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PALPITES DO MATEUS: ANÁLISE DO GRUPO B

por Mateus Ribeiro


Chegou a vez do Grupo B da Copa do Mundo ser analisado. Desse grupo sairão os adversários dos classificados do Grupo A.

Temos um grupo um pouco mais forte que o primeiro, porém, um tanto quanto previsível, já que apenas Espanha e Portugal possuem camisa e tradição suficientes para passar de fase. Apesar do futebol ser uma caixa de surpresas, não dá para esperar o contrário.

Chega de conversa furada, e vamos para a análise.

Grupo B: Portugal, Espanha, Marrocos e Irã


Portugal:

A Seleção Portuguesa é uma das únicas do planeta a contar com um talento individual capaz de mudar a história de uma partida. Estamos falando de Cristiano Ronaldo. Entretanto, sempre é bom relembrar que uma andorinha só não faz verão. Pode se justificar que na Euro 2016, Portugal saiu com o caneco. Mas não custa relembrar que os gajos se classificaram aos trancos e barrancos, e que em mundiais Cristiano Ronaldo mostrou que dificilmente os portugueses podem almejar alguma coisa maior do que passar de fase, exceto pela Copa de 2006, quando o jovem não era o monstro que é hoje.

Possivelmente passe de fase com certa tranquilidade, restando saber se em primeiro ou segundo no grupo, com a resposta saindo do confronto com a Espanha.


Espanha:

Depois do fracasso em 2014, e de uma renovação, a Espanha pinta correndo por fora. Bons valores como Isco e Morata vão se juntar aos já veteranos Sergio Ramos, Iniesta, Busquets e o polêmico Diego Costa, o que garante uma estrutura muito forte. Após uma campanha tranquila nas Eliminatórias, os espanhóis foram beneficiados com uma chave de certa forma fraca, visto que Portugal não costuma complicar muito quando encontra seus vizinhos da Península Ibérica.

Passa de fase tranquilamente, e dependendo dos confrontos,  pode chegar na semifinal fugindo de alguma pedreira. Se chegar, briga pelo título.


Marrocos:

Marrocos quebrou uma maldição. Das Seleções que enfrentaram o Brasil em 1998 (além do Marrocos, Escócia e Noruega), nenhuma se classificou para nenhum Mundial, até os africanos quebrarem a escrita. O principal destaque de Marrocos é o defensor Benatia, que atua pela Juventus. A defesa, aliás, parece ser o principal trunfo dos marroquinos, que passaram pelas Eliminatórias Africanas sem sofrer gols.

Talvez seja pouco para enfrentar adversários mais tarimbados, mas serve de alento para que consigam uma campanha melhor do que o décimo primeiro lugar em 1986. Porém, a expectativa é que consigam apenas fazer uma primeira fase digna.


Irã:

Uma das primeiras seleções a garantir vaga na Rússia em 2018, o Irã passou pelas Eliminatórias de maneira invicta. Pela primeira vez, disputará duas Copas em sequência. Vale lembrar que em 2014, fizeram um jogo duríssimo contra a Argentina, e só perderam a partida no fim, com um chutaço de Messi. Da mesma forma que Marrocos, porém, a boa campanha pode não ser suficiente.

Sonha da mesma maneira que os marroquinos, mas provavelmente fique com os africanos na primeira fase, visto que o grupo é complicado, e a falta de um talento individual certamente será um grande problema.

Palpite:

Espanha passa em primeiro, Portugal em segundo. Marrocos em terceiro, e Irã, último colocado, voltam pra casa mais cedo.

Semana que vem voltamos com os palpites do Grupo C. Um abraço!

MEDIDA CERTA

por Sergio Pugliese


Naquela noite Bebezão não dormiu, trocou o sono pelo choro compulsivo. Madrugada inesquecível, longa e dolorosa. A imagem da bola na trave e as expressões decepcionadas dos amigos martelavam impiedosamente sua mente. Era a chance de virar herói, mas os 151 quilos literalmente pesaram na precisão da finalização do shoot out, espécie de disputa de pênaltis em movimento usada nos torneios de Futebol 7.

— Não conseguia fazer as atividades que mais gostava e decidi emagrecer a qualquer custo — lembrou, emocionado.

E veio de Banha, goleiro adversário na fatídica partida, uma dica para Bebezão mudar de atitude. No fim do jogo, Piratas desclassificado, Banha, do Realeza Futebol Samba, ficou tão incomodado com o choro do jovem de 25 anos que se aproximou dele e indicou o Projeto Facão, programa de recondicionamento físico tocado pelo amigo Guido. Leandro Santos da Costa, hoje com 27 anos, nasceu no Hospital Italiano, no Grajaú, e desde então vem enfrentando o fantasma dos quilões a mais. A mãe, Dona Inês, já tentou de tudo: dietas rigorosas, nutricionistas, natação, futebol e terapia.

