidente da Unido das Vargens; Baiano; César; Valdir; Roni; Mazinho; Tchola; Claudio; Elias; Badu; Lobo e Junior. O ortopedista Paulo Amaral aproximou-se da rodinha e não acreditou que a história de Roberto Carlos estava sendo contada novamente. São anos e anos ouvindo a mesma ladainha. Mas é bom demais! O ouvidor de nossa equipe, Reyes de Sá Viana do Castelo, explicou que precisava de mais detalhes.

— Continua, Roberto Carlos! — incentivou Mirunga, artilheiro das multidões.

— Pega uma enxada ali, Serginho, vamos deixar a história mais real — sugeriu Rogério Appelt, o dono do sítio, da bola e da pelada, ao lado de Paulista, o fiel escudeiro.

— Reconstituição fica mais caro — avisou Roberto Carlos.

Mas ele foi em frente e, segurando uma enxada e um ancinho, relembrou seus primeiros momentos no sítio invadido, na verdade o Sítio do Waldyr, em Vargem Grande. Saudoso Waldyr! Após esfregar os olhos e constatar que o grupo de marmanjos ensopados não era miragem, caminhou em busca de uma marquise. Numa varanda coberta, apoiou a enxada e a foice, e viu alguns atletas tirarem par ou impar e outros pagarem a mensalidade. Os raios maltratavam as árvores e assustariam qualquer ser humano normal. Mas peladeiro não é normal.

— Na divisão dos times, notaram que faltava um — contou Roberto Carlos.

E, automaticamente, todos os pescoços voltaram-se para ele, um desconhecido! Mesmo totalmente enlameado e abatido, ninguém perguntou se precisava de ajuda, mas em qual posição jogava.

— Lateral direito — respondi.

E jogou! Até hoje, 15 anos depois, Roberto Carlos faz parte da rapaziada. A pelada começou há 30 anos, no Iate Clube Guanabara, na Ilha; de lá, foi para o Sítio do Waldyr; depois, para o Tio Patinhas; e, agora, está no Sítio do Rogério, quarta, à tarde. Os amigos pulam de galho em galho, mas não se desgrudam e arrastam as histórias com eles. Os causos, lendas ou não, ajudam a temperar o churrasco do Bira, a adoçar o refresco de goiaba do Serginho, a afinar o cavaco do Márcio e a manter viva e jovem a memória do Águias FIR.

Texto publicado originalmente na coluna A Pelada Como Ela É, do Jornal O Globo, em 26 de fevereiro de 2014.

TRICAMPEÃO, TRICOLOR, TRILEGAL!

por Mateus Ribeiro


O Grêmio conquistou a Copa Libertadores da América pela terceira vez. Um feito gigantesco, construído por um time sólido, focado, e comandado por uma pessoa que já era um monstro, e que agora se tornou uma lenda: Renato Portaluppi, também conhecido como Renato Gaúcho, como queiram.

Todos sabemos que o Imortal foi, é, e sempre será um dos times mais copeiros do Brasil. A mais nova conquista continental reforça essa teoria, e credencia o Tricolor como um dos únicos tricampeões da Libertadores, ao lado de São Paulo e Santos. Vale ressaltar, que ao lado do Santos, o Grêmio é o único brasileiro a conquistar a América em solo argentino.

O tricampeonato já seria digno de toda e qualquer honra, mas existe algo a ser louvado: as apostas de Renato e da diretoria. A começar pela própria contratação de Renato, que não estava entre os mais cotados no mercado, mas que sempre possui uma identificação gigantesca com o Grêmio. Indo na contramão da nova onda, Renato debochou na cara de toda essa geração “estudiosa”, que tenta transformar o futebol em um cálculo da Nasa. É óbvio, claro e evidente que Renato estuda (e muito) futebol. O ponto central reside no fato dele não precisar ficar de cinco em cinco minutos falando nas entrevistas como se fosse um físico nuclear. Com seu jeito falastrão, foi comendo pelas beiradas, e dando ao Tricolor dos Pampas um padrão tático de dar inveja.


Sobre as contratações, nomes como Bruno Cortês, Léo Moura, Edílson, Cícero, Fernandinho e Jael (O Cruel) estavam longe de ser primeiras opções nas listas de transferências de outros clubes no início do ano. O Grêmio resolveu investir. Deu muito certo. Como esquecer as atuações do critiado Edílson nas semifinais? Como apagar da memória o gol no primeiro jogo da final, na improvável assistência de Jael para Cícero?

