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o efeito zico

por Marcos Eduardo Neves

Aos 12 anos, no começo de 1987, consegui uma façanha: virei gandula do Flamengo. O melhor era o local: justamente no Flamengo, porque o time ainda treinava na Gávea. Detalhe: como se fosse hoje, via de perto uma verdadeira constelação. Tinha craque – ou prodígios de craque – até mesmo no banco de reservas. Para se ter ideia, os zagueiros Gonçalves e Aldair, que disputaram (um deles até ganhou) Copas do Mundo, nem titulares eram.

Contudo, minha satisfação maior era conviver diariamente com o meu ídolo, Zico. Aguardava horas pela chegada dele, quase sempre no Toyota que ganhou em Tóquio por ter sido o melhor jogador do mundo no ano de 1981. Pedia um monte de autógrafos a ele. Parei quando, com autoridade, o Galinho me puxou a orelha com uma pergunta:

‘Tá vendendo isso na escola, menino?’

Diante daquele astro consagrado internacionalmente, o camisa 10 da seleção mais temida do planeta, parei no mesmo dia de tanto desgastá-lo. Quem diria que, décadas depois, voltaria a incessantemente ‘desgastá-lo’. De outra forma, porém. Quis o destino que nos tornássemos amigos.

Hoje, 37 anos depois, estou prestes a lançar o meu décimo quarto livro. Acredite, se quiser: sobre ele! ‘O EFEITO ZICO – COMO OBTER ÍNDICE DE REJEIÇÃO ZERO NA SUA PROFISSÃO’, ao contrário da maioria dos meus livros, não é uma biografia, mas, sim, um livro de liderança.

No dia a dia – seja lá atrás, quando o via treinando ou atuando em jogos oficiais, ou mesmo em tempos remotos, quando viajei Brasil afora a seu lado pela ‘Seleção Zico 10’, como goleiro reserva – aprendi demais com o cidadão Arthur Antunes Coimbra. Longe de eu ser alguém tão exemplar quanto ele. Tenho meus defeitos, mas absorvi muito dos seus ensinamentos e isso só ajudou a me tornar uma pessoa melhor.

Nesse livro que a Planeta, um dos maiores conglomerados editoriais do mundo, já pôs em pré-venda, Zico narra incríveis lições de como exercer liderança por meio de autoridade, mantendo a autenticidade para impactar pessoas Mais do que de abordar a carreira de uma das personalidades mais relevantes do universo esportivo, a obra usa como referência a história de vida do jogador para motivar o sucesso pessoal e profissional de você, leitor ou leitora.

Zico aprendeu que uma organização pode se aprimorar, desde que conte com a presença de um líder, ou seja, aquele que traz dentro de si o espírito do desafio. E é necessário exercer essa liderança por meio da autoridade, não pelo poder, além de se manter autêntico, pois só assim você consegue verdadeiramente se aproximar das pessoas.

O lançamento de ‘O EFEITO ZICO’ será numa quarta-feira, dia 20 de março, das 18h às 21h, na Livraria da Travessa, no Barra Shopping, Rio de Janeiro. Voltas que o mundo dá, por lá, dessa vez, não pedirei autógrafos a ele, como tanto fiz quando criança. Mas, sim, os distribuirei, junto à maior referência que eu tive na vida.

Incrível imaginar isso. Por isso, digo a todos: jamais desistam dos seus sonhos. Um dia eles podem, sim, se tornar reais.

AS RECEITAS DOS CLUBES – 2022-23

por Idel Halfen

O artigo dessa semana analisa as receitas dos 30 clubes com maior faturamento na temporada 2022-23, segundo o relatório da Deloitte “Football Money League”, o qual, por sua vez, embasa o estudo da Jambo Sports Business, cujo link para acesso é https://www.linkedin.com/posts/halfen_os-clubes-de-futebol-que-mais-faturam-2006-activity-7165260580096786432-SmTo?utm_source=share&utm_medium=member_desktop

Entre os pontos que constam no estudo, mas que julgamos interessante destacar aqui estão:

