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PROJETO SOCIAL DO EX-PARCEIRO DE RONALDO FENÔMENO COMPLETA 17 ANOS EM SÃO GONÇALO

por Marcos Vinicius Cabral

O Centro de Oportunidade ao Talento (COT) celebrou, na manhã deste sábado (20), 17 anos de existência. Uma partida beneficente foi realizada e contou com a presença de vários amigos de Clayton Divina, primeiro jogador a fazer dupla com Ronaldo Fenômeno. O evento, realizado na Arena Profit, no Porto Novo, em São Gonçalo, teve duas partidas: uma entre núcleos da escolinha e a outra entre padrinhos do COT e time das estrelas. A ação arrecadou mais de 200 quilos de alimentos não perecíveis e teve as presenças de Sérgio Gevú, vice-prefeito da cidade, e Reginaldo, presidente do São Gonçalo Esporte Clube.

“São 17 anos formando atletas para o futebol e homens para a vida. Me orgulho muito em chegar até aqui e ter o trabalho do COT sendo reconhecido. Infelizmente, por ser um mês em que boa parte da boleiragem está de férias, não tivemos a participação de Diego Souza e Ricardo Rocha. Mas os que compareceram, abrilhantaram o evento que arrecadou mais de 200 quilos de alimentos não perecíveis”, disse Clayton com exclusividade ao Museu da Pelada.

Sérgio Gevú, vice-prefeito de São Gonçalo, prestigiou o aniversário do COT. Apesar do sábado de Sil intendo, o político fez questão de tirar fotos com a criançada e conversar com Clayton, idealizador do projeto.

“Clayton é um herói. O trabalho realizado por Clayton na vida destes meninos merece aplausos. Vim em nome do capitão Nelson e esperamos que saiam daqui muitos ‘Claytons’ da vida. São Gonçalo é celeiro de craques e tenho certeza que muitos jogadores que aqui estão vão se tornar atletas profissionais de futebol”, contou.

Fundado em 2006, o COT oferece aulas de futebol para crianças de 5 a 15 anos da comunidade local como forma de promover inclusão social para os pequenos. Ele foi fundado pelo próprio Clayton Divina, conhecido como Grilo ou Berreco, no ano em que se aposentou do esporte, após uma carreira que começou junto a do Ronaldo Fenômeno, no São Cristóvão. Clayton também jogou no Grêmio, e entre os vários clubes que defendeu, estão o Fluminense e Portuguesa (RJ), com passagens também pelo futebol árabe.

O COT já formou diversos atletas que, hoje, atuam em grande clubes do futebol brasileiro no profissional, como no Flamengo e Botafogo. A sede do projeto está localizada na Rua Silvio Vale n°45, no bairro do Gradim, em São Gonçalo, também estando presente no bairro de Santa Isabel, por meio de uma quadra de salão (futsal).

O projeto possui parceria com diversos clubes do Brasil, como o Grêmio, Portuguesa, São Cristóvão, Rio Branco (Acre), Sorriso (Mato Grosso), São Gonçalo e Olímpico de Itabaianinha (Sergipe).

AS LIÇÕES DA COPA

por Luciano Teles

A morte de Zagallo deixou um espaço que nunca será preenchido. Pode outro ganhar tudo que ele ganhou. Na seleção ou nos times pelos quais passou, como jogador e treinador. Mas nunca terá a expressividade, o carisma e o significado que dele emanavam. Relatos mostrando isso nunca faltaram. Principalmente no momento de sua passagem final. Porém, posso estar enganado, mas, nas matérias pelo seu falecimento, em meio aos feitos do Velho Lobo, não vi nada sobre seu livro, As Lições da Copa – Ed. Bloch, 1971. É uma obra de 187 páginas. Nela, ele lista todo seu drama vivido, na Copa de 1970: desde o convite para ser técnico, a 77 dias da competição maior do futebol, até seu retorno, com a Jules Rimet nas mãos, definitivamente sob posse brasileira.

É um relato determinante daquela que talvez tenha sido a mais épica conquista de nossa Seleção. Pensamentos e declarações daquele que esteve à frente dos jogadores e, por que não?, literalmente ao lado deles, à beira do campo. Porém, mais do que o técnico que fora chamado às pressas, que teve de escolher (e cortar) jogadores, que lhes chamou a atenção e os confortou, nos momentos e da forma corretos, e que montou seu próprio esquema de jogo, o relato mostra algo tão importante quanto tudo isso: que o determinado e resoluto personagem, que viria a permear páginas de livros, jornais e revistas, além de conversas e discussões, em salas de estar, bares e escritórios por décadas adiante, já estava pronto. Apenas tinha um “L” a menos.

