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AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1987

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1987, foi jogada a célebre Copa União, reunindo os 16 clubes considerados os melhores do país.

Depois de grandes jogos e um êxito comercial retumbante, Flamengo e Internacional de Porto Alegre chegaram às finais.

O Flamengo foi às finais depois de dois embates antológicos com o Atlético Mineiro, melhor clube da competição até então, nas semifinais.

O Internacional foi às finais ao superar o Cruzeiro, nas semifinais.

O primeiro jogo das finais aconteceu no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, com mando de campo para o Internacional.

Bebeto abriu o placar para o Flamengo no primeiro tempo, 1 x 0.

Amarildo igualou o placar para o Internacional, ainda no primeiro tempo, 1 x 1.

E assim, acabou o primeiro jogo.

O segundo jogo das finais aconteceu no Maracanã, Rio de Janeiro, com mando de campo para o Flamengo.

Com gol de Bebeto no primeiro tempo, o Flamengo venceu por 1 x 0.

Pela quarta vez, o clube da Gávea era campeão brasileiro!

MUNDIAL NÃO É PARA FRACOS

por Marcos Vinicius Cabral

“Esperei o hiato entre o Natal e a chegada de 2024 para escrever sobre o tão aguardado confronto entre Manchester City (ING) e Fluminense (BRA), na decisão do Mundial de Clubes de 2023. Duas escolas que contam com ensinamentos dos professores Josep Guardiola e Fernando Diniz, técnicos que surfam na crista da onda ao conquistar bons resultados com os respectivos times. Além disto, relembro aqui que dos clubes brasileiros derrotados em finais para europeus na competição que colocam frente a frente o campeão da Libertadores contra o vencedor da Champions League, o Vasco de Antônio Lopes é, segundo reportagem do GloboEsporte.com, quem mais esteve perto da vitória. O 2 a 1 para o temido Real Madrid (ESP), em 1998 – ano em que o Cruz-Maltino comemorou um século de existência – não refletiu o que se viu no National Stadium, em Tóquio, naquela manhã de 1° de dezembro.

Entretanto, desde a derrota por 4 a 0 para o Manchester City, na final do Mundial de Clubes realizada no dia 22 de dezembro, que torcedores do Fluminense – não todos, mas boa parte deles – diziam que houve equilíbrio nas ações do time comandado por Fernando Diniz.

Ora, o que se viu no gramado do Estádio King Abdullah Sports City, em Jidá, na Arábia Saudita, foi a equipe inglesa com 55% de bola nos pés, que chutou em oito oportunidades para gol (quatro vezes mais que as duas do ataque tricolor), trocou 530 passes contra 444 do campeão da Libertadores e cobrou quatro escanteios contra dois do Fluminense. Há outras comparações que poderia utilizar, mas os já apresentados aqui dão a nítida noção do que foi o jogo.

Acostumados com o tiki-taka (tic-tac aportuguesado), também conhecido como Dinizismo, o estilo do Fluminense passa a ter mais rotatividade entre os jogadores, constantes trocas de posições e passes em todas as zonas do campo (principalmente na defesa para surpreender o adversário) no qual até o goleiro passa a ter a função de jogar com os pés. E com qualidade, é bom que se diga.

Funcionou bem em algumas competições em que conquistou títulos – por exemplo, no banho de bola que deu no Flamengo no Carioca e na inédita Libertadores, ambas em 2023 – mas na hora do vamos ver, acabou sendo engolido pelos ingleses. Isso sem contar que Haaland e De Bruyne, protagonistas dos Azuis Celestes, não jogaram por estarem lesionados.

Guardiola pensa diferente. Para o fã da Seleção Brasileira de 82, o estilo de jogo é “inútil”, “sem propósito” e “sem intenção clara”. Basta ler a biografia The Inside Story of Pep Guardiola’s First Season at Bayern Munich (Os bastidores da primeira temporada de Pep Guardiola no Bayern de Munique), escrita pelo jornalista espanhol esportivo Marti Perarnau.