  • O somatório das receitas dos 10 clubes com maiores faturamentos cresceu 14%, desses apenas um, o Liverpool, teve decréscimo no faturamento.
  • Vale atentar para o enorme crescimento da indústria “futebol”, pois, em 17 anos a receita total dos TOP 10 saiu de € 2.505,2 para € 7.185,4, um aumento de 187,2% no período, salientando que muito poucos negócios evoluíram tanto e de forma praticamente constante neste período. As alterações na relação dos TOP 10 se restringiram basicamente à classificação, já que os clubes foram os mesmos.
  • O total de receitas desses clubes com matchday cresceu 24,8%, o que pode ser creditado à demanda por atividades ao ar-livre pós-pandemia. Nove desses clubes aumentaram o faturamento nessa linha.
  • Embora as receitas com matchday tenham melhorado a participação em relação à temporada anterior (17,3% vs. 15,8%), ela ainda se encontra bem distante das demais. Situação que é lógica, visto haver limitação de assentos nos estádios, ou seja, só uma majoração de preços seria capaz de impactar, a qual pode não ser suficiente, visto a possibilidade de sofrer com a elasticidade do preço dos ingressos.
  • Já o faturamento com broadcasting foi o mais tímido, 6,8% e apenas quatro clubes entre os TOP 10 tiveram incremento, enquanto os ganhos com commercial aumentaram 16,3% e todos os 10 mais cresceram sob essa ótica.
  • A Premier League se mantém como a liga com mais clubes entre os TOP 30 (quatorze). Em segundo aparece a Serie A (Itália) com cinco, seguida por LaLiga (Espanha) com quatro equipes. Completam a relação com três times cada a Bundesliga (Alemanha) e a Ligue 1 (França). Por fim, temos Portugal presente com um clube.
  • Dos números apurados chama a atenção os expressivos aumentos de receitas de Milan (45,5%), Newcastle (35,6%) e Barcelona (25,4%) sobre a temporada passada. No caso do Milan, o incremento de 146,7% no faturamento com matchday foi o principal responsável pelos bons números gerais, embora todas as linhas tenham crescido. Vale notar que outros clubes italianos também aumentaram essas receitas – Inter (104,5%) e Juventus (78,1%). A propósito, o mesmo ocorreu com os times alemães – Borussia Dortmund (97,4%) e Bayer Munchen (77,9%).
  • O Real Madrid ficou pela 11ª vez como o clube que mais faturou. A diferença em relação ao vice-líder, o Manchester City, foi de € 5,5 milhões. Vale lembrar que na temporada anterior, essas posições estavam invertidas e o clube inglês teve € 17,2 milhões a mais de receitas.
  • Vale ainda prestar atenção ao processo de queda do Manchester United, que foi líder em 2015-16 e 2017-18 e que aparece em quinto na temporada atual, mesma posição de 2020-21 – a pior desde que a Jambo realiza o estudo.

Na apresentação, cujo link foi destacado no primeiro parágrafo, há inúmeras outras informações que ajudam a entender melhor as arrecadações dos clubes.

PAIXÕES DO CHICO ANYSIO

por Elso Venâncio

Chico Anysio, o gênio do humor, o Charles Chaplin brasileiro, tinha duas paixões: o rádio e o futebol. Ele ouvia as jornadas esportivas da Rádio Globo do Rio de Janeiro e ligava, sobretudo nos finais de semana, quando descansava no seu sítio em Pirai, corrigindo alguma informação ou acrescentando detalhes de uma notícia. Nesse sítio, recebia atletas profissionais e artistas para peladas e resenhas.

No ‘Chico City’, programa humorístico da TV Globo, não podia faltar um representante do mundo da bola. Coalhada, um perna-de-pau que se achava craque, como muitos que existem por aí, era estrábico e, com seus cabelos encaracolados, desdenhava de Pelé, Zico, Junior, enfim, dos bambas do futebol que ele próprio, o personagem, recebia no programa.

“Depois dizem que o Coalhada é isso, que o Coalhada é aquilo”.

Repórteres da Rádio Globo eram sistematicamente convidados para entrevistar Coalhada.

“Eu faço humor mais ou menos… mas entendo mesmo é de futebol”,.ouvi de Chico, numa roda de jornalistas, na Copa do Mundo da Itália. Não sei se dava para acreditar, mas garanto que ele estava realizado, já que nesse Mundial de 1990 era, simplesmente, o comentarista da Rede Globo, ao lado de Pelé, mantendo essa tabela com o Rei desde as Eliminatórias.