A obra chegou até mim através de um ato que deveria ser mais frequente, na nossa sociedade. Eu trabalhava num hospital (migrei do jornalismo para a odontologia), em São Gonçalo, RJ, quando encontrei um carrinho de supermercado, abarrotado de livros, num dos corredores. Todos para serem doados. Que cada um pegasse o que quisesse. Se possível, que deixasse algum. Peguei “As Lições da Copa” e outros. No outro dia, levei uns títulos, já lidos e relidos, finalizando a troca. De início, me espantei, pois nunca tinha ouvido falar do tal relato do mestre, sobre a Copa do ano em que nasci.

O livro ainda pode ser encontrado, em sites especializados. E vale a pena cada centavo que for dispendido. Para mim, algumas coisas foram novidade. Outras, mesmo já sendo de conhecimento público, merecem destaque.

Zagallo começa o livro contando o que passou pela sua cabeça, após o apito final da decisão contra a Itália. Em meio a ser puxado aqui, carregado nos ombros ali, queria um espaço e quietude. Ainda viriam entrevistas, mais festa, até que conseguiu ficar sozinho no quarto do hotel. Por pouco tempo. Logo chegaram os irmãos Admildo (“o único que me chamava de Zé”) e Achilles Chirol – respectivamente, preparador físico (Copas de 1970, 74 e 78) e jornalista, convidado pela então CBD. Enquanto os dois irmãos choravam abraçados, Zagallo relata que se jogou à parede e ali também se deixou cair em prantos.

Sobre os jogadores, conta que só aceitou o convite (já dado como certo pela imprensa) após a garantia de levar os nomes que escolhesse. Que sua vivência, como bicampeão mundial pela própria Seleção, e já tendo conquistado uma Copa do Brasil, dois Cariocas e uma Taça Guanabara, como técnico do Botafogo, lhe deram credibilidade, junto à CBD e aos atletas. A torcida e a imprensa (“bairrista”, reclama) que precisavam ser convencidas de que a escolha tinha sido acertada. Como todo brasileiro já nasce técnico de seleção brasileira, Zagallo se viu às voltas com diversas críticas. Fosse por deixar um jogador no banco, fosse por escalar outro. Pelo que conta no livro, se respirasse, Zagallo seria criticado.

A determinação do recém-efetivado treinador da seleção nacional, a dois meses da Copa, se mostrou de valor. Optou pelo 4-3-3 e fez o que todo mundo viu: colocou 435 camisas 10 para jogarem juntos. Fala da difícil espera por Tostão (com seu problema na retina) e das mudanças no time. Explicou a cada um os motivos das substituições. Mas, acima de tudo, destaca como aquela foi uma seleção unida e solidária, com todos capazes de serem titulares. E que, quando chamados para entrar, mesmo num treino, perguntavam, preocupados: “Mas… no lugar do fulano?”. Não faltaram elogios aos reservas que entraram: Roberto, Marco Antônio, Edu e PC Caju – a quem elogiou, por superar muitas críticas.

Até o já Rei do Futebol, Pelé, deixou Zagallo à vontade, se quisesse substituí-lo. Zagallo destaca que seu amigo de bicampeonato mundial vinha de duas Copas das quais saiu machucado: 1962, no Chile, e 1966, na Inglaterra. E que isso gerava dúvidas sobre sua condição física, tanto na torcida, quanto em alguns da imprensa. Mas que, apesar de já ter 29 anos, Pelé sabia se poupar e preservar, quando necessário.

Também é válido sublinhar a admiração mútua e amizade que uniam Zagallo e Pelé. Confesso que me emocionei, quando li algumas partes de todo um capítulo que o Velho Lobo dedicou a seu amigo e colega de seleção. Chegou a ser claro com Pelé: “Dizem que você está míope, sem condições físicas e com seu futebol acabado. Você vai provar o contrário a toda essa gente”. “Quiseram sepultar o Pelé e eu o fiz renascer”, ressalta, satisfeito. Franqueza, incentivo e determinação que acompanharam Zagallo até sua despedida deste plano.

