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UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 46

por Eduardo Lamas Neiva

Após mais uma homenagem a Pelé, desta vez com a presença do Rei, também muito aplaudida pelo público, Sobrenatural de Almeida retoma a pelota pra falar do jogo contra País de Gales, em 58.

Sobrenatural de Almeida: – Mas teve quem achasse ruim a seleção naquele dia, contra Gales…

Ceguinho Torcedor: – Só mesmo Leônidas, que aqui está e merece todo o meu respeito e admiração pelo magnífico jogador que foi, é que achou  que foi pouco esse gol tão sofrido, tão chorado por milhões de patrícios.

Todos os outros: – Patrícios, Ceguinho?

Ceguinho Torcedor: – Brasileiros, nossos compatriotas. Eu falei em uivo, em urro. Sim, amigos: foi um som jamais ouvido, desde que se inventou o Homem. Algo de bestial, de pré-histórico, antediluviano, sei lá. Foi um desses momentos em que cada um de nós deixa de ter vergonha e passa a ter orgulho de sua condição nacional.

João Sem Medo: – Didi também teve excelente atuação, arrancando aplausos do público sueco algumas vezes naquele dia. Vavá não jogou, Mazzola é que atuou no ataque brasileiro contra Gales. E não jogou bem.

Idiota da Objetividade: – Com essa vitória de 1 a 0 sobre o País de Gales, com gol de Pelé, aos 25 minutos do segundo tempo, a seleção brasileira se classificou para a semifinal, sem levar gol, e enfrentou a França. Venceu por 5 a 2, resultado que se repetiria na final, contra a Suécia.

Ceguinho Torcedor: – Que frieza, que objetividade pra narrar as estupendas vitórias do Brasil.

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso. Nenhuma emoção, sem qualquer vestígio de sentimento.

Idiota da Objetividade: – Estou narrando os fatos, o que aconteceu.

Ceguinho Torcedor: – Há muito mais do que os fatos narrados. E se os fatos me desmentirem, pior para os fatos.

João Sem Medo: – Contra a França, Pelé fez três gols, Vavá e Didi os outros dois.

Ceguinho Torcedor: – Foi uma vitória “de gaulleada”.

João Sem Medo: – Em homenagem ao general De Gaulle?

Garçom: – Não foi ele que disse que o Brasil não era um país sério.

Idiota da Objetividade: – Há controvérsias…

Sobrenatural de Almeida: – Desconfio que o general em sua tumba ainda tenha razão…

Garçom: – Mas o assunto é futebol. E como nunca é demais, vamos a mais uma música sobre o Rei do Futebol?

Todos concordam, inclusive Pelé, que exibe aquele sorriso inconfundível ao agradecer com um aceno ao público que mais uma vez o aplaudiu.

Músico: – Então, gostaria de chamar ao palco o grande cavaquinista Jorge Pereira Simas, o querido Tico-Tico!

Tico-Tico vai ao palco, sob aplausos.

Tico-Tico: – Obrigado. Obrigado. O nosso rei merece sempre ser lembrado. Vou apresentar aqui “Ataca Pelé”, espero que ele e todos os demais aprovem.

A aprovação foi geral e Tico-Tico deixa o palco sob aplausos entusiasmados. Quando o público começou a se aquietar novamente,  João Sem Medo distribuiu o jogo, destacando a qualidade ofensiva do time francês de 1958.

João Sem Medo: – O Brasil enfrentou um time que já tinha feito 15 gols em quatro jogos. Quase quatro por partida. O grande destaque era Fontaine, que acabou artilheiro daquela Copa com 13 gols…

Idiota da Objetividade: – É o jogador que mais fez gols numa edição de Copa do Mundo até hoje.

João Sem Medo: – Kopa era outro grande jogador.

Ceguinho Torcedor: – O Brasil estava devendo a todos nós uma vitória como aquela. Vencemos contra tudo e contra todos. Contra os franceses, contra os bandeirinhas, contra o juiz e contra a Marselhesa. Nosso Hino Nacional foi apenas tocado. Não havia ali nenhuma multidão para soltar aos quatro ventos: “ouviram do Ipiranga às margens plácidas…”. Ao passo que a Marselhesa foi cantada. Mas nosso Hino não se dobrou, mesmo com o juiz nos tirando dois gols e dois pênaltis. Aquele escrete era o escrete da coragem e creiam que Vavá, que voltou naquele jogo no lugar do Mazzola, com sua bravura louca, traduziu um perfeito, empolgante símbolo dessa coragem.

