QUANTO VALE A MARCA DO SEU TIME
por Idel Halfen
Recentemente foi publicado um estudo acerca dos valores das marcas dos principais times brasileiros, o qual teve uma razoável repercussão nas redes sociais, onde o filtro quase inexiste, e na imprensa, onde deveria existir, mas…
Antes de passarmos ao conceito de valuation, vale comentar que, por ser um mercado ainda pouco maduro, os eventuais resultados que podem se obter através das variadas metodologias, servem como meros instrumentos ilustrativos, os quais, talvez, possam se incorporar ao rol de indicadores “legais” para discussão de torcedores, tais como tamanho de torcida e número de seguidores, entre outros, mas que não se convertem diretamente em conquistas esportivas, tampouco abordam corretamente o conceito de branding.
Afinal, a marca de um clube vai ser precificada, na verdade, em função de quanto os investidores estarão dispostos a pagar e o “vendedor” a receber.
Mas deixando esse pragmatismo de lado, é necessário mencionar que existem vários métodos para se chegar ao valor de uma empresa. Ok, podemos estender, guardadas as devidas ressalvas, para times, porém, sem a pretensão de se encontrar resultados idênticos com metodologias diferentes.
Aliás, diante dessa usual divergência de valores é que recomendamos a utilização de mais de uma metodologia, até porque, muitas das vezes, uma complementa a outra.
Advém daí a minha crítica à imprensa em divulgar os valores como uma verdade absoluta, sem sequer mencionar as eventuais incongruências que os estudos podem apresentar, afinal, se houvesse tanta assertividade assim, não haveria nenhuma discussão acerca dos valores nas operações de M&A, nem haveria tantos rankings diversos sobre valor de marcas.
A título meramente de ilustrar as devidas opções de modelagens, vamos listar a seguir alguns métodos, pedindo adiantadamente desculpas caso o artigo pareça enveredar para o lado do “economês”. Por outro lado, utilizamos das mesmas escusas por simplificar algo que requer bastante detalhamento.
– Múltiplo EBITDA – aqui se calcula o valor em relação ao Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), visando encontrar um multiplicador aceitável para as partes. Como grande parte dos clubes, especialmente no Brasil, não têm esse índice positivo, o método também sofre restrições, de forma que muitas das vezes, inclusive no caso de empresas, passa-se a utilizar o múltiplo sobre as receitas.
– Múltiplos de mercado P/L – mantendo o conceito de múltiplos, nesse método o cálculo se dá ao dividir o preço da ação pelo lucro por ação nos últimos doze meses.
– Fluxo de Caixa Descontado – nessa metodologia se traz a valor presente os fluxos de caixa futuros, descontando uma taxa que reflita as perspectivas de mercado. O desafio do método é ter que assumir taxas de crescimento e de desconto.
– Transação Comparável – através dessa análise, se realiza um comparativo com outras empresas/clubes que foram recentemente vendidos.
– Valor Patrimonial – que calcula o valor da empresa/clube tomando como base os ativos líquidos. Aqui a imprecisão ganha maior proporção no caso de corporações com consideráveis valores de ativos intangíveis. Lembrando que, contabilmente, o jogador é classificado dessa forma.
– Método de Valor Residual, geralmente se usa essa metodologia como complemento à do fluxo de caixa descontado e consiste em se estabelecer um período e um valor residual ao final desse.
Por limitação de espaço e para não fugir muito ao objetivo do blog, não nos deteremos nos demais métodos, dentre os quais, citamos o de Lucros Excedentes e o de Opções Reais. A ideia aqui, é esclarecer que não há metodologias perfeitas, pois, dependerá da maturidade, da disponibilidade dos dados propiciados pela organização e pelo setor e, sobretudo, de quanto as partes estarão dispostas a pagar e receber.
A COLETIVA DE TITE
por Elso Venâncio
Péris Ribeiro, o ‘biógrafo do Didi’, me pergunta se eu vi a coletiva do técnico Tite depois do jogo do Flamengo contra o Volta Redonda. Respondi que não, porque as entrevistas de hoje são cansativas, arrastadas e sem perguntas que esclareçam as dúvidas do torcedor.
Contudo, decidi olhar no YouTube.
“Preciso de tempo para ajustar a flutuação” – foi a primeira frase que ouvi. Imaginei que alguém perguntaria o que isso significa.
“Tite, aqui, aqui, nesse lado… estou aqui, sou desse veículo…”
De repente, identificaram o profissional. E ele disse:
“Parabéns pela vitória…”
???
Esperava um questionamento, até porque um elenco milionário não vem convencendo e sequer definiu seu time titular. Mas não, a indagação é sobre o melhor aproveitamento de jogadas no terço final de campo.