Galvão Bueno fazia sua primeira Copa como narrador titular. No ‘Fantástico’, Chico Anysio dava opiniões sobre a seleção comandada por Sebastião Lazaroni.

“Eu venho do rádio. Gosto é do rádio”, repetia sempre.

Aos 17 anos, Chico foi contratado para comentar jogos pela Rádio Guanabara. Versátil, logo mostrou-se ator, redator, locutor e comentarista. Seu pai, Francisco Anysio de Oliveira Paula, havia sido Presidente do Ceará Sporting Club.

No fim da década de 80, Luiz Penido, “O Garotão da Galera”, comandou uma revolução no rádio esportivo. Aceitou o convite do diretor Alfredo Raimundo, da Super Rádio Tupi, e levou vários companheiros da Rádio Globo, como Édson Mauro, Sérgio Noronha, Eraldo Leite, Gilson Ricardo e Danilo Bahia.

Após algum tempo, já na Tupi, Penido decidiu chamar Chico Anysio para ser o comentarista.

“É o meu sonho!”, respondeu no ato.

A gente percebia a satisfação dele ao chegar ao Maracanã e ser imediatamente cercado pelos torcedores.

Seu personagem preferido, dentre os mais de duzentos que criou, foi Alberto Roberto, um ator sonhador, narcisista, com uma rede na cabeça e um bigode fino e preto. Com a presença de artistas, deixava louco o seu agente, Da Júlia (interpretado por Lúcio Mauro), por conta da soberba – ele se comparava a Marlon Brando e Robert De Niro, para se ter ideia.

Roberval Taylor, com olheiras profundas e voz empostada, homenageava os profissionais do rádio. Confesso que era difícil enxergar o ‘Grande Artista’ fora do humorismo. Mas testemunhei seu afeto pelo veículo que lhe abriu as portas para o estrelato.

Chico Anysio faleceu, aos 80 anos de idade, no dia 23 de março de 2012, de falência múltipla dos órgãos, no Hospital Samaritano, em Botafogo, bairro da zona sul do Rio de Janeiro.

TRÊS MENINOS E SEUS VELHOS

por Claudio Lovato Filho

O menino está na garagem do prédio chutando contra o muro a bola de couro muito gasta.

Ainda sente no rosto a dor da agressão sofrida por ter desafiado a autoridade paterna. Na verdade, apenas fez uma pergunta, mas isso foi o bastante.

Não foi a primeira vez que apanhou, mas desta vez sentiu algo diferente na ação da qual foi vítima. Não percebeu irritação, brabeza, impaciência, esse tipo de coisa. Percebeu raiva.

Outro chute na bola, a bola contra o muro, a bola voltando rápida, o corpo desviando, a bola batendo na lixeira ao lado do elevador de serviço.

Então o portão da garagem começa a se abrir. Um carro vem entrando.

O menino para de chutar a bola, e o carro passa por ele, bem devagar. O motorista e o menino que está sentado no assento do carona estão rindo. Na verdade, o homem ri e o menino ao lado dele dá gargalhadas; está com o rosto vermelho de tanto rir.

O carro passa e o menino volta a chutar a bola contra a parede. O rosto já não tem mais as marcas do tapa, não lateja mais, mas isso não é suficiente para eliminar a tristeza e o ressentimento que insistem em permanecer dentro dele.

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Da beira da quadra de cimento, o homem diz:

“O pé de apoio tem que ficar mais perto da bola!”

“Mas eu estou botando!”, responde o menino.

“Mais perto! Bem do lado da bola. Você vai ver como o chute vai ser mais forte”.

“Eu sei! Você já me disse isso!”

“Então vai de novo! Mais perto da bola! Bem do lado!”

“Tá bom, tá bom!”

E o menino vai percebendo que, quanto mais perto da bola coloca o pé de apoio, mais forte e direcionado sai o chute.

“Isso. Tá melhorando”.

“Tô cansado!”

“Mais três. Só mais três”.

O menino chuta mais três vezes, estufando a rede do gol vazio.

