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PARA QUE A SOLIDARIEDADE NÃO VIRE HIPOCRISIA

por Marluci Martins


Ninguém mais vai fazer campanha nas redes sociais contra jogador e jornalista. Ninguém vai zombar do torcedor desesperado que ameaçou se jogar do alto da marquise de São Januário. Ninguém vai dizer pro Zico que ele perdeu um pênalti em Copa do Mundo. Ninguém vai gritar “assassino” pro Edmundo se ele der o pontapé inicial num Flamengo x Vasco. Ninguém vai xingar a mãe do árbitro. Ninguém vai bater em ninguém a caminho do Maraca.

Sidão, quem diria, uniu os torcedores na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias, até que a morte os separe.

Será?

Cobra-se da emissora de televisão sensibilidade. Cobra-se respeito. São críticas pertinentes, mas tão relevante foi a convicção do pessoal da TV, que fez o mea-culpa em cadeia nacional ainda na noite do fatídico prêmio concedido ao goleiro do Vasco. Quem mais, além da emissora, pediu perdão ao goleiro?

Os que lideraram a campanha nas redes sociais pela votação em Sidão, um dos piores homens em campo no domingo, já se desculparam ou sentem orgulho do feito? Não duvido que, covardes, estejam vociferando contra a empresa de comunicação.

A transferência de responsabilidades é o jeitinho dos comodistas enganadores das redes sociais. São hipócritas demais, uma ameaça ao sistema, como o hater que fere a índole de alguém e culpa o primo safado, contumaz ladrão de senhas.

Toda solidariedade do mundo ao Sidão. Ele merece. Mas, antes, vale dar uma olhada para o umbigo e ver se não existe um hater escondido ali. Para que a solidariedade não vire hipocrisia, oportunismo barato.

SABE DE QUEM?

por Zé Roberto Padilha


Logo de você, Luiz Roberto, um comunicador tão prudente, tão afinado com a gente, que se mostrou tão sensível quando entrevistou a filha do Roger, e causou comoção nacional e alcançou o Jornal Nacional, o futebol, e a nossa sociedade, dá um passo atrás em sua incessante busca pela igualdade social. O que você fez, ontem, durante a transmissão de Santos x Vasco, foi ressuscitar todos os erros e todas as injustiças que o futebol brasileiro fez com o Barbosa. Ou você faria o mesmo com o Júlio César, o dos 7×1, e do Júlio César, do Grêmio, contra o Fluminense, brancos, influentes e de classe média, o que fez com o Sidão? Por mais que fizesse outras defesas, parecia condenado pelo resto da partida. Sem direito a qualquer defesa sua.

Sabe de quem você arrasou e ironizou ao microfone, que é uma bomba atômica espalhada pelos quatro cantos do país? Um atleta negro, que além de pisar em um lugar tão amaldiçoado que sequer nasce grama, escolheu uma posição amaldiçoada desde Barbosa. Quando liguei na partida, esta estava no Show do Intervalo. E você dizia e insistia, antes de passar a bola pro Roger e o Casagrandre: “É um jogo para ser esquecido pelo Sidão!”

Daí meu imaginário ficou a buscar na memória, no baú individual que carrego do esporte, diante de tantas falhas que já vi e presenciei serem cometidas, o que de tão grave havia ocorrido. E quando vi a falha do Sidão, esta tem sido quase que comum desde o dia em que os treinadores exigiram dos seus goleiros saírem jogando com os pés. E todos nós, do mundo da bola, sabemos que eles foram para o gol porque são péssimos na linha. Precisam de tempo e treinamento. E você, Luiz Roberto, não o perdoou um só minuto.

Sabe de quem, Luiz Roberto, você transferiu um sentimento nobre de solidariedade da nação vascaína, transformando-o em deboche e ironia? De um cidadão bacana, que procura, com as próprias luvas, se livrar das algemas do preconceito que Barbosa partiu sem ser absolvido de um crime que não cometeu.