Tite, com ar professoral, olha para o filho que está ao lado e diz que esse assunto tático quem domina é ele. Portanto, gostaria de falar sobre o gramado:
“É inadmissível esse campo de jogo. Está uma vergonha o gramado do Maracanã”.
O filho interage:
“Lembra que estava ‘off’, não fala sobre jogadas no terço final do campo e que observou o mercado”.
Tite intercede:
“Off”. E desempregado.
Fiquei meio confuso, já que no Jornalismo “off” representa narrar um texto com a locução coberta por imagens, ou divulgar informação preservando as fontes.
Em suma, o tom professoral de Tite foi o ponto central da coletiva. A imprensa, ouvindo e nas perguntas, julgou importante não contestar o mestre que tem no currículo – apenas ele e Telê Santana, o maior técnico brasileiro – a graça de perder uma Copa e dirigir a seleção na seguinte.
Lembrei do João Saldanha, que escrevia nos jornais da forma que falava, com um linguajar popular que todos entendiam.
Alguém perguntou se Juan vai para a CBF e ele apontou para outrem:
“Você!”
Rapidamente, chegou o dirigente Bruno Spindel:
“Juan não me disse nada”.
Surge, então, Marcos Brás:
“Não sei de nada e farei de tudo para mantê-lo”.
Nosso futebol mudou mesmo. A entrevista com o técnico acontecia dez minutos após os jogos, com os repórteres se revezando ao lado de Zagallo, Telê, Felipão, Dunga, Wanderlei Luxemburgo, Evaristo de Macedo e tantos outros, dentro dos vestuários e com perguntas olho no olho. Radialistas e jornalistas cercavam os treinadores, que, às vezes, ficavam no chuveiro esfriando a cabeça e pensando no que falar ao dar as caras. Não havia assessores de imprensa, muito menos seguranças com olhares protetores ou ameaçadores. Não havia zona mista: o contato era direto com os ídolos, que em última análise falavam e davam explicações para os torcedores de seus clubes.
O futebol brasileiro não só perdeu os grandes talentos em campo, mas também os que havia fora deles. Incluindo dirigentes e treinadores.
Exemplo disso é a seleção pré-olímpica do Ramon Menezes, com o vexame histórico de ficar fora das Olimpíadas em Paris mesmo tendo talentos como Endrick e John Kennedy no time.
AGARRA, WENDELL!
por Paulo-Roberto Andel
Félix foi meu primeiro goleiro. Ouvi seu nome junto com Fluminense e decorei para sempre. Em geral, os garotos passam a torcer por seus times por causa da camisa, das bandeiras e do escudo. Eu, não: torci por causa do nome, da palavra, sem sequer ter visto escudo e bandeira. Fluminense é uma palavra amável. Só depois eu descobri o maravilhoso escudo, mais os lindos botões do Cracks da Pelotas, transparentes. Por fim, o lindo time de panelinhas brancas, apaixonante.
Vi Félix em campo algumas vezes. Toda hora me abraçavam e me levantavam. Eu nem gostava, mas o que um garoto de seis ou sete anos pode fazer diante do mundo? Aceitar. O motivo era nobre: o Fluminense fazia gols, gols e gols. Tinha um dos maiores times de todos os tempos, seu camisa 10 era Rivellino. Eu gostava mesmo era de comer cachorro quente no Maracanã, gostava das cores e da linda nuvem mágica de pó de arroz – estávamos todos no céu cantando as vitórias tricolores.
Depois Félix saiu e entrou Renato, também campeão, mas aí o novo goleiro teve um problema de coluna e o Fluminense contratou Wendell. Em 1977, o Flu já não tinha mais o melhor time do mundo, mas ainda contava com jogadores de alto nível. Ganhou a respeitada taca Teresa Herrera no exterior, mas não teve êxito local e nacional. Bom, os torcedores não ficavam desesperados porque tínhamos sido campeões em 1969, 1970, 1971, 1973, 1975 e 1976. Nada mal. Wendell, Edinho, Marinho Chagas, Pintinho, Cléber, Rivellino, Doval, Rubens Galaxe, era uma tremenda base. No banco, os efêmeros César “Maluco” e Dirceu Lopes (monstruoso, mas praticamente não jogou).
