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FECHA AS PERNAS, CORAÇÃO

por Valdir Appel


Sérgio, Major, Valdir, Jorge Luiz, Paulo Dias e Oldair; Nado, Paulo Mata, Adilson, Almir e Bené. (ultimo Torneio início, campeonato carioca de 1967)

Almir, extraordinário jogador, notabilizado como um craque raçudo, tinha um espírito brigão – que lhe ceifou a vida numa briga de bar.

Adilson, apesar de franzino e magro, herdou do irmão a mesma disposição para encarar os adversários.

Tinha uma habilidade incrível, e seus dribles sutis eram um deleite para os torcedores vascaínos.

Garrincha era capaz de dar a mão para levantar um lateral caído aos seus pés, para driblá-lo novamente. Adilson driblava o oponente para frente e voltava-lhe a mesma bola entre as canetas com sutileza rara e precisão milimétrica que paralisavam o adversário.

Denílson, do Fluminense, era a vítima preferida do Caveirinha, como os colegas costumavam chamar Adilson. Havia um prazer quase mórbido do meia vascaíno em atrair o tricolor para enfiar-lhe a bola por entre as pernas. 

Num destes clássicos Vasco versus Fluminense, Denílson não suportou a humilhação da paralisia e o desconforto do vai-e-vem da bola por entre as pernas acrescido do alerta: “Fecha as pernas coração!” (que Adilson soprou nos seus ouvidos), e partiu para a porrada. 

Apesar da diferença descomunal de físicos, Adilson encarou o rival, envolvendo os demais jogadores numa das maiores brigas campais já presenciadas no Maracanã, que culminou com a expulsão de 17 jogadores, interrompendo o jogo aos 35 minutos do segundo tempo.

(Maracanã, 19 de novembro de 1967)

OTIMISMO EM 2021?

::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Sei que o correto é iniciar o ano transbordando de otimismo. E tenho me esforçado para isso, mas foi duro demais ver a Praia de Copacabana completamente vazia nesse réveillon. Torço para que os prefeitos eleitos cumpram suas promessas e para que essa vacina chegue logo. No caso dos cariocas, eles precisam de duas injeções, a primeira, esperada pelo mundo todo, e que enxotará esse vírus maldito de nossas vidas, e a segunda, de ânimo, pois a Cidade Maravilhosa está entregue às baratas.

Sinceramente, acredito na vacina e em um Rio de Janeiro mais feliz. Isso, se deixarmos o futebol de lado, afinal existe a seríssima possibilidade de Vasco e Botafogo caírem para a Segunda Divisão, o que seria catastrófico, humilhante, inaceitável. E como tem coisas que só acontecessem com o Botafogo vi pela classificação da Segundona que o CSA, de Rodrigo Pimpão, e o Juventude, de Bochecha, dois ex-alvinegros, podem subir. E ainda sou obrigado a ouvir gracinhas de amigos dizendo que isso é praga e que essa dupla não poderia ter sido dispensada do clube. Só faltava essa!

Como o Cruzeiro não deve subir imagina-se uma Segunda Divisão bem complicada nesse ano. Esse foi o destino de, por exemplo, América e Portuguesa, de São Paulo. Ou profissionalizam-se ou somem do mapa. Sobre a Libertadores, posso estar enganado, mas está com toda a pinta que será vencida por Boca ou River mais uma vez. Gosto muito do trabalho de Marcelo Gallardo, do River, para mim um dos melhores treinadores do mundo, assim como Guardiola, eleito o melhor do século. A escola de Guardiola é uma luz no fim do túnel, afinal ele preza por um futebol ofensivo, de toque de bola, bonito de se ver. E no Brasil conta-se nos dedos os treinadores que apostam nessa filosofia.

Aqui a cartilha seguida é a do jogo feio, mas garanto o meu emprego. Ou seja, em 2021 a vacina chegará, o corona desaparecerá do mapa, mas o vírus da retranca continuará promovendo o distanciamento social dos torcedores do estádio. Sem falar do bando de almofadinhas inventando um linguajar insuportável nas nossas caras e afastando o telespectador do futebol. Chega!

