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GOLS 1979

por Paulo-Roberto Andel

Um calor aterrorizante à tarde, eu de repouso e remédio. Então resolvi me distrair um pouco e espiar futebol antigo no YouTube, uma das melhores coisas do mundo pra mim.

Mal começo a procurar, surge um vídeo de nome sugestivo: “Gols 1979”. O que será? Vambora.

De cara, Léo Batista. Logo, o melhor da nossa memória televisiva de futebol. Telão verde do Globo Esporte e Luciano do Valle de camisa florida e lenço, estilo Dancing Days!

Gols, gols, gols no Maracanã vazio e cheio, gols em Ítalo Del Cima e São Januário, gols em clássicos, gols em Marechal Hermes. É o futebol carioca no ano de 1979, o primeiro que acompanhei como um torcedor mirim mesmo, de ler notícias e escutar os jogos.

Wendell numa partida, Renato em outra, os dois goleirões do Fluminense em crise, indo para três anos sem títulos. O garoto Edevaldo, o garoto fenomenal Edinho. Nunes fazendo muitos gols com Fumanchu do lado.

Mendonça com suas jogadas espetaculares, Búfalo Gil chutando e cabeceando, o espetacular Luisinho Lemos metendo gols vestido de branco e preto.

Júnior, Toninho, Carpeggiani, Adílio, Zico, Tita e Uri Geller. Paulinho, Guina, Wilsinho, Roberto e Catinha.

País, Uchoa, Alex, Geraldo e Álvaro. Já tinha o Nelson Borges e o Porto Real? Nedo, tinha. Carlos Silva também? Silvinho, lógico. O velho America.

Nos clássicos, cento e trinta mil pessoas. Nas partidas corriqueiras, três mil. Não importa: o Maracanã tem sua realeza visível à tela. Na beira do campo? Claudio Coutinho, Joel Martins, Zé Duarte, Sebastião Araújo, Oto Glória, o sensacional Velha.

As vozes clássicas de Léo Batista e Luciano do Valle são a moldura permanente das imagens.

Maravilhosos vilões especialmente convidados e que quase sempre davam trabalho: o Campusca, o São Cri Cri, o Bonsuça, a Lusa, o Cano. O Goyta também. O Madura também.

Há meio século navego pelo futebol. Ultimamente ando feliz a valer, meu Fluminense foi campeão da Libertadores. É maravilhoso. Agora, encontrar vídeos como “Gols 1979” é trazer a minha infância de volta, é refazer um possível futuro. Passo o link pra vários amigos, converso com o Sérgio Pugliese e lembramos momentos espetaculares de nossas vidas.

Juntar moeda pra comprar botão de galalite e figurinha do Futebol Cards, sonhar em comprar um escudo bordado da Kayat Esportes, esperar a folga para jogar pelada na areia e tentar imitar todas aquelas feras que a gente via nos jogos. Daqui a pouco faz cinquenta anos, mas é algo tão vivo que parece da semana passada.

Falei de Helinho, Lito, Dário, Zezé, Júnior Brasília e outros? Não, né? Nem dos goleiros Ernâni e Jurandir, dos atacantes Mário e César, do Borrachinha e do Silva. Tem muito mais.

Obrigado por tudo, YouTube.

@p.r.andel

A INACREDITÁVEL EXCURSÃO FUTEBOL CLUBE

por Zé Roberto Padilha

Estava machucado no joelho e jogava no Santa Cruz, em Recife. Nosso time era o máximo (Joel Mendes, C. A. Barbosa, Lula Pereira, Levir Culpi e Pedrinho; Givanildo, Betinho, Wilson Carrasco, eu ou Joãozinho; Nunes e Luiz Fumanchú). Fomos semifinalista do Brasileiro, mas o empresário que vendia excursões exagerou: vendeu essa barca como se fôssemos campeões brasileiros.

Não havia Internet e o telefone era mais lento do que a noticia levada a bordo do avião.

O roteiro era para jogar 15 partidas entre Paris, Arábia Saudita e Grécia. Nem no Fluminense ou Flamengo vi algo tão bom assim. Fiz um lobby com nosso treinador, Evaristo Macedo, que logo me descartou.

Disse que eram 19 bilhetes disputados a tapa. Muitos sequer conheciam o Rio, sendo que dois moravam em Afogados da Ingazeira. E não seria justo. Até a neta de Marco Maciel, então vice-presidente e cuja familia dava nome ao nosso estádio (José do Rego Maciel), se escalou para chefiar a delegação.

Estava desistindo quando ouvi pelos corredores que iriam contratar um intérprete. Sempre estudei inglês e nunca o usei. Sabia que percorria todo meu corpo e também que nunca alcançara a língua. Quem sabe?

Passei a chegar no clube dando “good morning“. E gastando o “How are you my friends”. Tomaram até susto. Pensaram bem e entenderam que seria mais útil levar um dois em um. E consegui meu bilhete premiado.

Foi a melhor viagem da minha vida. Com direito a estadia, acreditem, no Hotel Sheraton, em Paris.