No entanto, o tão aguardado embate Diniz versus Guardiola, acabou frustando os apaixonados pelas duas escolas de futebol. O City venceu sem esforço. O Tricolor errou o máximo em uma partida que deve-se errar o mínimo. Tornar-se presa fácil era questão de tempo, não de segundos como foi o gol de peito de Julián Álvarez.

Porém, quem deu trabalho aos europeus em uma decisão de Mundial de Clubes que, a propósito, voltando ao motivo da produção do texto, foram dois grandes times cariocas que encantaram os torcedores nos séculos XX e XXl: o Vasco de 1998 e o Flamengo de 2019, já citados acima.

Comandados por Antônio Lopes e Jorge Jesus, Vasco e Flamengo conquistaram a Libertadores, e chegaram com moral elevada à decisão do Mundial de Clubes contra espanhóis e ingleses.

O Vasco, que comemorava o centenário de existência, entrou às 9h (horário de Brasília) no National Stadium, em Tóquio, com Carlos Germano, Vágner, Odvan, Mauro Galvão e Felipe; Nasa, Luisinho, Juninho Pernambucano e Ramón; Donizete e Luizão. Do lado do time madrilenho, os brasileiros Roberto Carlos e Sávio, o argentino Redondo, o holandês Seedorf, o espanhol Raúl, além do montenegrino Mijatovic.

Mas foi o Real Madrid quem abriu o placar aos 25min do primeiro tempo, quando Roberto Carlos chutou com força de fora da área, a bola desviou na cabeça de Nasa e enganou Carlos Germano. No segundo tempo, Juninho Pernambucano, o Reizinho da Colina, aproveitou rebote do goleiro alemão Ilgner no chute de Luizão para finalizar no ângulo. Mas aos 38min, porém, veio o castigo. Raúl recebeu lançamento de Seedorf pelo lado esquerdo do ataque, deu dribles desconcertantes em Vitor e Odvan antes de tocar na saída de Carlos Germano. Fim do sonho para uma equipe que mereceu sorte melhor durante os 90min.

O Flamengo, por sua vez, chegava à segunda decisão de Libertadores da história. Com um futebol que assombrou o país, Diego Alves, Rafinha, Pablo Marí, Rodrigo Caio e Filipe Luís; Willian Arão, Gerson, Arrascaeta e Everton Ribeiro; Bruno Henrique e Gabigol, sob comando de Jorge Jesus, conquistaram a Taça Libertadores da América, o Campeonato Carioca, e, por fim, o Campeonato Brasileiro, em 2019.

A derrota por 1 a 0 para o Liverpool de Jurgen Klopp, no Estádio Khalifa International, em Doha (Catar), em um jogo disputado, pôs uma pá de cal e sepultou o sonho do bicampeonato Mundial para a Nação Rubro-Negra.

Tristezas à parte na vida dos vascaínos, rubro-negros e tricolores, derrota sempre machuca, fere o orgulho de todo e qualquer torcedor. Todavia, o mau resultado do Fluminense doeu mais do que os insucessos de Vasco e Flamengo. Ou alguém pensa diferente? Fica uma lição não apenas para o time das Laranjeiras, mas para os clubes do futebol brasileiro: é preciso rever conceitos de A a Z e em todo planejamento para voltar a competir de igual para igual em uma decisão de Mundial de Clubes.

Talvez esta (in)certeza soe – para quem é frio e não passional – como uma alerta de que jogar o Mundial de Clubes não é para fracos”.

OS MURROS DE WRIGHT

por Elso Venâncio

Vou à FFERJ, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, ao lado do narrador esportivo Carlos de Souza, o Biro-Biro, então na Rádio Globo e hoje produtor da TV Record. Após entrevistar o presidente Eduardo Viana, vi a porta de seu gabinete ser aberta bruscamente e fechada com força. Era o bicheiro Castor de Andrade seguido do advogado e dirigente do Fluminense José Carlos Vilela, velha raposa do futebol, conhecido como o ‘Rei do Tapetão’.