Sabe de quem, Luiz Alberto, você se espelhou para surfar nas atuais ondas sujas do racismo, da intolerância, da perseguição sexual e a toda e qualquer manifestação de arte, como esta pura, que nos concede o futebol?

Você sabe de quem.

‘REI’ ARTUR DO ‘REINO’ DE MOÇA BONITA

por André Felipe de Lima


Os cartolas do Fluminense definitivamente não sabiam o que estavam fazendo naquele longínquo ano de 1979. Nenhum torcedor, em sã consciência, aceitou a cessão, por empréstimo, de um garoto baixinho chamado Arturzinho por módicos 800 mil cruzeiros ao Operário, de Mato Grosso. O rapaz jogava o fino, mas, mesmo assim, cederam o seu passe por uma quantia considerada na época comum a um perna de pau, o que, convenhamos, não era o caso do jovem Artur, sobretudo para quem o viu jogar. O ex-goleiro Carlos Castilho, maior ídolo da história do Fluminense, que dirigiu Arturzinho no Operário, assim o definia: “Ele é muito talentoso, sabe colocar-se em campo e desequilibra qualquer jogo com seus dribles curtos.”

Seu futebol de passes precisos e, claro, muitos gols começou a chamar a atenção quando defendeu o clube mato-grossense. Em setembro de 1979, o Operário tido como imbatível no estado tinha como treinador Castilho, que, por sua vez, depositava toda fé no brilhante Arturzinho, um jovem e confiante craque que acreditava em um futuro promissor. “Cheguei disposto a vencer. Sempre reserva no Fluminense, jurei a mim mesmo que aqui mostraria o meu futebol. Mostrei. No Brasileiro, vou dar tudo. Quero voltar ao Rio um dia, mais respeitado e com meu lugar garantido no Fluminense. Com ajuda do seu Castilho e do Operário, vou conseguir.” E conseguiu. Anos depois, defendendo o Bangu, entraria para a história do clube, como um dos maiores ídolos de todos os tempos, no mesmo patamar de Domingos da Guia e de Zizinho.

Artur dos Santos Lima é o que se pode definir como um verdadeiro cigano do futebol brasileiro, mas, acima de tudo, um genuíno cobra. Nasceu no Rio de Janeiro, no dia 13 de maio de 1956, e começou a jogar bola no futebol de salão do São Cristóvão. O caminho seria, contudo, árduo. Tentou cinco vezes passar por uma peneira no Bangu, comandada pelo ex-treinador Mendonça, zagueiro do Alvirrubro na década de 1950 e pai de outro craque dos anos de 1980: o também Mendonça, ídolo botafoguense.

Arturzinho jogou apenas 20 minutos e até agradou, mas foi dispensado. Com inabalável ânimo, arriscou a sorte na Portuguesa da Ilha do Governador, permanecendo no teste durante cinco minutos. O bastante para ouvir o seguinte de um cartola, cujo nome ignorava: “Você aí, magricela: pode sair. E não precisa voltar.”

Desistir, nunca. Afinal, Arturzinho era filho de Amaro Pio de Lima, de quem herdou a paixão pelo futebol.

O velho motorista de caminhão reservava as manhãs de domingos para o culto à boa e velha “pelada”, ora vestindo a surrada camisa do Independente, ora a do Aliança, dois clubes tradicionais do bairro do Caju, na zona portuária do Rio de Janeiro. Exatamente naquela região da cidade é que Artur, garoto obediente e estudioso, deliciava-se com o seu único brinquedo: uma bola.

Dona Anita, mãe do garoto, costumava frisar que o velho Amaro encantava-se com o futebol de Arturzinho, que dividia a atenção dos zelosos pais com os irmãos Almir, ex-ponta-esquerda do Campo Grande, do Vasco, com passagem pelo futebol equatoriano, e o caçula Alair, um rubro-negro convicto, igualmente à mãe.

