Escolha uma Página

CONVOQUEM OS 3 MOSQUETEIROS

por Zé Roberto Padilha


Não escrevo por mim, tricolor, mas por meu filho, Guilherme, que a Tia Vera convenceu a ser a estrela solitária de nossa família.

Quando o fez, o Botafogo era campeão brasileiro, não uma decepção brasileira. Meu filho terá outro final de semana sem o sol do Seedorf que um dia aqueceu seus sonhos. Terá pancadas e paradinhas nostálgicas durante o período em que lembrar das cobranças do Loco Abreu. Mais do que isto: não poderá sair de casa com o guarda-chuva que o protegia de qualquer tempestade adversária: o goleiro Jefferson.

Não é fácil para qualquer torcedor, como ele, acordar e ver seu time rebaixado. E perdendo em casa para o Sport, em pleno Nilton Santos. Saber quer não vai ver seu time jogar no horário nobre das quartas e domingos, e sim no horário pobre das terças, sextas e sábados, aquele mesmo que dia seguinte você não tem o hábito de perguntar ao Sandro, ao buscar seus pães na padaria: Quanto foi?

O Botafogo não foi um time. Foi uma pandemia sobre a outra, um bando que se perdeu diante da sucessão de planos táticos e físicos que, ao serem trocados em plena competição, deixou seu elenco sem saber se marcavam a saída de bola, como queria o Autuori, ou se recuavam e saiam para o contra-ataque em busca de uma bola, como queria o Barroca.

Eu disse 5 orientações dentro de um mesmo campeonato que não permitiam sequer ao maestro Junior definir seu padrão de jogo. Mesmo porque não tinham algum.

Escrevo, como pai e ex-jogador de futebol, treinador e escritor que respira futebol desde os 16 anos, para sugerir ao presidente Durcesio Mello: leve com você, para as tribunas de honra, Ricardo Rotenberg, Carlos Augusto Montenegro, Claudio Good, Manoel Renha e seu vice de futebol, Marco Agostini.

Ninguém irá sentir falta deles lá embaixo porque nenhum deles tem história para contar.

E convidem Paulo Cézar Caju, Gerson e Afonsinho para comandar o futebol.

Os três, que estão entre os maiores ídolos que o clube já revelou, vão trazer de volta a credibilidade, o carisma e os torcedores. A seguir, as orientações que receberam de outra lenda da casa, Zagallo, serão colocadas em prática. E não cometerão erros primários de planejamento porque amam o clube e conhecem o futebol como poucos.

O senhor, presidente, e esse grupo de notáveis fora do mundo da bola, não tem obrigação de conhecer o futebol. São torcedores e associados que o estatuto permite que presidam o clube. Então, que cuidem do cloro da piscina, paguem a conta de luz da sede histórica, e conservem o Estádio Nilton Santos. Mas, por favor, deixem tocar o futebol quem sabe de futebol.

Os 3 mosqueteiros, tenho certeza, vão erguer suas espadas e trazer de volta à elite esse clube tão bacana, diferenciado, supersticioso, a quem nosso país tanto deve a conquista dos primeiros títulos mundiais.

Se tem coisas que só acontecem com o Botafogo, só ele e sua rica história, serão capazes de virar essa triste página buscando soluções em quem o ama de verdade.

PRESENÇA ILUSTRE

por Luis Vargas


Criei-me na Tijuca e, felizmente, sempre fui boleiro. Lá pelo início dos anos 70 – não me recordo a data exata -, éramos um grupo de peladeiros que “descobriu” um campinho numa das entradas na subida do Alto da Boavista que era perfeito: grama ótima e duas “balizas” devidamente instaladas. Sem pensar duas vezes, nosso grupo passou a utilizar o campinho aos sábados à tarde (seis pra cada lado mais o goleiro) para jogar peladas.

Um belo dia, aparece um carro que não conhecíamos. O motorista estacionou e, quando desceu, a cabeleira loura já chamou a atenção – embora nós todos também cultivássemos as melenas tradicionais da época e da nossa geração. Não demorou muito para identificarmos a figura do Marinho, que estava numa ótima fase da carreira. Ele se aproximou do grupo, cumprimentou geral e, com a simplicidade dos grandes, perguntou se poderia “brincar” conosco. Claro que a alegria foi geral pela possibilidade de jogar uma pelada com um craque daquele naipe.

Divididos novamente os times – com a preocupação de equilibrar por causa do “reforço” do Marinho – e a pelada rolou tranquila, com ele jogando naquele ritmo que os craques usam quando jogam com amadores: só acelerava quando precisava “equilibrar” o jogo. Bola vai, bola vem, o Marinho subiu para o ataque e minha defesa rebateu uma bola – mal – que veio à feição para o jogador adversário que vinha de frente “encher o pé”. Para meu azar, o cara que vinha de frente, na corrida, era o Marinho. E o adversário que saiu para cortar o chute era eu! O craque largou o pé e só tive tempo de virar de costas. A porrada – felizmente! – veio baixa e pegou na coxa. Ardeu pra cacete e o Marinho, imediatamente, correu para mim com um pedido sincero de desculpas, estampado também no olhar. Fitei-o e respondi, sorrindo:

– Tudo bem, mas você largou o pé só porque eu sou flamenguista!

Ele riu, pediu desculpas, me deu um abraço e, claro, eu ri também e mandei o jogo seguir. Acabada a pelada, ele agradeceu e disse que não poderia ficar pois tinha um compromisso.

