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O CINEMA, O FUTEBOL E JOSÉ CARLOS ASBEG

por André Felipe de Lima


O cinema brasileiro tem uma lista rica de filmes sobre futebol. O ícone talvez seja “Garrincha, Alegria do Povo”, produção de 1962 dirigida pelo gênio Joaquim Pedro de Andrade, com roteiro do próprio diretor, tendo como parceiros Armando Nogueira, Luiz Carlos Barreto, Mário Carneiro e David Neves. Mas creio que o primado de “Alegria do povo” esgotou-se, ou melhor, desde que chegou ao mercado o espetacular “1958 – O ano em que o mundo descobriu o Brasil”, de 2007, que o antológico filme de Pedro de Andrade passou a dividir com esta produção o posto de ícone da cinematografia brasileira de futebol.

Posso estar cometendo uma injustiça com outras excelentes produções nacionais, mas esta — assinada pelo bravíssimo José Carlos Asbeg — inegavelmente está no rol das legendas do cinema que procuram retratar o futebol para além das quatro linhas. Para um sonho. Um sonho de um povo em ser campeão do mundo. Sonhos que o cinema sabe muito bem descrever. Por isso chama-se “sétima arte”. Nada é à toa.

A cada entrevista, a cada passo de Asbeg pelos locais onde estiveram aqueles craques de 1958 até a final contra os suecos, conhecemos um pouco mais dessa vontade de ser brasileiro, que tanta falta faz hoje, e por motivos óbvios, que não cabem aqui descrevê-los ou debatê-los. A hora e o dia são do Asbeg.


Ele é daqueles cineastas que todos queremos um dia ser. Pelo menos um pouquinho dele. O que já seria uma enormidade para qualquer um que se meta a fazer cinema em um país onde arte e cultura não são valorizadas. Inclusive nos nossos gramados e estádios, onde o futebol perdeu a arte. Mas este grande rubro-negro — fã do Dida — não desiste de colaborar para resgatá-la. É um dos mais aguçados documentaristas da atualidade no país. Suas produções não se resumem ao futebol. Elas avançam na história e tocam a alma e identidade cultural do brasileiro. Asbeg vai além. Muito além! Hoje é aniversário dele. Tenho muito orgulho de ser seu amigo e de muito aprender com ele.

O Brasil também precisa ter orgulho de José Carlos Asbeg. Ter orgulho do nosso cinema, da nossa história escrita a ferro e fogo; a lágrima, sangue e suor. Uma história tão bem e sensivelmente narrada por José Carlos Asbeg em seus filmes.

RENATO E O PALMEIRAS

por Paulo Escobar


Do lado de baixo, onde quase nada se tem a não ser a palavra, se vive e respira futebol de um jeito especial. Pois as vezes a paixão proibida para aqueles que não tem grana, vide as arenas ou preço das camisetas, se vive de um jeito aonde a única alegria em dias tristes pode ser um gol do seu time.

Nas ruas e favelas de São Paulo, convivendo há quase duas décadas com a população de rua, tenho o prazer de ter presenciado cenas das mais emocionantes envolvendo o futebol. E um pouquinho do que vi lhes contarei nesta série.

Nesta primeira história falarei do amor de um palmeirense, que viveu e morreu a paixão pelo seu time até o último dia. Camisas doadas e surradas pelo uso e pelo tempo faziam parte do seu vestiário e a cada beijo no símbolo um grito:

– Vai Palmeiras!!!

Renato foi morar nas rua e viveu um amor com uma inglesa torcedora do Chelsea. No seu barraco viveram juntos suas paixões até ela ter que voltar forçadamente ao seu país. Mecânico de profissão, viu a pobreza chegar até sua porta e lhe tirar tudo o que tinha, a pobreza tem a capacidade de te roubar tudo, mas as paixões são coisas que a pobreza não leva.

Vi Renato vibrar e sofrer pelo Palmeiras, vi ele chorar pelo seu time e ser provocado pelos corintianos. Tiveram vezes que chegou a sumir no meio das derrotas, e naquela final recente de paulista perdida para o Corinthians o vi entrar em depressão.

Tinha no goleiro Marcos um de seus ídolos, e era justamente o nome do goleiro que ele gritava nas defesas que fazia nas peladas das quadras do viaduto Alcântara. E justamente naquelas peladas ele revivia lembranças de quando jogou na várzea no ABC paulista.

Renato chegou a ser técnico de várzea, do time do Corote Molotov, onde tinha que ser retirado de dentro de campo a cada cinco minutos. Era chamado de Sampaoli já naquela época, pois não parava de andar na lateral de campo, e a calvície também o assemelhava.

