Escolha uma Página

O FLU NO TOPO DO MUNDO

por Paulo-Roberto Andel

São quase sete da noite a poucos dias do Natal. Mesmo sem a expectativa de ceia ou um presente, estou sonhando acordado. Mesmo.

Ah, o futebol. Só ele para virar nossos fusos horários da alma.

Esperei cinquenta anos pelo que aconteceu hoje à tarde. O Fluminense volta a disputar o topo do mundo, depois de bater o egípcio Al-Ahly por 2 a 0, gols imortais de Jhon Árias e John Kennedy.

Nesta tarde de segunda-feira, o Fluminense honrou os heróis do Mundial de 1952, numa longa lista de monumentos que vão de Castilho e Pinheiro e vão a Didi, Telê e Waldo, para citar alguns nomes.

O Flu também honrou os gigantes de sua história secular, que só cabem numa enciclopédia com uma dezena de volumes. São muitos, muitos. Pense em Marcos Carneiro de Mendonça, Welfare, Brant, Preguinho, Batatais, Romeu, Tim, Russo, Denilson, Altair, Jair Marinho, Samarone, Flávio Minuano, Manfrini, Félix… Assis e Washington, Romerito, Branco… Ézio, Renato, Fred, Deco, Thiago Neves. A Máquina inteira. As Máquinas. É Rivellino, é Carlos Alberto Torres, é Edinho, Pintinho, Cleber, Rubens Galaxe…

E honrou seu maior patrimônio: sua torcida, imensa torcida espalhada pelo Brasil, marcada por uma característica em qualquer situação: a elegância. O charme. Romário sempre diz que a torcida do Fluminense é a mais charmosa de todas e tem razão. Beleza, todas têm. Charme vai além da beleza.

[continuo sonhando acordado

Vi este jogo sozinho. Eu e minha bandeirinha de mão, meus botões, minhas lembranças e saudades. Quanta gente deveria estar aqui para ver isso? São muitos nomes também. Ah, minha família, o Jefferson, a Marina, o João Carlos, o Alberto Lazzaroni. Quis o destino que fosse assim. Eu, minha bandeirinha e um copo de Coca-Cola. Tudo bem: fiz assim muitas vezes no Maracanã, torcendo por Neinha, Baiano, os falecidos ngelo e Wander Luís, o falecido Zezé, ora no concreto das arquibancadas, ora na fabulosa geral, um laboratório de antropologia.

Eu queria dizer que, para chegar até esta final do Mundial de Clubes, o Fluminense percorreu uma longa estrada, cheia de nuances. Eu embarquei no ônibus em 1973 e nunca mais larguei. Aos 55 anos, sei que estou mais perto do fim do que do começo, mas ainda parece ter muito chão pela frente.

Assim como eu aprendi a respeitar os monstros da Máquina para sempre, as crianças do Fluminense estão se esbaldando com as defesas de Fábio, com a garra de Felipe Melo, com o talento espetacular de Marcelo, os gols de Cano e Arias, os gols de John Kennedy, os combates implacáveis de André e Martinelli. Elas têm motivo para orgulho e exaltação: em menos de dois anos, um time que tinha passado dez temporadas em vão voltou a ser bicampeão carioca, campeão da Libertadores e agora vai com tudo para tentar o bicampeonato mundial.

São pouquíssimos dias até a final do Mundial de Clubes, mas nós, tricolores, vamos vivê-los como se fossem uma vida inteira. Estamos todos juntos, vivos, mortos, saudosos, sonhando acordados com uma alegria que, até bem pouco tempo atrás, era simplesmente inimaginável.

Desde os tempos do campo na Rua Guanabara, o Fluminense tem a vocação de ser régua e compasso do futebol brasileiro. Urawa ou Manchester, podem se preparar: nós viemos de longe, muito longe. Já escrevemos muita coisa e sonhamos com mais páginas.

Há quem diga que é o destino, mas na verdade é sina.

Fluminense, te amamos. Dai-nos a paz.

[o sonho é permanente

EU VOLTEI!

por Zé Roberto Padilha

A última vez que vim ao Maracanã jogava no Bonsucesso, que estava na primeira divisão e enfrentamos o Fluminense. O Flu de 1985, de Branco, Assis e Deley nos derrotou por 3×0.

O cheirinho do gramado, encoberto, pisoteado, era quase o mesmo. Parecia apenas saudoso de quem o anda frequentando. Fica aguardando o “Jogo das Estrelas” para matar as saudades do Zico.

Trinta e oito anos depois, Eduardo, meu neto, 15 anos, nos trouxe de volta. Ele, como o avô, ama os Beatles, e gentilmente nos deu de presente um ingresso para ver e ouvir Paul McCartney.

Eduardo é a prova definitiva que nenhuma banda irá superar os Beatles. Como esse gramado não verá jamais quem irá superar o Rei Pelé.

O FAMOSO CASAL

por Elso Venâncio

Nos anos 50, com Getúlio Vargas iniciando a sua era democrática, um assunto dominava as conversas e o noticiário na capital da República. A união de Waldir Pereira, o craque Didi, do Fluminense, um negro elegante, carismático, cabeça erguida dentro e fora de campo, e a bela Guiomar Batista, jovem e famosa cantora e atriz da Rádio Nacional. O jornalista Fernando Calazans escreveu em sua coluna no jornal ‘O Globo’:

“Didi e Guiomar formavam o casal mais famoso da época, sempre presente nas colunas sociais.”