Jorge Curi berrava a plenos pulmões na Rádio Globo “AGAAARRAAAA, WENDELL!”. Waldyr Amaral, mais contido, tecia loas ao goleiro durante a narração. Eu, garoto, ouvia e via. Admirava. Wendell era grande, de gestos elegantes, nada espalhafatoso. Parecia sempre tranquilo. Era um goleiro, uma garantia, do mesmo jeito que o veterano Lessa era para Gilberto Gil quando compôs “Tradição”. Eu ouvia e via. Isso durou uns dois, quase três anos. Aos poucos aprendi que os jogadores iam embora, eu fui na despedida de Luiz Fumanchu, e aí chegou a vez de Wendell. Ele e Renato saíram, chegou a vez do jovem Paulo Goulart, que a torcida chamava carinhosamente de Paulinho.
Depois que Wendell foi para o Santa Cruz e mais tarde para o Guarani, é que entendi seu tamanho ainda muito maior do que eu pensava. Que teve tudo para ser titular na Copa do Mundo. Que fez jogos monstruosos pelo Botafogo. No meu olhar de criança, ele era só o grande goleiro do Fluminense, que merecia atenção e admiração a cada lance, jogando de verde ou cinza, trazendo segurança ao gol do Flu. Paulinho virou titular, pegou pênaltis espetaculares e ajudou o Fluminense a ganhar o grande título de 1980. Nós o adorávamos, mas eu nunca me esqueci de Wendell, por motivo justo: ė que os craques exercem fascínio permanente sobre as crianças torcedoras, mesmo quando não ganham um título considerado muito importante.
Em pleno meio de Carnaval, entre a folia, o descanso e certa melancolia, à espera do clássico com o Vasco, eu lembrei de Wendell. Lembrei de suas camisas, de sua elegância, de sua calma, de defesas espetaculares que pareciam simples, e aí me dei conta que só o futebol te transporta dos 55 anos para os 10 de vida num rompante, com justiça e verdade. Por isso, entendo perfeitamente as crianças enlouquecidas por Fábio: eu também fui assim, quando meu tempo era apenas um enorme futuro pela frente.
Agarra, Wendell! Ainda me lembro.
@pauloandel
AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1993
por Luis Filipe Chateaubriand
Em 1993, coube a Vitória e Palmeiras fazerem as finais do Campeonato Brasileiro.
O Vitória se classificou às finais ao vencer um quadrangular com Corinthians, Santos e Flamengo.
O Palmeiras se classificou às finais ao vencer um quadrangular com São Paulo, Guarani e Clube do Remo.
O primeiro jogo das finais aconteceu no Estádio da Fonte Nova, Salvador, com mando de campo para o Vitória.
O Palmeiras venceu por 1 x 0, gol de Edílson no segundo tempo.
O segundo jogo das finais aconteceu no Estádio do Morumbi, São Paulo, com mando de campo para o Palmeiras.
O Palmeiras venceu por 2 x 0, gols de Evair e Edmundo, ainda no primeiro tempo.
Pela terceira vez, o Palmeiras era campeão brasileiro!
AMAMOS DE A A ZICO
por Marcos Vinicius Cabral
Este texto foi planejado para celebrar 71 anos de Arthur Antunes Coimbra. O craque atravessa mais uma primavera no próximo 3 de março. Zico, gênio dos gramados, maior jogador do Flamengo, um dos grandes camisas 10 do futebol mundial de todos os tempos, figura doce e, além de tudo, indivíduo com uma humildade impressionante.
Caso encontrasse uma lâmpada mágica e pudesse esfregá-la para pedir algo, este algo seria: “Aladdin, em nome do futebol, traga Zico de volta aos gramados para que as gerações que não viram o Galinho de Quintino, do Rio de Janeiro, do Brasil, do Japão, e do mundo em ação, tivesse a oportunidade”.
O motivo da petição? Por que sei que Zico faria tudo de novo, quando alegrou 334 vezes a Nação Rubro-Negra com gols nas tardes e noites inesquecíveis no Maracanã. Nas conquistas de títulos a base de suor, de treinos, e de dedicação que foram aliados ao dom de jogar bola que Deus o deu.
Sei que Zico se tornaria tão idolatrado como é até hoje. Imagem que ele não se importa em manter, pois Zico é natural com tudo que faz na vida e, de forma sutil, é a essência viva em carne e osso dos bons atributos que qualquer ser humano tem. Ídolo? Super craque? Extrassérie? Referência? Tudo é bobagem quando associado tais substantivos e adjetivos para definir Arthur Antunes Coimbra, que herdou a generosidade da mãe Matilde e a disciplina do pai José, o velho Antunes.
O que Zico quer, na verdade, é continuar sendo ele mesmo, ou seja, um cidadão assumidamente rubro-negro. Um cara amado pelos torcedores rivais e acima de todas as coisas uma criatura comum na medida de uma colher de simplicidade. A humildade é um título que poucos jogadores ou ex-jogadores tem no currículo. Zico é um deles!
