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A PRIMEIRA VEZ DE UM TIME BRASILEIRO NA EUROPA

por André Felipe de Lima

Maio de 1920. Naquele mês daquele já bem distante ano um fato marcaria a história do futebol brasileiro, que, apesar da menção em importantes jornais e revistas da época, como O Paiz e a Vida Sportiva, respectivamente, cairia no esquecimento. Desde que o grande Clube Atlético Paulistano comandado por Friedenreich, o maior astro do futebol da era do amadorismo, passeou pelos gramados europeus em 1925, goleando poderosos esquadrões do Velho Continente, acreditou-se ser aquela a primeira excursão de um time brasileiro de futebol na Europa. Mas não é bem assim. Como já dito, em maio de 1920, um brioso time de marinheiros do antigo navio Belmonte e associado ao já extinto Willegagnon F.C., perambulou por gramados europeus desfilando galhardia e futebol de primeira. Deram um baile em times poderosos, como o Benfica de Lisboa e os franceses Olympique de Marselha e Havre. Disputou quatro jogos, venceu três e perdeu somente um, para o Havre, de 2 a 0. Na “vera”, os marujos bateram os franceses pelo placar de 3 a 1. O Belmonte formava com, no gol, A.Reis. Na linha de zaga Agapito e Lopes. A linha média teve Luiz, Alziro e Peterman. No ataque, Alvaro, Maximo, Sebastião, Augusto e Aquino. Reportagem de O Paiz e a foto dos craques marinheiros em a Vida Sportiva confirmam o fato (jornais de Portugal e da França também), ou seja, um time de futebol brasileiro “baixou” na Europa pela primeira vez em 1920. E, assim, resgata-se uma verdade importantíssima da história do nosso futebol.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 40

por Eduardo Lamas Neiva

Santos e Botafogo foram mesmo os principais times do Brasil nos anos 60. Portanto, o papo no bar “Além da Imaginação” acabou retornando ao clube paulista, que obteve conquistas mais expressivas que o carioca.

Idiota da Objetividade: – A confirmação de que o Santos era o melhor time do mundo no início dos anos 60 veio em 1963, com a conquista do bicampeonato mundial. Almir Pernambuquinho foi um dos grandes nomes daquela final, como já dissemos.

Garçom: – O Santos enfrentou qual time mesmo na final?

João Sem Medo: – O Milan, que tinha um grande time. Os brasileiros Mazzola, que na Itália era conhecido como Altafini, e Amarildo, que havia substituído Pelé no Mundial do Chile, jogavam naquela equipe, que ainda tinha Rivera, Trappatoni e o Cesare Maldini, pai do Paolo Maldini, que disputou as Copas de 90 a 2002.

Garçom: – Lembro do Maldini filho, muito bom jogador. Foi vice pra gente, em 94.

João Sem Medo: – O pai dele também foi um grande jogador. Mas o Santos, mesmo sem Pelé, conseguiu superar o timaço do Milan.

Sem anunciar nada, Zé Ary põe no telão a versão de Zeca Baleiro pro hino mais popular do Santos, chamado de “O Leão do Mar” e que foi composto por Mangeri Neto e Mangeri Sobrinho.

O povo do bar assiste com atenção e quando o clipe acaba, João Sem Medo passa a bola pra Ceguinho Torcedor.

João Sem Medo: – O Santos conquistou aquele título de 63 no pau e na bola.

Ceguinho Torcedor: – O Santos era uma equipe assassinada pela desumanidade de seus dirigentes. Nenhuma equipe terrena pode jogar tanto sem morrer. E contra o Milan, o glorioso time santista ruía aos pedaços, estrebuchava, agonizava.

João Sem Medo: – Os times brasileiros eram obrigados a excursões extenuantes, com jogos de dois em dois dias, mais as viagens. Além do Pelé, o Santos jogou as finais de 63 no Maracanã sem o Zito e o Calvet.

