FOTOGRAFIA E AVENTURA
por Wendell Pivetta
Oito de janeiro é considerado o Dia do Fotógrafo no Brasil. A data marca a chegada da primeira câmera fotográfica no Brasil, em 1840. No entanto, há algumas controvérsias sobre o dia exato, sendo que alguns consideram o dia 7 ou mesmo 16 de janeiro.
Independente do dia, gostaria de parabenizar a todos os profissionais das lentes, e incorporar no enredo, uma sessão de fotos em um dia de sufoco na cidade de Cruz Alta, Rio Grande do Sul. Naquele domingo, estava previsto, e assim acontecendo, a rodada da fase de grupos do Citadino de Futebol de Campo da categoria livre promovido pela Secretaria de Esportes e Lazer de Cruz Alta. Eu estava morando na cidade e atuando como assessor de comunicação. Costumeiramente coloquei em minha rotina ir até a beira do campo ou de quadra fotografar os eventos para promover o trabalho da secretaria, e assim sendo, naquele domingo, encarei uma rodada em um calor de incríveis 40 graus.
O termômetro até marcava 35 graus, porém nos dias de estiagem unidos à brisa do vento quente, a sensação estava na casa dos 40 graus. Antes da bola rolar, cheguei ao estádio do Morro dos Ventos Uivantes, e na casa das 13h45 o jogo iniciava, com o fotógrafo buscando uma sombra na beira do gramado, a qual, não existia. A cancha de futebol estava realmente escaldante, os jogadores se poupavam em lances de contato para não cair na grama seca que lance a lance era tapada pela areia. Sem intenção, os atletas troteavam atrás da bola e as travas das chuteiras iam amassando a grama faminta por água. Tal líquido era esbanjado pelas garrafas hidratando constantemente os atletas, com exceção do fotógrafo que assistia as cenas, porém não descuidou do posto. Me posicionei em uma técnica de ficar apenas em um lado do campo, aguardando os melhores ataques, já que as fotos tinham de ser neutras, sem favorecer alguma equipe em exclusivo, onde tivesse mais ação eu seguia. Curiosamente uma das equipes foi com apenas 9 atletas e a outra com um plantel completo. Logo me posicionei a favor da melhor equipe.
O lado de ataque do primeiro tempo da melhor equipe realmente contou com muitos lances de ataque, porém a sombra não estava presente, o sol estava se posicionando no horizonte e ainda estava um calor escaldante. A sensação de fotografar carregando mochila nas costas e usar um equipamento estava de derreter as ideias, mas as fotos estavam acontecendo naturalmente. Coube neste momento pensar e homenagear os fotógrafos que muitas vezes passam por situações inusitadas para fazer a arte do click. Ainda no segundo tempo virou o lado dos adversários e peguei uma sombrinha, sem me aguentar mais em pé, sentei de baixo de uma sombra próxima a uma antiga torre de rádio. Lá uma laranjeira me presenteou com um momento de frescor, e assim consegui executar uma bela sessão de fotos, já que o time com 9 atletas começou a cansar mais, e sofrer ainda mais ataques do adversário.
Ao decorrer do jogo ainda deu tempo dos quero-quero, pássaros tradicionais do Rio Grande do Sul, aparecerem na beira do campo, e próximo a mim queriam tomar o território deles. Fui convidado a me retirar pela ave, já que ela tem ferrão e costuma atacar as pessoas com seus rasantes. Coisas do futebol gaúcho. Antes do ataque deles, deu tempo de registrar um belíssimo ângulo de um gol exatamente no ângulo, com o perdão da redundância
O TIME IDEAL PARA A COPA DO MUNDO DE 1978
por Luis Filipe Chateaubriand
Na Copa do Mundo de 1978, na Argentina, o revolucionário técnico da Seleção Brasileira Cláudio Coutinho, excelente treinador, cometeu erros relevantes, possivelmente por inexperiência, já que era novato como técnico.