Ainda: por duas vezes, em diferentes partes do livro, rememora as jogadas de Pelé. Contra a Tchecoslováquia, aquele que viria a ser o famoso “gol que Pelé não fez”, quando o rei tentou encobrir o goleiro Viktor. Já no jogo com o Uruguai, quando aproveitou um tiro de meta mal cobrado pelo goleiro Mazurkiewicz, e chutou de bate-pronto. Por fim, o famoso drible que deixou o arqueiro uruguaio totalmente tonto, na entrada da área, mas que acabou arrematando para fora. Estranhei não ter destacado o cabeceio certeiro de Pelé, que terminou na famosa defesa de Gordon Banks, no jogo contra a Inglaterra.

Sobre os jogos, em si, Zagallo cobrou seriedade em todos. E fez algumas observações válidas. Os ingleses, últimos campeões, revelaram certa soberba, certos de que levantariam a taça novamente. Haviam levado tudo para o México. De ônibus a alimentos. E mal falavam com alguém fora de seu círculo. Totalmente o contrário do que fez a Seleção Brasileira, que foi adotada pelos mexicanos. Destacou que, contra o Peru, enfrentariam uma seleção treinada por alguém que jogou muito e sabia muito: Didi. Seu companheiro de títulos, em 1958 e 1962. Mas que ainda jogava no 4-2-4, que foi bem explorado.

Já contra o Uruguai, jogou para o alto qualquer história de fantasma, sempre levantada pela imprensa. Na época, o Maracanazo já estava cinco Copas atrás, vinte anos. Sobre isso, ressaltou bem que a maioria dos jogadores brasileiros nem tomou noção do que tinha acontecido em 1950. Eram crianças. “Eu já era “reco”, soldado do Exército e de serviço em pleno Maracanã. Vi tudo com meus próprios olhos e digo: vamos mandá-los de volta para casa!”, lembrou.

Zagallo revela que, quando chegou na decisão, contra a Itália, confiava na vitória. Mas já dava seu serviço como realizado. Afinal, pegara uma seleção a dois meses da Copa, escalou time, planejou esquema de jogo, montou equipe de trabalho e, apesar da certeza da vitória, viu que dera conta do “rabo de foguete”, conforme fora alertado pelos amigos. Todos sabemos do resultado. Mas, voltando ao início do livro, em que relata o pós-jogo da final, também retorno à relação de Zagallo com Pelé: pegou a camisa usada pelo rei do futebol, no primeiro tempo da decisão.

Se me permitem uma opinião, o homem tinha o dom da escrita. Poderia tê-lo desenvolvido mais. É um livro com o português da época. Palavras mudaram. Uma revisão corrigiria uma ou outra coisa. Épico, por vezes, sim. Mas de forma completamente justa. A revista Manchete, da época, define bem: Epopeia. As lições do título passam por superação do convite repentino, das críticas a seu trabalho, a sua escalação e até a sua família. Percorrem o caminho da determinação, da humildade e na confiança em si e na equipe técnica e, claro, de jogadores. Desaguam em não ficar remexendo o passado. Cita sua relação com João Saldanha (técnico que classificou a Seleção), como “dentro do figurino”. E saber que a vida continua.

Com uma segunda permissão, sugiro outra coisa: é uma leitura fácil e rápida, mas que fica ainda melhor, se acompanhada de vídeo dos jogos ou gols. Por ter um capítulo dedicado a cada partida. Se o Velho Lobo já sabia se expressar, imagine lendo seu relato e vendo as cenas.

Por falar em cenas, algumas me ficaram na cabeça. A primeira, ao imaginar Zagallo se jogando contra a parede, em prantos, logo após o título. Visualizar isso é importante. É Zagallo sendo Zagallo, sentimento puro. Não é só chorar. É se jogar à parede, da mesma forma com que se jogou à vida, à Seleção.

A segunda, quando, depois de um dia inteiro de celebrações, que começaram na chegada a Brasília. Ele simplesmente relata que saiu, em uma Kombi, com Gérson e Roberto, da última comemoração da noite da chegada, num hotel do Rio. Todos ficaram na Praça XV. Ele pegou um táxi para casa. Enquanto Gérson e Roberto pegaram uma barca e foram para Niterói. Às vezes, epopeias podem terminar de forma bem prosaica.