Ceguinho Torcedor: – Nunca houve cansaço tamanho. E apesar disso ganhou do Milan na mais linda reação que se conhece. Ganhou duas vezes. No primeiro jogo, o Santos saiu pro intervalo perdendo por 2 a 0. Mas cai uma tempestade de 5º ato do Rigoletto no Rio de Janeiro e mudou tudo.

Como que por encanto, ouve-se um estrondo, um trovão com relâmpagos, e toda plateia fica arrepiada. Sobrenatural de Almeida dá sua gargalhada tenebrosa, cantarola um trechinho da ópera de Giuseppe Verdi (https://www.youtube.com/watch?v=fYDI6MWkCW8) e todos entendem que ele tinha atuado como sonoplasta da narração do Ceguinho Torcedor, que prossegue.

Ceguinho Torcedor: – O Santos virou e levou a decisão para a terceira partida. Houve quem dissesse que Almir era um delinquente irrecuperável e paranoico. Mas se Almir chutou o Amarildo no terceiro jogo, o que fez Didi, o Príncipe Etíope de Rancho, que quebrou o Mendonça? Ninguém o chamou de delinquente e paranoico. Nem o próprio Amarildo, que quebrou o Jair Marinho, num Fluminense e Botafogo.

Didi, em sua mesa, ao lado de d. Guiomar, nada fala, apenas acompanha a resenha com atenção. Numa mesa próxima, Almir Pernambuquinho apenas sorri quando João Sem Medo começa a relatar o que viu naqueles jogos finais.

João Sem Medo: – A pancadaria comeu solta no Maracanã. Almir deu um chute em Amarildo logo no início do primeiro jogo no Maracanã. Almir, que aqui está e não me deixará mentir, confessou que jogou dopado e que foi pra vingar Pelé, por quem tinha grande respeito. Amarildo teria dito em entrevista que Pelé não era mais o Rei. E Pelé não pôde ir a campo em nenhum dos dois jogos. Almir foi em seu lugar e na partida que decidiu o título sofreu o pênalti de Maldini, que quis brigar e foi expulso. Dalmo pegou a bola que seria do Pepe e converteu o pênalti pra dar o título ao Santos.  Até o Lula, técnico do Santos, agrediu com um soco o Carniglia, treinador do Milan. O Trapattoni caçou o Almir em campo, mas ficou até o fim do jogo. Ismael deu uma cabeçada em Amarildo e também foi expulso.

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso! Eu fiz plantão naqueles dois jogos e irritei muito os jogadores do time italiano. (dá outra gargalhada tenebrosa e volta a cantarolar um trecho do Rigoletto)

Idiota da Objetividade: – O Santos chegou à final do Mundial de 63 depois de conquistar a Libertadores daquele ano. Eliminou o Botafogo na semifinal, com um empate em 1 a 1, no Pacaembu, e goleada de 4 a 0, no Maracanã. Na final contra o Boca Juniors, da Argentina, venceu por 3 a 2 no Maracanã, e 2 a 1, em La Bombonera.

João Sem Medo: – O Santos ganhou do Boca lá dentro, de virada, com gols de Coutinho e Pelé.

Idiota da Objetividade: – Pelé só jogou o primeiro jogo das finais do Mundial, em Milão, na derrota de 4 a 2. Ele fez os dois gols do Santos, de pênalti. Amarildo fez dois pro Milan. No Maracanã, diante de 132 mil pagantes, o Santos perdia por 2 a 0 no primeiro tempo, mas virou na segunda etapa para 4 a 2, com dois gols de Pepe, ambos de falta, um de Almir e outro de Lima. Foi necessário então um terceiro jogo, disputado dois dias depois, em 16 de novembro de 1963. Mais de 120 mil pessoas pagaram ingresso para ver quem seria o campeão. E numa partida marcada pela violência, como João já nos relatou, o Santos ganhou de 1 a 0, gol de pênalti marcado por Dalmo, aos 35 minutos de jogo.