O que, talvez, Amaro não percebesse é que Arturzinho estava longe de ser igual ao ex-zagueiro Pavão, um jogador viril, que defendeu o Flamengo nos anos de 1950 e com quem Amaro insistia comparar o filho bom de bola. Pavão era o ídolo de Amaro, mas Arturzinho era fã mesmo de outro rubro-negro, esse, ídolo incontestável do Flamengo: Dida.

Arturzinho sentia-se o Dida. Em cada pelada disputada nas ruas do Caju jogando pelo Redentor, time organizado pelo velho Amaro, o menino ensaiava um drible do Dida. Acreditava, piamente, ser o Dida.

Foi nessa época que Nestor, vizinho da família Lima, bateu um papo com seu Amaro e conseguiu dele a autorização para levar Arturzinho para um treino no futebol de salão do São Cristóvão. Amaro não se opôs e o clube conquistou um novo craque das quadras.

Adílio, ídolo rubro-negro e que também começou no futebol de salão, recordou os tempos em que o time infanto-juvenil do Flamengo enfrentava Arturzinho e o time de quadra do São Cristóvão: “Ninguém o chamava pelo nome. Ele era o Motorzinho, um endiabrado.”

Em 1975, já morando no bairro de Senador Camará, no subúrbio carioca, Arturzinho decidiu que faria voos mais altos. Fez teste para o time juvenil do Fluminense. Passou, com a aprovação do ex-zagueiro Pinheiro, ídolo do clube nos anos de 1950, que se encantara com os dribles curtos daquele menino.

A rotina era pauleira. Diariamente, acordava às 5h30 e embarcava em um trem lotado até a estação da Central do Brasil. Antes de pegar um ônibus rumo ao estádio das Laranjeiras, fazia de um pastel e um caldo de cana seu indefectível café da manhã. Indo e voltando para casa, gastava quatro horas diárias somente com o transporte. Igualmente a alguns meninos que amam jogar bola, seu desejo, como contou ao repórter Hideki Takizawa, era singular: concluir os estudos, fazer sucesso como jogador e comprar uma casa para os pais.

Devagar, se vai ao longe. O primeiro técnico a escalá-lo entre os cobras da Máquina Tricolor foi Mário Travaglini, em 1976. Com os meias Pintinho e Paulo César Caju machucados, o treinador decidiu dar uma chance ao rapaz, no jogo contra o Americano. E não se arrependeu. Foram de Arturzinho os passes para os gols de Gil e Doval na vitória de 2 a 0. Saiu de campo consagrado.

Em 1977, assinou o primeiro contrato, com um clube que mantinha craques, como Rivelino e Cléber, na mesma posição do então menino Artur, que se conformava com a reserva. No ano seguinte, o salário melhorou, saltando de 10 mil para 15 mil cruzeiros mensais. O dinheiro o ajudou a comprar uma Kombi para o pai trabalhar.

ADEUS, FLU… VIVA O REI ARTUR!

Arturzinho, quando entrava em campo, era um assombro. Mesmo assim, entrando e saindo treinador, nada de chance concreta para firmá-lo no time titular do Fluminense. Deu um basta. Chamou o então técnico Zé Duarte para uma conversa reservada e pediu que o dispensasse do clube. Pedido aceito, arrumou as malas e seguiu para o Operário, de Mato Grosso. No período em que lá esteve, sentiu uma de suas maiores dores na vida: a morte do pai, em 1980, dois dias antes do Natal.

O baixinho Arturzinho, que mede 1,62m de altura e foi campeão com o Operário, marcando gols decisivos e inserindo o clube entre os cinco melhores colocados do campeonato nacional de 1979, tão cedo não voltaria ao Fluminense, como almejava. Seu destino estava reservado a ser ídolo, mas de outros clubes. Destacar-se-ia primeiramente no Bangu, onde seria tratado como rei, e, logo depois, no Vasco.