** As fotos, além da capa do livro, mostram uma daquelas edições da revista Manchete, com um compacto de brinde, contendo as narrações dos gols de cada partida. O exemplar que adquiri trouxe uma foto da própria redação da revista, com carimbo no verso e tudo, com Tostão se levantando, após ter marcado seu segundo gol, contra o Peru. Fiquei particularmente feliz, por ser foto de redação e ser de um gol que marcou minha memória de criança, pelo fato de Tostão colocar a mão na cabeça, logo depois, na comemoração, por ter batido em alguém ou na trave. E pela foto também estar na revista.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 45

por Eduardo Lamas Neiva

Após a “Homenagem a Pelé” que todos acompanharam com atenção e emoção, João Sem Medo retomou o papo falando dos dois maiores gênios da História do futebol brasileiro e mundial.

João Sem Medo: – Com Garrincha e Pelé em campo a seleção brasileira jamais perdeu um jogo sequer.

Idiota da Objetividade: – João, foram ao todo 40 partidas, com 35 vitórias do Brasil e cinco empates. Juntos em campo, ambos fizeram 54 gols: Pelé fez 44 e Garrincha, 10. Com a camisa da seleção, Garrincha só saiu de campo derrotado uma vez, no seu último jogo pelo Brasil, já na Copa de 66, nos 3 a 1 para a Hungria. Com Pelé, Mané atuou pela última vez pela seleção na estreia do Mundial da Inglaterra, na vitória de 2 a 0 sobre a Bulgária.

João Sem Medo: – Cada um fez um gol naquela partida, em 66. Mané jogou contra a Hungria, mas Pelé não. E contra Portugal, Pelé jogou…

Ceguinho Torcedor: – Foi caçado em campo.

João Sem Medo: – Foi mesmo. Mané não atuou na derrota de 3 a 1 para Portugal, jogo que eliminou a seleção na primeira fase da Copa de 66.

Garçom: – Pelé e Garrincha, será que teremos outra dupla igual a essa algum dia? Com a licença dos grandes amigos que estão aqui, vou pedir uma ajudinha a outro gigante da nossa Cultura pra falar, ou melhor, cantar um pouco mais sobre o nosso futebol e esta dupla genial. No telão e nas nossas caixas de som, Chico Buarque, em “O futebol”, de sua própria autoria.

Mesmo presente apenas em vídeo, Chico é aplaudido de pé pela plateia.

Garçom: – Em 58, Pelé e Garrincha arrebentaram. Tinha só sete anos de idade, mas me lembro bem da festança.

Idiota da Objetividade: – Os dois estrearam juntos em Copa do Mundo na vitória sobre a Rússia, de 2 a 0, que classificou o Brasil para as quartas de final. Enfrentamos a seleção do País de Gales.

João Sem Medo: – Foi um jogo muito duro.

Ceguinho Torcedor: – O povo queria que enfiássemos uns seis ou sete. Eis a nossa tragédia: – a pura e simples vitória não basta. Desejamos enfeitá-la, pôr-lhe fitinhas e guizos. E o triunfo sem show, sem apoteose, o triunfo enxuto deixa o brasileiro descontente e desconfiado. Mas eu vos digo: – foi a maior vitória brasileira. Imaginem se, por um absurdo, tivéssemos batido de 15. Íamos enfrentar a França como uns anjinhos, com a sensação mortal da invencibilidade.

Sobrenatural de Almeida: – Como aconteceu em 50…

Ceguinho Torcedor: – Em 50, perdemos a Copa porque goleamos a Espanha.

Garçom: – Foi contra o País de Gales que Pelé fez aquele golaço, dando um chapeuzinho no zagueiro?

Idiota da Objetividade: – Não foi um balão. O gol em que Pelé deu balãozinho ou chapéu, como queira, foi na final contra a Suécia. Contra Gales, ele estava de costas pro gol, matou a bola no peito, deu um toque pra tirar um zagueiro da jogada e foi mais rápido que outro que vinha na cobertura pra marcar o gol.

Garçom: – Vamos ver no telão, então. Com narração do grande Geraldo José de Almeida, que ali está, (imitando a voz do narrador) minha gente!

Geraldo José de Almeida: – Olha lá, olha lá, olha lá! No placarrrrrr… (rindo muito) Agradeço muito a todos pelos aplausos e a você Zé Ary pela brilhante imitação.

Todos vibram muito e aplaudem ainda mais Geraldo José de Almeida.