Almir Pernambuquinho, enfim, pede a palavra de sua mesa.

Almir: – Entrei com tudo naquela partida, pra matar ou morrer. Eu só pensava no bicho, que dava pra comprar um Fusca do ano. Fui incentivado por um dirigente chamado Nicolau Moran. Ele me disse: “Você pode fazer o que quiser em campo, Almir. Você é rei lá dentro, faz o que achar melhor. O juiz não vai fazer nada”.

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso, Almir. Assombroso.

O público ri e Zé Ary pede a palavra.

Garçom: – Como falamos muito do grande Santos bicampeão mundial, vamos fazer uma grande homenagem aqui com mais duas versões no telão do hino do clube: “Leão do Mar”, com Paulo Miklos, e o hino oficial com a Rygel, banda santista de heavy metal. Aguentem os ouvidos aí!

Músico: – Aumenta que isso aí é roquenrol!

Fim do capítulo 40

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Um gol desse não se perde!

AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1983

por Luis Filipe Chateaubriand

No ano de 1983, Santos e Flamengo chegaram às finais do Campeonato Brasileiro.

O Santos se habilitou a disputar o título ao superar o Atlético Mineiro nas semifinais.

O Flamengo se habilitou a disputar o título ao superar o Athletico Paranaense, em difícil embate, nas semifinais.

O primeiro jogo das finais foi disputado no Morumbi, com mando de campo para o “Peixe”.

O Santos venceu por 2 x 1, com gols de Pita no primeiro tempo, de Serginho Chulapa no segundo tempo e Baltazar descontando para o Rubro-negro também no segundo tempo.

O segundo jogo das finais foi disputado no Maracanã, com mando de campo para o Flamengo.

O Flamengo venceu por 3 x 0, gols de Zico e Leandro no primeiro tempo e de Adílio no segundo tempo – já no final do jogo.

Pela terceira vez em quatro anos, o Flamengo era campeão brasileiro.

ANO DE GLÓRIAS

por Marcos Eduardo Neves

Com juros e correção monetária, o Fluminense devolveu ao Flamengo o que sofreu por causa dele em 1996. Há 27 anos, o Rubro-Negro abriu as pernas para o Bahia só para ver o Tricolor cair. Quatro anos antes, vale dizer, o Vasco não deu ouvidos à sua torcida, que clamava para seu time perder em São Januário para o São Paulo, o que impediria o Rubro-Negro de chegar à decisão do Brasileiro. Fizeram 3 a 0, para indignação cruzmaltina. No fim, Mengão penta, superando o até então favorito Botafogo na final.

Desta vez a história foi outra. O Tricolor lacrou o Flamengo de todas as formas. Ganhou Guanabara e Carioca sobre o rival. Tomou da Gávea a Libertadores e, fosse pouco, mesmo de ressaca após conquistar a América, roubou do rival dois pontos cruciais na partida seguinte à goleada que a equipe de Tite meteu no Palmeiras. Por fim, exterminou o sonho vermelho e preto na penúltima rodada, ao se deixar perder para o Alviverde, agora oficialmente campeão, com direito a jogar parte do jogo com um a menos.

Em suma, cinco strikes. Algo que só vi em 1995. Naquele ano, o Tricolor empatou sem gols na badalada estreia de Romário, melhor jogador do mundo, pelo Flamengo. Em seguida, fez 3 a 1, 4 a 3 e, com um 3 a 2 histórico, com direito a dois gols de Renato Gaúcho, sendo o último de barriga, destruiu o sonho rubro-negro de ser campeão no seu centenário. Renato, então, foi além. Vestiu por alguns minutos a camisa do Grêmio e, semanas após a barrigada, amassou o Flamengo ao colocar a bola na cabeça de Jardel, em nova derrota urubu.

