OS “INJUSTIÇADOS” DE CADA COPA DO MUNDO
por Israel Cayo Campos.
Um dos assuntos prediletos dentro do futebol são as Copas do Mundo. Mesmo que hoje em dia o torneio tenha virado uma prateleira de seleções em um torneio que se tornou “cabide” de votos para dirigentes da FIFA, ainda é a competição onde existem mais histórias que me encantam.
Por isso, resolvi fazer uma pesquisa sobre os convocados da Seleção Brasileira para os mundiais que disputou (todos!) e citar na minha opinião, evidentemente, quais jogadores foram injustiçados em não terem sido convocados para as referidas Copas do Mundo.
Obviamente que algumas de minhas opiniões, sempre bem detalhistas, o que incomoda alguns que gostam de textos curtos (e aí com todo respeito aconselho a procurarem outro escritor), são um consenso. Já outras tenho discordâncias da maioria, e claro que irei argumentar os motivos da minha escolha. A partir daí, cada um pode emitir sua opinião em consonância ou dissonância daquele que vos escreve esse humilde texto.
Claro que algumas gerações tiveram mais de um jogador injustiçado, outras tiveram injustiçados “inexpressivos”, mas para manter uma organização, será escolhido apenas um jogador por Copa, e que não tenha sido cortado por causa de lesão, pois isso não se caracteriza uma questão de injustiça! Aqueles que esperam que na Copa de 1998 cite o Romário por exemplo, já irão discordar do meu critério.
Posso até em alguns casos colocar menções honrosas, mas só falarei de maneira mais detalhada de um jogador por Copa do Mundo.
Copa de 1930: Arthur Friedenreich.
Melhor jogador do futebol brasileiro da era amadora e de sua transição para o profissional, “El Tigre” em 1930 ainda estava em seu auge às vésperas do mundial do Uruguai. Todavia, uma briga entre dirigentes do futebol paulista e carioca fizeram os jogadores paulistas não entrarem na lista dos convocados para aquela Copa. Com isso, o Mundo perdeu a oportunidade de ver “Fried” disputar o que viria a ser o maior torneio de seleções do Planeta.
Copa de 1934: Preguinho.
Primeiro brasileiro a fazer gols em mundiais e artilheiro da Seleção brasileira na Copa do Mundo anterior, Preguinho, craque do Fluminense, ainda estava no auge. Curiosamente ele foi esquecido na convocação Luís Augusto Vinhaes.
Copa de 1938: Teleco.
Tricampeão paulista pelo Corinthians e artilheiro por cinco vezes do Campeonato Paulista, que junto ao Carioca eram os principais campeonatos do país, o atacante do time de Parque São Jorge não foi convocado para a Copa do Mundo simplesmente por não ter um passaporte! Teleco era um dos principais jogadores do futebol brasileiro da época com médias de gols que superaram um tento por partida.
Copas de 1942 e 1946: Sylvio Pirillo e Heleno de Freitas.
Vale salientar que essas duas Copas nunca existiram devido a Segunda Grande Guerra Mundial. Mas seguindo a ordem natural das coisas, Sylvio Pirillo do Flamengo em 1942 e Heleno de Freitas do Botafogo em 1946 seriam os goleadores de nossa Seleção caso esses mundiais viessem a ocorrer. Segue então as minhas primeiras “menções honrosas”.
Copa de 1950: Leônidas da Silva.
Sim. O “Diamante Negro” ainda estava no auge sendo campeão paulista com o São Paulo em 1949. Poderia ter sido convocado pelo técnico Flávio Costa até por uma questão de experiência para aquela Seleção que iria disputar o mundial em casa. Não seria titular pois Ademir de Menezes estava em seu auge, mas ainda tinha qualidade para estar naquela seleção. Flávio Costa preferiu levar apenas o Friaça que atuava no clube tricolor mantendo como base da Seleção o Vasco da Gama.
Copa de 1954: Zizinho.
Zizinho, que havia sido o melhor jogador da Copa anterior, ainda estava no auge de sua carreira atuando pelo Bangu em 1954, tanto que depois iria atuar no São Paulo para fazer o time campeão paulista. Contudo, simplesmente foi ignorado para o mundial de 1954. Algumas fontes como José Lins do Rego alegam que a não convocação do “Mestre Ziza” foi devido a reclamações do mesmo sobre a premiação que receberia caso vencesse o Sul-americano de 1953 pela Seleção brasileira. O que se teve certeza foi que após sua exclusão da Seleção de 1954 e o fracasso daquele time, muitos voltaram a pedir Zizinho na Seleção. Não à toa, no ano seguinte ele voltou a defender a camisa já amarelinha.
