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AH, O CAMPEONATO CARIOCA…

por Paulo-Roberto Andel

Começou o Carioca 2024. Se o campeonato já não é o mesmo de antigamente – e poderia muito bem ser remodelado -, ele desperta grandes lembranças para os torcedores com mais de trinta anos. Cinquentões e sessentões, nem se fala.

Os garotos de hoje talvez nem possam imaginar, mas um dia o Campeonato Carioca foi o mais importante do Brasil. Seus craques a granel, seus incontáveis clássicos que já lotavam nos anos 1920 e aumentaram de tamanho com a inauguração do Maracanã – aquele outro, o então Distrito Federal que fervilhava com a apoteose do esporte. Dos anos 1960 a 1980 você pode listar pelo menos dez incríveis decisões de campeonato. Brasileiro? Libertadores? Não estávamos nem aí para isso: a onda era o Maraca lotado e as multidões em êxtase. Pense numa lista de craques, craques mesmo do futebol carioca entre os anos 1950 e 1990 e você passará de cem nomes brincando.

Enfim, estamos em 2024, os tempos mudam, o poder está na Champions e não há hoje a menor chance de algum jogador brasileiro estar entre os dez melhores do mundo. Paciência. Pior ainda é ler ou ouvir idiotas da objetividade bostejando que os jogadores de antigamente não conseguiriam atuar agora. Piada de mau gosto. Craque é craque sempre, pereba é pereba sempre.

Diante da realidade, a saudade é inevitável. Jogos encardidos contra o São Cristóvão, o Olaria e o Campo Grande. Tempos depois, Americano e Goytacaz sempre aprontando contra os grandes. E o querido Bonsucesso? Todas essas equipes, mais o Madureira e a Portuguesa – ainda hoje na primeira divisão e bem arrumados – davam um sabor ao campeonato, porque tinham sempre bons jogadores e não facilitavam a vida dos grandes. Jogar em Ítalo Del Cima, Teixeira de Castro e na Bariri era sinônimo de pressão e dificuldade, mesmo para os grandes craques.

Num capítulo à parte, ficam duas glórias do Rio. Primeiro o Bangu, que luta com suas forças e quase nenhum apoio, mas nem de longe lembra seus esquadrões do passado. Quem dera o Alvirrubro de Moça Bonita pudesse ter força econômica para encarar as disputas como postulante ao título. Em segundo, o velho e querido America. Como faz falta não ter algo como as comemorações de Luisinho Tombo, as jogadas de mestre de Edu e Bráulio, a imponência de Alex na zaga e País voando para impedir um grande gol. Como faz falta o America de 1974 e 1960. Como é difícil ver a tabela do campeonato sem o Diabo. Vida que segue.

Ok, agora tudo é Copa do Brasil, Libertadores e Sul-americana – daqui a pouco desprezam até o Brasileirão, mas nunca é demais lembrar: se o futebol deste país um dia chegou a cinco títulos mundiais, é porque deve muito de sua história aos veteranos campos da então capital da República e posteriormente Guanabara – foi dele que surgiram vários dos jogadores que ergueram o que, no passado, se chamou de melhor futebol do mundo. E não é coincidência que, desde que passamos a desprezar as conjunturas locais, dentre outras coisas, o futebol brasileiro passou de principal protagonista para figurante com grife. No mínimo, um caso a se pensar. A força da grana acabou nos colocando em um atoleiro e precisamos sair dele.

Viva Bariri! Viva Aniceto Moscoso! Salve Campos Sales, salve Moça Bonita! Viva o Luso-Brasileiro! Viva Leônidas da Silva!

@pauloandel

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 47

por Eduardo Lamas Neiva

A festa revivida pelo título mundial de 1958 parecia que não acabaria nunca. Pelé, Didi, Garrincha, Nilton Santos e outros integrantes daquele time fantástico foram muito aplaudidos e reverenciados. João Sem Medo, Ceguinho Torcedor, Sobrenatural de Almeida e Idiota da Objetividade, então, os convidaram a ir à mesa para falarem um pouco com o público sobre a primeira Copa do Mundo conquistada pela seleção brasileira. Didi começou lançando, mas Pelé e Garrincha acabaram tomando conta da peleja.