Cumprimentou um a um, entrou no carro, deu um tchau e foi embora. Passei a admirá-lo como pessoa depois desse dia, pois como jogador ele era excelente. Que Deus o tenha!


O CRAQUE DO BRASIL EM 1979

por Luis Filipe Chateaubriand


Paulo Roberto Falcão sempre foi um jogador diferenciado.

Elegante, postura ereta, cabeça levantada – não precisava olhar para a bola, sabia onde ela estava –, visão de jogo que lhe propiciava antever jogadas, um jogador fino, completo, raro, diamante em forma de gente.

Em 1979, estava no esplendor de sua carreira.

Conduziu seu Internacional ao título de campeão brasileiro, de forma invicta, como um comandante leva sua tropa à vitória nas sucessivas batalhas.

Os adversários foram sendo superados, um a um, com a maestria de Falcão se destacando de forma soberba, galante, incontestável.

Na semifinal, contra o Palmeiras, na casa do opositor, um recital de futebol, com direito a gol de cabeça indo até o “último andar”, gol de sem pulo incrível e uma bicicleta espetacular que não resultou em gol por poucos centímetros.

No jogo da final, contra o Vasco da Gama, em seus próprios domínios, Falcão deu o tom da atuação do time e, de quebra, marcou o gol que confirmou o título do Campeonato Brasileiro de 1979.

Não à toa, no ano seguinte, 1980, os italianos da Roma vieram buscá-lo.

Por tudo isso, dá para afirmar que o craque do Brasil em 1979 foi Paulo Roberto Falcão!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

ADEUS, AMIGO

por Zé Roberto Padilha


Sei que nessa hora você está nos ouvindo. Porque falo enquanto escrevo e você esta escutando na subida. Que bom ainda ter tempo de dizer do carinho que eu e meu irmão, Flavio, temos por você.

Chegamos os dois para defender o Santa Cruz, em 1977, e quem nos recebeu com o maior gentileza e consideração? Quem nos levou a conhecer a Feirinha de Olinda? Nos apresentar aos jangadeiros para trazer peixe fresco todas as tardes?

Joel Mendes, Carlos Alberto Barbosa, você, Levir Culpi e Pedrinho; Givanildo, Wilson Carrasco, Betinho e eu: Luiz Fumanchu e Nunes. Tecnicos: Joubert Meira e Evaristo de Macedo. Que time, quarto colocado no Brasileirão de 78.

Flavio tinha idade de juniores e jogava nas preliminares. Assim passamos ele, um, eu, dois anos maravilhosos das nossas vidas conhecendo um povo amigo, uma torcida apaixonada como a do Santinha e um lugar privilegiado chamado Recife. E um cicerone do tamanho da sua estatura e gentileza.


Claro que nunca mais nos vimos. O futebol faz isso com a gente, nos devolve para nossas origens e nunca mais o respeito e a consideração de quem nos contratou pensou em nos reunir.

Uma pequena festa, uma medalhinha, um jogo beneficente. Nada. Azar o nosso de nunca mais o ver nem que fosse para agradecer ter lhe conhecido.

Enfim, descanse em paz amigo. Poucos foram tão corretos e amigos nesta longa e tortuosa jornada chamada futebol como você, Lulão. E isto não tem preço, tem saudades.

PERDEMOS O PRESTÍGIO

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


A eliminação do Palmeiras só foi novidade para os comentaristas clubistas que torcem ao invés de analisar. A final da Libertadores, uma das piores de todos os tempos, evidenciou um time covarde, apagado e que só venceu por conta de um erro individual. Mas essa estratégia medonha de jogar por uma bola nem sempre dá certo e dessa forma o elenco milionário do Palmeiras perdeu para o Tigres, que não está nem entre os quatro primeiros colocados do campeonato mexicano.

Foi a vitória da escolinha do Neca, lendário professor do Botafogo, que lançou muitos craques, entre eles Carlos Roberto, Nei Conceição e os irmãos Ferretti, Victor, Bruno e Tuca, técnico do Tigres. A verdade é que o Brasil vem perdendo espaço, prestígio, no cenário mundial do futebol. Uma prova contundente disso foi a compra do atacante Brenner pelo FC Cincinnati, dos Estados Unidos. Quando apenas a Europa levava nossos talentos considerávamos isso algo inevitável, mas a partir do momento em que mercados secundários fazem abordagens agressivas só vai sobrar o bagaço da laranja.

Já, já Austrália, Nova Zelândia e Islândia baterão à nossa porta. Dessa forma, o nível de nossos campeonatos será esse que estamos acompanhando. Até o Flamengo que vinha embalado Rogério Ceni conseguiu frear. A queda do Botafogo me deixou realmente assustado porque o time em nenhum momento pareceu estar jogando para escapar do rebaixamento. Certamente o pior grupo da história do clube e mesmo assim alguns “atletas” chegavam atrasados no treino e outros andavam em campo.

Em determinado momento da partida, o Botafogo precisando empatar, um alvinegro cai querendo atendimento médico. Não joga nada e quer massagem!!! Meu Deus, nessa hora é para comer grama, jogar de muleta e vai cair por causa de câimbra!!! Essas pessoas não podem passar pelo portão de General Severiano!!! Foi arrastado por dois parceiros porque não existe mais o maqueiro Mike Tyson, foi arrastado como o nosso futebol vem sendo há anos, tratado como entulho, jogado para escanteio. E, olha, se Mike Tyson ainda estivesse em atividade talvez se negasse a entrar em campo, pedisse substituição, se sentasse à beira do campo e chorasse conosco com saudade do que já fomos.