Mais tarde, bem mais tarde, dali a alguns anos, quando já tiver se tornado o profissional que sonhava ser, o menino vai se lembrar muitas vezes desses finais de tarde na quadra de esportes perto de casa e dos ensinamentos do pai, e vai se convencer da importância daquilo para que absorvesse com profundidade um sentimento que iria acompanhá-lo por toda a vida: o sentimento se saber-se alguém que pode ser amado.

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No avião, indo para o sepultamento, ele agradece por estar em movimento contínuo desde que recebeu a notícia. Estava saindo de casa quando o telefone tocou. Ele viu o DDD e imediatamente compreendeu. Atendeu e não deu outra. Depois disso foi a compra da passagem, a arrumação da mala, os avisos para os mais próximos, tudo com a ajuda da esposa. A correria pode ser uma grande aliada nessas horas. Uma grande amiga.

Agora é a hora do avião. Sozinho com seus pensamentos, até o destino final (uma expressão que lhe pareceu irônica nesse momento). Sozinho com suas lembranças.

“É a festa ou o futebol. Tem que escolher. Os dois, não dá”, o velho tinha lhe dito mais de uma vez. Bem mais de uma vez. Ele escolheu o futebol.

Depois, quando estava sendo promovido da base para os profissionais:

“Nada de bancar o espertalhão. Humildade no trato e seriedade no trabalho. É assim que se conquista respeito”.

Tantos ensinamentos, tantos conselhos.

“Amigos vão ser poucos. Mas isso é assim mesmo. No futebol são companheiros de clube. Colegas de profissão. Alguns vão se tornar seus amigos. Poucos”.

O velho falava pouco, mas dizia muito.

“Guarda o seu dinheiro”.

O avião aterrissa. Ele tenta antecipar tudo o que vai encontrar, mas não consegue e para de tentar. Deixa que os acontecimentos se sucedam, segue o fluxo.

No carro, a caminho do cemitério, ele recorda o dia em que entregou a camisa ao pai, a camisa do jogo em que marcou seu primeiro gol como profissional, e lembra do sorriso no rosto do pai e do brilho nos olhos do pai e do abraço que o pai lhe deu. E então ele, dentro do carro que trafega pela via expressa com asfalto ainda molhado pela chuva recente, a caminho de tudo aquilo que sabe que muito em breve terá que enfrentar, finalmente chora.

SALÁRIOS ATÉ ATRASAVAM, MAS OS TÍTULOS ESTAVAM EM DIA

por Zé Roberto Padilha

Poucos clubes que aderiram ao SAF, como o Botafogo, demonstraram tão precisamente o que significa essa nova realidade para o nosso futebol. Os cofres estarão cheios, ano passado o lucro foi de 388 milhões, e as salas de troféus vazias.

John Textor é só alegria. Ao liderar 82% das rodadas do Campeonato Brasileiro, o clube retirou da geladeira torcedores desconfiados e vendeu mais camisas que todos os clubes brasileiros.

Para dar lucro, mexeu na estrutura da equipe negociando Jefinho, com o Lyon, Kanu para o Bahia e Luis Castro, para o Al-Nassr. Pouco importa o estrago que causou dentro de campo aos interinos que assumiram em meio ao campeonato.

O que era mais importante para o clube, os jogos decisivos no tapetinho ou os shows lucrativos que ajudaram a aumentar a receita? E lá foi o time jogar fora quando mais precisava do seu cantinho.

Ficou o pênalti perdido pelo Tiquinho e a falta de comando de Lúcio Flávio como responsáveis pela perda do título. Porém, enquanto seus torcedores foram ironizados, o deboche se espalhou no lado oposto às cifras vultosas, John Textor foi comemorar seus lucros exorbitantes em paraísos tropicais.

O SAF tem no Botafogo o maior exemplo para os clubes de futebol que vão ter que optar: taças e títulos ou caixas abarrotadas de dinheiro? A braçadeira será entregue ao diretor de futebol ou ao tesoureiro do clube?

Garrincha, Jairzinho, Nilton Santos e Gerson até recebiam com atraso. Pediam vales. Mas os títulos e glórias esportivas estavam em dia.