Idiota da Objetividade: – Uma curiosidade: Vavá marcou, logo a um minuto de jogo, o centésimo gol da História da Copa do Mundo.

João Sem Medo: – O jogo não foi disputado só na bola, não. Os franceses apelaram, mas três deles saíram machucados. O zagueiro Jounquet, que se contundiu aos 35 minutos do primeiro tempo, ficou o restante do jogo fazendo número na ponta-esquerda. Naquela época não era permitida a substituição. No lado do Brasil, Vavá saiu antes do fim da partida, mas ela já estava ganha. Bellini também se lesionou. Mas os dois jogariam a final contra os suecos.

Idiota da Objetividade: – E Vavá fez dois gols na decisão, com mais dois de Pelé e outro de Zagallo.

Sobrenatural de Almeida: – O Brasil jogou de azul a final. Diziam que daria azar…

Idiota da Objetividade: – Nas seis primeiras edições da Copa do Mundo, cinco vezes a seleção vestida de camisa azul venceu a final. Uruguai, em 30 e 50, a Itália, em 34 e 38, e o Brasil, em 58. Apenas em 54 venceu a Alemanha, de branco, derrotando a Hungria, que jogou de vermelho.

Garçom: – Foi um carnaval em junho. Era pequeno, mas me lembro bem. Tomei um susto de ver tantos adultos chorando. Choravam de alegria.

Idiota da Objetividade: – Foi a primeira e até hoje única vez que uma seleção de fora da Europa venceu uma Copa no Velho Continente. A Suécia marcou o primeiro gol, aos 4 minutos, com Liedholm; o Brasil empatou e virou com Vavá, aos 9 e aos 32 da primeira etapa, Pelé marcou aos 10 da etapa final, Zagallo ampliou, aos 23; Simonsson fez o segundo da Suécia, aos 35, e Pelé, aos 45, deu números finais à partida.

Ceguinho Torcedor: – Meu caro Idiota da Objetividade, os 5 a 2, lá fora, contra tudo e contra todos, foi um maravilhoso triunfo vital, de todos nós e de cada um de nós. Do Presidente da República ao apanhador de papel, do Ministro do Supremo ao pé-rapado, todos aqui perceberam o seguinte: é chato ser brasileiro! Já ninguém tinha mais vergonha de sua condição nacional. E as moças na rua, as datilógrafas, as comerciárias, as colegiais andavam pelas calçadas com um charme de Joana D’Arc. O povo não se julgava mais um vira-latas. Graças aos 22 jogadores, que formaram a maior equipe de futebol da Terra em todos os tempos. Pelo menos até ali. O escrete deu um banho de bola, um show de futebol, um baile imortal, na Suécia.

Sem que ninguém percebesse seus movimentos enquanto todas as atenções estavam voltadas ao discurso eloquente e emocionado do Ceguinho Torcedor, Zé Ary preparou o aparelho de som e assim que o nosso amigo encerrou sua fala e o povo começava a aplaudi-lo, em alto e bom som “A Taça do Mundo é Nossa”, de Wagner Maugéri, Mageri Sobrinho, Victor Dagô e Lauro Muller, fez todo mundo pular, dançar, cantar e festejar como se 1958 fosse o agora, o momento de sempre. E foi mesmo eterna aquela grande conquista.

Quer acompanhar a série “Uma coisa jogada com música” desde o início? O link de cada episódio já publicado você encontra aqui (é só clicar).

Saiba mais sobre o projeto Jogada de Música clicando aqui.

Fim do capítulo 46

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CAMPEÃO DO SESQUICENTENÁRIO

por Elso Venâncio

Vamos recordar o ano de 1972. Brasil protagonista do futebol e craques aos montes jogando no país.

No futebol carioca, contratações históricas. Como Paulo Cézar Lima, campeão do mundo e ‘craque da moda’ – apelido dado pelo locutor esportivo Waldir Amaral, da Rádio Globo do Rio.

Aos 22 anos, PC era apontado pelo próprio Pelé como seu substituto. Ele havia acabado de trocar o Botafogo, aclamado como ‘Selefogo’, pelo Flamengo – que desembolsou um milhão de dólares na contratação mais cara do país até então.

Após dez anos, Tostão deixou o Cruzeiro para encarar o desafio de brilhar no Rio, pelo Vasco. Além disso, o clube de São Januário repatriou Amarildo, bicampeão do mundo que há anos se destacava no futebol italiano.

Gerson, o ‘Canhotinha de Ouro’, chegou ao Fluminense, seu time do coração, após ter conduzido o São Paulo ao bicampeonato paulista de 1970 e 1971.