Na radial leste não era raro ver Renato puxando sua carroça acompanhado de muitos cachorros, vestindo sua camisa do Palmeiras. Muitas vezes o vi com a sete do Edmundo, e pensei em como teria sido bacana ele ter abraçado o animal.

O coração palmeirense decidiu parar de bater um dia, debaixo de um viaduto do Brás, a ambulância jamais chegou, pois pra quem mora nas ruas a saúde dificilmente chega. E ali deu seus últimos respiros, diante do desespero dos seus amigos, e numa tarde Renato deixou as ruas do Brás e as tardes de futebol um pouco mais tristes.

Renato foi chorado numa tarde de várzea antes de um jogo, em meio a pobreza foi fiel a sua paixão pelo Palmeiras. E posso dizer que muitas vezes, em meio a tristeza e a exclusão, o seu time lhe deu felicidades.

Renato nunca entrou na arena do Palmeiras, mas na sua TV debaixo de um viaduto foi devoto ao seu time, e quem dera se os jogadores tivessem sabido da vida daquele que mesmo sem nada amou muitos deles.

O FUTEBOL NÃO PODE PERDER PARA O VAR

por Zé Roberto Padilha


Uma nova regra não pode mudar um jogo para pior, mesmo quando introduzido com a melhor das intenções, como o VAR. Ela, a nova regra, quando introduzida, vem para adequá-lo a uma nova realidade, que lhe traga benefícios, avanços, e, principalmente, o torne mais justo sem lhe roubar o que tem de mais interessante. O VAR veio para evitar que os grandes erros da história do futebol não mais se perpetuem. Como o gol da Inglaterra que lhe deu o título mundial de 1966, contra a Alemanha, jogando dentro de casa.

Anos se passaram, e a tecnologia não havia chegado para tirar a dúvida, baús do esporte vieram à tona seguidamente para saber se aquela bola entrou ou não. Tão difícil foi à época sua interpretação, que dela surgiu a figura do “árbitro caseiro”. O que passou a pensar assim: “Aonde estou? Em Wembley? Então, corro para o meio. Se estivesse em Berlim, deixaria o jogo seguir. E sairia vivo dali, do Serra Dourada e do Estádio Odair Gama, em Três Rios. O que é a história diante da minha segurança?”


A maior crítica, quase que unânime, com os primeiros jogos do Campeonato Brasileiro diante da sua implantação, é que as partidas tiveram seus ritmos seriamente quebrados. Tem havido interrupções demais, por qualquer tropeço, uma chegadinha para lá, e as câmeras deixando de seguir os craques e jogando suas lentes naquela figura com apito na boca. Antigamente, dizia Mário Vianna, com dois enes, quanto mais discreto fosse na partida, melhor seria seu desempenho. Agora, ele tem mais posse de aparição do que os times de posse de bola. Não é justo. Mas tem solução.

A partir da segunda metade do Brasileirão, logo após a Copa América, apenas o capitão do time poderá solicitar ao árbitro o desafio do VAR. E eles terão direito a apenas dois pedidos a cada tempo. Se sua solicitação for acatada, sua equipe continuará a ter direito aos dois desafios. Invalidado, fica apenas com um. E pensarão duas vezes antes de desperdiçar este trunfo perante um empurrãozinho qualquer dentro da grande área.


Deste jeito, os jogadores voltarão a ser protagonistas do espetáculo. Eu, pelo menos, nunca fui à estádio ver árbitro de futebol. E, hoje, não vejo outra coisa senão um bando deles espalhados por gramados, vigiando os goleiros e instalados numa sala de ar condicionado mais fria do que a temperatura que baixou sobre o futebol depois de sua implantação. A emoção, na verdade, deu lugar a interrupção.

• Esta solicitação, de alteração ao VAR, foi repassada ao meu amigo, e ex-companheiro de clube, Leovegildo da Gama Júnior, que irá levá-la, com sua credibilidade, até o responsável pela comissão de arbitragem da CBF. O Gassiba. Quem sabe?

COMO SURGIU O DRIBLE DA VACA?

por Victor Kingma


Charge: Eklisleno Ximenes

O futebol, o esporte mais praticado no mundo, é formado por jogadas espetaculares, fruto da habilidade e criatividade dos jogadores que as executam. Muitas delas acabam sendo batizadas pelos torcedores com nomes criativos e singulares, baseado em situações do cotidiano que se assemelham ao lance executado. 