Didi nasceu em Campos dos Goytacazes e foi, em campo, um dos maiores maestros que o futebol já viu. Marcou o primeiro gol da história do Maracanã e inventou uma batida na bola que ninguém conseguia imitar. Com a parte externa do pé, chutava forte. A bola subia e de repente descia, mudando de direção em pleno ar.

Luiz Mendes, o ‘Comentarista da Palavra Fácil’, apelidou o chute de ‘Folha Seca’. Mendes dizia:

“Didi foi quem ensinou Gerson a lançar.”

O meia criou, também, a paradinha na cobrança de pênalti.

O grande Ary Barroso, locutor esportivo, pianista e compositor de algumas músicas eternas, como ‘Aquarela do Brasil’, namorava Guiomar quando ela se apaixonou por Didi. Ary mergulhou desde então na boêmia e compôs o samba canção ‘Risque’, sucesso na voz de Linda Batista, outra estrela do Rádio:

“Risque meu nome do seu caderno

Pois não suporto o inferno

Do nosso amor fracassado

Deixa que eu siga novos caminhos

Em busca de outros carinhos

Matemos nosso amor passado”

Didi entrava pelo portão principal das Laranjeiras. Aliás, ele e Carlyle, um artilheiro que tinha se destacado no Atlético Mineiro e na Seleção Brasileira. Carlyle era a nova versão de Heleno de Freitas. Galã, brigão, amante da noite e sem depender do futebol para viver. Os demais seguiam em direção à porta dos fundos, na Rua Pinheiro Machado. O ‘badboy’ Carlyle se tornou empresário, vendendo ternos e camisas importadas no centro do Rio.

As brigas, movidas por ciúmes, eram constantes na vida do famoso casal. Didi era marcado de perto pela esposa. Se Didi errasse um passe durante o jogo a torcida gritava em coro o nome de Guiomar, culpando-a pelo lance.

Na Copa de 1958, a antiga CBD, hoje CBF, decidiu proibir a ida de esposas e namoradas dos jogadores ao Mundial. Na verdade, não queria Guiomar na cola de Didi, que quase desistiu de ir à Copa que o consagrou.

Ele foi o primeiro jogador a receber da FIFA o título de “Melhor do Mundo”, após a Copa da Suécia. Da imprensa europeia recebeu o apelido de ‘Mr. Football’. O Presidente Juscelino Kubitscheck, enquanto recepcionava os campeões do mundo no Palácio do Catete, chamou Didi a um canto, para um papo reservado:

“Que honra e emoção poder estar aqui com meu ídolo” – derreteu-se JK.

Didi vestiu, ainda, as camisas do Madureira, Fluminense, Botafogo, seu clube do coração, Real Madrid e São Paulo. Defendeu o Brasil em três Copas – 1954, 1958 e 1962 – sendo campeão nas duas últimas. Treinador de sucesso, dirigiu grandes clubes e a seleção do Peru, na Copa de 1970. Faleceu, aos 72 anos, em maio de 2001, sem realizar o sonho de ser técnico da Seleção Brasileira.

AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1984

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1984, Fluminense e Vasco da Gama chegaram à decisão do Brasileirão.

Nas semifinais, o Fluminense superou, até com relativa facilidade, o Corinthians.

Nas semifinais, o Vasco da Gama superou, também com relativa facilidade, o Grêmio, então campeão mundial de clubes.

O primeiro jogo das finais, realizado no Maracanã, foi vencido pelo Fluminense por 1 x 0, gol de Romerito no primeiro tempo.

O segundo jogo das finais, realizado também no Maracanã, terminou empatado por 0 x 0, um jogaço.

No agregado dos resultados, o Fluminense sagrou-se campeão brasileiro!

A PRIMEIRA VEZ DE UM TIME BRASILEIRO NA EUROPA

por André Felipe de Lima

Maio de 1920. Naquele mês daquele já bem distante ano um fato marcaria a história do futebol brasileiro, que, apesar da menção em importantes jornais e revistas da época, como O Paiz e a Vida Sportiva, respectivamente, cairia no esquecimento. Desde que o grande Clube Atlético Paulistano comandado por Friedenreich, o maior astro do futebol da era do amadorismo, passeou pelos gramados europeus em 1925, goleando poderosos esquadrões do Velho Continente, acreditou-se ser aquela a primeira excursão de um time brasileiro de futebol na Europa. Mas não é bem assim. Como já dito, em maio de 1920, um brioso time de marinheiros do antigo navio Belmonte e associado ao já extinto Willegagnon F.C., perambulou por gramados europeus desfilando galhardia e futebol de primeira. Deram um baile em times poderosos, como o Benfica de Lisboa e os franceses Olympique de Marselha e Havre. Disputou quatro jogos, venceu três e perdeu somente um, para o Havre, de 2 a 0. Na “vera”, os marujos bateram os franceses pelo placar de 3 a 1. O Belmonte formava com, no gol, A.Reis. Na linha de zaga Agapito e Lopes. A linha média teve Luiz, Alziro e Peterman. No ataque, Alvaro, Maximo, Sebastião, Augusto e Aquino. Reportagem de O Paiz e a foto dos craques marinheiros em a Vida Sportiva confirmam o fato (jornais de Portugal e da França também), ou seja, um time de futebol brasileiro “baixou” na Europa pela primeira vez em 1920. E, assim, resgata-se uma verdade importantíssima da história do nosso futebol.