Um dos maiores meias de todos os tempos, Gerson considera Tostão o grande atacante da Copa de 70, no México, superando inclusive o Rei Pelé.

O Olaria tinha Garrincha como atração. O clube da Rua Bariri foi o último que o ‘Gênio das Pernas Tortas’ defendeu profissionalmente.

O ‘Torneio Internacional de Verão’ abriu a temporada. Flamengo, Vasco da Gama e Benfica – então campeão português e semifinalista da Champions League. Nessa competição, Fio Maravilha marcou, contra o Benfica, o gol de placa que inspirou o rubro-negro Jorge Ben – hoje Benjor –, presente nas Tribunas do Maracanã, a compor a música ‘Fio Maravilha’.

Na decisão, o Flamengo ergueu a Taça após vencer o Vasco por 1 a 0, gol de Paulo Cézar, que, em grande forma, fazia toda diferença em campo.

A Rede Globo de Televisão apresentava antes do ‘Jornal Nacional’ o programa ‘Dois Minutos com João Saldanha’. Na telinha, o comentarista que o Brasil consagrou se empolgou:

“Esse PC é um garoto grande jogando bola no meio de crianças”.

O Campeonato Carioca foi disputado no primeiro semestre, mas devido ao ‘Torneio de Verão’ só terminou no começo de setembro. O Flamengo contava com Paulo Cézar; o Fluminense tinha Gerson; o Vasco, Tostão; e o Botafogo, Jairzinho.

Os técnicos também eram todos eles craques: Zagallo no Flamengo; Zizinho no Vasco; Paulo Amaral e depois Pinheiro, no Fluminense; e Elba de Pádua Lima, o Tim, no Botafogo.

No feriado de 7 de setembro, o destino colocou dois amigos, mais do que isso, dois tricampeões do mundo duelando entre si na grande final. Gerson, camisa 8 do Fluminense, versus Paulo Cézar, o 11 do Flamengo – que ganhou o apelido de Caju após cortar e pintar os cabelos em apoio ao movimento de igualdade social e racial ‘Panteras Negras’.

O Flamengo formava seu melhor time desde o segundo tricampeonato, obtido entre 1953 e 1955: Renato, Moreira, Chiquinho, Reyes e Rodrigues Neto (embora Wanderlei Luxemburgo tenha jogado a final); Zé Mário e Liminha; Rogério, Caio, Doval e Paulo Cézar Caju.

De cabeça, Paulo Cézar faz 1 a 0. Caio Cambalhota amplia e Jair desconta no segundo tempo. Quase 140 mil pagantes no Maracanã. No final, Flamengo 2 a 1, campeão do Sesquicentenário da Independência do Brasil.

A equipe ganhou ainda os títulos do ‘Torneio do Povo’, da Taça Guanabara e do Campeonato Carioca, mas sofreu, em pleno 15 de novembro, data do seu aniversário, uma derrota acachapante: 6 a 0 para o Botafogo – que, nesse ano, seria vice brasileiro. O campeão foi o Palmeiras, que jogava pelo empate na final, em partida única que não houve gols, no Morumbi.

Sete anos depois, o time campeão do mundo, com o ídolo Zico dando as cartas na meiuca, devolveu o resultado ao Botafogo, com direito à torcida exigindo goleada de seis. No finzinho do jogo, o estádio vibrou: com um gol de Andrade, camisa 6 rubro-negro, Flamengo 6 a 0.

NO VERNIZ DO FUTEBOL DE NEGUEBINHA BRILHA VINICIUS JR

por Marcos Vinicius Cabral

Vinicius Júnior caminhava chutando pedras pelo trajeto do Porto do Rosa, bairro onde morava em São Gonçalo, até o bairro vizinho Mutuá, onde funciona até hoje a escolinha de futebol em que ensaiou os primeiros chutes em uma bola de futebol. Diversos, inúmeros, infinitos sonhos passaram pela cabeça daquele menino pobre, negro, de sorriso fácil, e habilidade incomum.

Para o filho de Fernanda e Vinicius, vencer a desconfiança das pessoas sempre foi uma tarefa bem mais difícil do que ir a pé para a Escola Municipal Paulo Freire e aos treinos para aprimorar domínio de bola, conclusões a gol e a parte física. Mas não era algo que assustasse o atual camisa 7 do Real Madrid (ESP) que, ainda moleque, já aprontava.

“Uma vez recebemos o time da escolinha do Vasco em São Gonçalo. Com apenas 6 anos, ele acabou com o jogo sozinho”, relembra Edinelson Matos, o Man, treinador da escolinha Craquinhos de Ouro.

