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EU VOLTEI!

por Zé Roberto Padilha

A última vez que vim ao Maracanã jogava no Bonsucesso, que estava na primeira divisão e enfrentamos o Fluminense. O Flu de 1985, de Branco, Assis e Deley nos derrotou por 3×0.

O cheirinho do gramado, encoberto, pisoteado, era quase o mesmo. Parecia apenas saudoso de quem o anda frequentando. Fica aguardando o “Jogo das Estrelas” para matar as saudades do Zico.

Trinta e oito anos depois, Eduardo, meu neto, 15 anos, nos trouxe de volta. Ele, como o avô, ama os Beatles, e gentilmente nos deu de presente um ingresso para ver e ouvir Paul McCartney.

Eduardo é a prova definitiva que nenhuma banda irá superar os Beatles. Como esse gramado não verá jamais quem irá superar o Rei Pelé.

O FAMOSO CASAL

por Elso Venâncio

Nos anos 50, com Getúlio Vargas iniciando a sua era democrática, um assunto dominava as conversas e o noticiário na capital da República. A união de Waldir Pereira, o craque Didi, do Fluminense, um negro elegante, carismático, cabeça erguida dentro e fora de campo, e a bela Guiomar Batista, jovem e famosa cantora e atriz da Rádio Nacional. O jornalista Fernando Calazans escreveu em sua coluna no jornal ‘O Globo’:

“Didi e Guiomar formavam o casal mais famoso da época, sempre presente nas colunas sociais.”

Didi nasceu em Campos dos Goytacazes e foi, em campo, um dos maiores maestros que o futebol já viu. Marcou o primeiro gol da história do Maracanã e inventou uma batida na bola que ninguém conseguia imitar. Com a parte externa do pé, chutava forte. A bola subia e de repente descia, mudando de direção em pleno ar.

Luiz Mendes, o ‘Comentarista da Palavra Fácil’, apelidou o chute de ‘Folha Seca’. Mendes dizia:

“Didi foi quem ensinou Gerson a lançar.”

O meia criou, também, a paradinha na cobrança de pênalti.

O grande Ary Barroso, locutor esportivo, pianista e compositor de algumas músicas eternas, como ‘Aquarela do Brasil’, namorava Guiomar quando ela se apaixonou por Didi. Ary mergulhou desde então na boêmia e compôs o samba canção ‘Risque’, sucesso na voz de Linda Batista, outra estrela do Rádio:

“Risque meu nome do seu caderno

Pois não suporto o inferno

Do nosso amor fracassado

Deixa que eu siga novos caminhos

Em busca de outros carinhos

Matemos nosso amor passado”

Didi entrava pelo portão principal das Laranjeiras. Aliás, ele e Carlyle, um artilheiro que tinha se destacado no Atlético Mineiro e na Seleção Brasileira. Carlyle era a nova versão de Heleno de Freitas. Galã, brigão, amante da noite e sem depender do futebol para viver. Os demais seguiam em direção à porta dos fundos, na Rua Pinheiro Machado. O ‘badboy’ Carlyle se tornou empresário, vendendo ternos e camisas importadas no centro do Rio.

As brigas, movidas por ciúmes, eram constantes na vida do famoso casal. Didi era marcado de perto pela esposa. Se Didi errasse um passe durante o jogo a torcida gritava em coro o nome de Guiomar, culpando-a pelo lance.

Na Copa de 1958, a antiga CBD, hoje CBF, decidiu proibir a ida de esposas e namoradas dos jogadores ao Mundial. Na verdade, não queria Guiomar na cola de Didi, que quase desistiu de ir à Copa que o consagrou.

Ele foi o primeiro jogador a receber da FIFA o título de “Melhor do Mundo”, após a Copa da Suécia. Da imprensa europeia recebeu o apelido de ‘Mr. Football’. O Presidente Juscelino Kubitscheck, enquanto recepcionava os campeões do mundo no Palácio do Catete, chamou Didi a um canto, para um papo reservado:

“Que honra e emoção poder estar aqui com meu ídolo” – derreteu-se JK.

Didi vestiu, ainda, as camisas do Madureira, Fluminense, Botafogo, seu clube do coração, Real Madrid e São Paulo. Defendeu o Brasil em três Copas – 1954, 1958 e 1962 – sendo campeão nas duas últimas. Treinador de sucesso, dirigiu grandes clubes e a seleção do Peru, na Copa de 1970. Faleceu, aos 72 anos, em maio de 2001, sem realizar o sonho de ser técnico da Seleção Brasileira.

AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1984

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1984, Fluminense e Vasco da Gama chegaram à decisão do Brasileirão.