Posso afirmar, com toda a certeza, que a conquista do Grêmio é uma vitoria do futebol brasileiro. Renato e seus (ótimos) jogadores mostraram para o Brasil todo que não é necessário gastar rios de dinheiro em jogador supervalorizado, ou que é necessário ser contaminado pelo vírus Guardiola. “Basta apenas” se focar e jogar futebol. E o Gêmio fez isso melhor do que qualquer outro adversário que encontrou no meio do caminho.

Desde Marcelo Grohe até Barrios, todos os jogadores cumpriram muito bem seus papéis. Desde os milagres de Grohe até o golaço de Luan na final, tudo foi perfeito nessa campanha.

O Grêmio é um campeão legítimo, gigante e digno de todas as honras.

Parabéns a todos os torcedores, que deram show, do primeiro até o último minuto. Parabéns para todos os jogadores, desde os consagrados, como Geromel e Luan, até os mais desacreditados, casos dos citados Cícero, Jael, Cortês, Léo Moura, Edílson, Fernandinho e Cícero, que tornaram esse sonho possível.


E o que dizer de Renato? O ÚNICO BRASILEIRO a conquistar a Copa Libertadores como jogador e treinador. Se Renato já merecia um busto, agora merece uma estátua. Você pode o chamar de marrento, fanfarrão, arrogante, usar o termo que desejar. Mas DEVE o respeitar. Tal qual o Tricolor, você também é um imortal agora, Renato.

Comemore, torcedor gremista. Que seja a pé, de carro, de avião. Vá até onde for, venha o que vier, mas esteja com o Grêmio, onde ele estiver.

Hoje, está no topo da América. Que daqui algumas semanas, esteja no topo do planeta. E aí sim, depois que o conquistarem, vocês podem acabar com o planeta.

Parabéns, Grêmio, por mais um capítulo em sua gigantesca historia!

Essa é a homenagem do Museu da Pelada para todos vocês!

POSIÇÃO INGRATA

por Mauro Ferreira


Que posiçãozinha da peste essa de goleiro. Convivi com muitos, fui um deles, mesmo que em peladas pouco concorridas. E, mesmo em peladinhas de rua, sei o que acontece quando você é o responsável pela derrota de seu time. O mundo em volta cai; todos os olhos, até aquele único do pirata caolho, viram-se em silenciosa acusação. Enquanto isso, a memória, essa senhora de personalidade ambígua, esquece todas aquelas outras vezes em que distribuiu adjetivos elogiosos para santas defesas impossíveis. Aliás, a igreja católica jamais irá canonizar goleiros. Fosse assim, Gordon Banks, Iachin, Marcos, Grohe, Mazurckiewisck, Fillol e outros tantos teriam sido santificados.

Goleiros não curam doenças, não apaziguam dores, não diminuem sofrimentos, não salvam vidas. Enfim, não fazem milagres. Jamais serão santos. E muito menos serão paredes, ou qualquer anteparo capaz de evitar que os gols aconteçam. Goleiros não serão muralhas. Mas o Muralha é goleiro, é atleta de futebol, é gente. Só não deveria permitir a transformação do apelido em nome de referência. Muralha – e nenhum outro goleiro – será uma muralha.


Alex Roberto, o Muralha, poderia ser só Alex. Não levaria nas costas a responsabilidade imensa do apelido. É um grande goleiro, foi convocado, por muitas vezes eleito o melhor em campo. Hoje, o peso do apelido, aliado ao peso das críticas, dos xingamentos da torcida e da pecha de frangueiro, diminuiu sua velocidade, seus reflexos, sua autoestima e extinguiu sua liderança entre os jogadores.

Mas há conserto. Basta treinar, jogar e conviver com um divã durante um tempo. Precisa deixar de se achar uma muralha, precisa abandonar o apelido e ser o Alex. Assim. Só Alex. Sem penteados moicanos, sóbrio, atento, rápido e, principalmente, ciente de que irá sofrer gols e irá falhar. E, para esse conserto dar certo, é necessário que jogue. Jogue o próximo jogo, o próximo, o próximo e o próximo. Sua cidadela, saiba ele, será transposta. Afinal, o Alex não é muralha. Jamais será. Mas é, sim, um ótimo goleiro.