Não usei mais do que seis frases, três para levar meus companheiros às compras, três para voltar ao hotel. O pacote mais barato da história desde que resolvemos conhecer o caminho de volta ao continente que nos descobriu.

Só derrapei um dia : o gerente do hotel queria confirmar o jantar para 19h00. E completou, “19h00 sharp!”. Sem saber que sharp era “em ponto”, respondi que preferia Sony. Meu walkman era Sony. Não sharp. Foi preciso um intérprete de verdade intervir para não atrasar o dinner.

Tirando isso, só alegria. Algumas lembranças compradas, nenhuma partida jogada. E tratei de registrar tudo com minha novíssima Câmera Sony, no ano de 1979.

Caso contrário, I wouldn’t even believe myself.

“Uma coisa jogada com música” – capítulo 37

por Eduardo Lamas Neiva

A discussão sobre a final do Brasileiro de 77 tomou conta do bar “Além da Imaginação”.

Idiota da Objetividade: – Aquela final foi a primeira do Brasileiro a ser decidida na disputa de pênaltis.

João Sem Medo: – E foi um festival de pênaltis perdidos. No fim, o São Paulo, que tinha um time mais pesado e se aproveitou do campo encharcado para se defender, acabou levando a taça.

Houve mais um burburinho, com os atleticanos reclamando muito da arbitragem. Então, Zé Ary interveio.

Garçom: – Minha gente, já que aquela decisão terminou nos pênaltis, vamos aproveitar para ouvir uma música aqui no som sobre o tema, até pra acalmar os ânimos que estão ficando muito exaltados. É “O medo do artilheiro na hora do pênalti”, de DJ Dolores, Lúcio Maia e Pio Lobato, com DJ Dolores e a Orchestra Santa Massa. Vamos lá!

O pessoal se diverte com a música e tudo fica mais sereno, quando João Sem Medo retoma a pelota.

João Sem Medo: – Meus amigos, eu falava antes dos nossos dirigentes, dos nossos maus dirigentes. A tabela, o número de clubes e o regulamento do Campeonato Brasileiro foram mudados diversas vezes.

Garçom: – Até hoje se discute quem foi o campeão de 87: Flamengo ou Sport.

Idiota da Objetividade: – E, por isso, quem deveria ficar com a Taça das Bolinhas, Flamengo ou São Paulo. A CBF instituiu esta taça para ficar com o primeiro clube que conquistasse primeiro três títulos seguidos ou cinco alternados. Mas isso, antes de reconhecer os títulos da Taça Brasil e do Robertão, pois se fosse depois, teria de ficar com o Palmeiras.

Garçom: – Que confusão!

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso!

João Sem Medo: – Eles ataram o nó e o futebol conseguiu ficar mais desorganizado que o país naquela época. Depois da Copa do México, em 86, levaram todos os nossos jogadores para a Europa, com exceção do goleiro, e ficou por aqui o segundo escalão e as revelações. Não era mais possível aguentar competições deficitárias, nem estádios vazios. Aí veio o Clube dos 13, selecionaram 16 times, o que me pareceu certo, mas não era lá muito justo. Sport e Guarani resolveram melar a final do Grupo Amarelo e deixaram o juiz sozinho em campo. Enquanto isso, o Flamengo dava a volta olímpica no Maracanã carregando uma taça e o mérito de campeão brasileiro.

Alguns torcedores e ex-jogadores do Sport presentes protestam, mas João Sem Medo prossegue.

João Sem Medo: – Uma coisa é certa, foi justo virar a mesa e se insubordinar contra os campeonatos do Otávio Pinto Guimarães, Caixa D’Água, Rubens Hoffmeister e outros dirigentes que usufruíam do esporte na época todas as mordomias possíveis e imagináveis. O Clube dos Treze virou uma das mais sujas mesas da história de nosso futebol. O público prestigiou as duas partidas finais e deu o recado: queria assistir a grandes jogos.

Houve mais alguns protestos.

Idiota da Objetividade: – Em 1986 a CBF declarou que não tinha dinheiro para organizar o Campeonato Brasileiro com 40 times. Os principais clubes do Brasil, Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Cruzeiro, Atlético Mineiro, Grêmio, Inter e Bahia, então se reuniram, fundaram o Clube dos 13, obtiveram verba com patrocinadores e transmissão pela TV. Com o aval da CBF realizaram a Copa União, com mais três clubes: Goiás, Santa Cruz e Coritiba. Guarani, vice-campeão em 86, e o América do Rio, o quarto colocado, ficaram fora.

Ouvem-se protestos no público quando América e Guarani são citados.

Garçom: – Foi mesmo injusto com os dois clubes. Mas senhor…

Ceguinho Torcedor: – Idiota da Objetividade, prossiga, por favor…

Idiota da Objetividade: – A CBF montou um torneio paralelo, chamado de Módulo Amarelo, com os outros principais clubes, mas o América do Rio se recusou a participar. O Sport entrou no lugar do Inter de Limeira, campeão paulista do ano anterior. Para valorizar o seu torneio, a CBF sugeriu em reunião que o campeão e o vice do Módulo Amarelo disputassem o título brasileiro com o campeão e vice do Verde, que era a Copa União. O representante do Clube dos 13, Eurico Miranda, do Vasco, aceitou, mas a diretoria do Clube dos 13, presidido por Marcio Braga, do Flamengo, decidiu recusar a proposta. O impasse não foi resolvido até hoje.