Chegou ao clube de Moça Bonita em 1982, após tornar-se herói do Operário e com uma passagem relâmpago pelo Internacional, de Porto Alegre.


A estada no Sul foi, no entanto, complicada. O clima frio fez com que Arturzinho embarcasse a esposa Vera Lúcia, sempre doente, de volta para o Rio de Janeiro antes do término do contrato do jogador com o clube gaúcho. Do Inter, onde disputou pouco mais de 10 jogos, sem marcar gols, Arturzinho regressou ao Operário, após ter o passe trocado pelo do jogador Washington.

Mas foi no Bangu que conheceu a glória. Glória de rei. De Rei Artur.

Tornou-se ídolo incontestável no Alvirrubro suburbano, conduzindo o Bangu às finais do campeonato estadual em 1983, sempre reverenciado pela crônica esportiva carioca como o melhor jogador do torneio, rodada após rodada. É o sétimo maior artilheiro da história do Bangu, com 93 gols.

Suas atuações, sobretudo contra o poderoso Flamengo dos anos de 1980, são consideradas inquestionáveis antologias nas páginas da história do Bangu.

Em um jogo memorável, realizado no feriado de 7 de setembro de 1983, o Bangu goleou, por 6 a 2, no Maracanã, o time que contava, entre outros, com Leandro, Júnior, Marinho, Adílio e Mozer. Arturzinho esteve fenomenal. Marcou quatro gols no goleiro Abelha e entrou, definitivamente, no rol dos maiores ídolos da história do clube. Com inteira e irrevogável justiça.

Ainda nos tempos de Bangu, o religioso Arturzinho mostrou um louvável perfil humanitário ao comandar o grupo de jogadores que decidiu, em 1983, doar 10% dos “bichos” ganhos após os jogos para a creche das presidiárias da penitenciária Talavera Bruce, em Bangu.

Em 1984, ficara difícil para Castor de Andrade mantê-lo em Moça Bonita. Antônio Soares Calçada, presidente do Vasco, botou na mesa 400 milhões de cruzeiros pelo passe de Arturzinho, que formou com Roberto Dinamite e Mauricinho um excelente ataque durante o campeonato brasileiro de 84, que só tombaria diante do Fluminense, de Romerito, Branco, Assis e Washington, na decisão do torneio.

Pelo cruz-maltino, também fez partidas memoráveis naquele campeonato nacional. Uma delas, contra o Tuna Lusa, quando marcou quatro dos nove gols da goleada de 9 a 0. E o mais impressionante: estava com o tornozelo bastante inchado. Após o apito final do juiz, a torcida invadiu o campo para carregá-lo, triunfante, pelo gramado de São Januário. O craque já se acostumara à apoteoses do gênero.

No mesmo ano, Arturzinho seguiu para o Corinthians, que pagou 380 milhões de cruzeiros pelo passe do craque.

O jogador ajudou a levar o time paulista à final do campeonato paulista, mas perdeu o troféu para o Santos. Foi uma passagem apenas razoável pelo Timão.

Regressou ao Bangu, em 1985, quando o clube alvirrubro acabara de perder a final do campeonato brasileiro para o Coritiba. Arturzinho era a esperança do Bangu para o fim do jejum de títulos. A principal meta foi conquistar o tão ambicionado campeonato carioca, entalado na garganta dos banguenses desde 1983, mas, novamente, o Bangu se deu mal, e Arturzinho acabou perdendo espaço no clube.

O caldo entornou de vez com a péssima campanha do time na Taça Libertadores da América, em 1986, com o craque veementemente criticado pela torcida e cartolas. Desprestigiado, Arturzinho foi emprestado ao Botafogo, no segundo semestre de 86. Tempos difíceis aqueles. O dinheiro escasseou e, para manter, a família e os filhos, Arturzinho cortou um dobrado. As portas de muitos clubes estavam fechadas. Exceto uma.