Didi: – Eu fazia um lançamento e tinha vontade de rir. O Mané ia passando e deixando os homens de bunda no chão.

Garrincha: – Em 1958 era muito jovem e tinha uma velocidade bárbara. As pernas corriam mais do que eu queria e as jogadas saíam-me quase sempre bem.

Pelé – Cada vez mais sinto saudades de você em campo, daqueles dribles, do povo nos estádios que vibrava com tuas entortadas nos “Joões”. Cada vez vejo menos habilidade no jogador brasileiro.

Garrincha – A pelada está perdendo espaço, só tem garotos jogando em campos cercados.

João em Medo: – E agora com grama sintética até nos campos oficiais, Mané.

Garrincha: – Verdade, seu João. Cadê o moleque de pé no chão batendo bola em terra dura? O pior é que todo mundo põe a culpa na retranca, mas continua bolando esquemas cada vez mais fechados. Parece saudosismo, mas na Copa de 1958 também éramos muito marcados.

Pelé – Pois é, eu era um garoto de 17 anos, mas tinha gente boa fazendo a minha cabeça. Aliás, você lembra por que o Paulo Amaral (preparador físico) acabou com as corridas depois dos treinos?

Garrincha – Claro, o pessoal corria até o lago não para melhorar o preparo físico, mas para ver as garotas tomando banho nuas. Daí o Paulo Amaral proibiu a corrida e o remédio foi aturar você tocando violão.

Todos riem muito.

Pelé – Tocar não é bem a palavra: eu batucava no violão.

Garrincha – E já aprendeu?

Pelé – Tocar eu ainda não toco, mas componho mais ou menos.

Garrincha – Já ouvi o Jair Rodrigues cantando uma música tua. Pega o violão e mostra aí.

Garçom: – Vamos aproveitar, então, e chamar mais uma vez Jair Rodrigues ao palco pra cantar com Pelé.

Todos aplaudem e vibram.

Pelé: – Dá um abraço aqui Jair. Que felicidade estar com você novamente.

Jair Rodrigues: – A felicidade é toda minha poder abraçar você, Mané e toda essa turma boa de 58 e 62.

Pelé: – Vamos cantar “Cidade grande”?

Jair Rodrigues: – Vamos lá, meu Rei?

Pelé: – Vamos sim. O Mané pediu, então…

Jair Rodrigues: – É uma ordem! (dá aquela risada gostosa que todo o Brasil se acostumou a ver e ouvir)

A dupla é aplaudidíssima e os dois se abraçam. Enquanto Jair Rodrigues volta à sua mesa, Pelé retorna pra continuar a resenha com Garrincha.  

Pelé – Bons tempos…

Garrincha – Bons mesmo. Na Copa de 1962 foi uma pena você ter se machucado. Eu dei sorte, fiz gols… Mas jamais vou esquecer da partida contra os russos em 1958.

Pelé – Foi a primeira partida que disputamos juntos. Era a estreia de nós dois na Copa e vencemos por 2 a 0, dois gols do Vavá (aponta pro amigo que é muito aplaudido). Você enlouqueceu os russos, Mané! Logo na primeira bola, entortou três. Dali em diante, só deu você. Nosso futebol está precisando de um novo Garrincha, de outro “Alegria do Povo”.

Didi: – Convencemos o técnico Vicente Feola a colocar Pelé no lugar do Dida, que sentia uma contusão. Feola temia lançar Pelé, que tinha apenas 17 anos, mas concordou. Também pedimos que ele escalasse Garrincha no lugar de Joel. Feola nos atendeu, o time embalou e fomos campeões.

Vicente Feola, também presente, preferiu não interromper, nem concordar com o que Didi revelava.

Pelé: – Eu não imaginava que seria convocado.