João Sem Medo: – Acabou que o Sport e o Guarani disputaram a final da CBF, já em 88, e o time pernambucano foi o vencedor.

Garçom: – E os dois disputaram a Libertadores daquele ano, né?

Idiota da Objetividade: – Sim, e oficialmente não foi aceito nem pelo Supremo Tribunal Federal a divisão do título entre Flamengo e Sport, proposto pela CBF em 2011.

Sobrenatural de Almeida: – Isso sim é assombroso.

Idiota da Objetividade: – O campeonato de 88 também foi chamado de Copa União, teve a participação do América do Rio e serviu para apaziguar os ânimos. Ao todo, foram 24 equipes que disputaram a primeira divisão daquele ano.

João Sem Medo: – A competição também só terminou no ano seguinte e teve uma série de confusões.

Idiota da Objetividade: – Sim, uma delas ocorreu logo na primeira rodada. A CBF decidiu o regulamento em cima da hora, com três pontos para o vencedor e dois pontos para o time que vencesse a disputa de pênaltis, no caso de empate no tempo normal. Fluminense e Botafogo, que jogaram no Maracanã, tentaram se insurgir e não fizeram a disputa depois do jogo terminar empatado em 1 a 1. Houve depois um acordo e os dois times voltaram no meio de semana ao Maracanã apenas para a disputa de pênaltis.

Garçom: – Que confusão!

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso!

João Sem Medo: – Uma barbaridade!

Ceguinho Torcedor: – Eu fui lá, os portões foram abertos e vi o meu tricolor vencer nos pênaltis. Se bem que eu já não precisasse dos portões abertos pra entrar no Maracanã.

Todos riem.

Garçom: – Bom, se o assunto voltou a ser pênalti, músicas não faltam. Vou colocar mais uma aqui pra tocar: se antes foi o artilheiro, agora é “O medo do goleiro diante do pênalti”, de e com Marco Ferrari.

Fim do Capítulo 37

Quer acompanhar a série “Uma coisa jogada com música” desde o início? O link de cada episódio já publicado você encontra aqui (é só clicar).

Saiba mais sobre o projeto Jogada de Música clicando aqui.

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Um gol desse não se perde!

AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1981

por Luis Filipe Chateaubriand

No ano de 1981, Grêmio e São Paulo decidiram o Campeonato Brasileiro.

O São Paulo chegou às finais depois de conturbados jogos contra o Botafogo, sendo que o clube carioca foi visivelmente prejudicado pela arbitragem no segundo jogo decisivo.

Já o Grêmio chegava pela primeira vez às finais, ao eliminar a Ponto Preta nas semifinais.

A primeira partida das finais foi realizada no Estádio Olímpico de Porto Alegre, com mando de campo do Grêmio.

No primeiro tempo, Serginho Chulapa, de cabeça, fez 1 x 0 para o São Paulo.

No segundo tempo, contudo, o Grêmio virou o jogo para 2 x 1, com dois gols de Paulo Isidoro.

A segunda partida das finais foi realizada no Morumbi, com mando de campo para o São Paulo.

E, novamente, o Grêmio venceu, desta vez por 1 x 0, com gol de Baltazar, em belo chute de fora da área, já no segundo tempo.

Grêmio campeão brasileiro de 1981!

A MOLECADA

por Zé Roberto Padilha

Pobre, Endrick. Com sua idade, Pelé, revelado pelo Santos, se apresentou à seleção brasileira e foi logo adotado por cobras criadas como Nilton Santos, Didi, Bellini e Gilmar. E encontrou apoio e segurança para apresentar todo o seu futebol.

Já Endrick se apresenta à nossa seleção junto a outros jovens, como André, 22 anos, Rodrigo, 22, Vinicius Jr., 23, Martinelli, 22. E os mais experientes, como Marquinhos e Alisson, nunca exerceram significativas lideranças por onde jogaram.

Em meio à correria, juventude e ousadia da maioria que enfrentou a Argentina, todos bons jogadores, faltou um Gerson, nosso Canhotinha de Ouro, para refinar o toque. Esconder a bola. E deixar um atacante na cara do gol com seus lançamentos primorosos.

Renovar é preciso. A seleção brasileira tem ido à feira buscar produtos frescos para servir novos pratos. Levar à mesa uma outra iguaria que os amantes do futebol-arte estão acostumados a saborear. Safra após safra.

Mas quando o cozinheiro é igualmente novo no pedaço, não é um Vicente Feola, campeão mundial, um Aymore Moreira, Bi, Zagallo, Tri, Parreira, Tetra e Felipão, Penta…. fica parecendo que ele aguarda um tempero John Arias, uma pitada do Ganso, uma pimenta malagueta Felipe Mello para dar um Cano no paladar argentino.

Só que…

A seleção brasileira não é o Fluminense. Sem um tiozinho, a cadência de um Zito, será sempre uma molecada correndo muito, se entendendo pouco e ganhando nada.