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UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 42

por Eduardo Lamas Neiva

Zé Ary, ainda surpreso com o que João Sem Medo dissera sobre o desconhecimento do regulamento da Copa de 54 pela delegação brasileira, não se conteve.

Garçom: – Caramba, seu João, como pode? Que confusão!

Ceguinho Torcedor: – Confusão houve mesmo depois da partida contra a Iugoslávia. No jogo contra a Hungria, a pancadaria foi generalizada. Perdemos de 4 a 2 no jogo e a cabeça depois.

Idiota da Objetividade: – A Hungria abriu 2 a 0 logo no início da partida, com gols de Hidegkuti e Kocsis, que estaria em posição de impedimento. Djalma Santos, de pênalti, diminuiu ainda no primeiro tempo, mas o zagueiro Lantos aumentou pra 3 a 1 em pênalti inexistente de Pinheiro na etapa final. Depois, Julinho Botelho reduziu a vantagem húngara e a equipe brasileira passou a pressionar novamente em busca do empate. Chegou a botar duas bolas seguidas na trave, mas aí Kocsis marcou no fim.

João Sem Medo: – Jornalistas brasileiros chegaram a dizer que o atacante húngaro estava impedido, mas não houve nada disso. Os brasileiros ainda reclamaram um pênalti em Julinho, não marcado pelo juiz, que eu achei duvidoso.

Idiota da Objetividade: – O jogo foi muito violento, teve três expulsos: Pinheiro e Humberto, pelo Brasil, e Bozsik, que era deputado no Parlamento húngaro.

João Sem Medo: – Com todo mundo de cabeça quente estourou a pancadaria após a partida, que ficou conhecida como a Batalha de Berna. Atingiram até o ministro de Esportes da Hungria.

Garçom: – Nossa mãe!

Idiota da Objetividade: – Faltou espírito esportivo a quase todo mundo ali.

Garçom: – Boa, seu Idiota! Hehe da Objetividade! Vamos aproveitar tua deixa pra chamar ao palco mais uma vez: Moraes Moreira!

Aplausos de toda plateia.

Moraes Moreira: – Obrigado, gente. Se faltou espírito esportivo em 54, aqui vamos de “Espírito Esportivo”.

A plateia dança e se diverte muito com Moraes Moreira e aplaude ao fim da música. O artista agradece e volta à sua mesa.

Idiota da Objetividade: – Depois daquilo tudo, daquela total falta de espírito esportivo, até Mário Vianna, com dois enes, o árbitro brasileiro na Copa, se envolveu. Ele acusou o juiz inglês Arthur Ellis de estar comprado e a Fifa, de ser uma camarilha de ladrões.

Garçom: – Desde aquela época? Não sei como era, mas hoje tem ex-dirigentes da Fifa afastados e até presos.

Ceguinho Torcedor: – Mário Vianna arrancou o distintivo da Fifa do peito e o queimou.

Idiota da Objetividade: – Acabou sendo expulso do quadro da Fifa depois disso.

João Sem Medo: – Trabalhei com ele muitos anos na Rádio Globo.

Idiota da Objetividade: – Mário Vianna encerrou sua carreira de árbitro em 1957. Foi técnico do Palmeiras, mas acumulou oito derrotas em 14 jogos e acabou saindo do clube paulista. Temperamental e polêmico, ele foi comentarista de arbitragem na Rádio Guanabara na década de 60 e da Rádio Globo por mais de 20 anos, entre as décadas de 70 e 80.

Garçom: – Ah, me lembro muito bem dele. (canta a vinheta do comentarista na Rádio Globo) “Mário Viaaaaanna”, com dois enes.

Mario Vianna, que chegara naquele momento ao bar, ao ouvir sua vinheta na voz de Zé Ary, entra com seuvozeirão.

Mario Vianna: – “Gooooooooool legaaaaaaal”.

Risada geral.

Garçom: – Que prazer, seu Mario Vianna. O senhor chegou na hora certa.haha

Mario Vianna: – O prazer é todo meu.

Garçom: – O senhor tinha outros bordões famosos… Quando o árbitro cometia um erro, como era?

Mario Vianna: – “Eeeeeeeeeeerrooooou”! Cadê o eco? “Eeeeeeeeeeerrooooou”.

Garçom: – Tinha também “pênalti que não é, não entra”. Hahahaha .