Ceguinho Torcedor: – Mas você tinha feito uma promessa ao seu pai de que ganharia uma Copa pra ele…

Pelé: – É, seu Ceguinho… Eu engraxava as chuteiras e os sapatos dos jogadores do BAC na época da Copa de 50.

Idiota da Objetividade: – Peço desculpas por interrompê-lo rapidamente, Pelé, mas só pro público saber: BAC é o Bauru Atlético Clube. Prossiga, por favor.

Pelé: – Sem problemas. Bom, nós ouvimos a final de 50 no rádio e vi depois do jogo o meu pai e aqueles jogadores que eram companheiros dele chorando e todo mundo triste porque estava preparada uma festa lá em casa em Bauru. Aí eu falei pro meu pai brincando: “não liga, não, que eu vou ganhar uma Copa pra você”. E oito anos depois meu pai estava chorando, ouvindo o mesmo rádio, mas a gente ganhando a Copa do Mundo na Suécia.

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso! Assombroso! (dá sua risada tenebrosa)

Risada geral.

Idiota da Objetividade: – Mas qual foi o jogo mais difícil na Copa, Pelé?

Pelé: – Olha, nós não tínhamos o teipe naquela época, né? Nós tínhamos os olheiros que viam os jogos e todos diziam que a gente ia ter mais dificuldade contra a França, porque era a melhor equipe. Mas pra mim foi o País de Gales. Era um time que jogava na retranca, foi difícil, ganhamos de 1 a 0, com um gol que eu fiz, né. Depois que nós ganhamos da França, com a Suécia eu tinha certeza absoluta, nós tínhamos uma confiança que nós não perderíamos pra Suécia, porque o nosso time era melhor.

Todos aplaudem e os companheiros de 58 se confraternizam e abraçam também João Sem Medo, Ceguinho Torcedor, Iditoa da Objetividade e Sobrenatural de Almeida. Zé Ary percebe a dispersão e não perde tempo.

Garçom: – Meus amigos, que grande felicidade, né? Pois então, uma festa tão bonita como essa merece mais futebol e música, então, enquanto imagens daquela seleção fantástica vão sendo mostradas no telão, ao som novamente de “A taça é nossa” e depois nas nossas caixas de som vocês vão ouvir o “Hino aos campeões do mundo”, de David Nasser e Vicente Paiva, cantado pelo Coro de Severino Filho. Divirtam-se!

https://discografiabrasileira.com.br/fonograma/133660/hino-aos-campeoes-do-mundo

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Um gol desse não se perde!

O ÍDOLO GABIGOL

por Elso Venâncio

Super-herói rubro-negro, Gabigol pode estar com os dias contados no Mais Querido

O Flamengo tem um elenco milionário, o mais forte do futebol brasileiro. No amistoso contra o Orlando City, dos Estados Unidos, o técnico Tite escalou do meio para a frente Pulgar, Gerson, Arrascaeta, De La Cruz, Pedro e Cebolinha. Alguma equipe no país consegue reunir tantos talentos? A resposta é não. Mas há casos mal resolvidos, ou não resolvidos, que podem dar dor de cabeça. Afinal, a partir de agora o jogo é à vera!

Por exemplo, te pergunto, como anda a situação do Ídolo Gabigol? O acordo verbal anunciado pelo estafe do goleador, simplesmente, é negado pelos dirigentes. A renovação, que seria por cinco anos, de repente travou. Ou, em última análise, foi vetada pelo presidente Rodolfo Landim, que ainda tenta digerir o acordo com o veterano Bruno Henrique. O atacante, de 33 anos, sofreu séria contusão, rompendo os ligamentos. Dez meses parado, surpreendeu ao retornar muito bem. Seu procurador, esperto, usou o Palmeiras como escudo, para conseguir outro ótimo e inesperado contrato, de três anos de duração. O representante de Gabigol entrou na onda. Ofereceu o goleador ao Corinthians e, ao menos dessa vez, ao que parece, o Flamengo recuou. Surge agora o Grêmio, que, segundo Pedro Ernesto Denardin, locutor esportivo da Rádio Gaúcha, oferece 30 milhões pela transferência, visto que no meio do ano o atacante terá passe livre para decidir seu futuro.