Mas como torcedor e apaixonado por futebol, queria ter trocado três choros por três sorrisos que tive na vida por causa de Zico: na Copa de 1982, diante da Itália, na Espanha; no pênalti perdido na de 1986, frente à França de Michel Platini, no México; e a despedida que ele fez naquele 6 de fevereiro de 1990, no Maracanã, palco predileto dele.
Como torcedor, sabe, acho que foi preciso a gente passar por esses reveses. Por meio de cada um, valorizamos e entendemos que não foi Zico que perdeu as Copas do Mundo que disputou. Foi o futebol. Passados tantos anos, a taça deve se perguntar até hoje: “Por que um jogador como Zico não me conquistou? Não me deu um beijo e nem correu a tradicional volta olímpica comigo nas mãos à beira das quatro linhas?”. Pois é! O futebol, às vezes, é louco, insano, sem lógica e não há explicação por mais que se busque assim como um ponta-de-lança sedento por gols. A verdade é que isto não se pode explicar aos normais!
Já a despedida de Zico dos gramados, há 34 anos, fica a sensação de que este adeus foi apenas um aceno de um “até logo”. Zico continua na nossa vida, nas nossas memórias afetivas, e para alguns sortudos que têm a oportunidade de estar com ele, é uma Mega-sena que o destino premia. Zico muda a atmosfera de qualquer ambiente.
Zico foi um gigante no esporte mais popular do planeta. Planeta este que conquistou com a turma de 81, lá no Estádio Nacional, em Tóquio, no Japão, nos 3 a 0 diante do Liverpool (ING). Gigante Zico também foi ao superar dores, encarar traumas e tratá-las. O joelho esquerdo sofreu mais do que cachorro sem dono. Poucas não foram as vezes que o camisa 10 do Flamengo serviu de caça para caçadores. Mas Zico, ou melhor, o profissionalismo de Zico sobreviveu.
De mãos dadas com a disciplina, comprometimento e aprimoramento, Zico renasceu para o futebol. Deixou de ser arco e flecha como antes nas jogadas que resultavam em gols. Passou a ensinar como fazê-los. Um professor para muitos craques como Bebeto, Zinho e outras pérolas lançadas pelo Flamengo que culturalmente mostrava que a célebre frase: “craque, o clube fazia em casa”, faz sentido. Zico fez por onde merecer ser reconhecido como uma das 50 personalidades mais conhecidas da Humanidade.
Anos depois, deu aulas no continente asiático e ensinou o Japão a jogar futebol, país este em que é chamado carinhosamente de “Jico” pelas pessoas. O Kashima Antlers o respeita, os torcedores o amam. Há gerações que não tiveram o privilégio de ver Zico em campo. No máximo, são vídeos no YouTube, histórias contadas pelos pais e tios.
Mas esse abismo acabou sendo encurtado com a criação do Centro de Futebol Zico, o tradicional CFZ, em 1995. O espaço que fica no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio, abriga um pedacinho da história gigantesca de Zico.
São gerações e gerações que costumam dar uma passada lá para tirar fotos, pedir autógrafo e, lógico, desfrutar de minutinhos que parecem eternidade para quem não viu Zico jogar, mas não cansa de ouvir histórias do maior jogador da história do Flamengo. Uma destas foi Gabrielle Silva Cabral, minha filha de 17 anos. Surpresa, me contou: “Pai, Zico nem parece Zico!”, comentou ao chegar em casa vindo do CFZ naquela noite de uma quarta-feira de janeiro inesquecível para ela. Além da minha filha que esperou ansiosa para conhecer o senhor Arthur Antunes Coimbra, eu e mais cinco pessoas da Assembleia de Deus Betel, de São Gonçalo, estivemos presentes na ocasião, levando uma camisa para o imortal camisa 10 do Flamengo autografar em uma campanha que ele, o próprio Zico, abençoou. Do contrário, a realização do Retiro dos Jovens, no começo de fevereiro seria difícil. O embarque dos jovens será na sexta-feira (9), às 18h.
Gabi tem razão. Zico, na verdade, nem parece ser o Zico. Zico é único. Inigualável. Ímpar. Só, somente só. Por isto, não restam-me dúvidas de que não foi nós que escolhemos Zico. Foi Zico quem nos escolheu. Uma vez Zico, sempre Zico. Parabéns, muitos anos de vida.
Que o senhor Arthur Antunes Coimbra continue a cantar de galo sem jamais perder a ternura que o faz e o consagra como ídolo. A construção de um exemplo a ser seguido vai além dos feitos nos campos de futebol. Os demais fora deles também ajudam a compor a real, intacta e verdadeira imagem de um modelo a ser admirado como é Zico.