Sorridente, Vilela diz, quase sussurrando:

“Eduardo… pode qualquer um. Menos o Wright.”

Castor, que sabia exercer seu poder, adorava contestar pedidos e decisões. Afinal, mandava no Carnaval, no futebol (onde volta e meia tapava buracos financeiros da Federação e da própria CBF) e, claro, na cidade, apoiando ou frequentando o ambiente político.

“É esse que eu quero… o Wright! Ele é que vai apitar!” – reagiu o capô, aumentando o tom de voz para repetir, deixando bem claro à mesa:

“Ele vai apitar!”

Dois dias depois, o árbitro José Roberto Wright, todo de preto, no centro do gramado do Maracanã é cercado pelos capitães Vica, do Fluminense, e Marinho, do Bangu. Hora de bater cara ou coroa. Naquela noite, 18 de dezembro de 1985, o Tricolor, campeão brasileiro de 1984, precisava a todo custo vencer o adversário para conquistar o tri estadual. Com um punhado de craques, contava com uma das mais competitivas equipes da sua História:

Paulo Victor, Beto, Duílio, Ricardo Gomes e Renato; Jandir, Delei e Renê; Romerito, Washington e Tato (Paulinho). O técnico, Nelsinho Rosa.

Com sede de títulos, o time de Moça Bonita jogava pelo empate. O clube estava ferido, abatido com o vice-campeonato brasileiro obtido àquele mesmo ano, quando foi derrotado em pleno Maracanã pelo Curitiba do gaúcho Ênio Andrade, na disputa por pênaltis. Ainda assim, a equipe alvirrubra entrou no campo de peito aberto e cabeça erguida:

Gilmar, Perivaldo, Jair, Oliveira e Baby; Israel, Arturzinho e Mário; Marinho, Fernando Macaé (Cláudio Adão) e Ado. Seu treinador era o ‘xerife’ Moisés.

Após cruzamento de Perivaldo, o atacante Marinho, jogador de seleção brasileira, abriu o placar com uma cabeçada. Aos 18 do segundo tempo, o paraguaio Romerito empatou. E ao apagar das luzes daquela decisão tensa, jogo disputado com violência, partida dificílima de apitar, o reserva Paulinho cobrou com perfeição uma falta para virar a favor do time das três cores que traduzem tradição.

Wright errou feio ao não encerrar o jogo aos 45 ou 46 minutos da etapa final. Naquela época, tempo de acréscimo não era obrigatório ou protocolar como hoje. Nesse minuto a mais o estabanado Vica derrubou Cláudio Adão com uma ‘gravata’ dentro da área. Pênalti claro, a favor do Bangu!

O árbitro gesticula, mas não aponta para a marca da cal. Simplesmente, dizia que o jogo já havia sido terminado antes do lance capital. Brigas estouram na torcida, que por bom tempo vaia forte. O público anunciado foi de 89.162 pagantes, mas nesses anos, evasão de renda era um problema crônico do estádio mais famoso do mundo.

Castor manda seus capangas invadirem o gramado. Quer que surrem o juiz, que se via cercado por atletas banguenses. Seus asseclas só não esperavam o revide imediato de Wright. Faixa preta de judô e bom de briga, o árbitro derrubava um a um quem lhe surgisse à frente. O último a sofrer com seus punhos foi seu Walter, um veterano ex-lutador profissional de boxe.

O Bangu tentou anular o jogo na Justiça Desportiva alegando erro de direito, mas não obteve sucesso.

AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1986

por Luis Filipe Chateaubriand

No início de 1987, São Paulo e Guarani disputaram as finais do Campeonato Brasileiro de 1986.

O São Paulo chegou às finais depois de difíceis embates com o América carioca, nas semifinais.

O Guarani chegou às finais depois de difíceis embates com o Atlético Mineiro nas semifinais.

O primeiro jogo das finais foi no Morumbi, com mando de campo do São Paulo.