Como se coloca no banco um atleta do tamanho do Gabigol? Dorival Júnior, assim que chegou ao Flamengo, chamou o hoje camisa 10:

“Você lembra quem jogava a seu lado, no Santos?”

“Sim, o Ricardo Oliveira.”

Com sucesso, Dorival escalou Pedro e Gabi juntos.

Landim está sempre presente nas viagens. Mas será que chama Tite, visando entender o que pensa o treinador? Será que conversa com Gabigol, um dos maiores nomes da História rubro-negra, mas que vem sendo sistematicamente desvalorizado? Visivelmente abatido, o artilheiro vem tendo uma brusca perda de prestígio no grupo.

Com orçamento superior a um bilhão de reais e uma folha salarial que gira em torno de 25 milhões por mês, um clube de futebol, mesmo nesse patamar, tem como seus personagens mais importantes o presidente e o técnico. São eles os responsáveis pelas decisões que levam a vitórias ou derrotas. O peso do futebol é forte na Gávea; influi diretamente na política do clube mais querido do Brasil.

Tite faz observações, mas não é como o argentino Jorge Sampaoli, que troca peças por trocar a cada jogo.

Gabigol é mesmo reserva? Ele pode ser negociado? Tite foi ouvido durante a renovação com Bruno Henrique? É correto o Flamengo abrir mão de um psicólogo do Esporte?

E você… acha normal ver Gabigol sendo opção no banco de reservas?

OS “INJUSTIÇADOS” DE CADA COPA DO MUNDO

por Israel Cayo Campos.

​Um dos assuntos prediletos dentro do futebol são as Copas do Mundo. Mesmo que hoje em dia o torneio tenha virado uma prateleira de seleções em um torneio que se tornou “cabide” de votos para dirigentes da FIFA, ainda é a competição onde existem mais histórias que me encantam.

​Por isso, resolvi fazer uma pesquisa sobre os convocados da Seleção Brasileira para os mundiais que disputou (todos!) e citar na minha opinião, evidentemente, quais jogadores foram injustiçados em não terem sido convocados para as referidas Copas do Mundo.

​Obviamente que algumas de minhas opiniões, sempre bem detalhistas, o que incomoda alguns que gostam de textos curtos (e aí com todo respeito aconselho a procurarem outro escritor), são um consenso. Já outras tenho discordâncias da maioria, e claro que irei argumentar os motivos da minha escolha. A partir daí, cada um pode emitir sua opinião em consonância ou dissonância daquele que vos escreve esse humilde texto.

​Claro que algumas gerações tiveram mais de um jogador injustiçado, outras tiveram injustiçados “inexpressivos”, mas para manter uma organização, será escolhido apenas um jogador por Copa, e que não tenha sido cortado por causa de lesão, pois isso não se caracteriza uma questão de injustiça! Aqueles que esperam que na Copa de 1998 cite o Romário por exemplo, já irão discordar do meu critério.

Posso até em alguns casos colocar menções honrosas, mas só falarei de maneira mais detalhada de um jogador por Copa do Mundo.

​Copa de 1930: Arthur Friedenreich.



​Melhor jogador do futebol brasileiro da era amadora e de sua transição para o profissional, “El Tigre” em 1930 ainda estava em seu auge às vésperas do mundial do Uruguai. Todavia, uma briga entre dirigentes do futebol paulista e carioca fizeram os jogadores paulistas não entrarem na lista dos convocados para aquela Copa. Com isso, o Mundo perdeu a oportunidade de ver “Fried” disputar o que viria a ser o maior torneio de seleções do Planeta.

​Copa de 1934: Preguinho.



​Primeiro brasileiro a fazer gols em mundiais e artilheiro da Seleção brasileira na Copa do Mundo anterior, Preguinho, craque do Fluminense, ainda estava no auge. Curiosamente ele foi esquecido na convocação Luís Augusto Vinhaes.

​Copa de 1938: Teleco.

