NOS OMBROS DO PAI
por Claudio Lovato
O menino está sentado nos ombros do pai.
O pai está de pé, no primeiro degrau do anel inferior, e o menino olha para o campo, ouve o canto da torcida – coração disparado, olhos arregalados, a incapacidade de compreender tudo aquilo fazendo aumentar seu assombro.
É uma disputa por pênaltis. Instantes antes da última tentativa na série de cinco cobranças. Se o time do pai e do menino mandar a bola lá dentro será campeão. Senão, cobranças alternadas.
O pai fala alguma coisa para o menino, que só o menino ouve.
Há muito tempo, o pai do menino já esteve nos ombros de seu pai, naquela mesma situação. Ele faz agora com seu filho o que seu pai fez com ele, neste mesmo estádio, há muito tempo.
Mas ele, seu pai, o avô do menino que agora tem o coração aos galopes, nunca teve um pai que o colocasse nos ombros num estádio de futebol.
O pai do pai começou a ir aos estádios sozinho, por conta própria. No início, pulando muros, passando por buracos em cercas; depois, pulando catracas e então, mais tarde, pagando seu ingresso com o dinheiro suado dos primeiros empregos mixurucas, na companhia dos amigos.
O centroavante do time do pai e do menino corre para a bola.
A cabeça erguida.
O pé de apoio – o esquerdo – bem ao lado da bola, como deve ser.
O chute seco, rasteiro.
A bola rápida no canto.
O goleiro vencido.
A explosão da torcida.
A corrida dos jogadores em direção ao centroavante.
O time campeão.
O menino não resiste e chora nos ombros do pai, que pula e pula e pula, sendo agora o menino que nunca deixou de ser; naquele momento, pai e filho são dois meninos.
O pai do menino é um elo mágico, milagroso entre passado e presente, assim como o menino, seu filho, também será um dia.
Mas agora eles são apenas alegria, pura alegria.
Agora eles são dois espíritos em festa.
Na verdade, um só.
OS ESPECIALISTAS DA CAMISA 5
por Zé Roberto Padilha
Na vida de um atleta profissional de futebol, o objeto de cobiça, e de frustração, se apresenta empilhado na mão dos treinadores, em cores de coletes diferentes, a cada apronto da semana. Quando recebemos o colete reserva, tentamos provar a todo pique que o professor se enganara na escalação. Já com o de titular, bastava correr e provar que ele estava completamente justo e certo. Hoje, é o Diego é quem vive no Flamengo, semanalmente, este dilema.
No meu começo no Fluminense, não havia dúvidas: a 11 titular era do Lula. A mim, cabia receber o colete reserva da ponta, da meia ou, para colaborar e não sobrar do treino, na lateral esquerda. E as arquibancadas se divertiam com as investidas mortais de Wilton e Cafuringa para cima de mim. Era aprender a marcar, diminuir o espaço, ou pagar espetáculo para aposentados ou desocupados que sequer pagavam ingressos.
Como Rubens Galaxe, nosso coringa oficial, para sobreviver fui me virando em algumas posições, e até a camisa 7 no Bonsucesso usei, no estadual de 85, segundo as estratégias do meu treinador para tentar conter, no Maracanã, o lado esquerdo tricolor mortal formado por Branco, Tato e Assis. Foi em vão diante do tricampeão carioca. Aos 36 anos, me despedi por ali. A única camisa que não consegui jogar, mesmo em amistosos e, até na equipe de Master, foi a 5.
Cabeça de área não é lugar para ser ocupado por qualquer um. Você precisa ser, antes de tudo, um especialista na posição.
Os especialistas da camisa 5, que recebem bolas quadradas da zaga, e agora dos goleiros de linha, e, sem perde-las a repassam mais à frente aos pés dos que a tornam redondas, tem um segredo. Que vem do berço, ninguém ensina, e é o seu pulo do gato. Que os equilibra, mantém seu time de pé: eles dominam a bola com o pé de apoio, e deixam a perna boa, destra ou canhotinha, à feição para dar o passe. Um canhoto e não especialista como eu, precisa dominar a bola com a perna boa, dar o apoio na outra, buscar o equilíbrio e daí passar com a mesma canhotinha. São milésimos segundo preciosos na saída de bola.
Momentaneamente desequilibrado, você já ficou apertado, cercado e à mercê de um bote adversário mortal ante sua zaga desprotegida. E eles, os especialistas, realizam este movimento tão naturalmente que poucos notam. Só os que tentaram jogar por ali, como eu, sabem o valor deste segredo. Das artimanhas deste pulo do gato.
