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FUTEBOL É COISA DE DEUS

por Zé Roberto Padilha

Partida de futebol jogada segunda-feira é uma delicia. Ao contrário das realizadas no domingo, ela é única, não é interrompida por “olha a bolinha aí”, e surge na tela como um licor 43 para ser cultuada ao fim de um rodizio. Que no futebol tem nome de rodada.

Quem a subestimou, perdeu ao vivo, no ato da sua criação, uma obra de arte. Daquelas só concedidas ao futebol.

Bola lançada para dentro da grande área do Cruzeiro para Alerrandro, centroavante do Vitória. Perto do fim do primeiro tempo. Dividida entre ele e o zagueiro do Cruzeiro, ela toca no adversário e faz um círculo sobre sua cabeça.

Nenhuma Inteligência Artificial saberia dar rumos a uma bola que tomava, em segundos, uma trajetória inesperada. Cássio, goleiro do Cruzeiro, que também foi buscá-la, ficou pelo meio do caminho.

Alerrandro, então, se jogou no ar, de costas para o gol, e nesse milésimo de segundo calculou a força com que deveria tocar na bola e a direção que tomaria para alcançar o gol encobrindo o goleiro.

Bicicleta, no futebol, tem um pouco de capoeira, um salto nas alturas de Simone Biles, uma captura em um ponto milímetro pela comandante Lewis de um Mark Damon que ela deixara Perdido em Marte.

Confesso a vocês que foi a primeira vez que assisti, ao vivo, uma obra de arte que irá inundar, hoje, todas as as telinhas pelo mundo. E certamente trazer para o Brasil um outro Prêmio Puskas.

Não subestime o futebol. Mesmo em uma segunda-feira, ele é uma sublime coisa de Deus.

O SHOW DO CAMISA 7

por Elso Venâncio

O atacante Luiz Henrique do Botafogo, é o destaque do futebol brasileiro. Um “garoto grande, jogando bola no meio de crianças”. Destruiu a defesa do Flamengo no clássico de domingo (18), e a goleada poderia ter sido maior. 

É impressionante a velocidade de Luiz Henrique cortando para o meio ou buscando a linha de fundo, com uma desenvoltura incomum para quem possui mais de 1,80m de altura. Dorival Júnior vai convocá-lo para as duas partidas da Seleção Brasileira em setembro: contra o Equador, dia 6, em Curitiba, e contra o Paraguai, dia 10, em Assunção, pelas Eliminatórias da Copa.

Para ter Luiz Henrique, o Botafogo pagou 20 milhões de euros (R$ 106,6 milhões) ao Real Betis, da Espanha, o que faz dele a maior contratação da história do nosso futebol. Chegou para atuar com a idolatrada camisa 7 alvinegra, a camisa da lenda Garrincha, equivalente à 10 para os outros clubes brasileiros. A mesma camisa 7 que foi de Jairzinho, o Furacão da Copa de 1970, no México; de Maurício, autor do gol contra o Flamengo em junho de 1989, acabando com o jejum de 21 anos sem conquistar o Campeonato Carioca; e de Túlio Maravilha, ídolo que fez o gol do título brasileiro de 1995, sobre o Santos, no Pacaembu. Garrincha está imortalizado na estátua “O drible do anjo”, na entrada da histórica sede de General Severiano, e com a gloriosa camisa 7 agora honrada pelo “Pantera”.

Há quase um ano, o treinador Fernando Diniz fez um pedido ao Fluminense, que tinha prioridade: contratar Luiz Henrique. Só ele, mais ninguém! O tricolor foi ao limite pelo jogador, que acabou acertando com o Botafogo, para felicidade da torcida alvinegra.

Nos anos 1950/1960, os torcedores tinham um sonho: ir ao Maracanã ver Garrincha jogar. Gerson, o Canhotinha de Ouro, demonstra incerteza ao ser perguntado sobre quem jogou mais: “Não sei… Pelé não foi melhor que o Mané”.

Outra camisa consagrada no Botafogo é a 6, de Nilton Santos, a Enciclopédia do Futebol. Nilton era amigo e compadre do “demônio das pernas tortas”, apelido este dado a Garrincha por Waldir Amaral, locutor esportivo da Rádio Globo-RJ.

Voltando aos 4 a 1 sobre o Flamengo… O Botafogo foi dominante e jogou como líder. Não fez a óbvia alteração quando um time fica à frente do placar, tirando um atacante e colocando um meio-campo de marcação. 

No Flamengo, o discurso do técnico Tite contra o calendário e com temor das contusões vem contagiando o time. Mais uma vez, vimos no domingo uma equipe que sofre com as lesões e desaparece fisicamente em campo no segundo tempo.

Virando a chave para a Libertadores, o Botafogo vai a São Paulo enfrentar o Palmeiras com a moral elevada, enquanto o Flamengo terá pela frente a altitude e o Bolívar, em La Paz.