O Bangu era a sua casa. Ali, em Moça Bonita, mesmo com a má fase entre 85 e 86, sentia-se à vontade. Todos no clube, especialmente o misto de cartola e banqueiro do jogo do bicho, Castor de Andrade, decidiram dar uma nova [e merecida] chance ao ídolo.

Com tanto carinho, Arturzinho decidiu, no começo de 1987, que poderia dar a volta por cima no clube suburbano. Mas não foi tão fácil assim. Pelo menos, no primeiro semestre daquele ano. O tratamento era o mesmo do ano anterior, com Arturzinho sendo marginalizado e ficando cinco meses fora do time, proibido até de treinar com os companheiros.

A sorte só mudaria com a chegada do técnico Pinheiro, o mesmo que o revelara no juvenil do Fluminense, em 1975, e que insistiu para que o Bangu renovasse o contrato de Arturzinho. Em apenas cinco jogos, o craque mostrou-se indispensável ao time. “Por ser tão querido, nunca pensei que sofreria tanto em Moça Bonita.”

O que Arturzinho talvez não percebesse é que há situações que somente os “reis” podem suportar.

Seu futebol de rei da bola para que o Bangu chegasse à final da Taça Rio, em junho de 1987, derrotando o Botafogo por 3 a 1, com dois gols do próprio Arturzinho. “Eu precisava dessa conquista”, disse o craque ao repórter Milton Costa Carvalho, quando estava de joelhos, no vestiário, diante de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, agradecendo à santa pelo título conquistado.

Arturzinho vinha sendo questionado pelo fato de ser ídolo, mas sem comparecer com gols nas decisões pelo Bangu. Se o problema era esse, redimiu-se e calou a boca dos críticos. O rei recuperara, enfim, o trono.


Após sua grande jornada no Bangu, peregrinou por diversos clubes no Brasil [Botafogo, Fortaleza, Paysandu e Itinga da Bahia] até retornar à Moça Bonita, em 1991, mas por pouco tempo. Logo seria negociado com o Vitória, da Bahia, onde estreou no dia 18 de março de 1992. No clube baiano, foi considerado o cérebro do time campeão estadual de 1992. O título foi pouco para Arturzinho, que também conquistou a artilharia da competição, com 24 gols. Pelo Vitória, Arturzinho entrou em campo 83 vezes e marcou 52 gols.

Um craque do porte dele, merecia vestir, com muita frequência, a camisa da seleção brasileira. Mas isso aconteceu apenas uma vez, no dia 21 de junho de 1984, em Curitiba, durante um amistoso contra o Uruguai. O Brasil derrotou a “Celeste Olímpica” por 1 a 0, com um gol de Arturzinho. A única reminiscência de um dos melhores jogadores de sua época com o manto canarinho.

A história de Arturzinho nos campos de futebol é uma síntese de amor ao esporte e de superação de desafios. Foram várias vezes em que o Arturzinho “rei” perdera a coroa, sendo, às vezes, tratado injustamente com desprezo por seus antigos “súditos”.

O ponto final da maravilhosa carreira de Arturzinho como jogador de futebol aconteceu no Olaria, em 1996. Hoje, o ídolo da torcida do Bangu é técnico. Uma trajetória iniciada no Vitória, um ano após pendurar as chuteiras.

E a estreia foi alvissareira. De cara, sagrou-se campeão baiano e da 1ª Copa do Nordeste, em 1997. À frente do América de Natal, em 1998, seria novamente campeão da Copa do Nordeste. O nome do treinador Arturzinho passou a figurar como um dos principais do futebol no nordestino. Em 2000, retornou ao Vitória para ser novamente campeão baiano. Estava consolidada a nova trajetória na vida de Artur dos Santos Lima, o inesquecível “rei” Artur… do “reino” de Moça Bonita.