 

O drible, então, onde o verdadeiro craque demonstra toda sua arte com a bola nos pés, é a jogada que mais recebe adjetivos. Como exemplos podem ser citados o “elástico” criado por Rivellino e a “pedalada”, eternizada por Robinho.  Um outro drible, dos mais inusitados e conhecidos no vocabulário da bola, é o famoso “drible da vaca”.

Mas como surgiu essa jogada sensacional, na qual o jogador joga a bola por um lado do marcador e pega do outro?

Quando Charles Miller trouxe o futebol para o Brasil, em 1894, esse esporte era praticado basicamente nas cidades. Entretanto, logo se tornou uma paixão nacional e campos improvisados foram surgindo nos mais distantes lugares.

No meio rural muitos desses campos eram construídos ou improvisados à beira dos pastos ou currais das fazendas.  Por isso era comum durante os jogos o campo ser invadido por vacas furiosas, estimuladas pelas camisas multicoloridas dos jogadores.

Os atletas mais habilidosos (ou corajosos) para não perder a bola e também para se livrar das vacas que vinham em sua direção, jogavam a bola por um lado e a pegavam do outro.  E era uma festa para quem assistia.

A “jogada”, então, foi se popularizando e acabou chegando aos jogos oficiais. Assim, quando o jogador se livra do marcador utilizando esse mesmo artifício está aplicando, na linguagem do futebol, o inusitado e divertido “drible da vaca”.

 

O FUTEBOL ESTÁ MURCHANDO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


No meu tempo as informações chegavam pelos jornais, rádio e tevê. Hoje somos torpedeados por notícias de todos os lados e fica difícil decifrar quais são verdadeiras. Temos pouco tempo para descobrir.

Outro dia, recebi um vídeo mostrando o “maior astro do futebol brasileiro” acertando o queixo de um torcedor francês. Deve ser fake news, pensei. Até porque se for verdade o “professor” Tite certamente deverá puni-lo como fez com Douglas Costa quando cuspiu em um adversário. Essas mentiras devem ser banidas!!!

Li que o menino Lucas Santos, do Vasco, não jogou contra o Atlético (PR) porque desgastou-se muito contra o Santos. Será? Não duvido porque as comissões técnicas de hoje em dia poupam o time todo por conta de viagens de três horinhas nos jogos da Libertadores.

Aposto que em um futuro próximo esses auxiliares de treineiros não vão deixar seus atletas jogarem na chuva: “vão pegar uma gripe, entrem para o vestiário”, Kkkkkk!!!! Hoje já não se treinam tantas batidas de falta para não prejudicar os músculos. Afinal, as perninhas tem que estar bem cuidadas para eles poderem levantar os shortinhos e as exibirem bem torneadas. Libera logo a sunga, CBF, Kkkkk!!!!

Alguém me enviou um zap dizendo que tem treinador carioca pensando em colocar vendas nos olhos dos jogadores para eles terem “uma melhor noção de espaço”. Pelo amor de Deus, não deixem que isso se torne verdade!!!! Basta pedir para que joguem de cabeça erguida! Que saudade do Cruyff, que faria 70 anos na sexta passada.

Suas frases enterram várias balelas que viraram verdade nos dias atuais: “Ser veloz não é correr mais do que o outro, mas começar a correr na hora certa”, “Ter técnica não é fazer mil embaixadinhas. Isso é para circo. Ter técnica é passar a bola de primeira, com a velocidade certa”, “Não admito que um programa de computador decida se um jogador serve ou não para um time”, “Quando parei de jogar me disseram que eu teria que estudar quatro anos para ser técnico. Disse que estavam loucos. O que eu iria aprender com quem sabe menos do que eu?” e “Jogadores forjados nas ruas são mais valiosos do que técnicos formados em escolas”.


Penso muito parecido com o Cruyff e quase jogamos juntos em 71 quando recebi uma proposta do Ajax, tricampeão europeu. O futebol empobreceu de tal forma que fica difícil imaginar uma retomada. O carioca, nem se fala. Torço para que Fernando Diniz acerte, assim como Sampaoli. Precisamos dessa forma de enxergar o futebol.

Recebo um outro zap, esse informando a morte de meu amigo Rodrigues Neto, lateral da seleção brasileira, Flamengo e do famoso time do Camburão, do Botafogo. É fake news, claro que é! Há poucos meses estivemos no banco, com o Júlio Galinha, para resolvermos problemas de aposentadoria, PIS, PASEP, essas coisas, e ele estava bem. Ou será que meus olhos desejavam isso?

De boné, bengala e bem magrinho, me arrisquei a perguntar: “Está murchando?”. Fez cara de poucos amigos, a mesma quando encarava os pontas, ergueu a bengala, recuei e rimos juntos. O futebol está murchando.