— A ansiedade me quebra. Quando brigo com a minha mãe, por exemplo, como descontroladamente — confessou.

Desde que perdeu o gol da classificação do Piratas, Bebezão sumiu do mapa. Ficou chateado pelo amigo Thiago, dentista e craque do time, que o incentivou a participar do shoot out. Determinado, ligou para o Projeto Facão e marcou o primeiro treino, no Grajaú. De cara, uma agradável surpresa: Guido Ferreira, o treinador, era o seu grande ídolo do Futebol 7, considerado um dos três melhores jogadores do Brasil. Em seguida, mais alegria: Ricardinho Ahmed, outro cracaço admirado por Bebezão, era aluno do projeto.

— Pensei que fosse um sonho! Eles me inspiram, me incentivam e me encarnam quando não cumpro as tarefas — contou, feliz da vida.

Guido emocionou-se com a história de Bebezão, cria do Morro do Andaraí, e o liberou do pagamento, com uma condição: dedicação total. Viraram pai e filho. Não é raro Guido vasculhar a mochila do aluno e encontrar pacotes de Bono e Goiabinha. Quando isso acontece, no final do treino Bebezão é vetado da pelada, vira árbitro e apita o jogo. Numa boa, sem ressentimentos. Em menos de um ano perdeu 24 quilos e no mês que vem iniciará uma nova série de treinamentos.

— Ele virou amigo da rapaziada e o levamos para festas. Assim fica mais fácil de controlá-lo — comentou Ricardinho.

Impossível não ser fisgado pela simpatia e o carisma de Bebezão. Aluno de Fisioterapia da Gama Filho, treina três vezes por semana no Projeto Facão e nos dias de folga sempre dá um jeito de encontrar-se com Guido, seu porto-seguro. Sonha ter a ginga de Ricardinho e o drible seco de Guido, batizado de Facão e pesadelo dos zagueiros Maurição do Cangaço, Kadu do Empréstimo e Leão.

— Pode anotar aí, eu ainda chego ao nível desses monstros — prometeu para Guilherme Careca Meireles, fotógrafo da coluna e especialista em facões, garfos e colheres.

No domingo passado, Bebezão deu mostras da nova fase. Liberado por Guido, jogou a pelada de confraternização do projeto, marcou três gols e pediu música, de Betinho Cantor, ídolo da galera: “O Rio de Janeiro tá maneiro, tá macio, o Rio é mundial..”. No terceiro, uma pintura, viu o goleiro Kayron adiantado e mandou por cima. Golaço! Emoção geral! Claro, buscou Guido na torcida e correu em sua direção.

O objetivo era saltar no colo do mestre, agradecer-lhe por tudo, mas Guido, precavido, amor à coluna, preferiu esquivar-se dos 127 quilos, proteger-se atrás da muralha de amigos e esperar Bebezão afinar mais um pouquinho para encarar de frente esse enorme gesto de amor.

Texto publicado originalmente no dia 9 de janeiro de 2014 na coluna A Pelada Como Ela É, do Jornal O Globo.

FESTA DO NEI

entrevista: Guilherme Careca | fotos e vídeo: Daniel Perpetuo

Recentemente o craque Nei Conceição completou 71 anos e promoveu aquela tradicional festa no Clube Municipal, em Paquetá, ao lado dos amigos, com direito a muito churrasco, pelada e resenha. Como somos fãs dessa fera e desses encontros, não pensamos duas vezes antes de pegar a barca das 10h e prestigiar o aniversariante através de Guilherme Careca, nosso repórter por um dia.


Durante o percurso, José Cosme, amigo de infância de Nei, leu um texto escrito por Lucio Branco em homenagem ao ídolo do Botafogo, que não escondeu sua emoção. Vale lembrar que Lucio foi o diretor do premiado filme “Barba, Cabelo & Bigode”, sobre Afonsinho, PC Caju e Nei Conceição.

– É sempre uma honra vir aqui no Municipal, que é o cenário principal do filme. O Nei é um ícone, uma figura resistente. Um cara que rigorosamente nada tem a ver com a ideia de futebol que se tem hoje em dia do ponto de vista do profissionalismo – disse o cineasta.

Quem também esteve presente, claro, foi o anfitrião Afonsinho, amigo inseparável de Nei desde 1965. Vestido com a camisa do lendário Trem da Alegria, o craque parabenizou o aniversariante.