​Tricampeão paulista pelo Corinthians e artilheiro por cinco vezes do Campeonato Paulista, que junto ao Carioca eram os principais campeonatos do país, o atacante do time de Parque São Jorge não foi convocado para a Copa do Mundo simplesmente por não ter um passaporte! Teleco era um dos principais jogadores do futebol brasileiro da época com médias de gols que superaram um tento por partida.

Copas de 1942 e 1946: Sylvio Pirillo e Heleno de Freitas.

Vale salientar que essas duas Copas nunca existiram devido a Segunda Grande Guerra Mundial. Mas seguindo a ordem natural das coisas, Sylvio Pirillo do Flamengo em 1942 e Heleno de Freitas do Botafogo em 1946 seriam os goleadores de nossa Seleção caso esses mundiais viessem a ocorrer. Segue então as minhas primeiras “menções honrosas”.

​Copa de 1950: Leônidas da Silva.

​Sim. O “Diamante Negro” ainda estava no auge sendo campeão paulista com o São Paulo em 1949. Poderia ter sido convocado pelo técnico Flávio Costa até por uma questão de experiência para aquela Seleção que iria disputar o mundial em casa. Não seria titular pois Ademir de Menezes estava em seu auge, mas ainda tinha qualidade para estar naquela seleção. Flávio Costa preferiu levar apenas o Friaça que atuava no clube tricolor mantendo como base da Seleção o Vasco da Gama.

​Copa de 1954: Zizinho.

​Zizinho, que havia sido o melhor jogador da Copa anterior, ainda estava no auge de sua carreira atuando pelo Bangu em 1954, tanto que depois iria atuar no São Paulo para fazer o time campeão paulista. Contudo, simplesmente foi ignorado para o mundial de 1954. Algumas fontes como José Lins do Rego alegam que a não convocação do “Mestre Ziza” foi devido a reclamações do mesmo sobre a premiação que receberia caso vencesse o Sul-americano de 1953 pela Seleção brasileira. O que se teve certeza foi que após sua exclusão da Seleção de 1954 e o fracasso daquele time, muitos voltaram a pedir Zizinho na Seleção. Não à toa, no ano seguinte ele voltou a defender a camisa já amarelinha.

Copa de 1958: Evaristo de Macedo:

​Poderia citar como menção honrosa o Julinho Botelho, mas o mesmo se recusou a vestir a camisa da Seleção. Já Evaristo gostaria e merecia disputar a Copa da Suécia, todavia, como a Espanha não estava classificada para aquele mundial, continuou seu campeonato nacional no meio da Copa e não liberou o craque. Para nossa sorte foi convocado um tal de Pelé, um garotinho de 17 anos que depois viria a se tornar adjetivo de excelência em nosso dicionário.

Copa de 1962: Airton Pavilhão.

​Poderia ter escolhido algum atacante, mas eram tantos bons jogadores que quem iria sair? Airton entra na minha escolha por ser uma bandeira do Grêmio, o único fora do eixo Rio – São Paulo a ser convocado, e um zagueiro do mesmo nível daqueles que foram campeões mundiais naquela Copa. Valem como menções honrosas Quarentinha do Botafogo e Germano que havia sido contratado pelo Milan ao Flamengo, mas suas posições eram complicadas de competir. O primeiro disputava com Vavá e Coutinho, o segundo com Pepe e Zagallo.

​Copa de 1966: Carlos Alberto Torres.

​A preparação para esse mundial foi tão bagunçada que a lista é grande, mas com certeza aquele jogador que foi mais injustiçado na convocação final foi a do já campeão pelo Fluminense e aquele ano já defendendo e sendo campeão pelo Santos, o lateral direito Carlos Alberto Torres. Quatro anos depois ele inclusive provou o erro do técnico Vicente Feola em cortar o “Capita do tri” no período de treinamentos. Um dos maiores laterais direitos de todos os tempos! Menções honrosas para Djalma Dias do Santos e Roberto Dias do São Paulo que foram preteridos por grandes jogadores, só que em final de carreira como por exemplo o Bellini que já possuía quase 36 anos.