Nas semifinais, o Fluminense superou, até com relativa facilidade, o Corinthians.

Nas semifinais, o Vasco da Gama superou, também com relativa facilidade, o Grêmio, então campeão mundial de clubes.

O primeiro jogo das finais, realizado no Maracanã, foi vencido pelo Fluminense por 1 x 0, gol de Romerito no primeiro tempo.

O segundo jogo das finais, realizado também no Maracanã, terminou empatado por 0 x 0, um jogaço.

No agregado dos resultados, o Fluminense sagrou-se campeão brasileiro!

A PRIMEIRA VEZ DE UM TIME BRASILEIRO NA EUROPA

por André Felipe de Lima

Maio de 1920. Naquele mês daquele já bem distante ano um fato marcaria a história do futebol brasileiro, que, apesar da menção em importantes jornais e revistas da época, como O Paiz e a Vida Sportiva, respectivamente, cairia no esquecimento. Desde que o grande Clube Atlético Paulistano comandado por Friedenreich, o maior astro do futebol da era do amadorismo, passeou pelos gramados europeus em 1925, goleando poderosos esquadrões do Velho Continente, acreditou-se ser aquela a primeira excursão de um time brasileiro de futebol na Europa. Mas não é bem assim. Como já dito, em maio de 1920, um brioso time de marinheiros do antigo navio Belmonte e associado ao já extinto Willegagnon F.C., perambulou por gramados europeus desfilando galhardia e futebol de primeira. Deram um baile em times poderosos, como o Benfica de Lisboa e os franceses Olympique de Marselha e Havre. Disputou quatro jogos, venceu três e perdeu somente um, para o Havre, de 2 a 0. Na “vera”, os marujos bateram os franceses pelo placar de 3 a 1. O Belmonte formava com, no gol, A.Reis. Na linha de zaga Agapito e Lopes. A linha média teve Luiz, Alziro e Peterman. No ataque, Alvaro, Maximo, Sebastião, Augusto e Aquino. Reportagem de O Paiz e a foto dos craques marinheiros em a Vida Sportiva confirmam o fato (jornais de Portugal e da França também), ou seja, um time de futebol brasileiro “baixou” na Europa pela primeira vez em 1920. E, assim, resgata-se uma verdade importantíssima da história do nosso futebol.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 40

por Eduardo Lamas Neiva

Santos e Botafogo foram mesmo os principais times do Brasil nos anos 60. Portanto, o papo no bar “Além da Imaginação” acabou retornando ao clube paulista, que obteve conquistas mais expressivas que o carioca.

Idiota da Objetividade: – A confirmação de que o Santos era o melhor time do mundo no início dos anos 60 veio em 1963, com a conquista do bicampeonato mundial. Almir Pernambuquinho foi um dos grandes nomes daquela final, como já dissemos.

Garçom: – O Santos enfrentou qual time mesmo na final?

João Sem Medo: – O Milan, que tinha um grande time. Os brasileiros Mazzola, que na Itália era conhecido como Altafini, e Amarildo, que havia substituído Pelé no Mundial do Chile, jogavam naquela equipe, que ainda tinha Rivera, Trappatoni e o Cesare Maldini, pai do Paolo Maldini, que disputou as Copas de 90 a 2002.

Garçom: – Lembro do Maldini filho, muito bom jogador. Foi vice pra gente, em 94.

João Sem Medo: – O pai dele também foi um grande jogador. Mas o Santos, mesmo sem Pelé, conseguiu superar o timaço do Milan.

Sem anunciar nada, Zé Ary põe no telão a versão de Zeca Baleiro pro hino mais popular do Santos, chamado de “O Leão do Mar” e que foi composto por Mangeri Neto e Mangeri Sobrinho.

O povo do bar assiste com atenção e quando o clipe acaba, João Sem Medo passa a bola pra Ceguinho Torcedor.

João Sem Medo: – O Santos conquistou aquele título de 63 no pau e na bola.

Ceguinho Torcedor: – O Santos era uma equipe assassinada pela desumanidade de seus dirigentes. Nenhuma equipe terrena pode jogar tanto sem morrer. E contra o Milan, o glorioso time santista ruía aos pedaços, estrebuchava, agonizava.

João Sem Medo: – Os times brasileiros eram obrigados a excursões extenuantes, com jogos de dois em dois dias, mais as viagens. Além do Pelé, o Santos jogou as finais de 63 no Maracanã sem o Zito e o Calvet.

Ceguinho Torcedor: – Nunca houve cansaço tamanho. E apesar disso ganhou do Milan na mais linda reação que se conhece. Ganhou duas vezes. No primeiro jogo, o Santos saiu pro intervalo perdendo por 2 a 0. Mas cai uma tempestade de 5º ato do Rigoletto no Rio de Janeiro e mudou tudo.