Um de seus maiores erros foi a escalação do time. Seu time titular não inspirava confiança.
O time titular de Cláudio Coutinho foi: Leão; Toninho (Nelinho), Oscar, Amaral e Edinho (Rodrigues Neto); Batista, Toninho Cerezo (Chicão) e Zico (Jorge Mendonça); Gil, Reinaldo (Roberto Dinamite) e Dirceu. Rivelino, contundido, estava fora de combate.
Melhor Coutinho teria feito se escalasse o seguinte time: Leão; Toninho, Oscar, Amaral e Junior; Carpegiani, Toninho Cerezo e Falcão; Zico, Reinaldo e Dirceu.
Coutinho sequer levou Junior e Carpegiani para a Copa. Por também ser técnico do Flamengo, possivelmente temeu ser acusado de favorecer o clube. Não podia deixar os dois grandes jogadores de fora.
Coutinho barrou Zico e Reinaldo, um crime de lesa pátria ao bom futebol.
Principalmente, Coutinho sequer convocou Falcão, um disparate que chega a ser inacreditável.
Coutinho preferiu escalar os pouco mais que esforçados Batista e Rodrigues Neto, o maldoso Chicão, o ultrapassado taticamente Gil e Jorge Mendonça e Roberto Dinamite – excelentes opções de banco, mas abaixo de Zico e Reinaldo.
Ah, Coutinho! Você era tão brilhante… o que te passou pela cabeça?
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
ONDA RETRÔ: VENDA DE CAMISAS DE TIMES EXTINTOS VIRA FEBRE NO RIO
Bairros históricos do Rio são revividos através de ilustres representantes de um glorioso passado esportivo
Por André Luiz Pereira Nunes
É fato que mais de uma dezena de empresas vêm produzindo camisas comemorativas de times brasileiros e europeus. Hoje um aficionado pelo Flamengo, de 1981, ou pelo America, de 1974, pode facilmente encomendar exemplares desses anos. Sabe-se que a paixão futebolística não tem limites, mas era difícil imaginar que essa fronteira seria transposta para clubes extintos, alguns até nem tão conhecidos.
O agitador cultural e professor de geografia, Pedro Henrique Gomes, 37 anos, morador do Méier, é um dos idealizadores da iniciativa. Há cerca de 12 anos, possui um projeto de incentivo à leitura, além do forte engajamento em atividades culturais e educativas, sobretudo nas ruas.
– Ao longo da adolescência, quando visitava um grande amigo, obrigatoriamente passava pela Rua Monsenhor Jerônimo, 135, sede do Engenho de Dentro Atlético Clube. Com os colegas de faculdade jogava bola na quadra. Mas sempre me perguntava sobre o que representava aquela agremiação. Ao pesquisar a respeito, me aparecia algo curioso: era o “Terror do Futebol Suburbano”. Infelizmente o time não mais existe, restando apenas uma modesta sede social. Foi daí que nasceu a ideia da produção da fanzine “Grande Méier FC – Os Fantasmas Azuis do Engenho de Dentro! – revela.
Além do incessante levantamento histórico, Pedro, não satisfeito, ainda passou a tentar reviver o fardamento dessas equipes, tendo todo o cuidado de levantar cores e modelos na tentativa de ressuscitar os uniformes.
– A partir de informações levantadas na internet, procurei uma empresa que fabrica camisas retrô e consegui que fossem produzidos os modelos de três agremiações históricas do Grande Méier: Metropolitano Athletico Club, Japoema Football Club e, obviamente, o Engenho de Dentro Atlético Clube (foto). Também disponho de um exemplar do saudoso Andaraí Atlético Clube (foto), o time de Dondon, imortalizado no samba de Nei Lopes, o qual também deu origem a outra fanzine de minha autoria! – ressalta.