– Mais uma vez estamos aqui reunidos com os amigos para comemorar o aniversário dessa figura sensacional que sempre nos dá um “trem de alegria”.

Poucas coisas são tão certas quanto a nossa presença no próximo aniversário de Nei Conceição!

GERALDO E ZICO

por Rubens Lemos 


No trecho mais triste do filme sobre a história de Zico, ele está caminhando na praia com Geraldo Assoviador, seu companheiro de clube e um solista de meio-campo. Os dois, interpretados por figurantes de talento duvidoso, sentam na areia e refletem num exercício premonitório.

Geraldo deita, cruza as mãos sob a cabeleira Black Power, olha ao infinito numa tristeza destoante do seu estilo de jogar como pássaro, brincando, circulando por entre adversários aos dribles. Geraldo diz a Zico, mais ou menos assim:

– Zico, estou com uns pensamentos estranhos, rapaz. Não consigo me imaginar velho, aposentado, com filhos, netos. É esquisito.

O Zico, que não era Zico pela qualidade limitada do ator, respondeu na liguagem típica da época, 1976, o Galinho no esplendor dos 22 anos cronológicos:

– Poxa, Geraldo, que papo mais careta, rapá! Eu quero é viver, pensar no presente, vamos tomar um banho de mar!


A cena antecede à reconstituição da cirurgia de amígdalas de Geraldo, que o matou na mesa de operação por uma reação alérgica à anestesia.

O massagista Serginho, vivido por Romeu Evaristo, o Saci Pererê da primeira versão do Sítio do Picapau Amarelo, faz uma tentativa de ressuscitação esmurrando o peito de Geraldo.

O assoviador, o irmãozinho adotado pela Família Antunes, a Família de Zico, acertara no fatalismo prematuro como nos passes para o companheiro iniciar sua biografia escrita pelos pés, cabeça, peito e coxas.

Geraldo morreu no dia 26 de agosto do 1976. Zico beijou sua testa no velório. Geraldo não envelheceu. Fez o Flamengo usar seu uniforme de luto à época (calções pretos) uma semana depois contra o meu ABC de Natal.

Zico, chorando, correspondeu ao amigo como um irmão inconformado lutando por sua volta. Zico jogou por Zico e por Geraldo. Fez os dois gols da vitória de 2 a 0 no Maracanã silencioso e não comemorou, pela primeira vez na vida.

Geraldo na morte provou sua perpetuação. Zico é o craque e o cidadão de sempre, ungido à sagração das lendas e mitologias.


Zico foi o Pelé a que tivemos direito de amar, idolatrar, temer como adversário e gritar de peito lavado, que havia, entre nós, um gênio capaz de eternizar o fugaz, transformar o efêmero em filme clássico e interminável de tão delicioso.

Zico não envelheceu. Zico é o menino de 18 anos que classificou o Brasil para as Olimpíadas de 1972 fazendo o gol da vitória contra a Argentina e ficou fora dos Jogos por pirraça da Ditadura, que perseguia Nando, um dos seus irmãos, perseguido e torturado na escuridão da tirania.


Zico não envelheceu. Zico é o príncipe campeão carioca de 1974, seu primeiro título, espantando o Brasil com sua volúpia dribladora e artilheira. Zico, em 1974, provou a Zagallo que merecia, sim, ter ido à Copa do Mundo da Alemanha, privilégio de toscos do nível de Mirandinha do São Paulo.

Zico não envelheceu. Zico é o homem sofrido de 1978, quando, machucado, não brilhou e foi massacrado pela imprensa na Copa da Argentina. Zico é o visionário da decisão contra o Vasco, quando espantou Marco Antônio com sua presença lindamente assombrosa, fazendo o lateral ceder o escanteio infantil que ele bateria de curva, para a cabeçada de Rondinelli a vencer um Leão em voo.

Zico não envelheceu. É o craque fazendo linha de passe de cabeça em 1979, tabelinha aérea dentro da área do Vasco até o salto de atacante de vôlei e a testada para as redes de Leão, sua vítima predileta.


Zico não envelheceu. É a antevisão agindo em namoro de amante com o instinto e lançando Nunes para marcar o primeiro gol contra o Atlético Mineiro na decisão de 1980. E depois, ele próprio, num sem-pulo, fazer o segundo alegrando 153 mil pessoas.

Zico não envelheceu. É a maturidade felina e ferina destruindo em passes de arte plástica, os ingleses do Liverpool, na final da Taça Interclubes em 1981. Melhor em campo e ganhador de um carro Toyota, luxo. Ficou com o automóvel e dividiu o valor em dinheiro com os colegas.