Hoje a equipe viaja para disputar o Mundial. Bela chance de se igualar ao Flamengo, trazendo, após 42 anos, a mais cobiçada taça clubística de volta à Cidade Maravilhosa. Recentemente, tive o privilégio de parabenizar amigos que defendem o Fluzão e conhecer de perto outros atuais campeões da América. De quebra, presenteei com autógrafos a camisa que meu filho vai emoldurar.

Boa sorte, Fluzão! Parabéns pelo ano brilhante e que mostre sua força agora no mundo árabe. Acima das rivalidades, admiro as glórias e os sofrimentos que só mesmo a maior paixão do planeta, o futebol, oferece a seus fãs. Fãs como eu, que sabem diferenciar adversários de inimigos.

A VITÓRIA DA INCOMPETÊNCIA

por Paulo Marcelo Sampaio*

Há quem queime camisas. Alguns juram nunca mais ir a um estádio. Há quem prometa um ano sabático. Outros, pasmem, declaram sentir vergonha de ser botafoguenses. Esses torcedores, graças a Deus, são exceções. Para explicar a derrocada, uns apelarão para teorias conspiratórias. Outros vão procurar motivos sobrenaturais. Nem o mais competente roteirista de um filme estrelado de Bela Lugosi seria capaz de escrever algo tão cruel. A cada ano, é verdade, nós, pessimistas por formação, sempre começamos o ano precavidos e desconfiados. Um breve recuo nos jornais e nas hemerotecas e veremos vitórias improváveis.. Quem imaginaria o fim do jejum em 1989, quando nossos adversários tinham jogadores melhores? Quem apostaria no título da Conmebol de 1993, com atletas medianos? Há uma explicação para esse todos esses triunfos: homens de garra, determinados. Atitudes, dentro e fora de campo, decidem um campeonato. E também podem colocar tudo a perder.

Como explicar, por exemplo, o senhor John Textor? Como pôde cair na esparrela de brigar com a CBF em plena disputa? Ingenuidade ou uma cortina de fumaça para encobrir os erros de uma gestão que só entregou resultados apenas em um turno do Brasileirão? Como entregar o futebol para senhores que nada entendem de futebol? Como trocar quatro vezes de técnico liderando o campeonato? Como dar voz a jogadores na escolha de um treinador? Afinal de contas, não há mais Gérson Canhotinha nem Tostão, que decidiam, à revelia dos técnicos, o que se fazer em campo. Duvido que, com um ferrolho armado por Joel Santana, perderíamos esse campeonato.

Hoje, num mundo cada vez mais digital, cada vez mais cheio de assessores de imprensa, os ídolos, quando existem, estão cada vez mais distantes. Mesmo assim, são cultuados. Ganham até músicas da torcida. “Vou passar uma mensagem em nome do grupo: foi um grupo de homens, guerreiros e toda a responsabilidade do que aconteceu é nossa!”, declarou Tiquinho. O ídolo com pés de barro tentou explicar o inexplicável. Ou não sabe o significado das palavras. Ou está em Marte. Ou esqueceu que, de seus pés de barro, poderia nascer naquele fatídico pênalti contra o Palmeiras o nosso título.

A verdade é que a tão falada vantagem de 13 pontos era irreal. O Botafogo nunca teve time para fazer uma frente daquelas. O Botafogo perdeu para ele mesmo. Por causa da empáfia, por causa da arrogância, por causa do vitimismo, por causa da incompetência dos gestores da SAF. Depois de tantos erros, pedir desculpas agora é muito pouco. Que o Botafogo tem a vocação para o erro, como já disse o poeta Augusto Frederico Schmidt, todos já sabem. Mas esse ano os dirigentes abusaram. Nesse ano das derrotas vergonhosas e empates idem, quem sabe não ganhamos no STJD, senhor John Textor?

*Paulo Marcelo Sampaio, jornalista, é autor de “Os Dez Mais do Botafogo” (Maquinária Editora). Escreveu, com Rafael Casé, “21 depois de 21”, a história do título estadual de 1989