Copa de 1958: Evaristo de Macedo:
Poderia citar como menção honrosa o Julinho Botelho, mas o mesmo se recusou a vestir a camisa da Seleção. Já Evaristo gostaria e merecia disputar a Copa da Suécia, todavia, como a Espanha não estava classificada para aquele mundial, continuou seu campeonato nacional no meio da Copa e não liberou o craque. Para nossa sorte foi convocado um tal de Pelé, um garotinho de 17 anos que depois viria a se tornar adjetivo de excelência em nosso dicionário.
Copa de 1962: Airton Pavilhão.
Poderia ter escolhido algum atacante, mas eram tantos bons jogadores que quem iria sair? Airton entra na minha escolha por ser uma bandeira do Grêmio, o único fora do eixo Rio – São Paulo a ser convocado, e um zagueiro do mesmo nível daqueles que foram campeões mundiais naquela Copa. Valem como menções honrosas Quarentinha do Botafogo e Germano que havia sido contratado pelo Milan ao Flamengo, mas suas posições eram complicadas de competir. O primeiro disputava com Vavá e Coutinho, o segundo com Pepe e Zagallo.
Copa de 1966: Carlos Alberto Torres.
A preparação para esse mundial foi tão bagunçada que a lista é grande, mas com certeza aquele jogador que foi mais injustiçado na convocação final foi a do já campeão pelo Fluminense e aquele ano já defendendo e sendo campeão pelo Santos, o lateral direito Carlos Alberto Torres. Quatro anos depois ele inclusive provou o erro do técnico Vicente Feola em cortar o “Capita do tri” no período de treinamentos. Um dos maiores laterais direitos de todos os tempos! Menções honrosas para Djalma Dias do Santos e Roberto Dias do São Paulo que foram preteridos por grandes jogadores, só que em final de carreira como por exemplo o Bellini que já possuía quase 36 anos.
Copa de 1970: Toninho Guerreiro.
Toninho Guerreiro vinha de títulos por Santos e São Paulo. Era um dos melhores centroavantes do país, vinha como reserva do Tostão na preparação e eliminatórias, mas próximo ao mundial do México as imposições por Dario do Atlético Mineiro pelo Regime Militar acabaram minando a presença do mesmo naquela Copa. Por preferência do técnico Zagallo, Roberto Miranda, que também poderia perder a vaga para Toninho, foi escolhido.
O técnico anterior João Saldanha alegou que ele fora cortado pelos médicos devido a uma sinusite, o que para o “João Sem Medo” era apenas uma desculpa para que Dario fosse convocado por ele “a força”. A verdade nunca saberemos. Mas que o Toninho merecia, pois era melhor camisa nove que os dois convocados, isso ele merecia!
Menção honrosa para Dirceu Lopes, um genial camisa dez do Cruzeiro, mas que dentro de uma Seleção que já possuía só em seu time titular quatro camisas dez, é entendível a competição enorme daquela que foi uma das maiores (se não a maior) Seleção de todos os tempos.
Copa de 1974: Dirceu Lopes.
Essa foi uma das Copas onde foi mais difícil achar uma injustiça. Com a desistência de Pelé, Zagallo convocou praticamente o melhor que possuíamos naquele ano. Mas como alguém precisa ser citado, Dirceu Lopes do Cruzeiro que já não havia sido levado pelo “Velho Lobo” em 1970 poderia ter sua chance. Ainda estava em alto nível, inclusive vencendo a Bola de Prata como melhor meia do país em 1973.
1978: Paulo Roberto Falcão.
Um dos melhores jogadores do mundo já naquela época, bicampeão brasileiro em 1975 e 76, Falcão foi simplesmente limado dos convocados do técnico Cláudio Coutinho para a Copa de 1978. Alguns alegam que Coutinho preferia jogadores fisicamente mais fortes e menos técnicos para um mundial que privilegiou o chamado “futebol força”, outros que foram críticas do Paulo Roberto Falcão a ditadura que o retiraram daquele mundial. Mas seja qual for a verdade, essa é uma das maiores unanimidades quanto a injustiças em convocações.
1982: Reinaldo.