Mario Vianna (rindo): – Também, também.

João Sem Medo: – Zé Ary tá com o gogó afiado. Dá um abraço aqui, Mario!

Os dois se abraçam e Mário Vianna cumprimenta Ceguinho Torcedor, Idiota da Objetividade e Sobrenatural de Almeida, que brinca com o ex-árbitro.

Sobrenatural de Almeida: – Você era assombroso, Mário. Assombroooooosoooooo!

Os dois caem na gargalhada. Mário Vianna segue então em direção à sua mesa. João Sem Medo retoma  pelota.

João Sem Medo: – A derrota de 50 gerou uma pressão imensa da imprensa e dos torcedores para que o time brasileiro deixasse de ser frouxo. Havia quase uma unanimidade…

Ceguinho Torcedor: – Toda unanimidade é burra!

João Sem Medo: – Pois é, Ceguinho, acredito que aquilo acabou mexendo com a cabeça dos jogadores. Até o uniforme mudaram pro Mundial na Suíça.

Idiota da Objetividade: – A seleção jogou até a Copa de 1950 com camisas brancas, calções azuis e meiões brancos.

João Sem Medo: – Aí juntaram a pressão com a superstição. Disseram que além de um time frouxo, tínhamos um uniforme que dava azar.

Sobrenatural de Almeida: – Ora essa! Isso é assombroso, assomborso. Hahaha

Garçom: – Seu Almeida, peço licença, mas assombrosa mesmo é a qualidade das músicas brasileiras que falam do futebol. Vamos ouvir no som o grande Carlinhos Vergueiro num samba que fala de juiz, camisa, muito do que foi conversado aqui. Vamos lá, “Camisa Molhada”, de Toquinho e Carlinhos Vergueiro.  

Fim do capítulo 42

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Um gol desse não se perde!

A FINAL DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1985

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1985, Bangu e Coritiba chegavam à final do Campeonato Brasileiro.

Nas semifinais, o Bangu eliminou o Brasil de Pelotas – que, por sua vez havia eliminado o poderoso Flamengo.

Nas semifinais, o Coritiba eliminou o Atlético Mineiro, que era considerado favorito para a contenda.

A final deu-se em apenas em um jogo, realizado no Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro.

No primeiro tempo, o Coritiba fez 1 x 0 com um gol de falta de Índio, um chute de longa distância.

Ainda no primeiro tempo, Lulinha empatou para o Bangu, em um chute de fora da área que foi desviado pela zaga coritibana.

O empate por 1 x 1 decretou a decisão por pênaltis.

E, então, o Coritiba venceu por 6 x 5, com Ado desperdiçando a cobrança pelo Bangu e Gomes convertendo o pênalti decisivo para os paranaenses.

O “Coxa Branca” era, assim, pela primeira e única vez, campeão brasileiro.

VALERIA A PENA VER EDU JOGAR DE NOVO

por Zé Roberto Padilha

Artistas da Globo dificilmente serão esquecidos. Não é difícil a família e os fãs de Aracy Balabanian matarem as saudades do seu talento. São muitas as reprises e ainda tem a Globoplay com quase todas as novelas antigas à disposição.

Mas e os artistas da bola? Que encantaram gerações em capítulos de 90 minutos e ainda disputaram prorrogações e penalidades máximas? Não seria interessante ver o futebol-arte de novo, onde a bola, muito bem tratada, corria mais que os jogadores?

Eu, por exemplo, trocaria qualquer programa para rever Edu, o maior artilheiro da história do América, atuar. Reuniria meus filhos e netos na sala e serviria a mim mesmo uma taça de vinho e brindaria à memória do meu pai.

Além, é claro, de ouvir nas entrevistas, o cidadão Edu Antunes Coimbra dar continuidade às atitudes, ações e jogadas nobres que são marcas da família Antunes.

Toda a minha família era americana. Minha avó chamava América Fernandes Padilha. E Eduzinho era nosso ídolo maior. Certamente, Zico se espelhou no seu irmão para aprender, e depois aprimorar, a arte de bater faltas, realizar dribles curtos e arrancar em velocidade.

Todos os brasileiros, amantes do futebol, em qualquer época, deveriam ter o direito de saborear as imagens do time do América quando entrava em campo. Era um vermelho forte que pintava no gramado verde uma aquarela clássica, uma obra de arte emoldurada pela massa que vibrava à sua volta. E que encantava e precedia o espetáculo.