Denílson, o Rei Zulú, Carlos Alberto Pintinho, Zé Mário, Givanildo, Índio, do Americano, e Fio, do Esporte Clube Areal, foram os maiores especialistas que vi jogar nesta difícil posição. Sérgio Araújo vive a se virar por ali, Aírton às vezes se impõe e Guïnazu deu maus exemplos no Vasco não ficando em pé, abusando dos carrinhos, quando ele é quem deveria equilibrar a espinha dorsal.
Quarta, assistindo a Flamengo x Corinthians, descobri que há uma novo gênio da camisa 5 buscando espaço neste seleto grupo de especialistas. Uma pena que não é brasileiro. Cuéllar, é, hoje, no futebol brasileiro, o maior especialista da camisa 5. Uma espécie em extinção. Que o Abel, e a nação rubro-negra, o conserve em barris de carvalho. Pela reverência e espeito a mais difícil posição que vi ser ocupada no futebol.
O DIA EM QUE ROBERTO DINAMITE PROVOCOU A MAIOR EXPLOSÃO DE SUA VIDA
por Luis Filipe Chateaubriand
Depois de curta e fracassada passagem pelo Barcelona, Carlos Roberto de Oliveira, o Roberto Dinamite, voltava ao seu amado Vasco da Gama.
O reencontro entre ídolo e clube quase não aconteceu, pois o rival Flamengo queria o artilheiro.
Tornou-se célebre o diálogo entre o presidente rubro-negro e um repórter:
– Quanto o Flamengo pagará ao Barcelona? – pergunta o repórter.
– O Flamengo pagará ao Barcelona o mesmo valor que o Barcelona pagou ao Vasco da Gama! – responde Márcio.
– Mas o Barcelona ainda não pagou nada ao Vasco! – diz o repórter.
– Então, não será necessário o Flamengo pagar nada ao Barcelona! – responde Márcio, aos risos.
O fato objetivo é que, se o Bob Dinamite fosse para o Flamengo, formaria com Zico uma dupla das melhores de todos os tempos.
Mas, como o bom filho à casa torna, acabou voltando mesmo para o Vasco da Gama, nos idos de 1980.
A reestreia do ídolo foi em Recife, contra o Náutico, em um meio de semana, vitória cruz maltina por 1 x 0, gol de Guina.
Mas o melhor da festa estava reservado para o domingo seguinte… Em um Maracanã abarrotado de gente, com direito a Flamengo x Bangu na preliminar, o clube da cruz de malta sapecou cinco gols no Corinthians, com cinco gols do artilheiro de São Januário, um 5 x 2 que deixou o Timão na lona!
Dinamite fez gol de tudo quanto é jeito: gol da pequena área, gol com ajuda do “montinho artilheiro”, gol em passe magistral de Guina, gol em rebote do goleiro Jairo, gol lá do meio da rua!
Um, dois, três, quatro, cinco… Não contra um timinho mequetrefe, mas contra o timão de Sócrates!
A torcida vascaína, extasiada, comemorava o feito nas dependências do então Maior do Mundo. E, justamente no dia da sua volta, o artilheiro do sorriso largo e fácil tinha o seu dia de Pelé.
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.
CRICIÚMA 1991
por Marcelo Mendez
Era uma época confusa no Brasil.
Chegada nos anos 90, Plano Collor, economia no chão, salário mínimo sem nenhum valor, inflação a galope, desemprego nas picas, a gente sem perspectiva de porra nenhuma. Pior:
Antes havia o futebol, mas na época, nem isso.
O futebol Brasileiro amargava um jejum de títulos internacionais que aumentava ainda mais, por conta de uma campanha vexatória na Itália, com a Seleção saindo nas oitavas de final após perder pra uma perna do Maradona. Já ia nisso, mais de 20 anos sem um caneco.
Dentro desse panorama, nossas alegrias ludopédicas eram poucas. Mas eis que, no sul do Brasil, surge uma gauchão bigodudo que se juntou com uns catarinenses para formar um grande time de futebol. Falaremos deles aqui.
Senhoras e Senhores, o ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO tem a honra de trazer o Criciuma de 1991 para a resenha.
O Tigre era campeão local com sobras. Havia vindo de um tri (1986, 87, 88), tinha feito boa campanha na segundona, mas a coisa em questão ia além disso em 1991. Sob o comando de Lori Sandro, o time havia conquistado o Campeonato Catarinense e agora surgia uma oportunidade única para o time se firmar no cenário nacional:
A Copa do Brasil.
