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TEMPOS DOURADOS

por Péris Ribeiro

Com o Santos consagrado como grande campeão, Pelé era a atração máxima de Paris, naquele ínicio da década de 1960

As décadas de 1950, 60 e 70 significaram a Era de Ouro do futebol brasileiro. Foi, sem dúvida, um tempo de total visibilidade para os nossos clubes, que realizavam seguidas e rentáveis excursões pelo mundo. E, nelas, participavam dos tradicionais (e prestigiosos) torneios de verão na Espanha, França, Itália, Casablanca e Cidade do México, e também na América do Sul.

Havia exageros, é bem verdade, mas isso era o preço a ser cobrado pelo sonhado intercâmbio com a Europa e a América do Sul. Um intercâmbio vital, ultranecessário. E que hoje infelizmente já não existe mais, limitando os nossos clubes a um calendário anêmico, de bem poucos atrativos. Sem maiores possibilidades, portanto, de uma participação destacada no cenário internacional.

Por último, um lembrete. Foi naqueles tempos dourados, que o Santos de Pelé ensaiou a conquista do mundo. Bastou sair campeão do Torneio de Paris. E convém não esquecer do Flamengo de Zico, bicampeão do Torneio Ramon de Carranza, na Espanha, bem pouco antes de levantar o Mundial do Japão.

Saudades daqueles tempos de glórias. Tempos, efetivamente, em que podíamos tudo…

MAIS DO QUE UM TORCEDOR, UM AMANTE DO FUTEBOL RAIZ

por Reinaldo Sá

Como definir esse maranhense que tinha como sonho ser um jogador de futebol profissional? Porém, as peneiras com poucos recursos, levaram a outros caminhos. Precisou desenvolver diversas habilidades para o sustento do seu dia a dia e a viagem de sua terra natal (São Luiz) até São Paulo não atravessou os rios e mares, mas sim a então desfalcada estrada BR 116, cortando com a BR 101.

Nessa longa viagem, um público com o mesmo objetivo – buscar um lugar ao sol -, sem secas, sem mágoas, mas com saudade das tardes de quando jogavam futebol com uma bola de meia ou com uma imitação de uma bola de dezoito gomos.

A vinda para o Rio de Janeiro, onde viveu até seus últimos dias, foi uma questão de tempo. Sempre antenado, mesmo com pouco estudo, colecionava livros, revistas e camisas de clubes de futebol dentro dos rincões brasileiros. Além disso, o hábito de recuperar relíquias perdidas pelo tempo e pelo esquecimento das pessoas não passava desapercebido do grande Serjão, zagueiro raiz, da boa época do futebol de praia disputado aos domingos na Praia de São Conrado, jogando pelo Raiz da Rua. O então Beque Roxo ficou famoso pelo seu vigor físico e também pela forma viril sem ser desleal.

Assim se vão muitas histórias desse amigo que partiu no dia do padroeiro da cidade em que adotou para viver e formou a sua família. Em seu jardim, deu três belos frutos, que mantiveram o jardim suspenso com os seus netos.

Durante vinte e sete anos, trabalhou como porteiro no Carioca Esporte Clube e suas histórias eram o ponto de encontro da cultura futebolística, voltada para os clubes de menores expressões e de grandes paixões como os de sua terra natal,o Maranhão, Moto Clube e o Sampaio Corrêa. Foi destaque a sua presença no décimo Cinefoot, onde, em quarenta minutos, foi o centro das atenções da noite cinematográfica voltada ao contexto futebolístico naquela primavera setembrina de 2019.

Já nos últimos tempos o atacante Cirrose foi hepático e letal, driblando a marcação implacável do zagueiro Serjão, que nos deixou para a eternidade, tendo como plateia os seus filhos, a nora, o genro e dois amigos cariocas que são verdadeiramente raiz. O homem se foi e ficaram as boas lembranças sem estar sentados à beira de um caminho, como diriam os poetas.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 50

por Eduardo Lamas Neiva

Após a apresentação de Jackson do Pandeiro, com o “Frevo do bi”, a Copa de 62 passou a ser relembrada com detalhes e brilhantismo pelos amigos no bar Além da Imaginação.

Idiota da Objetividade: – A seleção brasileira em 1962 não deu show como em 58, mas jogou pra ganhar, que é o que interessa.

Ceguinho Torcedor: – Foi um futebol sofrido, quase feio, um duro futebol de cara amarrada. Jogávamos sim, pra vencer. Amarildo, o dostoeivskiano, enfiava-se pela área como um rútilo epilético. Ao marcar os dois gols da vitória sobre a Espanha já pendia do seu lábio uma baba elástica e bovina. Na final, quando os tchecos fizeram o primeiro gol, pensamos em 50, mas Amarildo apanhou a bola e partiu para o gol. Antes que o adversário pudesse esboçar o ferrolho, Amarildo dribla um, dois. O goleiro sai para cortar o centro. Era chegado o grande momento. E, então, o Possesso enfia uma bomba entre o goleiro e a trave. Amarildo nunca foi tão dostoeiviskiano como no segundo gol. Driblou não sei quantos e deu para Zito marcar. Após o terceiro gol, a Tchecoslováquia estrebuchou, pôs fogo nas narinas como o Dragão de São Jorge. Naquele dia, o Brasil mostrou a potencialidade criadora de um povo de napoleões.

