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OS MURROS DE WRIGHT

por Elso Venâncio

Vou à FFERJ, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, ao lado do narrador esportivo Carlos de Souza, o Biro-Biro, então na Rádio Globo e hoje produtor da TV Record. Após entrevistar o presidente Eduardo Viana, vi a porta de seu gabinete ser aberta bruscamente e fechada com força. Era o bicheiro Castor de Andrade seguido do advogado e dirigente do Fluminense José Carlos Vilela, velha raposa do futebol, conhecido como o ‘Rei do Tapetão’.

Sorridente, Vilela diz, quase sussurrando:

“Eduardo… pode qualquer um. Menos o Wright.”

Castor, que sabia exercer seu poder, adorava contestar pedidos e decisões. Afinal, mandava no Carnaval, no futebol (onde volta e meia tapava buracos financeiros da Federação e da própria CBF) e, claro, na cidade, apoiando ou frequentando o ambiente político.

“É esse que eu quero… o Wright! Ele é que vai apitar!” – reagiu o capô, aumentando o tom de voz para repetir, deixando bem claro à mesa:

“Ele vai apitar!”

Dois dias depois, o árbitro José Roberto Wright, todo de preto, no centro do gramado do Maracanã é cercado pelos capitães Vica, do Fluminense, e Marinho, do Bangu. Hora de bater cara ou coroa. Naquela noite, 18 de dezembro de 1985, o Tricolor, campeão brasileiro de 1984, precisava a todo custo vencer o adversário para conquistar o tri estadual. Com um punhado de craques, contava com uma das mais competitivas equipes da sua História:

Paulo Victor, Beto, Duílio, Ricardo Gomes e Renato; Jandir, Delei e Renê; Romerito, Washington e Tato (Paulinho). O técnico, Nelsinho Rosa.

Com sede de títulos, o time de Moça Bonita jogava pelo empate. O clube estava ferido, abatido com o vice-campeonato brasileiro obtido àquele mesmo ano, quando foi derrotado em pleno Maracanã pelo Curitiba do gaúcho Ênio Andrade, na disputa por pênaltis. Ainda assim, a equipe alvirrubra entrou no campo de peito aberto e cabeça erguida:

Gilmar, Perivaldo, Jair, Oliveira e Baby; Israel, Arturzinho e Mário; Marinho, Fernando Macaé (Cláudio Adão) e Ado. Seu treinador era o ‘xerife’ Moisés.

Após cruzamento de Perivaldo, o atacante Marinho, jogador de seleção brasileira, abriu o placar com uma cabeçada. Aos 18 do segundo tempo, o paraguaio Romerito empatou. E ao apagar das luzes daquela decisão tensa, jogo disputado com violência, partida dificílima de apitar, o reserva Paulinho cobrou com perfeição uma falta para virar a favor do time das três cores que traduzem tradição.

Wright errou feio ao não encerrar o jogo aos 45 ou 46 minutos da etapa final. Naquela época, tempo de acréscimo não era obrigatório ou protocolar como hoje. Nesse minuto a mais o estabanado Vica derrubou Cláudio Adão com uma ‘gravata’ dentro da área. Pênalti claro, a favor do Bangu!

O árbitro gesticula, mas não aponta para a marca da cal. Simplesmente, dizia que o jogo já havia sido terminado antes do lance capital. Brigas estouram na torcida, que por bom tempo vaia forte. O público anunciado foi de 89.162 pagantes, mas nesses anos, evasão de renda era um problema crônico do estádio mais famoso do mundo.

Castor manda seus capangas invadirem o gramado. Quer que surrem o juiz, que se via cercado por atletas banguenses. Seus asseclas só não esperavam o revide imediato de Wright. Faixa preta de judô e bom de briga, o árbitro derrubava um a um quem lhe surgisse à frente. O último a sofrer com seus punhos foi seu Walter, um veterano ex-lutador profissional de boxe.

O Bangu tentou anular o jogo na Justiça Desportiva alegando erro de direito, mas não obteve sucesso.

AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1986

por Luis Filipe Chateaubriand

No início de 1987, São Paulo e Guarani disputaram as finais do Campeonato Brasileiro de 1986.

O São Paulo chegou às finais depois de difíceis embates com o América carioca, nas semifinais.

O Guarani chegou às finais depois de difíceis embates com o Atlético Mineiro nas semifinais.

O primeiro jogo das finais foi no Morumbi, com mando de campo do São Paulo.

Já no segundo tempo, Evair fez 1 x 0 para o Guarani.
Mas, logo depois, Careca empatou em 1 x 1, resultado final.

O segundo jogo das finais foi no Estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas, com mando de campo para o Guarani.

No início do primeiro tempo, Nelsinho, contra, decretou Guarani 1 x 0. Mas, ainda no início do primeiro tempo, Bernardo empatou em 1 x 1. E esse foi o resultado do tempo normal de jogo.

No início do primeiro tempo da prorrogação, Pita fez 2 x 1 para o São Paulo. Mas, ainda no primeiro tempo da prorrogação, Março Antônio Boiadeiro empatou para o Guarani em 2 x 2.