Para isso, era necessário um técnico copeiro. O Tigre num pensou duas vezes e trouxe da Arábia, Luis Felipe Scolari, o Felipão. Com ele, o time fecha-se tendo o ótimo goleiro Alexandre, o zagueirão firme, Sarandi, um lateral muito rápido de nome Itá, um meio campo vigoroso com Gelson, Grizzo e cerebral Roberto Cavalo e no ataque, além do matador Soares, o craque do time, o ponta Jairo Lenzi.
Com esses caras, Felipão convenceu a todo mundo que era possível vencer a Copa do Brasil e assim se enfiou na competição. Nela passou por cima de todo mundo e na semifinal, com um 3×0 no Goiás, credenciou-se para o maior momento da história do clube…
O Brasil em Criciúma
São corriqueiras as nuances envolvidas na final da Copa do Brasil e 1991, quando o contexto é esse que era apresentado, então. O todo poderoso Grêmio, voltaria a decidir a Copa contra o Tigre. E como de costume as falácias se repetiram.
A imprensa gaúcha em uníssono já considerava o tricolor gaúcho campeão. Afirmaram que o Criciúma ao entrar no Olímpico se assustaria com a frase ali escrita “Campeão Mundial de 1983”. Tá, mas num foi isso que aconteceu não.
Em um jogo duríssimo, o Criciúma conseguiu sair na frente do placar com gol de Vilmar. Se segurou bem e mesmo com o empate sofrido, o 1×1 foi muito comemorado e isso era compreensível; O Criciúma era imbatível no seu estádio o Heriberto Hulsse. E assim foi.
Em casa, com o regulamento debaixo do braço, o Tigre segurou o Grêmio e um 0x0 sem sustos. Com o gol marcado fora de casa, e com essa vantagem assegurada, o Criciúma sagra-se Campeão da Copa do Brasil de 1991. O título capacitou o time para jogar a Libertadores de 1992, onde conseguiu um honradíssimo quinto lugar. Mas isso é outra história…
Alexandre, Sarandi, Vilmar, Altair, Ita, Gelson Roberto Cavalo, Zé Roberto, Grizzo, Soares e Jairo Lenzi formam o time que hoje figura aqui, no Esquadrões do Futebol Brasileiro
A ORIGEM DO NOME BOTAFOGO
por Leandro Costa
Galeão São João Batista – o “Botafogo” / Foto: site Mundo Botafogo
No dia 12 de agosto de 1904, jovens estudantes do colégio Alfredo Gomes, liderados por Flávio Ramos, se reuniram com o objetivo de formar um time de futebol. Incialmente resolveram batizar o referido time de Electro Club, aproveitando o nome de um extinto clube do bairro de Botafogo encontrado em um velho talão de recebidos. Pouco mais de um mês depois da fundação, em uma nova reunião no dia 18 de setembro de 1904, por sugestão de Francisca Teixeira de Oliveira, avó de Flávio Ramos e conhecida como dona Chiquitota, os jovens estudantes decidiram rebatizar o time com o nome de Botafogo em homenagem ao bairro no qual realizou-se a fundação. Essa parte da história é bem conhecida e difundida entre os apaixonados botafoguenses, porém o que muita gente não sabe é como o bairro que inspirou os meninos recebeu o nome de Botafogo e é sobre isso que vamos falar a seguir.
No século XVI; os portugueses lançaram ao mar um poderoso barco de guerra chamado São João Batista em homenagem ao homem que batizou Jesus Cristo. Tal galeão ficou popularmente conhecido com O Botafogo. A embarcação ganhou esse apelido por ser tão poderosa que parecia botar fogo pelas ventas. Originalmente bota-fogoera era o apelido que se dava ao artilheiro que ateava fogo às peças de canhão das fortalezas terrestres e dos barcos de guerra. João Pereira de Sousa, um dos membros da tripulação do galeão, era o responsável pela artilharia do navio, o que lhe rendeu também a alcunha de Botafogo. João incluiu o apelido em seu sobrenome e veio se estabelecer no Brasil.
Em 1573 foi nomeado como encarregado da defesa da recém fundada cidade do Rio de Janeiro. Teve uma destacada atuação no cargo combatendo a tentativa de invasão do franceses. Como recompensa ganhou da Coroa de Portugal uma sesmaria junto à baía de Guanabara. Essa área passou a ser conhecida por Botafogo em referência ao proprietário das terras. Tais terras vieram a formar o tradicional bairro do Rio de Janeiro que serviu de inspiração para o nome do nosso amado e Glorioso BOTAFOGO.
Fontes de pesquisa:
“ Botafogo – 101 anos de histórias, mitos e superstições.”Porto, Roberto
Wikipedia