Copa de 1970: Toninho Guerreiro.

​Toninho Guerreiro vinha de títulos por Santos e São Paulo. Era um dos melhores centroavantes do país, vinha como reserva do Tostão na preparação e eliminatórias, mas próximo ao mundial do México as imposições por Dario do Atlético Mineiro pelo Regime Militar acabaram minando a presença do mesmo naquela Copa. Por preferência do técnico Zagallo, Roberto Miranda, que também poderia perder a vaga para Toninho, foi escolhido.
O técnico anterior João Saldanha alegou que ele fora cortado pelos médicos devido a uma sinusite, o que para o “João Sem Medo” era apenas uma desculpa para que Dario fosse convocado por ele “a força”. A verdade nunca saberemos. Mas que o Toninho merecia, pois era melhor camisa nove que os dois convocados, isso ele merecia!
Menção honrosa para Dirceu Lopes, um genial camisa dez do Cruzeiro, mas que dentro de uma Seleção que já possuía só em seu time titular quatro camisas dez, é entendível a competição enorme daquela que foi uma das maiores (se não a maior) Seleção de todos os tempos.

​Copa de 1974: Dirceu Lopes.

​Essa foi uma das Copas onde foi mais difícil achar uma injustiça. Com a desistência de Pelé, Zagallo convocou praticamente o melhor que possuíamos naquele ano. Mas como alguém precisa ser citado, Dirceu Lopes do Cruzeiro que já não havia sido levado pelo “Velho Lobo” em 1970 poderia ter sua chance. Ainda estava em alto nível, inclusive vencendo a Bola de Prata como melhor meia do país em 1973.

​1978: Paulo Roberto Falcão.

​Um dos melhores jogadores do mundo já naquela época, bicampeão brasileiro em 1975 e 76, Falcão foi simplesmente limado dos convocados do técnico Cláudio Coutinho para a Copa de 1978. Alguns alegam que Coutinho preferia jogadores fisicamente mais fortes e menos técnicos para um mundial que privilegiou o chamado “futebol força”, outros que foram críticas do Paulo Roberto Falcão a ditadura que o retiraram daquele mundial. Mas seja qual for a verdade, essa é uma das maiores unanimidades quanto a injustiças em convocações.

​1982: Reinaldo.

​Uma ausência muito estranha na Copa de 1982 foi a de Reinaldo, do Atlético Mineiro. Um dos melhores centroavantes do país que havia levado o Galo há títulos e disputas de campeonatos nacionais acabou sendo esquecido por Telê Santana. Nem com a lesão de Careca, que o tirou daquela Copa, fez Telê lembrar do Reinaldo. O motivo ninguém sabe ao certo, rolam boatos aos montes que remetem ao comportamento do “Rei” fora de campo. O fato é que o Brasil perdeu a chance de ter um grande centroavante naquela que foi uma das mais saudosas Copas do Mundo para o público brasileiro.

1986: Renato Gaúcho.

Campeão de todos os campeonatos possíveis com o Grêmio, uma ótima eliminatória com a camisa da Seleção e já a caminho do Flamengo, Renato Portaluppi despontava como um dos melhores atacantes do futebol brasileiro. Era um dos nomes esperados na convocação de Telê Santana para a Copa do Mundo do México. Porém, uma indisciplina causada pelo lateral Leandro em que Renato acabou por “entrar” para cuidar do amigo acabou por causar irritação ao treinador. Após algum período de treinamentos, o atual técnico do Grêmio (2024) acabou sendo cortado para a estranheza de torcedores e imprensa, logo o episódio onde ele e Leandro chegaram atrasados veio à mente como motivo da escolha do Telê. Contudo, só Renato foi cortado enquanto Leandro continuava como titular da Seleção. Tal situação constrangedora causou a recusa de Leandro em disputar aquele mundial em apoio ao amigo que o ajudou. No final Josimar fez o Brasil esquecer o Leandro, mas todos sentiram a falta do Renato nos momentos mais decisivos. Menção honrosa: Pita do São Paulo.