No segundo tempo da prorrogação, João Paulo fez 3 x 2 para o Guarani. Mas, já no final do segundo tempo da prorrogação, Careca empatou em 3 x 3 para o São Paulo.

O jogo, então, foi para os pênaltis.

O São Paulo foi mais feliz, venceu por 4 x 3 e foi, pela segunda vez, campeão brasileiro!

DADÁ EM ONDAS CURTAS

por Eliezer Cunha

Algo me motiva a escrever abordando situações pitorescas e inusitadas dentro do contexto futebolístico Brasileiro. O Museu da Pelada me oferece esta oportunidade e nela me agarro, e são nestas despretensiosas linhas que procuro induzir em alguns
momentos aos leitores uma reflexão básica sobre temas que passam despercebidos, pelos “parceiros” colaboradores, pelos seguidores e pelos amantes do futebol.

Às vezes me deparo com várias interrogações que são no mínimo para mim curiosas e não imagináveis e dentro delas contextos surreais e enigmáticos.

Minha razoável idade, e lá se vão 59 anos não me permite ter bem clara na lembrança um período épico de nossa histórica futebolística, período este anterior à década de 70 e seu início. Além do que em tempos idos não existiam os recursos informativos e visuais que temos facilmente hoje. Os aparelhos de televisão eram para poucos, o rádio até possuía mais penetração na grande massa mais tinha um cunho nostálgico, pois simplesmente não havia imagens. Ficávamos muito mais a mercê da
emoção do narrador de que mesmo dos fatos reais. Nossas mentes desenrolavam as jogadas e as mesmas as concluíam como um possível sonho. Por estas razões alguns atletas que desfilavam pelos gramados e exibiam seus talentos ficavam no lastro imaginário e não eram fisicamente definidas, assim como, a retratação e a conclusão de suas jogadas. Essa contextualização física e factual ficava a cargo de cada ouvinte torcedor e do seu poder imaginário, retocadas pelo seu grau de paixão pelo time. Deste modo eram criados e sobreviviam os jargões, os apelidos e as jogadas retocadas magicamente pela fala do narrador da partida.

Neste contexto e cenário alguma coisa me leva a imaginar que alguns jogadores desconsideravam as leis da física e harmônica da arte do futebol, como pode, por
exemplo, um jogador com a estrutura corporal de Dario conseguir alcançar suas proezas como centroavante. Não possuía velocidade, seu comando físico era visivelmente lento e desengonçado, aonde faltava beleza e arte, sobrava humor, simpatia e malandragem. Acreditar que nosso Dadá Maravilha era realmente maravilhoso, custa a acreditar. Acreditar que Dadá beija-flor parava mesmo no ar, custa acreditar. Acreditar que o nosso Dadá peito de aço tinha realmente em peito uma liga de Fec (Ferro e Carbono), acreditávamos menos ainda. Agora, acreditar que chegou próximo ao rei Pelé em número de gols é real. Que foi artilheiro por times onde atuou é fato. Que ganhou campeonatos importantes é verídico. Que era em fim um temido e operante goleador é legítimo.

Quando vejo triunfar seus gols nas sequelas imagens das memórias, registros e arquivos televisivos, só assim passo a acreditar que a bola domesticada por esse gigante goleador, foi em 926 vezes se desenrolar pelo chão ou ar até se acomodar dentro das obcecadas redes simetricamente alinhadas.

MARCAS ESPORTIVAS NAS SELEÇÕES – 2023

por Idel Halfen

No primeiro artigo de 2024, apresentaremos uma análise sobre o fornecimento de uniformes para as 50 seleções melhores ranqueadas em três modalidades de esportes coletivos, tanto no feminino quanto no masculino. São elas: basquetebol, futebol e voleibol.

Dentre esses, o vôlei é o esporte com mais marcas, são 28 no total (vinte e quatro no masculino e vinte e uma no feminino), seguido pelo basquete com 24 (21 e 20) e futebol com 18 (17 e 11). Interessante notar a maior incidência de marcas no masculino nas três modalidades.

No vôlei, a italiana Erreà é a que veste mais equipes entre as TOP50, 28% dos times masculinos e 20% dos femininos. Em ambos os gêneros, a Mizuno é a segunda marca. Todavia, quando analisamos as TOP10, a Mizuno lidera entre as mulheres com 40%, seguido pela Adidas com 20%, enquanto que entre os homens, Erreà e Mizuno dividem a liderança com 20% cada.

Vale notar que a Asics, marca referência e mais tradicional nessa modalidade, veste apenas o time japonês masculino – o feminino é suprido pela Mizuno. Tal fato parece indicar que esteja havendo um foco maior da empresa na categoria de calçados, onde a qualidade costuma ser mais perceptível e, consequentemente, a concorrência é menor.

Já no basquete, a liderança pertence à Nike nos dois naipes. No masculino a marca norte-americana veste 26% dos TOP50, seguida pela chinesa Peak com 12%, enquanto no feminino as duas marcas citadas ocupam a mesma posição com 34% e 10% respectivamente.

Analisando a participação entre os TOP10, a Nike tem 40% dos times masculinos e 50% dos femininos.