O próprio Engenho de Dentro, em seu Instagram, promove no momento uma campanha junto a torcedores e simpatizantes para fabricar o modelo tradicional de sua camisa, notabilizada por listras verticais azuis em fundo branco. Em 2012, um exemplar referente ao centenário da agremiação chegou a ser produzido e comercializado com sucesso.
O empresário Renato Oliveira, 39 anos, é outro entusiasta da iniciativa. Ele é fundador e proprietário da Otaner, uma confecção existente desde novembro de 2017, a qual disponibiliza produtos na loja Botão FC, localizada no Shopping Boulevard, outrora praça esportiva do Andaraí e, posteriormente, do America. Inicialmente Renato se dedicava apenas à produção de estampas de jogos de futebol de botão. Hoje, não só detém licença para comercializar camisas do America, como ainda visa a fabricar camisas de times inativos. A do Andaraí (foto) já é encontrada em seu negócio. Na lista de pedidos se encontram nomes como Confiança, Vila Isabel, ADN de Niterói, SC Brasil, Magno, Mavílis, Modesto, Mackenzie, Valim, Irajá, Ríver, Mangueira, Riachuelo, Ramos, Catete, Fidalgo e muitos outros.
A maioria dessas agremiações desapareceu por causa de dificuldades financeiras, estruturais ou devido ao advento do profissionalismo no futebol carioca. Algumas ainda mantêm sedes sociais, mas uma grande parte estaria realmente fadada ao esquecimento completo se não fosse a sanha de grandes historiadores e pesquisadores como o saudoso Raymundo Quadros e o intrépido Sérgio Mello, 51 anos, este último, com passagens pelo Jornal dos Sports e Record TV. Graças a esses baluartes, a memória do futebol carioca estará plenamente assegurada, servindo ainda de inspiração para esse tão saudável e benéfico “revival” de camisas.
O PORTUGUÊS QUE NÓS AMAMOS E SONHO VERDE NA NOITE EM AVELLANEDA
por Marcelo Mendez
“Sinto o canto da noite na boca do vento…”
Sonho Meu, de Dona Ivone Lara, não existia nas mentes e corações Palmeirenses antes do apito inicial da partida do Palmeiras contra o River Plate, mas ecoou forte em Avellaneda após o término de uma das maiores partidas da história do clube em Libertadores da América.
Ontem o que se viu foi um passeio, uma amassada com um 3×0 impiedoso do time de Parque Antártica em cima do nariz em pé do favoritismo portenho na primeira partida da semifinal da competição. Muitas coisas poderiam explicar tudo que houve, o que construiu essa vantagem.
Tem a opção de não ter um volantão à brasileira, parado na frente da defesa dando chutão e rifando bola o tempo todo. A coragem de montar um meio campo de meninos como Patrick, Menino e Danilo. A postura de um time que jogou de acordo com a grandeza de seus 106 anos sem ficar com medo do jogo e encarando de igual o River Plate. A crônica poderia discorrer calmamente sobre qualquer um desses tópicos, mas eles seriam apenas recortes. Porque o principal de tudo está no banco de reservas.
Abel Ferreira é o nome do homem.
Ele chegou há dois meses cheio de desconfiança, num Clube esfacelado, sem muita perspectiva de nada e mudou completamente o panorama das coisas no Palmeiras. Identificou as necessidades, as possibilidades de trabalho, juntou sua equipe, chamou os jogadores e disse “Eu trabalho assim”. E assim mostrou o que ia ser feito, de maneira franca, direta, ganhando a confiança dos jogadores e por isso a ideia foi comprada.
Qualquer treinador Brasileiro, na situação que o Palmeiras estava ontem, trancaria seu time, ficaria quieto lá atrás, bundamolemente dando a bola para o River Plate jogar, mas não o Abel; Ele propôs aos seus comandados jogar o futebol, atacar o River Plate, amassar um time que há seis anos manda no continente e fazer valer a premissa de que o alviverde é um clube grande demais para ter medo. Lógico que ainda temos a partida da volta semana que vem, mas fica a lição.