Uma ausência muito estranha na Copa de 1982 foi a de Reinaldo, do Atlético Mineiro. Um dos melhores centroavantes do país que havia levado o Galo há títulos e disputas de campeonatos nacionais acabou sendo esquecido por Telê Santana. Nem com a lesão de Careca, que o tirou daquela Copa, fez Telê lembrar do Reinaldo. O motivo ninguém sabe ao certo, rolam boatos aos montes que remetem ao comportamento do “Rei” fora de campo. O fato é que o Brasil perdeu a chance de ter um grande centroavante naquela que foi uma das mais saudosas Copas do Mundo para o público brasileiro.
1986: Renato Gaúcho.
Campeão de todos os campeonatos possíveis com o Grêmio, uma ótima eliminatória com a camisa da Seleção e já a caminho do Flamengo, Renato Portaluppi despontava como um dos melhores atacantes do futebol brasileiro. Era um dos nomes esperados na convocação de Telê Santana para a Copa do Mundo do México. Porém, uma indisciplina causada pelo lateral Leandro em que Renato acabou por “entrar” para cuidar do amigo acabou por causar irritação ao treinador. Após algum período de treinamentos, o atual técnico do Grêmio (2024) acabou sendo cortado para a estranheza de torcedores e imprensa, logo o episódio onde ele e Leandro chegaram atrasados veio à mente como motivo da escolha do Telê. Contudo, só Renato foi cortado enquanto Leandro continuava como titular da Seleção. Tal situação constrangedora causou a recusa de Leandro em disputar aquele mundial em apoio ao amigo que o ajudou. No final Josimar fez o Brasil esquecer o Leandro, mas todos sentiram a falta do Renato nos momentos mais decisivos. Menção honrosa: Pita do São Paulo.
1990: João Paulo.
Não, o maior injustiçado da Copa de 1990 não foi o “craque” Neto, como se virou por conveniência falar. O Neto era um bom jogador, mas não havia estourado como ocorreu no segundo semestre do referido ano. Porém, o que muitos esquecem de falar é que no segundo semestre de 1990 a Copa do Mundo já havia acabado! Já o ponta ex – Guarani e que atuava pelo Bari da Itália foi escolhido o melhor jogador estrangeiro do Calcio. Campeonato que na época era a Premier League de hoje. Milan dos holandeses, Inter dos Alemães, Juventus dos italianos e franceses, Napoli de Maradona e Careca, Roma, Torino, Sampdoria, Atalanta… Enfim, uma legião de craques e no meio deles se destacou o João Paulo que atuava pelo pequeno time italiano. No lugar dele o Lazaroni preferiu investir em um Romário que estava com a perna quebrada e no jovem Bismarck por exemplo. Acabamos caindo para uma fraca Argentina mas que contava com Diego Maradona e não vimos o quanto o João Paulo poderia ajudar aquele bom time que acabou sendo a base para o título do mundial seguinte. Menção honrosa: Júnior Capacete que apesar da idade ainda estava em alto nível e poderia ajudar muito principalmente no controle de egos e vaidades naquela Seleção.
1994: Evair.
Em 1994 muitos jogadores poderiam ter ido e acabaram não sendo chamados pelo técnico Parreira. Como tive que escolher um fico com o Evair. Foi decisivo nos títulos que tiraram o Palmeiras da fila de 17 anos em 1993. Além de goleador era um jogador tático e muito inteligente que poderia ter atuado no lugar do Raí quando esse não estava tecnicamente bem. Menções honrosas: Marcelinho Carioca, Palhinha, Edmundo, Rivaldo… Não faltavam nomes. Sorte que fomos campeões, pois se não até hoje estaria a cobrança.
1998: Djalminha.
Após ter feito uma temporada absurda em 1996 pelo Palmeiras, ido para o La Coruña e continuar o ótimo futebol, convocações para Copa América e Copa das Confederações de 1997, o Djalma acabou sendo esquecido no ano de 1998. Acabamos por nunca ver um dos melhores jogadores do nosso futebol disputar sequer uma Copa do Mundo.
2002: Alex.