Já no segundo tempo, Evair fez 1 x 0 para o Guarani.
Mas, logo depois, Careca empatou em 1 x 1, resultado final.

O segundo jogo das finais foi no Estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas, com mando de campo para o Guarani.

No início do primeiro tempo, Nelsinho, contra, decretou Guarani 1 x 0. Mas, ainda no início do primeiro tempo, Bernardo empatou em 1 x 1. E esse foi o resultado do tempo normal de jogo.

No início do primeiro tempo da prorrogação, Pita fez 2 x 1 para o São Paulo. Mas, ainda no primeiro tempo da prorrogação, Março Antônio Boiadeiro empatou para o Guarani em 2 x 2.

No segundo tempo da prorrogação, João Paulo fez 3 x 2 para o Guarani. Mas, já no final do segundo tempo da prorrogação, Careca empatou em 3 x 3 para o São Paulo.

O jogo, então, foi para os pênaltis.

O São Paulo foi mais feliz, venceu por 4 x 3 e foi, pela segunda vez, campeão brasileiro!

DADÁ EM ONDAS CURTAS

por Eliezer Cunha

Algo me motiva a escrever abordando situações pitorescas e inusitadas dentro do contexto futebolístico Brasileiro. O Museu da Pelada me oferece esta oportunidade e nela me agarro, e são nestas despretensiosas linhas que procuro induzir em alguns
momentos aos leitores uma reflexão básica sobre temas que passam despercebidos, pelos “parceiros” colaboradores, pelos seguidores e pelos amantes do futebol.

Às vezes me deparo com várias interrogações que são no mínimo para mim curiosas e não imagináveis e dentro delas contextos surreais e enigmáticos.

Minha razoável idade, e lá se vão 59 anos não me permite ter bem clara na lembrança um período épico de nossa histórica futebolística, período este anterior à década de 70 e seu início. Além do que em tempos idos não existiam os recursos informativos e visuais que temos facilmente hoje. Os aparelhos de televisão eram para poucos, o rádio até possuía mais penetração na grande massa mais tinha um cunho nostálgico, pois simplesmente não havia imagens. Ficávamos muito mais a mercê da
emoção do narrador de que mesmo dos fatos reais. Nossas mentes desenrolavam as jogadas e as mesmas as concluíam como um possível sonho. Por estas razões alguns atletas que desfilavam pelos gramados e exibiam seus talentos ficavam no lastro imaginário e não eram fisicamente definidas, assim como, a retratação e a conclusão de suas jogadas. Essa contextualização física e factual ficava a cargo de cada ouvinte torcedor e do seu poder imaginário, retocadas pelo seu grau de paixão pelo time. Deste modo eram criados e sobreviviam os jargões, os apelidos e as jogadas retocadas magicamente pela fala do narrador da partida.

Neste contexto e cenário alguma coisa me leva a imaginar que alguns jogadores desconsideravam as leis da física e harmônica da arte do futebol, como pode, por
exemplo, um jogador com a estrutura corporal de Dario conseguir alcançar suas proezas como centroavante. Não possuía velocidade, seu comando físico era visivelmente lento e desengonçado, aonde faltava beleza e arte, sobrava humor, simpatia e malandragem. Acreditar que nosso Dadá Maravilha era realmente maravilhoso, custa a acreditar. Acreditar que Dadá beija-flor parava mesmo no ar, custa acreditar. Acreditar que o nosso Dadá peito de aço tinha realmente em peito uma liga de Fec (Ferro e Carbono), acreditávamos menos ainda. Agora, acreditar que chegou próximo ao rei Pelé em número de gols é real. Que foi artilheiro por times onde atuou é fato. Que ganhou campeonatos importantes é verídico. Que era em fim um temido e operante goleador é legítimo.

Quando vejo triunfar seus gols nas sequelas imagens das memórias, registros e arquivos televisivos, só assim passo a acreditar que a bola domesticada por esse gigante goleador, foi em 926 vezes se desenrolar pelo chão ou ar até se acomodar dentro das obcecadas redes simetricamente alinhadas.