A Peak é a segunda com 30% entre os homens, enquanto a Air Jordan, marca pertencente à Nike, ocupa a vice-liderança no feminino com 20%.

Tais números demonstram que as três marcas citadas na análise sobre o basquete, mesmo tendo uma forte presença entre as seleções menos vencedoras, procuram privilegiar os times mais competitivos.

Por fim, temos o futebol, única modalidade em que todos os times possuem fornecedor. No vôlei, uma equipe feminina não ostenta nenhuma marca, fato que se repete em sete times de basquete (cinco entre os homens).

Entre os TOP50 no futebol, a liderança é dividida entre Adidas e Nike – 30% cada no masculino e 36% no feminino. Já entre as TOP10, a Nike é a mais presente com 60%, seguida pela Adidas com 40%, situação que ocorre nos dois gêneros.

Apenas três marcas suprem equipes nas três modalidades analisadas: Adidas, Puma e Hummel.

Vale chamar a atenção para o aparecimento de marcas que, por não estarem presentes no futebol, esporte mais popular que os demais, são pouco conhecidas do público em geral, mas que já suprem pelo menos dois países, entre essas podemos citar:

– No basquete, a Spalding, marca mais conhecida por fabricar bolas para a modalidade, e a portuguesa Dhika;

– No vôlei, as italianas Nine e Zeus;

– No futebol não encontramos nenhuma marca, digamos inédita, com algum indício de crescimento de participação, todavia, a título de curiosidade, podemos apresentar a One, que veste o time masculino de Camarões, a Entes, que supre o feminino de Taipei em quanto a Warrix está com a Tailândia.

Ainda que não tenhamos acesso aos valores envolvidos nessas parcerias, muitas delas abrangem apenas o fornecimento do material, os números aqui apurados permitem, ao menos especular o movimento das marcas.

PELÉ EM BERÇO ESPLÊNDIDO

por Paulo-Roberto Andel

Lá pelo meio de 2022, todos os que gostam do melhor futebol do mundo ficaram apreensivos. Depois de idas e vindas hospitalares, já se sabia que o tempo de Pelé na Terra estava no fim. Silêncios constrangedores, informações limitadas, estava desenhado o que viria aos pés do fim do ano.

E então Pelé se foi.

Como quase sempre acontece nessas situações, o resto do mundo ensina a parte do Brasil o tamanho de um de seus maiores ídolos, senão o maior, mas certamente o mais conhecido de todos no planeta.

O mundo se deu às mãos e chorou por Pelé. Parte do Brasil, mais acostumada a apedrejar do que exaltar, fez beicinho mas em vão. As homenagens se estenderam por todo 2024, e é lamentável que o grande Santos tenha sucumbido no Brasileirão justamente nesta temporada.

Pelé foi o atleta do século XX e o maior jogador de futebol de todos os tempos. Para os incrédulos, uma simples pesquisa no Google dará as respostas. Parte considerável das façanhas do Rei do Futebol é vista com facilidade no YouTube. É difícil brigar com as imagens e fatos, ou com depoimentos de craques como Rivellino, Gerson e grande elenco.

Mas, pensando bem, Pelé não se foi. Ele tem a vocação da eternidade. Seus gols, suas façanhas esportivas, sua arte – sim! -, sua história está espalhada pelo mundo. São livros, vídeos, filmes, fotos, áudios. Pelé é uma presença permanente.

Um ano depois de sua morte, o Rei está no trono de sempre. No topo.

Muitas vezes, Pelé foi condenado não pelo seu talento de maior jogador de futebol da história, mas sim porque alguns não o consideravam o maior ser humano da história da humanidade, o maior intelectual do planeta, o maior criador da Terra. Talentos que quase nunca se cobrou de ninguém. Enquanto isso, neste exato momento, em algum lugar do mundo um brasileiro está pedindo uma informação e, ao falar de sua origem, ouve “Brasil, Pelé!”.

Nesta sexta, o Rei completa um ano de sua morte. É um excelente momento para reflexões e aprendizados. Quem sabe os desentendidos consigam finalmente entender o tamanho de Pelé no mundo?

Para fechar estas linhas, uma breve lembrança esportiva que ajuda a posicionar o Rei diante de pretendentes ao trono maior do futebol.

Vamos falar do Santos, uma das maiores equipes do planeta e que provavelmente teve o maior time de todos os tempos.

Olhando a lista dos dez maiores artilheiros da história do Peixe, além do próprio Pelé, temos os seguintes nomes: Tite, Pagão, Araken Patusca, Edu, Dorval, Feitiço, Toninho Guerreiro, Coutinho e Pepe. Somados, estes jogadores chegaram a cerca de 2.100 gols com a camisa santista. Destes, apenas Feitiço e Araken não receberam lançamentos e passes de Pelé. Não é nenhum absurdo que o camisa 10, além de ter feito mais de 1.000 gols, tenha dado os passes para outros 1.000 gols do Santos.

Pesquise qualquer outro artilheiro da história do futebol. Nenhum deles terá uma estatística parecida com essa.

@p. r. andel