Uma das ausências menos explicadas em uma Copa do Mundo nos tempos “mais modernos”, Alex vinha de um grande trabalho no Palmeiras ao lado do então técnico da Seleção Luís Felipe Scolari quando esse ainda treinava o Palmeiras. Campeão da Libertadores, Copa do Brasil, Mercosul e vice brasileiro com o treinador, além de ter participado de praticamente toda a campanha das eliminatórias para aquela Copa, Alex foi preterido por nomes que explodiram em 2002 às vésperas da Copa. Dentre eles estavam Kaká e Kléberson. Mas o mais curioso veio com a lesão e corte do meia Emerson. Quando todos esperavam que viesse a redenção do Alex, Felipão acabou chamando o Ricardinho do Corinthians, com quem nunca trabalhou e que nunca havia atuado pela Seleção Brasileira sob seu comando. Alex até hoje guarda mágoas de tal situação.
Menção honrosa: Romário. Mas ele sabe o motivo de não ter sido convocado.
2006: Luís Fabiano.
Em uma Copa onde praticamente houve unanimidade na convocação, inclusive até dos jogadores que entraram após o corte de lesionados, ficou difícil escolher uma injustiça (O que faltou foi futebol dos convocados!). Vou citar o Luís Fabiano, pois ele foi titular na Copa América e Eliminatórias com o Parreira. Na convocação final, o mesmo decidiu levar o jovem Fred (que não decepcionou por sinal) como a tentativa de que ele fosse o novo Ronaldo de 1994.
2010: Neymar.
Ao contrário dos técnicos anteriores, Dunga preferiu manter a base que foi com ele em Copa América, Confederações e Eliminatórias. Com isso, o surgimento do Neymar no primeiro semestre em 2010 como um meteoro não comoveu o treinador da Seleção brasileira. A consequência foi a Seleção perder as quartas de final para os Países Baixos (Holanda) sem fazer as três alterações que tinha direito! Menções honrosas: Adriano e Paulo Henrique Ganso.
2014: Philippe Coutinho.
Em uma Seleção que fez o papelão que fez, muitos nomes poderiam ter entrado. Como o melhor jogador na Europa naquele período era o Coutinho no Liverpool, e ele fazia parte de um triplete ou até quarteto se o lucas Moura fosse convocado que vinham desde as Seleções de base e olímpica fazendo sucesso (Junto a Neymar e Oscar), era o que mais merecia uma convocação, quem sabe o resultado contra a Alemanha fosse um sete a três! Menções honrosas: Miranda, Lucas Moura e Kaká.
2018: Luan.
Por mais que hoje em dia esteja muito em baixa, Luan foi muito bem nos Jogos Olímpicos de 2016 e o melhor jogador do futebol da América do Sul em 2017 e início de 2018. Tite nunca gostou de seu futebol e acabou levando alguns nomes que nem a população brasileira lembrava mais como o até então atacante do Shakhtar Donetsk, Taison.
2022: Gabigol.
O treinador Tite sempre teve uma boa capacidade de não causar muitas reclamações em suas convocações para Seleção. Principalmente da imprensa! Porém, se temos que escolher um jogador que merecia a convocação pelo que fez no seu clube e lembrando que a Copa do Catar foi no fim do ano após a Libertadores, esse seria o Gabriel Barbosa que estava em seu auge e capacidade de decisão! Quando lembramos que se o Brasil passasse pela Croácia só teríamos um camisa nove (Pedro) a escalar, o “Gabigol” faria uma falta!
O que se fala é que a relação entre técnico e treinador desde a primeira convocação nunca foi boa e piorou com a não convocação para o mundial. Se é verdade ou não vamos ver na passagem do treinador gaúcho pelo rubro negro carioca. Menção honrosa: Filipe Luís. Mesmo mais velho jogava e tinha conhecimento tático melhor do que Alex Telles e Alexandro que foram convocados para a lateral esquerda. Sem contar que ambos estavam lesionados durante o mundial obrigando o Tite a fazer revezamento e improvisos.
Enfim, essa é a minha lista. Uma longa pesquisa e um forte uso da memória! Se você discorda de alguma dessas “injustiças”, fique a vontade para destacar quem faltou ser citado e acabou sendo esquecido por algum treinador em alguma Copa do Mundo.
AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1992
por Luis Filipe Chateaubriand
Em 1992, o Campeonato Brasileiro foi decidido entre Botafogo e Flamengo.
O Botafogo garantiu sua vaga às finais ao ser o primeiro colocado em um quadrangular em que também participaram Bragantino, Corinthians e Cruzeiro.
O Flamengo garantiu sua vaga à finais ao ser o primeiro colocado em um quadrangular, disputadíssimo, em que também participaram Vasco da Gama, São Paulo e Santos.