Ceguinho Torcedor: – Amigos, nada descreve o uivo, o urro que soltamos, aqui, quando o “speaker”…

Todos os outros: – “Speaker”, Ceguinho?

Ceguinho Torcedor: – O locutor de rádio, o narrador. Nada descreve o uivo, o urro que soltamos quando ele atirou o seu berro bestial “gol!”! Até aquele momento, o Brasil inteiro, de ponta a ponta, do presidente da República ao apanhador de guimba, o Brasil estava agonizando, morrendo ao pé do rádio. E veio Pelé, com seus 17 anos, e fez o milagre. Olhem Pelé, examinem suas fotografias da época e caiam das nuvens. Era, de fato um menino, um garoto. Se quisesse entrar num filme de Brigitte Bardot seria barrado, seria enxotado.

Um alvoroço na porta faz o público todo do bar Além da Imaginação se levantar. Era Pelé chegando. Houve uma ovação sem igual.

Pelé: – Muito obrigado. Seu Ceguinho está certo, eu era muito jovem ainda em 1958 e foi uma emoção muito grande aquele gol e a conquista do título, entende?

João Sem Medo e Ceguinho Torcedor, com a ajuda de Sobrenatural de Almeida, conseguem se aproximar e dar um abraço em Pelé.

João Sem Medo: – Agora a festa está completa.

Quando Pelé finalmente consegue se sentar, bem à frente da mesa onde nossos quatro personagens principais estão, Zé Ary toma a palavra.

Garçom: – Nós todos é que só temos a agradecer ao Rei Pelé, não é? Então, vamos pôr mais música nas caixas de som, desta vez acompanhadas de imagens maravilhosas do Rei registradas pelo Canal 100 no nosso telão. Mas antes, aproveito pra pedir uma salva de palmas a Carlinhos Niemeyer, o criador do Canal 100, que está presente na casa.

Carlinhos Niemeyer se levanta e agradece os efusivos aplausos do pessoal presente ao Além da Imaginação. Zé Ary então anuncia a próxima atração.

Garçom: – Vamos ouvir “Obrigado, Pelé”, de Miguel Gustavo, com o MPB-4.

Todo mundo fica embevecido com a música e as imagens. Pelé agradece mais uma vez os aplausos e fica com a pelota.

Pelé: – Preciso agradecer muito ao Miguel Gustavo, que ali está, e também ao MPB-4…

Garçom: – Magro e Ruy Faria estão aqui, muitos aplausos pra eles, por favor.

Ambos agradecem. E Pelé conclui emocionado.

Pelé: – É muita homenagem bonita de vocês, entende. Muito obrigado.

É mais aplaudido ainda. Inclusive por Garrincha, que timidamente não deixa seu lugar, Didi, Carlos Alberto Torres, Félix e outros ex-companheiros de Santos e seleção brasileira. 

Fim do Capítulo 45

Quer acompanhar a série “Uma coisa jogada com música” desde o início? O link de cada episódio já publicado você encontra aqui (é só clicar).

Saiba mais sobre o projeto Jogada de Música clicando aqui.

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AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1990

por Luís Filipe Chateaubriand

No ano de 1990, os arquirrivais paulistas São Paulo e Corinthians decidiram o título do Campeonato Brasileiro.

O São Paulo conseguiu vaga na decisão ao eliminar o Grêmio nas semifinais.

O Corinthians conseguiu vaga na decisão ao eliminar o Bahia nas semifinais.

O primeiro jogo das finais, no Estádio do Morumbi, teve mando de campo do Corinthians.

O Corinthians venceu por 1x 0, gol de Wilson Mano logo no início do primeiro tempo.

O segundo jogo, também disputado no Estádio do Morumbi, teve mando de campo do São Paulo.

E, novamente, o Corinthians venceu por 1 x 0, gol de Tupãzinho no início do segundo tempo.

Pela primeira vez, o “Timão” era campeão brasileiro!

ETERNA HUMILDADE

por Rubens Lemos

O maior ídolo do meu clube, Carlos Roberto de Oliveira exibia um sorriso quixotesco, hoje arquivo de tradição: Roberto Dinamite viveu para morrer na humildade unida à timidez ostensiva. Foi o melhor centroavante brasileiro dos anos 1970.