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Foto: Reprodução da revista Placar/ Abril, assinada por Ignácio Ferreira

SANGUE LATINO

por Eliezer Cunha


Utilizo-me de uma pequena frase de um cantador nordestino para descrever esta reflexão. ‘Qualquer maneira de amar vale a pena”. E será que qualquer maneira de jogar uma partida por um torneio vale também a pena? Evidente que não, mas até então desde que acompanho o futebol é o que fazem os times de futebol que disputam a copa chamada de Libertadores, incluo também os times brasileiros. 

A bola não rola simplesmente ela sobrevoa sobre o campo e sobre as áreas. Goleiros são eternos chutadores da pelota para o campo adversário. Quando o time é o visitante a qualidade diminui mais ainda. Jogadas ríspidas, cartões amarelos são distribuídos aos jogadores frequentemente, cera em excesso e, dificilmente ocorre uma partida sem pelo menos uma expulsão de campo, ou seja, os jogos são ardentemente disputados, mas a técnica permanece em segundo plano. Mas é claro também existem algumas exceções.

Isso é uma crítica … Talvez, mas, também vejo isso como resultado do poder do sangue latino envolvido entre jogadores e torcedores na maior paixão do esporte sul-americano, o futebol. Confusões entre torcidas antes e depois do espetáculo acontecem frequentemente, nas ruas o nos estádios, às vezes fatal. Objetos são arremessados a esmo em direção aos jogadores. Jogadores em campo se desrespeitam em palavras, ações e gestos, palavras discriminatórias são lançadas ao ar pelas torcidas em tom de provocações.


Estes comportamentos e acontecimentos não deveriam fazer parte da vitrine do futebol sul-americano, haja vista que nos principais torneios europeus a rivalidade não beira a esses caos de conflitos. Somado a isso temos estádios extremamente vulneráveis em relação à segurança. Aparato policial baixo e desproporcional a quantidade de torcedores, dentro e fora dos estádios. Este panorama prevalece há décadas. Situação preocupante. São os resultados do sangue “caliente” dos torcedores e jogadores sul-americanos. 

Responsáveis, não subestimem a maior paixão dos torcedores do futebol latino e, se preocupem com a organização dos eventos e os resultados decorrente destas ações, como também, o enrijecimento das regras e condutas para que tenhamos um espetáculo mais seguro e de mais elevada técnica .

NO “CAMPINHO” DA MEDIOCRIDADE, AINDA HÁ ESPERANÇA

por Pablo Lima


Nos arredores do charmoso agradável bairro de Belgrano, em Buenos Aires, com suas ruas arborizadas e gastronomia abundante, repousa o não menos admirável estádio Monumental Antonio Vespucio Liberti, mais conhecido como Monumental de Nuñez, casa do tradicionalíssimo Clube Atlético River Plate.

Há exatos cinco anos (mais precisamente no dia 10 de maio de 2014), visitei o (literalmente) monumental estádio. Na passagem pelo concorrido ‘museo river’, lembranças inesquecíveis de nomes que marcaram a história do clube, como Daniel Passarella, Mario Kempes, e um memorial em homenagem ao mito Alfredo Di Stefano. Na entrada do local que homenageia o maior ídolo, uma inscrição está em destaque:

“DI STÉFANO, um dos três maiores jogadores de todos os tempos ao lado de MARADONA e PELÉ…”

Ao me deparar com a informação, não consegui conter o riso: a parcialidade argentina, já legitimada por nós brasileiros como pitoresca e exótica, não faria diferente ao agrupar dois jogadores do país entre os três maiores.

Quando da visita ao complexo de tênis do estádio, claro que não aguentei e me dispus a questionar o gentil guia turístico do local sobre a dupla eleição portenha dos melhores– óbvio, escolhi um culpado para os meus conflitos futebolísticos. Ríspido e veloz, o guia concluiu:

– Maradona e Di Stéfano estão entre os grandes, mas há outros do mesmo nível. E cabe a nós, argentinos de coração, valorizar os nossos ídolos a qualquer custo!