UM SHOPPING CHAMADO ANDARAHY (E AMERICA, VASCO, PORTUGUESA…)

por Paulo-Roberto Andel


Rio de Janeiro, janeiro de 2021. 

Na esquina das ruas Teodoro da Silva com Barão de São Francisco, no bairro de Vila Isabel (a conferir, ou Andaraí melhor dizendo), fica o Shopping Boulevard, uma referência comercial da região. Como qualquer shopping center, possui grandes lojas, cinemas, praças de alimentação e outros equipamentos. Agências bancárias também. 

Recebe famílias, crianças, casais, gente de várias localidades da cidade. 

Caminhando em seus corredores, talvez a única grande expressão que remeta ao futebol seja sua tradicional loja de botões, que promove campeonatos diariamente. 

Nestes tempos de pandemia, tudo é mais lento, vazio e silencioso. 

Transitando pelo Boulevard, é possível que seus frequentadores mais jovens sequer desconfiem que caminham sobre parte importante da memória do futebol brasileiro. Talvez nem os mais idosos se lembrem. Não há nada ali que identifique o caso. 

Para os que têm entre cinquenta e setenta anos de idade, pode passar a lembrança de que ali existiu o Estádio Wolney Braune, do América, vendido justamente para a construção do shopping. Mas o que poucos sabem é que bem antes do America, ali viveu uma grande praça do futebol do Rio. 

Foi a casa do Andarahy, o mesmo de Dondon, imortalizado na música de Nei Lopes. Dos tempos em que a maravilhosa Vila Isabel não puxava o bairro do Andaraí para si, melhor dizendo, que a especulação imobiliária não entortava as coisas. Naquele logradouro, o clube alviverde ergueu sua sede e estádio, que serviu para muitas partidas do Campeonato Carioca em seus primórdios. Além de mandar seus jogos, o Andarahy regulamente cedia suas instalações para partidas de outras equipes, em especial as da zona norte da cidade, tais como o próprio America e o Vasco, antes da imponente inauguração do Estádio de São Januário no ano de 1927. 

O Andarahy não resistiu ao futebol profissional. Jogou o Campeonato Carioca de 1913 a 1937. Depois disso, numa situação ruidosa, a querida Portuguesa – que hoje é um símbolo da Ilha do Governador, mas não nasceu lá – arrendou as instalações do clube e permaneceu na casa por duas décadas. Depois, com a saída – também ruidosa – da Lusa, o America adquiriu o patrimônio no ano de 1961, inaugurando o Estádio Wolney Braune – uma referência rubra – em 1996, permanecendo lá até 1993, quando foi concretizada a venda para a construção do shopping. Em 1973, o que havia sobrado do Andarahy na região desapareceu de vez. Felizmente o clube já foi registrado em livros e em breve ganhará um outro, do escritor Kleber Monteiro.


Não há uma vírgula visível dessa história para as milhares de pessoas que frequentam o shopping diariamente, ou um pouco menos nestes tempos de pandemia. Muita gente sequer desconfia que antigamente a rua lateral não se chamava Barão de São Francisco e sim Prefeito Serzedelo Corrêa. Que ali por muitos e muitos anos pulsou uma parte importante do futebol carioca, que envolveu vitórias, derrotas, dramas, nomes e, por isso mesmo, faz parte da história, uma história bela e que precisa ser resgatada o quanto antes.

O Shopping Boulevard fica bem em cima de um lindo capítulo do começo e firmamento do futebol carioca mas, justiça seja feita, está longe de ser o único cemitério involuntário da memória. Quando o bom e velho football se espalhou pelo então Distrito Federal, campos e mais campos de todos os tipos surgiram pela cidade, assim como times que muita gente nunca ouviu falar. São muitas histórias deste esporte apaixonante que precisam ser contadas. 

Cem anos passam rápido demais. Falando nisso, e dos queridos times sobreviventes e centenários do Rio, o que podemos esperar? O que vai acontecer para que consigam sobreviver 200 anos? 