Se alguém retrucar propondo um duelo técnico com Reinaldo, o mignon maravilhoso do Atlético Mineiro, a Copa do Mundo de 1978 desempata: Reinaldo sucumbiu às contusões e expectativas, Roberto fez o gol que manteve o escrete na disputa até ser terceiro colocado invicto, “Campeão Moral”, uma balela do falecido técnico Cláudio Coutinho em alusão às pernas abertas pelo Peru para a Argentina(0x6), que eliminaram o Brasil.

Quando as alegrias de infância eram parcas, havia Roberto Dinamite com sua cabeleira de roqueiro internacional e a interminável vocação para pulverizar defesas. Cresci vendo o supertime do Flamengo de Zico, Carpeggiani, Adílio, Júnior, Toninho Baiano depois Leandro, Raul e Cláudio Adão. O Vasco tinha Roberto e um amontoado comprado por avarentos portugueses.

O Garoto Dinamite, que explodiu ao detonar um golaço contra o Internacional em 1971, aos 17 anos, enfrentava com dignidade serena o adversário mais poderoso tendo que se contentar com a companhia limitada de Renê, Gaúcho, Galdino, Zandonaide, Amauri, Ticão e Peribaldo, anomalias em chuteiras.

Com Roberto Dinamite, o maior clássico do Rio de Janeiro deixou de ser o Fla x Flu elitista dos tempos dos irmãos Rodrigues(Mário Filho e Nelson) para se deixar levar às multidões do Vasco x Flamengo.

Sempre com times abaixo da tradição, o Vasco encarava sem medo o rubro-negro, derrotado na Taça Guanabara de 1976 com pênalti perdido por Zico e no título de 1977, Roberto Dinamite mandando pênalti no canto direito de Cantarelli diante de 152 mil pessoas.

O estilo secos e molhados a granel dos Manoéis e Joaquins dos grandes frigoríficos do Rio de Janeiro, visava o dinheiro e Roberto Dinamite, para meu luto, aquele pedacinho de pano preto no bolso na camisa, partiu para uma temporada irregular no Barcelona. O Flamengo anunciou que iria trazê-lo para fazer dupla com Zico (juntos na seleção brasileira, nunca perderam).

Meu rádio de pilha à noite não saía da sintonia 1220 da Rádio Globo AM. O presidente do Flamengo, Márcio Braga, cantava vitória antes do tempo e mandou gravar uma tabelinha de Zico e Roberto Dinamite – ambos hipoteticamente vestindo vermelho e preto, destruindo a defesa do Vasco.

Sou um incoerente assumido. Sofrimentos me fizeram duvidar de Deus. Perseguições, amigos que acreditava me virando o rosto, cheguei a publicar que sou agnóstico. Mas, invariavelmente e desde garoto, rezo o Santo Anjo, o Padre Nosso e a Ave-Maria. Então, na prática, temo o Supremo e nele respeito sua força superior.

Uma das lições deste questionamento religioso, deu-se no drible de um jovem cartola chamado Eurico Miranda, único a desejar a volta de Roberto Dinamite, que terminou conseguindo ao dispensar a dívida do Barcelona pelo passe do ídolo. Roberto Dinamite retornou fazendo os cinco de Vasco 5×2 Corinthians. Roberto e Eurico eram siameses O poder afastou os dois. Eurico tem minha gratidão por trazer de volta o símbolo de um povo cheio de bravura e eternamente confiante.

Dia 8 de janeiro, fez um ano da morte física de Roberto Dinamite. A morte limitou-lhe a arte e a vida. A repercussão muito inferior à destinada a personagens sem seu carisma, sem sua disponibilidade incansável no atendimento ao torcedor.

Estive com ele em Natal em 1982 com a seleção de Telê Santana, o idolatrado que perdeu um Mundial por ignorar Roberto Dinamite e num jogo promocional no demolido Ginásio Machadinho. Suave timidez me fazendo feliz.

A era da internet é tímida quando se propõe a divulgar números de Roberto Dinamite, ser humano maior que a frieza estatística.

Pois Roberto Dinamite é o maior matador no Vasco(708 gols), goleador máximo do Campeonato Brasileiro(190 gols) e do Campeonato Carioca(284 gols) e quinto maior do mundo em campeonatos de primeira divisão(470 gols).

Chorar Roberto Dinamite é lembrar cada arrancada da intermediária até a trave contrária. É rever suas tabelas com Romário arquitetadas pelo gênio Geovani em seus lançamentos. Roberto Dinamite emociona a cada fotografia, economizando o sorriso, eternizando a humildade, nitidez dos verdadeiros ídolos.