1990: João Paulo.

​Não, o maior injustiçado da Copa de 1990 não foi o “craque” Neto, como se virou por conveniência falar. O Neto era um bom jogador, mas não havia estourado como ocorreu no segundo semestre do referido ano. Porém, o que muitos esquecem de falar é que no segundo semestre de 1990 a Copa do Mundo já havia acabado! Já o ponta ex – Guarani e que atuava pelo Bari da Itália foi escolhido o melhor jogador estrangeiro do Calcio. Campeonato que na época era a Premier League de hoje. Milan dos holandeses, Inter dos Alemães, Juventus dos italianos e franceses, Napoli de Maradona e Careca, Roma, Torino, Sampdoria, Atalanta… Enfim, uma legião de craques e no meio deles se destacou o João Paulo que atuava pelo pequeno time italiano. No lugar dele o Lazaroni preferiu investir em um Romário que estava com a perna quebrada e no jovem Bismarck por exemplo. Acabamos caindo para uma fraca Argentina mas que contava com Diego Maradona e não vimos o quanto o João Paulo poderia ajudar aquele bom time que acabou sendo a base para o título do mundial seguinte. Menção honrosa: Júnior Capacete que apesar da idade ainda estava em alto nível e poderia ajudar muito principalmente no controle de egos e vaidades naquela Seleção.

​1994: Evair.

​Em 1994 muitos jogadores poderiam ter ido e acabaram não sendo chamados pelo técnico Parreira. Como tive que escolher um fico com o Evair. Foi decisivo nos títulos que tiraram o Palmeiras da fila de 17 anos em 1993. Além de goleador era um jogador tático e muito inteligente que poderia ter atuado no lugar do Raí quando esse não estava tecnicamente bem. Menções honrosas: Marcelinho Carioca, Palhinha, Edmundo, Rivaldo… Não faltavam nomes. Sorte que fomos campeões, pois se não até hoje estaria a cobrança.

​1998: Djalminha.

​Após ter feito uma temporada absurda em 1996 pelo Palmeiras, ido para o La Coruña e continuar o ótimo futebol, convocações para Copa América e Copa das Confederações de 1997, o Djalma acabou sendo esquecido no ano de 1998. Acabamos por nunca ver um dos melhores jogadores do nosso futebol disputar sequer uma Copa do Mundo.

​2002: Alex.

​Uma das ausências menos explicadas em uma Copa do Mundo nos tempos “mais modernos”, Alex vinha de um grande trabalho no Palmeiras ao lado do então técnico da Seleção Luís Felipe Scolari quando esse ainda treinava o Palmeiras. Campeão da Libertadores, Copa do Brasil, Mercosul e vice brasileiro com o treinador, além de ter participado de praticamente toda a campanha das eliminatórias para aquela Copa, Alex foi preterido por nomes que explodiram em 2002 às vésperas da Copa. Dentre eles estavam Kaká e Kléberson. Mas o mais curioso veio com a lesão e corte do meia Emerson. Quando todos esperavam que viesse a redenção do Alex, Felipão acabou chamando o Ricardinho do Corinthians, com quem nunca trabalhou e que nunca havia atuado pela Seleção Brasileira sob seu comando. Alex até hoje guarda mágoas de tal situação.
Menção honrosa: Romário. Mas ele sabe o motivo de não ter sido convocado.

​2006: Luís Fabiano.

​Em uma Copa onde praticamente houve unanimidade na convocação, inclusive até dos jogadores que entraram após o corte de lesionados, ficou difícil escolher uma injustiça (O que faltou foi futebol dos convocados!). Vou citar o Luís Fabiano, pois ele foi titular na Copa América e Eliminatórias com o Parreira. Na convocação final, o mesmo decidiu levar o jovem Fred (que não decepcionou por sinal) como a tentativa de que ele fosse o novo Ronaldo de 1994.

2010: Neymar.