Tornou-se, portanto, normal para Vinicius Júnior encarar desafios que o mundo, redondo como uma bola de futebol, apresentava. Vencer seria, acreditava o menino, questão de tempo. E o tempo, o tempo não para, diria Cazuza (1958-1990) como nos versos abaixo:

“Mas se você achar
Que eu ‘tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não para…”

E os dados continuaram rolando na vida do menino pobre gonçalense, da mesma forma que mundo não parou. Pelo contrário, girou. E muito. A bola, onipresente na vida de Vinicius Júnior, obrigou-lhe a mudar de cidade. Aos 14 anos, coração partido em mil pedaços, saiu de São Gonçalo e foi para Piedade, Zona Norte do Rio de Janeiro, morar com o tio Ulisses. Na cabeça dele, melhor seria afastar-se da cidade e dos amigos para ficar mais próximo do Ninho do Urubu e poder realizar o sonho que era tornar-se jogador do Flamengo, clube de coração.

E o sonho começou a cumprir-se contra o Atlético Mineiro, pois foi naquele 13 de maio de 2016, partida válida pela 1ª rodada do Campeonato Brasileiro, que Vinicius Júnior estreava. Até chegar ao Real Madrid, quando jogou pela primeira vez contra o Atlético de Madrid, no Santiago Bernabéu, pela La Liga, em 29 setembro de 2018, muita coisa aconteceu repentinamente na vida da joia gonçalense.

De menino pobre a um dos jogadores mais valiosos do planeta e com multa rescisória de 1 bilhão de euros (cerca de R$ 5,36 bilhões), Vinicius Júnior ultrapassou obstáculos, superou dificuldades, acreditou no dom de jogar futebol que deu lhe Deus e foi em frente. Vira e mexe enfrenta uma chaga universal chamada racismo. Logo, logo, vence esses imbecis e vai dar-lhes uma ‘banana’.

Entre tantos feitos, Vinicius Júnior tornou-se em neste janeiro, em jogo válido pela final da Supercopa da Espanha, o primeiro brasileiro a marcar três gols na história do El Clásico pelo Real Madrid. Feito igual ao dos brasileiros Evaristo, em 1958, e Romário, em 1994, ambos pelo Barcelona.

Já no 15 de janeiro de 2024, a FIFA anunciou a seleção do ano de 2023 no prêmio Fifa The Best e Vinicius Júnior foi escolhido um dos atacantes.

De São Gonçalo para o mundo, mas sem perder as raízes. Foi pensando nisto que o Vinicius Júnior quis melhorar a vida de estudantes da Escola Municipal Paulo Freire, onde estudou. A unidade é um dos centros de tecnologia do instituto que leva o nome do craque e proporciona pilares que busca ter como base a Educação. Educação esta que nunca faltou ao craque de sorriso cativante e que vem respondendo com a bola que joga aos que chamaram-lhe de “Neguebinha” no programa Redação Sport TV, em 2017. Que Deus tenha piedade destas pessoas.

O HOMEM SENTADO SOZINHO NA ARQUIBANCADA

por Claudio Lovato Filho

O homem sentado sozinho na arquibancada não está ali por acaso. Não errou o caminho ou estava sem outra coisa para fazer. Não estava em busca de mero entretenimento ou reles passatempo.

O homem sentado sozinho na arquibancada é pura concentração, ainda que esteja aparentemente relaxado, com o antebraço apoiado no alto da cabeça e um olhar de peixe morto de quem não está realmente interessado no que vê.

O homem sentado sozinho na arquibancada é um personagem que merece estudo e respeito. Acima de tudo, respeito.

O homem sentado sozinho na arquibancada é do futebol. E isso, claro, não começou hoje. Vem lá da infância, talvez até antes disso.

O homem sentado sozinho na arquibancada é um torcedor de clube, mais do que de time, o que não o impede de se emocionar quando vê os jogadores do elenco atual jogando uma bola redonda, especialmente aquele armador inteligente trazido do exterior ou aquele centroavante rápido e oportunista vindo da base, e não importa se eles vão embora daqui a alguns meses, paciência.

O homem sentado sozinho na arquibancada ama o escudo acima de tudo. Assim é.

O homem sentado sozinho na arquibancada também vai ao estádio com os amigos. Sim! Vai e gosta. Toma cerveja com eles antes de entrar e come espetinho depois. Mas ele não depende de companhia para ir para a arquibancada; não depende de matilha, confraria, fraternidade, galera.