João Sem Medo: – Que maravilha, Ceguinho!

Músico: – Depois de toda essa efusividade de nosso brilhante Ceguinho Torcedor, só tocando uma, ou melhor, duas músicas que têm o mesmo nome, “Brasil bi-campeão”, uma gravada antes e outra após a Copa de 62.

A banda que está no palco com auxílio de um coro infantil executa, então, a composição do Padre Ralfy Mendes, que originalmente havia sido gravada pelos Pequenos Cantores da Guanabara, e logo em seguida, a música de Umberto Silva e Lewis Jr., que havia sido gravada ainda em 62 pelo Coro do Clube do Guri.

https://discografiabrasileira.com.br/composicao/154828/brasil-bi-campeao

Muitos aplausos. E o papo volta à mesa.

João Sem Medo: – Pelé se machucou na segunda partida e não pôde jogar mais naquela Copa.  

Músico: – Sim, na próxima música, gravada após a conquista do bi, fala do desfalque do Rei, cita todos os jogadores convocados e já se anuncia o tri.

Garçom: – Que não viria em 66, mas em 70, como todos sabem… Vamos ouvir, então, “Brasil bi-campeão”!

https://discografiabrasileira.com.br/fonograma/147327/brasil-bi-campeao

Todos dançam e curtem muito como se comemorassem de novo o bicampeonato mundial. No fim, muitos aplausos. E rápido como uma flecha, o nosso copydesk pega a bola e parte pro ataque.

Idiota da Objetividade: – O técnico Aymoré Moreira levou para o Chile 14 jogadores que haviam sido campeões em 58. Trocou apenas De Sordi por Jair Marinho, na lateral-direita; Orlando por Jurandyr, na zaga; Oreco por Altair, na lateral-esquerda; Dino Sani, Moacir e Dida por Zequinha e Mengálvio no meio; Joel por Jair da Costa na ponta-direita, e Mazola por Amarildo e Coutinho no ataque.

João Sem Medo: – Apesar da experiência e de termos praticamente o mesmo time de 58, estreamos contra o fraco time do México com uma vitória de 2 a 0 que não credenciaria ninguém a ser campeão do mundo. Pelé sofreu com Vavá, que estava uma gracinha. O ataque esteve muito mal mesmo, nunca se entrosou naquele dia. Mas vencemos o primeiro jogo e o que mais interessa senão a vitória?

Idiota da Objetividade: – Os gols do Brasil foram feitos no segundo tempo, por Zagallo e Pelé.

Ceguinho Torcedor: – Amigos, qualquer brasileiro, vivo ou morto, só pensava no escrete. Até o grã-finismo se incorporou à torcida brasileira e com que ferocidade! Na tarde de Brasil x México eu fui dar uma olhada no Country. Todo mundo lá estava atracado ao radinho de pilha. Quando Zagallo enfiou o primeiro gol, vi um grã-fino tornar-se elástico, alado, acrobático e virar uma delirante cambalhota.

Risada geral no bar.

Idiota da Objetividade: – O segundo jogo foi contra a Tchecoslováquia e houve empate sem gols. Pelé se machucou aos 27 minutos de jogo e, como não era permitido fazer substituições, ele ficou em campo fazendo número apenas.

Pelé se levanta e pede a palavra.

Pelé: – Eu senti que era grave depois que eu chutei a bola. Não sei se quem esteve lá se lembra, eu bati de esquerda, a bola bateu na trave e quando quis acompanhar a jogada, eu senti que a perna bambeou. Mas eu tentei ir e aí não deu pra firmar a perna e eu caí, pois teve um desagarro muito grande no adutor. O músculo desprendeu. Ainda forcei, saí de campo pra ver se dava pra voltar, mas não deu.

João Sem Medo: – E talvez tenha agravado a sua lesão, Pelé. O Brasil ficou praticamente com um jogador a menos até o fim.

Pelé: – É, João. Nesse jogo teve um fato bonito. Tem uma hora que eu já estou machucado e estou com a bola mais ou menos na lateral, acho que foi o Masopust, não sei qual jogador da Tchecoslováquia que ele para e não dá o combate, ele espera eu fazer a jogada.   

João Sem Medo: – Talvez tenha sido a primeira vez que presenciei dois times satisfeitos com um resultado, contentando-se com o empate em branco, sem que ninguém possa afirmar que o jogo tivesse sido marmelada.