​Ao contrário dos técnicos anteriores, Dunga preferiu manter a base que foi com ele em Copa América, Confederações e Eliminatórias. Com isso, o surgimento do Neymar no primeiro semestre em 2010 como um meteoro não comoveu o treinador da Seleção brasileira. A consequência foi a Seleção perder as quartas de final para os Países Baixos (Holanda) sem fazer as três alterações que tinha direito! Menções honrosas: Adriano e Paulo Henrique Ganso.

​2014: Philippe Coutinho.

​Em uma Seleção que fez o papelão que fez, muitos nomes poderiam ter entrado. Como o melhor jogador na Europa naquele período era o Coutinho no Liverpool, e ele fazia parte de um triplete ou até quarteto se o lucas Moura fosse convocado que vinham desde as Seleções de base e olímpica fazendo sucesso (Junto a Neymar e Oscar), era o que mais merecia uma convocação, quem sabe o resultado contra a Alemanha fosse um sete a três! Menções honrosas: Miranda, Lucas Moura e Kaká.

2018: Luan.

​Por mais que hoje em dia esteja muito em baixa, Luan foi muito bem nos Jogos Olímpicos de 2016 e o melhor jogador do futebol da América do Sul em 2017 e início de 2018. Tite nunca gostou de seu futebol e acabou levando alguns nomes que nem a população brasileira lembrava mais como o até então atacante do Shakhtar Donetsk, Taison.

​2022: Gabigol.

​O treinador Tite sempre teve uma boa capacidade de não causar muitas reclamações em suas convocações para Seleção. Principalmente da imprensa! Porém, se temos que escolher um jogador que merecia a convocação pelo que fez no seu clube e lembrando que a Copa do Catar foi no fim do ano após a Libertadores, esse seria o Gabriel Barbosa que estava em seu auge e capacidade de decisão! Quando lembramos que se o Brasil passasse pela Croácia só teríamos um camisa nove (Pedro) a escalar, o “Gabigol” faria uma falta!
O que se fala é que a relação entre técnico e treinador desde a primeira convocação nunca foi boa e piorou com a não convocação para o mundial. Se é verdade ou não vamos ver na passagem do treinador gaúcho pelo rubro negro carioca. Menção honrosa: Filipe Luís. Mesmo mais velho jogava e tinha conhecimento tático melhor do que Alex Telles e Alexandro que foram convocados para a lateral esquerda. Sem contar que ambos estavam lesionados durante o mundial obrigando o Tite a fazer revezamento e improvisos.

​Enfim, essa é a minha lista. Uma longa pesquisa e um forte uso da memória! Se você discorda de alguma dessas “injustiças”, fique a vontade para destacar quem faltou ser citado e acabou sendo esquecido por algum treinador em alguma Copa do Mundo.

AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1992

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1992, o Campeonato Brasileiro foi decidido entre Botafogo e Flamengo.

O Botafogo garantiu sua vaga às finais ao ser o primeiro colocado em um quadrangular em que também participaram Bragantino, Corinthians e Cruzeiro.

O Flamengo garantiu sua vaga à finais ao ser o primeiro colocado em um quadrangular, disputadíssimo, em que também participaram Vasco da Gama, São Paulo e Santos.

O primeiro jogo das finais aconteceu no Maracanã, com mando de campo para o Flamengo.

O Flamengo venceu facilmente por 3 x 0, com todos os gols no primeiro tempo, respectivamente de Júnior, Nélio e Gaúcho.

Com o resultado do primeiro jogo, o Flamengo já era “virtualmente” campeão.

O segundo jogo das finais aconteceu também no Maracanã, com mando de campo do Botafogo.

Nesse segundo jogo, uma tragédia se sucedeu: a arquibancada do Maracanã cedeu, e vários torcedores caíram.

Houve três mortes.

Em campo, Junior fez 1 x 0 para o Flamengo no primeiro tempo.

No segundo tempo, Julio Cesar fez 2 x 0 para o Flamengo, Pichetti diminuiu para o Botafogo para 2 x 1, Valdeir empatou para o Botafogo em 2 x 2 – placar final do jogo.
O Flamengo era, pela quinta vez, campeão brasileiro.