O homem sentado sozinho na arquibancada se entende muito bem consigo mesmo e tem grande prazer no ensimesmamento em que se vê mergulhado quando chega sem companhia ao estádio, assiste ao jogo no seu canto e vai embora pensando com profundidade no que viu.

O homem sentado sozinho na arquibancada está no seu elemento.

O homem sentado sozinho na arquibancada sabe que, um dia, poucas coisas vão lhe restar na vida, e uma delas será o futebol.

O homem sentado sozinho na arquibancada é um retrato da essência do futebol, se fosse possível fotografá-la.

O homem sentado sozinho na arquibancada é, por si só, uma declaração de amor ao futebol.

PC E O IMBECIL VOCABULÁRIO

por Rubens Lemos

É delicioso insistir: o tricampeão mundial em 1970, Paulo Cézar Caju, artista do palco em grama, segue abusando de escrever o melhor texto brasileiro sobre futebol. Toquei outro dia sobre a síntese fulminante do gênio.

Sobra a PC Caju, a irreverência e a ironia sofisticadas assim como seus toques a balançar corações e concretos no Velho Maracanã.

PC Caju vem se superando. Parece quando, black power de penteado, exibia o biquinho propriamente dito em simultânea classe com o toquinho de ponta de chuteira deixando o centroavante – bom ou burro -, sem alternativas a não ser fazer o gol. PC Caju é um bisturi que dói na mediocridade ululante.

A última do meu herói, que adoraria conhecer, mas sei que não é dado a simpatias, foi o texto Pérolas da Semana, publicado no seu Instagram. Vibrei. Queria ter escrito o fuzilamento sarcástico do pavoroso futebol brasileiro atual mantido a coice pelos treinadores burros, jogadores pernetas e o vocabulário imbecil usado pelas duas categorias de rasteiro escalão.

Vou repetir na íntegra, avisando que o público-alvo não fala difícil para encobrir a inteligência das topeiras, despreza a idolatria a aberrações do tipo Gabigol e também não acha graça nos chiliques de Neymar, que, quando chegar à idade mental adulta, será aberto um bar na concentração do Íbis(PE), o pior time do mundo, para receber o primeiro time de marcianos de Saturno.

O textaço, puta texto, gol de letra, é destinado aos antigões de saco cheio com neologismos de anta repetidos por antas boçais tentando enganar ingênuos com sabedoria de Macaco Tião, que chegou a ser votado para deputado lá pelos nossos anos, os 1980 com expressivo contingente de devotos.

Bem, vamos ao primor fundamental de Paulo Cézar Caju em sua brigada contra a idiotização em escala industrial de um esporte em que ele- PC Caju – contribuiu para ser instrumento de alegria, sobretudo dos mais pobres, ele, menino feio e maravilhoso, que desceu a favela para ganhar o planeta.

Pérolas da semana

Paulo Cézar Caju sobre as asneiras dos treinadores, jornalistas e jogadores de baixíssimo nível no Brasil, baboseiras fundamentais para que cheguemos a 26 anos sem ganhar uma Copa do Mundo:

  1. ”Modelo de excelência de um mundo conectado na idéia do jogo cultivado, reluzente, revertendo no retorno, com resistência e implantando uma transição na maneira de atuar”. Conseguiram entender algo, Geraldinos?
  2. ”A mudança de rota na Seleção Brasileira não tem norte”. Ora, não sabia que precisava de uma bússola para indicar o caminho da Seleção!
  3. ”Dar amplitude por dentro, fatiando a bola, ao invés de virar o jogo, dando passe longo”. Vou pegar um facão e fatiar a bola em pedaços.
  4. ”Faz o break ao invés de diminuir a velocidade do drible do lateral”. Jogador virou dançarino agora?
  5. ”Na leitura do espaço dentro da grande área, o goleiro não soube dominar a redonda, não viu o atacante e saiu o gol”. Goleiro precisa ler ou ver para entender o jogo?
  6. ”Quebrar a bola (virou pedra agora) e dar assistência com consistência, ao invés do passe curto, médio ou longo, dando um tapa nela, sem tocar no falso camisa 9, querendo dar um toque na cara ou orelha da redonda, procurando a segunda bola (até onde sei só tem uma bola em jogo), pedindo passagem para avançar as linhas”. Decifraram o código, Geraldinos?
  7. ”Levar a cultura futebolística, jogo posicional, linguagem corporal, orientar a dita cuja bola viva viajando, centralizar o terceiro zagueiro, conectando os alas (das passistas das escolas de samba) para atacar os lados do campo”. Ate onde sei temos laterais e pontas no campo, não alas!

PS. Gostaram velhinhos iguais a mim? Estou pensando em botar numa moldura.