Pelé concorda com a cabeça e se senta novamente, enquanto o papo continua à mesa principal.

Idiota da Objetividade: – Mas o Brasil pôs duas bolas na trave…

João Sem Medo: – A verdade é que aquele jogo teve o grande mérito de mostrar a personalidade do quadro brasileiro. Mesmo sem uma peça-chave, como Pelé, nossos jogadores nunca se perturbaram. E nisso tudo é justo que se destaque a categoria, a frieza, a inteligência, inconfundíveis do extraordinário Didi. Os tchecos também não se empolgaram com a vantagem numérica, entraram em campo para obter a classificação. Jogaram como se fosse 11 contra 11. Não fosse isso e nos teríamos estrepado de verde e amarelo. Vavá, embora lutasse muito, foi mal outra vez.

Ceguinho Torcedor: – E Amarildo não ia entrar, em hipótese nenhuma. Com suicida teimosia, o Aymoré estava disposto a deixar o Amarildo na cerca. Não percebia que o craque alvinegro é possesso e que o ataque precisava de possessos. E, súbito, a Fatalidade põe o dedo no escrete do Brasil. Pelé, o Divino, sofre a distensão mágica. Não recebeu nem um leve, imponderável toque. E caiu. Caiu como e por quê? Ninguém soube, mas eu sim: – a Fatalidade de Perez Escrich, que reabilitava e promovia suas adúlteras invocando a Fatalidade. A distensão de Pelé foi como a Revolução Francesa para Napoleão.

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Um gol desse não se perde!

AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1994

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1994, os arquirrivais Corínthians e Palmeiras chegaram às finais do Campeonato Brasileiro daquele ano.

O Corinthians conseguiu a vaga nas finais ao suplantar o Atlético Mineiro nas semifinais.

O Palmeiras conseguiu a vaga nas finais ao suplantar o Guarani nas semifinais.

O primeiro jogo das finais foi realizado no Estádio do Pacaembu, com mando de campo para o Palmeiras.

No primeiro tempo, Rivaldo fez 1 x 0 para o Palmeiras.

No segundo tempo, novamente Rivaldo fez 2 x 0 para o Palmeiras, Edmundo fez 3 x 0 para o Palmeiras e Marques “descontou” para o Corinthians, decretando o placar final de 3 x 1.

O segundo jogo das finais também foi realizado no Estádio do Pacaembu, com mando de campo para o Corinthians.

Marques fez 1 x 0 para o Corinthians no primeiro tempo, mas Rivaldo empatou em 1 x 1 para o Palmeiras no segundo tempo.

Assim, o “Verdão” conquistou o seu quarto título de campeão brasileiro desde 1971.

SEGURE O TCHAN! AMARRE O TCHAN!

por Zé Roberto Padilha

Em meio à falta de imaginação que tem rondado o meio campo da nossa seleção, tão discretos que não consigo lembrar quem jogou por ali no Catar, dois craques roubaram a cena esta semana no estadual. E nos deram muitas esperanças.

André e Igor Jesus jogaram muito. André entrou no segundo tempo, contra o Madureira, e deu um show de colocação. Sua noção de cobertura e seus passes certeiros dão ao meio campo tricolor posse de bola e segurança.

Igor Jesus, jogando ao lado do habilidoso meio campo uruguaio, mostrou personalidade, técnica e velocidade. Teve uma atuação impecável contra o Boavista. Há muito não se via alguém transitar por ali com tantos recursos.

O que o futebol brasileiro precisa é reter em seu território suas preciosas revelações. Não permitir que sofram o processo de enquadramento tático e limitações técnicas que os chips de Guardiola e seus seguidores implantaram na cabeça dos seus jogadores.

Fernandinho, Casemiro, João Gomes e Cia. chegaram gastando a bola. E logo seus dribles e arrancadas foram contidos em dois toques. Limitadas em Tic Tacs e com uma obsessiva prioridade na marcação que anestesiaram todo o arsenal técnico com que chegaram.

Pensem em 1970, Gerson e Rivelino sendo vendidos para a Europa antes da Copa do México. E caírem nas mãos dos limitadores técnicos e das bolas alçadas sobre a grande área. Voltariam Guiñazu. Com todo o respeito.

Em nome da classificação para a Copa do Mundo, fundamental seria manter esses dois meninos livres, leves e soltos pelos campos do país. Dar a eles a braçadeira de embaixadores do resgate da emocionante cumplicidade que havia entre jogadores e torcedores.

Que continuem falando português, desfilando na Mangueira, passando o fim de semana em Búzios para jamais terem vergonha de dar um elástico. Jamais perderem a ousadia de colocar a bola entre as canetas adversárias e fazer o Brasil amar de novo e ter orgulho da sua seleção.

Então, segure o Tchan! Amarre o Tchan!