Um caloroso aperto de mão marcou a nossa despedida, e de volta ao Rio de Janeiro, refleti sobre a conclusão do guia: até quando é válido valorizar seus ídolos nacionais em detrimento da imparcialidade? O que de lição ensina essa declaração? O que nós, brasileiros, temos a aprender com isso?


Em um país célebre em não reconhecer seus maiores ídolos de maneira devida – lembremos da máxima “Pelé calado é um poeta”, tão elucidada por aqui, será que temos muito ainda que aprender com os argentinos sobre o tema?

 Saltos temporais nem sempre são prudentes quando o assunto é comparar momentos esportivos, mas sigamos precisamente ao jogo que eliminou o Brasil na última Copa do Mundo, contra a Bélgica, em 6 de julho de 2018.

Horas antes da referida partida, uma mesa-redonda da emissora SporTV traria o que chamamos no jargão da imprensa futebolística de “campinho”: os participantes do programa fizeram uma seleção entre os 22 participantes do jogo, definindo a escalação dos melhores em campo, descrita na imagem acima.

Para o meu susto (eu não aprendo), a nossa querida e PARCIAL imprensa não faria diferente ao escalar seus onze “titulares”. A maioria dos escalados seria do SENSACIONAL, MARAVILHOSO E IMBATÍVEL selecionado brasileiro, e nomes belgas de destaque no Mundial, como o goleiro Courtois e os meias Kevin De Bruynee Hazard, ficariam longe de merecer uma vaga nesse time titular. Mas, para surpresa deles, o resto é história: tanto De Bruyne quanto Courtois, Hazard e outros da equipe belga brilharam e mandaram o Brasil de volta pra casa. 

E aí me lembrei da parcialidade argentina com Di Stéfano e Maradona e acabei por exorcizar de vez a minha implicância com o fanatismo deles. Concluí que acabamos por vezes sendo ainda mais parciais que todos, e pior: parte da nossa imprensa valoriza atletas que jamais ocupariam espaço entre os nossos ídolos mais brilhantes. 

JOGAR BEM E VENCER, EIS A QUESTÃO

 

Chegando ao momento presente, maio de 2019: o treinador do Corinthians Fabio Carille começa a semana trazendo uma declaração em defesa do futebol de resultados. Disse ele para defender a má atuação do seu clube na partida contra a Chapecoense: “até a parada (da Copa América) o futebol vai ser um pouquinho feio.” Enquanto isso, ninguém menos que Lionel Messi resolveu encantar a Europa na primeira partida das semifinais da Uefa Champions League, na vitória de 3 a 0 do Barcelona sobre o Liverpool: dois gols e um festival de passes e dribles de tirar o fôlego dos amantes do futebol bem jogado.

Outro corintiano, dessa vez o goleiro Cássio, também discursou em defesa do futebol medíocre: “Qualquer torcedor prefere vencer jogando feio a perder jogando bonito”; poucos dias depois, o brasileiro Lucas Moura encantou o mundo com três gols na eletrizante vitória do Tottenham sobre o Ajax, pela outra semifinal da UCL. E, nesse clima, fica a minha torcida para que os Cassios e Carilles da vida tenham assistido ao espetacular Grêmio 4 x 5 Fluminense pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro.


A pergunta que fica: seria tão incomum assim falarmos do trivial, que é jogar bem e vencer, como fizeram Messi e Lucas nessa semana e tantos ilustres mundo afora? Com Garrincha e Pelé nas Copas de 1958 a 1970; tal como o francês Zinedine Zidane no Mundial em 1998, ou mesmo os tricolores de Grêmio e Fluminense no Brasileirão 2019?

Apesar dos defensores do futebol medíocre, das parcialidades e que tais, felizes somos por saber que há luzes brilhando, do lado de cá ou de lá, em Porto Alegre ou no Velho Continente, nos trazendo esperança de dias melhores dentro das quatro linhas.