Saudades do Edu, do América, sentimentos bacanas que o espírito de Natal sempre potencializa.

COMO ESSE RAPAZ INCOMODA

por Zé Roberto Padilha

Desde o tempo em que o Audax se tornou audacioso, passando pelos clubes onde a audácia o fez perder o emprego até o “vocês vão ter que me engolir”, onde foi disputar o título mundial com o mais respeitado treinador do mundo, Pep Guardiola, que esse rapaz incomoda o conservadorismo que assola nossa imprensa.

Fernando Diniz deveria ser coroado, pelo Ranking OGlobo/Extra, o melhor treinador do país em 2023. Sem enxergar esse ano, com todo o respeito, nenhum português à sua frente. Aí, na avaliação deles, Supercopa do Brasil, onde ninguém acompanha ou dá importância, tem um peso Libertadores.

Tem mais: nem levaram em conta que, hoje, ele dirige a seleção brasileira.

Uma pena que depois de anos de mesmice, Tite e Felipões, nossa imprensa não reconheça o valor da inovação. Da criatividade.

Mesmo perdendo por 4×0, o mundo assistiu alguns minutos de rara beleza e inovação. Uma saída de bola que nos faz ficar com o coração na mão, mas que só a arte do jogador brasileiro seria capaz de realizar.

Um dia eles vão ter que respeitar, não ter ciúmes, da capacidade inovadora de um treinador audacioso e competente.

VÍCIO DO VAR

por Elso Venâncio

O árbitro polonês Szymon Marciniak demonstrou, nos dois jogos do Fluminense pelo Mundial de Clubes, por que apitou a final da Copa do Mundo e da Champions League.

Na semifinal, contra o Al Ahly, do Egito, e também diante do Manchester City, sempre evitou o VAR. Até no polêmico lance do pênalti marcado de Percy Tau em Marcelo, fez valer sua interpretação. Deixou a bola correr, não usando a velha tática dos juízes de segurar o jogo.

Nos arbitrais da Fferj – a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro -, quando um clube necessitava do empate numa decisão, presenciei dirigentes indicando determinados árbitros que paravam a todo momento a partida. Com eles, os lances não tinham sequência.

Os campeonatos realizados no Brasil provam o quanto a arbitragem daqui é insegura. O VAR é consultado com tanta frequência que se tornou vício. Os jogadores, em faltas banais, sinalizam para os juízes, pedindo consulta ao equipamento eletrônico.

Acho patético ver o responsável pelo jogo parado em campo, conversando com a cabine do VAR e olhando para o telão do estádio sem saber o que fazer, enquanto atletas o cercam com a mão protegendo a boca, falando o que querem mas impedindo a leitura labial.

Dr. Rodrigo Santiago é um dos maiores ortopedistas do país. Seu pai, o médico Arnaldo Santiago, afirmava:

“Ele é melhor do que eu”.

Arnaldo combatia a Federação Carioca, instituição na qual os aliados Eduardo Viana e Eurico Miranda davam as cartas.

Recentemente, seu filho Rodrigo me disse que estava indo de carro com o pai para um Fluminense x Vasco quando Eurico ligou e, com voz mansa, avisou:

“Arnaldo, tudo bem? Hoje você perde feio! Quer apostar?”

Rodrigo complementa:

“O Fluminense foi goleado, com direito a arbitragem confusa e ‘infelicidades’ do nosso goleiro”.

Como presidente do Fluminense, Dr. Arnaldo Santiago Lopes viu, da Tribuna de Honra do Maracanã, o gol de barriga de Renato Gaúcho, na histórica vitória por 3 a 2 no Fla-Flu de 1995. De lá, chorou abraçado ao diretor financeiro Juber Pereira:

“Do coração eu não morou mais!”, brincou.

Tempos depois, foi traído por um infarto fulminante, aos 63 anos, quando jogava basquete no Caiçaras, clube social que fica às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Admito a culpa dos cartolas, da CBF e das federações estaduais na guerra contra tantos erros que acontecem em campo. Nomes vetados, ameaças e pressão da imprensa influenciam, sim, durante as frequentes dúvidas que afligem os inseguros árbitros que apitam o nosso futebol.