Em detrimento ao medo, o futebol. Dessa forma, o Sonho que é meu, será de todos nós
PAOLO ROSSI, FORJADO PARA VENCER
por Serginho 5Bocas
Paolo Rossi foi no mínimo diferente, digamos que um jogador abençoado ou então me diga se você já viu um jogador ser convocado para uma Copa do Mundo vindo de grandes atuações na segunda divisão de seu País? Ele foi. Bearzort apostou nele durante toda a sua carreira e sempre o levou para a Copa do Mundo, contrariando a tudo e a todos.
Começou a carreira cedo e muito cedo, perdeu os seus meniscos, a proteção dos joelhos. O atraso da medicina daquela época fez com que os médicos não lhe curassem totalmente e pior: vaticinassem que a sua carreira não passaria dos 28 anos. Ele se arrastou pelos gramados até os 31, mas em alto nível foi bem próximo ao que os doutores do bisturi previram, infelizmente.
Um cara que jogou poucos jogos e que fez poucos gols, que ficou afastado do futebol por 2 anos por problemas com a máfia da loteria italiana e que por conta de lesões nos joelhos encerrou sua carreira precocemente, fez o que fez. Temos que respeitar, certo?
Paolo não teve durante a carreira muitos títulos, nem muitas artilharias que pudessem justificar o seu tamanho, mas teve a suprema glória de ser artilheiro, campeão e melhor jogador de uma Copa do Mundo em 1982. Aliás, em Copas do Mundo foram 9 gols, é muita coisa. Devo destacar que seu jogo não era gracioso, como os brasileiros gostam de ver (ou gostavam), mas era poderoso, e apesar de poucos recursos, econômico, era preciso e decisivo no maior palco da terra.
Paolo ainda teve, a glória eterna de vencer um time mítico, como uma ave fênix que ressurge das cinzas, time que ele mesmo chamava de “marcianos”, por jogarem de memória e que segundo ele, poderiam jogar de olhos vendados. Mas nada disso o intimidou e ele fez a sua parte, com louvor.
Há os que se impressionem com as bolas de ouro que a FIFA distribui de forma infame e política e os que reconhecem o valor de cada tipo de jogador com o seu próprio jogo. Quando lembro do bambino, não tenho lembranças dele como um grande craque, feito os que que eu vi naquela época e em todas as épocas, lembro de um cara talhado e forjado para vencer as mais duras batalhas, um cara de um toque só, do oportunismo, da colocação, mas sem medo e com uma confiança estratosférica e nesse campo meu amigo, ninguém segura, ou alguém será capaz de me mostrar um DVD dos melhores lances da carreira dele, que ultrapassem dez minutos de exibição?
A Copa do Mundo é madrasta não é a mamãe, ela é um jogo bruto, um mata-mata brutal, não dá tempo de respirar, não é garantia de glória para os melhores, mas para os mais fortes ou talvez adaptáveis, numa visão análoga ao que diria Darwin. A dona Copa reservou um lugar de honra em seu camarote para Paolo Rossi e ele não se fez de rogado e lá, onde muitos sucumbiram, ele carimbou seu nome na eternidade, se tornando ao lado de Vieri e de Roberto Baggio, um dos três maiores artilheiros italianos em Copas do Mundo de todos os tempos.
A Itália possui quatro títulos mundiais, mas nenhum deles se compara ao vencido e liderado pelas atuações marcantes do “Pablito” em 1982. Paolo Rossi, para os italianos é visto como um herói, um David que derrubou um Golias, são marcas indeléveis de um título para lá de improvável, do jeito que os italianos mais gostam de saborear, com muita transpiração e pouca inspiração.
Rossi ficará para sempre numa galeria onde já habitam gente do porte de Klose, Gerd Muller, Fontaine, Kocsis, Klinsmann, Lineker, entre outros grandes artilheiros que não perdiam tempo jogando bola, precisavam fazer gols.