O primeiro jogo das finais aconteceu no Maracanã, com mando de campo para o Flamengo.
O Flamengo venceu facilmente por 3 x 0, com todos os gols no primeiro tempo, respectivamente de Júnior, Nélio e Gaúcho.
Com o resultado do primeiro jogo, o Flamengo já era “virtualmente” campeão.
O segundo jogo das finais aconteceu também no Maracanã, com mando de campo do Botafogo.
Nesse segundo jogo, uma tragédia se sucedeu: a arquibancada do Maracanã cedeu, e vários torcedores caíram.
Houve três mortes.
Em campo, Junior fez 1 x 0 para o Flamengo no primeiro tempo.
No segundo tempo, Julio Cesar fez 2 x 0 para o Flamengo, Pichetti diminuiu para o Botafogo para 2 x 1, Valdeir empatou para o Botafogo em 2 x 2 – placar final do jogo.
O Flamengo era, pela quinta vez, campeão brasileiro.
UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 46
por Eduardo Lamas Neiva
Após mais uma homenagem a Pelé, desta vez com a presença do Rei, também muito aplaudida pelo público, Sobrenatural de Almeida retoma a pelota pra falar do jogo contra País de Gales, em 58.
Sobrenatural de Almeida: – Mas teve quem achasse ruim a seleção naquele dia, contra Gales…
Ceguinho Torcedor: – Só mesmo Leônidas, que aqui está e merece todo o meu respeito e admiração pelo magnífico jogador que foi, é que achou que foi pouco esse gol tão sofrido, tão chorado por milhões de patrícios.
Todos os outros: – Patrícios, Ceguinho?
Ceguinho Torcedor: – Brasileiros, nossos compatriotas. Eu falei em uivo, em urro. Sim, amigos: foi um som jamais ouvido, desde que se inventou o Homem. Algo de bestial, de pré-histórico, antediluviano, sei lá. Foi um desses momentos em que cada um de nós deixa de ter vergonha e passa a ter orgulho de sua condição nacional.
João Sem Medo: – Didi também teve excelente atuação, arrancando aplausos do público sueco algumas vezes naquele dia. Vavá não jogou, Mazzola é que atuou no ataque brasileiro contra Gales. E não jogou bem.
Idiota da Objetividade: – Com essa vitória de 1 a 0 sobre o País de Gales, com gol de Pelé, aos 25 minutos do segundo tempo, a seleção brasileira se classificou para a semifinal, sem levar gol, e enfrentou a França. Venceu por 5 a 2, resultado que se repetiria na final, contra a Suécia.
Ceguinho Torcedor: – Que frieza, que objetividade pra narrar as estupendas vitórias do Brasil.
Sobrenatural de Almeida: – Assombroso. Nenhuma emoção, sem qualquer vestígio de sentimento.
Idiota da Objetividade: – Estou narrando os fatos, o que aconteceu.
Ceguinho Torcedor: – Há muito mais do que os fatos narrados. E se os fatos me desmentirem, pior para os fatos.
João Sem Medo: – Contra a França, Pelé fez três gols, Vavá e Didi os outros dois.
Ceguinho Torcedor: – Foi uma vitória “de gaulleada”.
João Sem Medo: – Em homenagem ao general De Gaulle?
Garçom: – Não foi ele que disse que o Brasil não era um país sério.
Idiota da Objetividade: – Há controvérsias…
Sobrenatural de Almeida: – Desconfio que o general em sua tumba ainda tenha razão…
Garçom: – Mas o assunto é futebol. E como nunca é demais, vamos a mais uma música sobre o Rei do Futebol?
Todos concordam, inclusive Pelé, que exibe aquele sorriso inconfundível ao agradecer com um aceno ao público que mais uma vez o aplaudiu.
Músico: – Então, gostaria de chamar ao palco o grande cavaquinista Jorge Pereira Simas, o querido Tico-Tico!
Tico-Tico vai ao palco, sob aplausos.
Tico-Tico: – Obrigado. Obrigado. O nosso rei merece sempre ser lembrado. Vou apresentar aqui “Ataca Pelé”, espero que ele e todos os demais aprovem.
A aprovação foi geral e Tico-Tico deixa o palco sob aplausos entusiasmados. Quando o público começou a se aquietar novamente, João Sem Medo distribuiu o jogo, destacando a qualidade ofensiva do time francês de 1958.