A MEMÓRIA NÃO ALCANÇA A JUSTIÇA

por Zé Roberto Padilha

Como tudo, músculos, órgãos, articulações, a memória vai perdendo lembranças sobre quem foi a maior ganhadora, por seis vezes seguidas, do Prêmio FIFA, destinado a melhor jogadora do mundo e jogando num país que, antes dela, o futebol feminino brasileiro não tinha a menor relevância em todo mundo…

Também ela, a memória, foi perdendo o impacto causado sobre uma modalidade esportiva, o Tênis, que virou febre no país levando às quadras diversas gerações, quando Gustavo Kuerten venceu Agassi, Sampras e por três vezes o Torneio de Roland Garros…

E, coitada, a tal da memória, nem sabia mais dizer como foi que um atleta, Ademar Ferreira, correndo em um país que mal tem pista de atletismo, o que dizer de treinadores e patrocinadores, alcançou feitos tão importantes?

A memória dos jornalistas que votaram como os maiores da história do esporte no país, apenas preserva as Olimpíadas de Paris fresca na cabeça.

Rebeca Andrade merece, mas com todo o respeito…

O MEU DIA DE ESQUERDINHA

por Zé Roberto Padilha

Poucos tricolores, irritados com suas falhas que originaram os gols do Grêmio, na semana passada, poderiam imaginar o quanto o travesseiro desse menino deve ter sido contorcido. As cobertas inquietadas, reviradas. O sono perdido após a partida.

Funciona assim, com o imaginário realizando as jogadas que deveríamos ter feito na ocasião: por que não recolhi os braços? E por que não cerquei o Soltedo no lugar de chegar lhe atropelando?

Dormi mal por ele e pelo resultado. Porque eu tive, no Fluminense, o meu Dia de Esquerdinha. Canhoto também, embarquei em 1973 com a delegação tricolor para enfrentar o Corinthians. Zagallo era o treinador e Lula o ponta-esquerda. Nesse sábado à tarde, estavam servindo a seleção.

Pinheiro, treinador dos Juniores, assumiu e me levou. Pra ficar quietinho no banco. O Fluminense fez 1×0, gol de Jair, e uma insuportável pressão do timão levou o “Seu Pipi” ordenar:

– Pinguelinho (me chamava assim) entra e fecha as subidas do Zé Maria (era o Super Zé)!

Entrei aos 30 e aos 35 Félix, nosso tricampeão, resolveu sair jogando comigo em nossa intermediária. Quando dominei no peito, ela escorregou. E subiu um pouco. O suficiente para Zé Maria antecipar, me dar um tranco, na bola, tabelar com o Vaguinho, ir à linha de fundo e lhe devolver na conta para empatar a partida.

Todo sem graça, para acabar de me encher de culpa, na ducha ao lado da minha, uma conversa ríspida me arrasou de vez. Gerson disse pro Félix sem saber que estava colado ao chuveiro.

– Que coisa, hein! Papel! Tão experiente e sair jogando perto da nossa área com esses “cabaçudos” dos juvenis? Olha o que deu!

Cabaçudo! Que jeito de aprender uma palavra cascuda e depreciativa.

Voltei escondido lá atrás no avião. E depois sobrevivi. Com Esquerdinha, vai ser assim também. Experiência ninguém compra ou vende.

Só o tempo nos ensina.

Força, garoto!

MEIO AMARGO

por Wesley Machado

Após uma eliminação na Copa do Brasil no meio de semana, o reencontro com o algoz Juventude no fim de semana era o prenúncio de que o pior poderia acontecer.

A lembrança daquele 0 a 0 no Maracanã, com mais de 100 mil pessoas em 1999, permanece viva na memória que retém traumas como se o sofrimento fosse mais marcante.

Este domingo de Dia dos Pais coincidiu com o aniversário de 60 anos da minha mãe.

A caminho da casa dos meus pais, passei pelo bar da esquina, dei uma espiadinha na televisão e o placar já marcava 1 a 0 para o Juventude.

Chego na sala, meu pai está com minha avó e o Botafogo leva o segundo gol.

No intervalo, meu pai brinca:

– Também, você está com a camisa do Juventude.

rs

Realmente eu vestia verde.

Vou em casa tomar um banho e mudar de roupa por superstição.

Visto preto e branco.

Passo no bar de novo e já está 3 a 0.

Meu pai agora vê o jogo na televisão dos fundos.

O Botafogo diminui para 2 a 3, mas não consegue o empate.

Permitam-me ser o hater do Halter, o zagueiro que falha todo jogo.

Não tem mais condições de vestir a camisa do Botafogo.

Da mesma forma em que às vezes são fabricados heróis efêmeros, é preciso apontar vilões quando eles praticam o mal constantemente.

É por dublês de jogadores como esse que um time perde um título.

A liderança, com um jogo a menos, está mantida.

Mas até quando?

O final de semana até que terminou bem com um bolinho e um doce.

E o final do ano?

Terá final feliz?