Como que por encanto, ouve-se um estrondo, um trovão com relâmpagos, e toda plateia fica arrepiada. Sobrenatural de Almeida dá sua gargalhada tenebrosa, cantarola um trechinho da ópera de Giuseppe Verdi (https://www.youtube.com/watch?v=fYDI6MWkCW8) e todos entendem que ele tinha atuado como sonoplasta da narração do Ceguinho Torcedor, que prossegue.

Ceguinho Torcedor: – O Santos virou e levou a decisão para a terceira partida. Houve quem dissesse que Almir era um delinquente irrecuperável e paranoico. Mas se Almir chutou o Amarildo no terceiro jogo, o que fez Didi, o Príncipe Etíope de Rancho, que quebrou o Mendonça? Ninguém o chamou de delinquente e paranoico. Nem o próprio Amarildo, que quebrou o Jair Marinho, num Fluminense e Botafogo.

Didi, em sua mesa, ao lado de d. Guiomar, nada fala, apenas acompanha a resenha com atenção. Numa mesa próxima, Almir Pernambuquinho apenas sorri quando João Sem Medo começa a relatar o que viu naqueles jogos finais.

João Sem Medo: – A pancadaria comeu solta no Maracanã. Almir deu um chute em Amarildo logo no início do primeiro jogo no Maracanã. Almir, que aqui está e não me deixará mentir, confessou que jogou dopado e que foi pra vingar Pelé, por quem tinha grande respeito. Amarildo teria dito em entrevista que Pelé não era mais o Rei. E Pelé não pôde ir a campo em nenhum dos dois jogos. Almir foi em seu lugar e na partida que decidiu o título sofreu o pênalti de Maldini, que quis brigar e foi expulso. Dalmo pegou a bola que seria do Pepe e converteu o pênalti pra dar o título ao Santos.  Até o Lula, técnico do Santos, agrediu com um soco o Carniglia, treinador do Milan. O Trapattoni caçou o Almir em campo, mas ficou até o fim do jogo. Ismael deu uma cabeçada em Amarildo e também foi expulso.

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso! Eu fiz plantão naqueles dois jogos e irritei muito os jogadores do time italiano. (dá outra gargalhada tenebrosa e volta a cantarolar um trecho do Rigoletto)

Idiota da Objetividade: – O Santos chegou à final do Mundial de 63 depois de conquistar a Libertadores daquele ano. Eliminou o Botafogo na semifinal, com um empate em 1 a 1, no Pacaembu, e goleada de 4 a 0, no Maracanã. Na final contra o Boca Juniors, da Argentina, venceu por 3 a 2 no Maracanã, e 2 a 1, em La Bombonera.

João Sem Medo: – O Santos ganhou do Boca lá dentro, de virada, com gols de Coutinho e Pelé.

Idiota da Objetividade: – Pelé só jogou o primeiro jogo das finais do Mundial, em Milão, na derrota de 4 a 2. Ele fez os dois gols do Santos, de pênalti. Amarildo fez dois pro Milan. No Maracanã, diante de 132 mil pagantes, o Santos perdia por 2 a 0 no primeiro tempo, mas virou na segunda etapa para 4 a 2, com dois gols de Pepe, ambos de falta, um de Almir e outro de Lima. Foi necessário então um terceiro jogo, disputado dois dias depois, em 16 de novembro de 1963. Mais de 120 mil pessoas pagaram ingresso para ver quem seria o campeão. E numa partida marcada pela violência, como João já nos relatou, o Santos ganhou de 1 a 0, gol de pênalti marcado por Dalmo, aos 35 minutos de jogo.

Almir Pernambuquinho, enfim, pede a palavra de sua mesa.

Almir: – Entrei com tudo naquela partida, pra matar ou morrer. Eu só pensava no bicho, que dava pra comprar um Fusca do ano. Fui incentivado por um dirigente chamado Nicolau Moran. Ele me disse: “Você pode fazer o que quiser em campo, Almir. Você é rei lá dentro, faz o que achar melhor. O juiz não vai fazer nada”.

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso, Almir. Assombroso.

O público ri e Zé Ary pede a palavra.

Garçom: – Como falamos muito do grande Santos bicampeão mundial, vamos fazer uma grande homenagem aqui com mais duas versões no telão do hino do clube: “Leão do Mar”, com Paulo Miklos, e o hino oficial com a Rygel, banda santista de heavy metal. Aguentem os ouvidos aí!

Músico: – Aumenta que isso aí é roquenrol!

Fim do capítulo 40

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Um gol desse não se perde!