João Sem Medo: – O Brasil enfrentou um time que já tinha feito 15 gols em quatro jogos. Quase quatro por partida. O grande destaque era Fontaine, que acabou artilheiro daquela Copa com 13 gols…
Idiota da Objetividade: – É o jogador que mais fez gols numa edição de Copa do Mundo até hoje.
João Sem Medo: – Kopa era outro grande jogador.
Ceguinho Torcedor: – O Brasil estava devendo a todos nós uma vitória como aquela. Vencemos contra tudo e contra todos. Contra os franceses, contra os bandeirinhas, contra o juiz e contra a Marselhesa. Nosso Hino Nacional foi apenas tocado. Não havia ali nenhuma multidão para soltar aos quatro ventos: “ouviram do Ipiranga às margens plácidas…”. Ao passo que a Marselhesa foi cantada. Mas nosso Hino não se dobrou, mesmo com o juiz nos tirando dois gols e dois pênaltis. Aquele escrete era o escrete da coragem e creiam que Vavá, que voltou naquele jogo no lugar do Mazzola, com sua bravura louca, traduziu um perfeito, empolgante símbolo dessa coragem.
Idiota da Objetividade: – Uma curiosidade: Vavá marcou, logo a um minuto de jogo, o centésimo gol da História da Copa do Mundo.
João Sem Medo: – O jogo não foi disputado só na bola, não. Os franceses apelaram, mas três deles saíram machucados. O zagueiro Jounquet, que se contundiu aos 35 minutos do primeiro tempo, ficou o restante do jogo fazendo número na ponta-esquerda. Naquela época não era permitida a substituição. No lado do Brasil, Vavá saiu antes do fim da partida, mas ela já estava ganha. Bellini também se lesionou. Mas os dois jogariam a final contra os suecos.
Idiota da Objetividade: – E Vavá fez dois gols na decisão, com mais dois de Pelé e outro de Zagallo.
Sobrenatural de Almeida: – O Brasil jogou de azul a final. Diziam que daria azar…
Idiota da Objetividade: – Nas seis primeiras edições da Copa do Mundo, cinco vezes a seleção vestida de camisa azul venceu a final. Uruguai, em 30 e 50, a Itália, em 34 e 38, e o Brasil, em 58. Apenas em 54 venceu a Alemanha, de branco, derrotando a Hungria, que jogou de vermelho.
Garçom: – Foi um carnaval em junho. Era pequeno, mas me lembro bem. Tomei um susto de ver tantos adultos chorando. Choravam de alegria.
Idiota da Objetividade: – Foi a primeira e até hoje única vez que uma seleção de fora da Europa venceu uma Copa no Velho Continente. A Suécia marcou o primeiro gol, aos 4 minutos, com Liedholm; o Brasil empatou e virou com Vavá, aos 9 e aos 32 da primeira etapa, Pelé marcou aos 10 da etapa final, Zagallo ampliou, aos 23; Simonsson fez o segundo da Suécia, aos 35, e Pelé, aos 45, deu números finais à partida.
Ceguinho Torcedor: – Meu caro Idiota da Objetividade, os 5 a 2, lá fora, contra tudo e contra todos, foi um maravilhoso triunfo vital, de todos nós e de cada um de nós. Do Presidente da República ao apanhador de papel, do Ministro do Supremo ao pé-rapado, todos aqui perceberam o seguinte: é chato ser brasileiro! Já ninguém tinha mais vergonha de sua condição nacional. E as moças na rua, as datilógrafas, as comerciárias, as colegiais andavam pelas calçadas com um charme de Joana D’Arc. O povo não se julgava mais um vira-latas. Graças aos 22 jogadores, que formaram a maior equipe de futebol da Terra em todos os tempos. Pelo menos até ali. O escrete deu um banho de bola, um show de futebol, um baile imortal, na Suécia.
Sem que ninguém percebesse seus movimentos enquanto todas as atenções estavam voltadas ao discurso eloquente e emocionado do Ceguinho Torcedor, Zé Ary preparou o aparelho de som e assim que o nosso amigo encerrou sua fala e o povo começava a aplaudi-lo, em alto e bom som “A Taça do Mundo é Nossa”, de Wagner Maugéri, Mageri Sobrinho, Victor Dagô e Lauro Muller, fez todo mundo pular, dançar, cantar e festejar como se 1958 fosse o agora, o momento de sempre. E foi mesmo eterna aquela grande conquista.