@pauloandel

UMA SELEÇÃO DE TODOS OS TEMPOS DE VERDADE

por Luis Filipe Chateaubriand


Recentemente, a revista France Football escalou a sua seleção mundial de todos os tempos: Yashin, Cafu, Matheus, Beckeunbauer e Maldini; Xavi, Maradona e Pelé; Cristiano Ronaldo, Ronaldo e Messi.

Trata-se de uma piada!

De mau gosto!

Cafu? Matheus? Xavi?

Ora, me poupem!

Posto isso, vamos a uma seleção de todos os tempos de verdade.

No gol, Yashin, com todas suas inovações técnicas, como se jogar aos pés dos atacantes, subir em bolas cruzadas e excelente elasticidade e colocação.

Na lateral direita, Carlos Alberto, técnica pura, físico privilegiado, capacidade tanto de apoio como de marcação.

Na zaga central, Franco Baresi, jogo de cabeça em pé, capacidade de antecipação aos atacantes fantástica, eficiência máxima no desarme.

Na quarta zaga, Paolo Maldini, agilidade fora do comum, percepção perfeita dos movimentos dos adversários, liderança ímpar.

Na lateral esquerda, Nílton Santon, que dispensa maiores comentários porque ninguém é chamado de “enciclopédia do futebol” à toa.

De primeiro volante, Franz Beckenbauer, a altivez em forma de jogador de futebol, com toda sua arte em ludibriar adversários.


De segundo volante, Zinedine Zidane, uma classe absoluta, passes precisos, domínio de bola pleno, capacidade de botar o adversário na roda.

Ainda no meio de campo, Dom Diego Armando Maradona, o gênio da canhota, aquele que foi o maior jogador do futebol nos últimos 40 anos.

 Para completar o meio de campo, Cruiff, conjugação perfeita de corpo e mente jogando futebol.

O primeiro atacante é Manoel dos Santos, o Mané Garrincha, o maior artista da bola e fenômeno de verdade!

O segundo atacante é Édson Arantes do Nascimento, o Pelé, o maior de todos!

Agora, comenta aí comigo: não é muito melhor que a da France Football?

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

O DIA EM QUE CAJU ZANGOU COM A GENTE

por Zé Roberto Padilha


O PSG, tendo Johan Cruijff como atração como seu camisa 10 para potencializar o quadrangular, Fluminense, Atlético de Madrid e Porto foram os convidados para disputar o Torneio de Paris. Em 1975.

No intervalo, eu e Carlos Alberto Pintinho, que estávamos no banco, atravessamos correndo o Parc des Princes em busca do autógrafo daquele que era considerado o maior jogador em atividade no planeta.

Um ano antes, sua Laranja Mecânica revolucionara o futebol e ele, Cruyff, era o capitão da Holanda. E fez um dos gols que eliminara a nossa seleção por 2×0.

Paulo Cézar Caju viu o nosso pique, o autográfo concedido e, na volta, não nos poupou diante do elenco. O termo mais simples que usou foi “seus juvenis” e o mais pesado “cabaçudos”. 

Segundo Caju, ele que deveria atravessar o campo e buscar o nosso autógrafo, especialmente dele e de Rivelino que foram tricampeões mundiais. 

45 anos depois, com a flâmula intacta e o autógrafo quase desaparecido, acho que todos estavam certos: PC por valorizar o futebol brasileiro, os juvenis cabaçudos por buscar uma lembrança do maior do mundo, e o Cruijff por jogar uma barbaridade naquela tarde e nos derrotar.

Fomos disputar o terceiro lugar e a flâmula autografada ganhou um brilho especial na estante porque o PSG ganhou o torneio. 

Quanto vale? No meu tempo tinha um leiloeiro, Ernâni, que resolvia. Será que ainda tem? Hoje, o juvenil cabaçudo tem 4 filhos, 4 netos e uma beirada pro Leite Ninho sempre ajuda. 

Quanto ao Pintinho…pode responder de Sevilha.