Zico não envelheceu. É o semblante arrasado no desembarque no Rio de Janeiro em julho de 1982, após a derrota para a Itália no Estádio Sarriá, Copa que seria dele e da geração sem clonagem. Zico é o show contra a Argentina e o pênalti de Gentile sobre ele, rasgando a camisa 10 usada pela última vez com qualidade exigida.


Zico não envelheceu. É o Zico atormentado, joelhos esfolados, tomando morfina, para jogar a Copa do Mundo de 1986. É o Zico dos minutos arrasadores contra a Polônia, do passe perfeito e da tragédia do pênalti jogado nas mãos de Bats, contra a França.

Zico não envelheceu. É o Zico da maestria, marcando, de falta em Juiz de Fora, último gol de sua carreira profissional e pondo, em anticlímax, o goleiro do Fluminense Ricardo Pinto na história por chute enviesado.

Zico não envelheceu. Posso não chegar aos 60 anos, mas enquanto a vida me levar, como no samba de Zeca Pagodinho, viajo no devaneio de ver o Galinho (para sempre) com a camisa mais bonita, a do Vasco, ao lado de Geovani, o Geraldo renascido na Cruz das Maltas. Se acabar por aí, o tempo regulamentar estará completo para mim.

A QUEBRA DO RECORDE E O MUSTANG COR DE SANGUE

por Victor Kingma


No final dos anos 60, logo após a inauguração do Mineirão, ocorrida em 1965, o Cruzeiro montou um dos maiores times da história do futebol brasileiro. Durante alguns anos desfilaram pelos gramados com a camisa azul craques consagrados como Zé Carlos, Piazza, Natal, Dirceu Lopes e Tostão.

Os saudosistas do futebol não se esquecem das partidas memoráveis do time mineiro contra o poderoso Santos de Pelé, quando se encontravam pela antiga Taça Brasil. No âmbito regional, então, a superioridade era tanta que o time chegou a ficar 70 partidas sem perder, entre os campeonatos de 1967 e 1970.

Outro fato marcante protagonizado pelo Cruzeiro daquela época foi a incrível façanha do goleiro Raul, que em 1969 ficou mais de 1000 minutos sem levar gol, um recorde nunca alcançado, até então. 

Nos jornais e programas esportivos das emissoras de rádio e TV da época, o fato era tratado com destaque e a cada novo jogo criava-se uma grande expectativa sobre qual jogador quebraria a invencibilidade do goleiro cruzeirense.  

Um programa esportivo da TV Itacolomi de Belo Horizonte chegou a instituir um prêmio: o jogador que marcasse o gol histórico ganharia um Mustang “cor de sangue”, o carro da moda na época, que virou até sucesso musical na interpretação de Wilson Simonal para a composição de Marcos e Paulo Sérgio Valle.

Finalmente, em 18 de maio daquele ano, aos 42 minutos do segundo tempo, no jogo Cruzeiro 3 x 1 Democrata-SL, no Mineirão, a série foi interrompida.

Após 1011 minutos, o goleiro, que ficou famoso por atuar com a vistosa camisa amarela, foi vencido pelo atacante Ivany, destaque do time de Sete Lagoas. 


Para comprovar a força da defesa do Cruzeiro, o último gol que Raul havia sofrido tinha sido um gol contra do zagueiro Fontana, aos 21 minutos do segundo tempo, numa partida contra o Uberaba, no primeiro turno do campeonato.

Ivany, o Ny, natural de Santos Dumont, Minas Gerais, foi um grande talento que teve a carreira abreviada por uma séria contusão no joelho.

Iniciou sua carreira no Social, de sua cidade, tendo atuado pela Seleção da Liga de Juiz de Fora, Atlético Mineiro, Democrata-SL e Vila Nova, de Goiás. Enfrentou, em diversas ocasiões, craques consagrados do futebol brasileiro.


O carro, o Mustang cor de sangue, evidentemente, nunca ganhou. Segundo dizem, na promoção, que era uma jogada de marketing, os organizadores esperavam que o gol fosse marcado por um famoso atacante do futebol brasileiro, de preferência Dario, ídolo do Atlético Mineiro, o grande rival do Cruzeiro.

Para sua decepção, Ny, o autor da façanha, recebeu como prêmio uma réplica do carro, um Mustang vermelho, de controle remoto. O fato é inclusive confirmado pelo próprio goleiro Raul.

Hoje, aposentado, nas conversas e bate papos na sua cidade, o ex-craque sempre tem que contar sobre seu gol histórico, motivo de orgulho, não só para ele, mas, também para todos seus amigos e conterrâneos.