Quer acompanhar a série “Uma coisa jogada com música” desde o início? O link de cada episódio já publicado você encontra aqui (é só clicar).
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Fim do capítulo 46
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CAMPEÃO DO SESQUICENTENÁRIO
por Elso Venâncio
Vamos recordar o ano de 1972. Brasil protagonista do futebol e craques aos montes jogando no país.
No futebol carioca, contratações históricas. Como Paulo Cézar Lima, campeão do mundo e ‘craque da moda’ – apelido dado pelo locutor esportivo Waldir Amaral, da Rádio Globo do Rio.
Aos 22 anos, PC era apontado pelo próprio Pelé como seu substituto. Ele havia acabado de trocar o Botafogo, aclamado como ‘Selefogo’, pelo Flamengo – que desembolsou um milhão de dólares na contratação mais cara do país até então.
Após dez anos, Tostão deixou o Cruzeiro para encarar o desafio de brilhar no Rio, pelo Vasco. Além disso, o clube de São Januário repatriou Amarildo, bicampeão do mundo que há anos se destacava no futebol italiano.
Gerson, o ‘Canhotinha de Ouro’, chegou ao Fluminense, seu time do coração, após ter conduzido o São Paulo ao bicampeonato paulista de 1970 e 1971.
Um dos maiores meias de todos os tempos, Gerson considera Tostão o grande atacante da Copa de 70, no México, superando inclusive o Rei Pelé.
O Olaria tinha Garrincha como atração. O clube da Rua Bariri foi o último que o ‘Gênio das Pernas Tortas’ defendeu profissionalmente.
O ‘Torneio Internacional de Verão’ abriu a temporada. Flamengo, Vasco da Gama e Benfica – então campeão português e semifinalista da Champions League. Nessa competição, Fio Maravilha marcou, contra o Benfica, o gol de placa que inspirou o rubro-negro Jorge Ben – hoje Benjor –, presente nas Tribunas do Maracanã, a compor a música ‘Fio Maravilha’.
Na decisão, o Flamengo ergueu a Taça após vencer o Vasco por 1 a 0, gol de Paulo Cézar, que, em grande forma, fazia toda diferença em campo.
A Rede Globo de Televisão apresentava antes do ‘Jornal Nacional’ o programa ‘Dois Minutos com João Saldanha’. Na telinha, o comentarista que o Brasil consagrou se empolgou:
“Esse PC é um garoto grande jogando bola no meio de crianças”.
O Campeonato Carioca foi disputado no primeiro semestre, mas devido ao ‘Torneio de Verão’ só terminou no começo de setembro. O Flamengo contava com Paulo Cézar; o Fluminense tinha Gerson; o Vasco, Tostão; e o Botafogo, Jairzinho.
Os técnicos também eram todos eles craques: Zagallo no Flamengo; Zizinho no Vasco; Paulo Amaral e depois Pinheiro, no Fluminense; e Elba de Pádua Lima, o Tim, no Botafogo.
No feriado de 7 de setembro, o destino colocou dois amigos, mais do que isso, dois tricampeões do mundo duelando entre si na grande final. Gerson, camisa 8 do Fluminense, versus Paulo Cézar, o 11 do Flamengo – que ganhou o apelido de Caju após cortar e pintar os cabelos em apoio ao movimento de igualdade social e racial ‘Panteras Negras’.
O Flamengo formava seu melhor time desde o segundo tricampeonato, obtido entre 1953 e 1955: Renato, Moreira, Chiquinho, Reyes e Rodrigues Neto (embora Wanderlei Luxemburgo tenha jogado a final); Zé Mário e Liminha; Rogério, Caio, Doval e Paulo Cézar Caju.
De cabeça, Paulo Cézar faz 1 a 0. Caio Cambalhota amplia e Jair desconta no segundo tempo. Quase 140 mil pagantes no Maracanã. No final, Flamengo 2 a 1, campeão do Sesquicentenário da Independência do Brasil.
A equipe ganhou ainda os títulos do ‘Torneio do Povo’, da Taça Guanabara e do Campeonato Carioca, mas sofreu, em pleno 15 de novembro, data do seu aniversário, uma derrota acachapante: 6 a 0 para o Botafogo – que, nesse ano, seria vice brasileiro. O campeão foi o Palmeiras, que jogava pelo empate na final, em partida única que não houve gols, no Morumbi.
Sete anos depois, o time campeão do mundo, com o ídolo Zico dando as cartas na meiuca, devolveu o resultado ao Botafogo, com direito à torcida exigindo goleada de seis. No finzinho do jogo, o estádio vibrou: com um gol de Andrade, camisa 6 rubro-negro, Flamengo 6 a 0.
NO VERNIZ DO FUTEBOL DE NEGUEBINHA BRILHA VINICIUS JR
por Marcos Vinicius Cabral
Vinicius Júnior caminhava chutando pedras pelo trajeto do Porto do Rosa, bairro onde morava em São Gonçalo, até o bairro vizinho Mutuá, onde funciona até hoje a escolinha de futebol em que ensaiou os primeiros chutes em uma bola de futebol. Diversos, inúmeros, infinitos sonhos passaram pela cabeça daquele menino pobre, negro, de sorriso fácil, e habilidade incomum.
Para o filho de Fernanda e Vinicius, vencer a desconfiança das pessoas sempre foi uma tarefa bem mais difícil do que ir a pé para a Escola Municipal Paulo Freire e aos treinos para aprimorar domínio de bola, conclusões a gol e a parte física. Mas não era algo que assustasse o atual camisa 7 do Real Madrid (ESP) que, ainda moleque, já aprontava.
“Uma vez recebemos o time da escolinha do Vasco em São Gonçalo. Com apenas 6 anos, ele acabou com o jogo sozinho”, relembra Edinelson Matos, o Man, treinador da escolinha Craquinhos de Ouro.
Tornou-se, portanto, normal para Vinicius Júnior encarar desafios que o mundo, redondo como uma bola de futebol, apresentava. Vencer seria, acreditava o menino, questão de tempo. E o tempo, o tempo não para, diria Cazuza (1958-1990) como nos versos abaixo:
“Mas se você achar
Que eu ‘tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não para…”
E os dados continuaram rolando na vida do menino pobre gonçalense, da mesma forma que mundo não parou. Pelo contrário, girou. E muito. A bola, onipresente na vida de Vinicius Júnior, obrigou-lhe a mudar de cidade. Aos 14 anos, coração partido em mil pedaços, saiu de São Gonçalo e foi para Piedade, Zona Norte do Rio de Janeiro, morar com o tio Ulisses. Na cabeça dele, melhor seria afastar-se da cidade e dos amigos para ficar mais próximo do Ninho do Urubu e poder realizar o sonho que era tornar-se jogador do Flamengo, clube de coração.
E o sonho começou a cumprir-se contra o Atlético Mineiro, pois foi naquele 13 de maio de 2016, partida válida pela 1ª rodada do Campeonato Brasileiro, que Vinicius Júnior estreava. Até chegar ao Real Madrid, quando jogou pela primeira vez contra o Atlético de Madrid, no Santiago Bernabéu, pela La Liga, em 29 setembro de 2018, muita coisa aconteceu repentinamente na vida da joia gonçalense.
De menino pobre a um dos jogadores mais valiosos do planeta e com multa rescisória de 1 bilhão de euros (cerca de R$ 5,36 bilhões), Vinicius Júnior ultrapassou obstáculos, superou dificuldades, acreditou no dom de jogar futebol que deu lhe Deus e foi em frente. Vira e mexe enfrenta uma chaga universal chamada racismo. Logo, logo, vence esses imbecis e vai dar-lhes uma ‘banana’.
Entre tantos feitos, Vinicius Júnior tornou-se em neste janeiro, em jogo válido pela final da Supercopa da Espanha, o primeiro brasileiro a marcar três gols na história do El Clásico pelo Real Madrid. Feito igual ao dos brasileiros Evaristo, em 1958, e Romário, em 1994, ambos pelo Barcelona.
Já no 15 de janeiro de 2024, a FIFA anunciou a seleção do ano de 2023 no prêmio Fifa The Best e Vinicius Júnior foi escolhido um dos atacantes.
De São Gonçalo para o mundo, mas sem perder as raízes. Foi pensando nisto que o Vinicius Júnior quis melhorar a vida de estudantes da Escola Municipal Paulo Freire, onde estudou. A unidade é um dos centros de tecnologia do instituto que leva o nome do craque e proporciona pilares que busca ter como base a Educação. Educação esta que nunca faltou ao craque de sorriso cativante e que vem respondendo com a bola que joga aos que chamaram-lhe de “Neguebinha” no programa Redação Sport TV, em 2017. Que Deus tenha piedade destas pessoas.