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NAMING RIGHTS NO BRASIL

por Idel Halfen

Com base no estudo realizado pela Jambo Sport Business sobre naming rights, constatamos que esse mercado no Brasil é bastante embrionário, ainda que tenha começado a dar sinais de avanço e passado a ser contemplado como opção de investimento para algumas marcas. Vemos, por exemplo, que 96,6% das arenas usadas na NBA ostentam naming rights, ao passo que apenas 31,6% dos estádios utilizados no campeonato brasileiro de futebol da série A trazem o nome de alguma marca.

Fazendo um histórico dos naming rights no Brasil, temos que o primeiro registro desse tipo de operação data de 1999, quando foi inaugurada a casa de espetáculos Credicard Hall na capital paulista, hoje Vibra São Paulo. Já no esporte, o pioneirismo cabe à Arena da Baixada que, de 2005 até 2008, foi denominada de Kyocera Arena, rendendo ao seu dono, o Athletico Paranaense, R$ 1,5 milhão/ano, segundo noticiário. 

Se no âmbito das casas de espetáculos esse tipo de iniciativa teve alguma evolução no início, o mesmo demorou a acontecer com os estádios. 

Na verdade, o período pré-Copa até trouxe alguma esperança de aquecimento. Em 2013, tivemos a Allianz adquirindo os naming rights do estádio do Palmeiras, e a cervejaria Itaipava os das arenas Fonte Nova em Salvador e Pernambuco em Recife – esse último foi rescindido em três anos. Depois desse movimento aparentemente “promissor”, nada mais aconteceu até 2017, quando a construtora MRV comprou os direitos para nomear a Arena do Atlético MG, ainda em construção na época.

Passados seis anos da Copa do Mundo no Brasil, o Corinthians, enfim, concretizou a negociação com a Hypera Pharma para que a arena passasse a ter o nome Neo Química. Tempo ainda maior demorou o estádio Mané Garrincha em Brasília, que apenas em 2022 teve esse direito vendido ao BRB, banco estatal.

A partir de 2023, é possível ver uma sequência interessante desse tipo de operação: a Arena da Baixada passou a se chamar Ligga Arena, o Morumbi de MorumBis, a Fonte Nova de Casa de Apostas Arena Fonte Nova – substituindo a Itaipava, após término do contrato – e o Pacaembu de Mercado Livre Arena Pacaembu.

Inferir que o mercado brasileiro está evoluindo em relação a esse tipo de propriedade não seria nenhum absurdo, vide o crescimento no número de transações. Todavia, os números ainda estão abaixo do mercado norte-americano, o que deve ser creditado a inúmeros fatores, inclusive à conjuntura econômica.

Outro ponto que vale ser observado na comparação com os EUA é a diversificação dos ramos de atividades das empresas que adquirem o direito, pois, ainda que a amostra aqui seja pequena, não se vê nenhuma concentração de categoria – são oito arenas e sete setores diferentes. 

Essa característica parece indicar que as marcas que optam por esse tipo de investimento ainda não estão devidamente cientes dos benefícios da iniciativa. 

Interessante também notar que no Brasil, ao contrário dos EUA, as comunidades/torcedores têm pouca influência nesse processo, o que é absolutamente normal em um mercado no qual a oferta de propriedades é maior do que a demanda por elas. Vale citar, a título de ilustrar o poder da sociedade, o caso do MetLife Stadium que, antes de receber esse nome, teve a proposta da Allianz rejeitada por pressão da comunidade judaica devido aos supostos laços entre a empresa e a Alemanha Nazista no período da 2ª guerra mundial.

Concluindo, enquanto o Brasil ainda “engatinha” no que tange às operações de naming rights, vemos os EUA bastante maduro, o que deve ser encarado como um bom benchmarking, enfatizando que não se preconiza aqui a imitação, visto haver uma série de diferenças econômicas e culturais – entre as quais a relação forte com os times da cidade -, entretanto, a sua utilização como referência é bastante salutar.

O estudo que deu origem ao artigo pode ser acessado através do linkhttps://www.linkedin.com/posts/halfen_arenas-e-naming-rights-nos-eua-2024-activity-7177949073218433025-bTf3?utm_source=share&utm_medium=member_desktop&lipi=urn%3Ali%3Apage%3Ad_flagship3_pulse_read%3Bsuazcf6UQliLIlXOAGaAdA%3D%3D

PELADA, RESENHA E CERVEJA

por Elso Venâncio

Um dos mais antigos grupos de pelada do Rio é o GPSO (Grupo de Pelada Seis de Outubro). Esse time tem como lema três tópicos: esporte, lazer e amizade. Seu nome remete ao dia da fundação. Já são 50 anos, meio século de história.

A bola rola todo sábado à tarde, no Club ASBAC, na Cidade Nova. Como em todas as peladas, após o término das partidas vem a resenha, regada a churrasco e cerveja gelada.

Alguém fala sobre os amistosos da seleção na Europa, contra Inglaterra e Espanha. Alguns preferem não comentar. Outros perderam o interesse por acompanhar os jogos do Brasil. De repente, surge o nome Neymar. Claudinho, um peladeiro careca e barrigudo, opina:

“Melhoramos sem ele!”

Bigode, um exímio contador de histórias, rebate:

“Não fala mal do nosso único fora de série!”

A maioria dos peladeiros tem apelido. Paulino Rodrigues, o ‘Borboleta’, acabou de apitar e, mal-humorado, não só reclama como recusa o cachê:

“Eu não preciso dessa merreca.”

Paulino Rodrigues, Jorge Emiliano ‘Margarida’ e Walter Senra ‘Bianca’, foram os primeiros árbitros que se assumiram como homossexuais no futebol brasileiro. Com profissionalismo, o trio superou preconceitos e ganhou respeito, passando a ser atração nos jogos. Desmunhecavam, rebolavam e corriam feito gazelas em campo. Vale dizer que nas peladas é normal o juíz, quase sempre veterano e ex-FFerj (Federação de futebol do Estado do RJ), receber cachê, assim como os goleiros.

Surge o papo sobre os batedores de falta: Zico, Marcelinho Carioca, Nelinho, Pelé, Rivellino…

Marcelinho ainda estava no juvenil e ficava observando Zico treinar. Ainda apanhava as bolas atrás do gol. Zico era preciso nas faltas próximas à área. Marcelinho batia de várias formas e de qualquer distância. De peito de pé, três dedos, forte ou colocado. Zico ou Marcelinho? O rubro-negro Juninho, um dos líderes do grupo, reage:

“Tira o Zico da discussão.”

“Saudades do Marinho Bruxa…” – pensa alto o advogado botafoguense Gentil Aires. Marinho participava das peladas, mas como o joelho incomodava passou a apitar. De vez em quando, aparecem outros ídolos, como Jairzinho, Paulo Cézar Caju, Carlos Roberto, Afonsinho e Carlos Alberto Pintinho.

Norberto, o ‘Seu Nonô’, de 81 anos, com a bandeira do time

Impressionante ver o canhoto Norberto, 81 anos comemorados no último domingo, ex-craque do futsal do Fluminense, jogando com tamanha desenvoltura. Beto Gamarra, que formou zaga com o saudoso Figueiredo na base do Flamengo, defende a renovação do grupo. O Estatuto permite a aprovação de peladeiros a partir dos 37 anos de idade. O Presidente e tesoureiro Sinomar Muniz, o ‘Jacaré’, revela, orgulhoso:

“Nunca, em 50 anos, essa pelada deixou de ter quórum.”

AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1998

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1998, coube a Corinthians e Cruzeiro disputarem as finais do Campeonato Brasileiro.

O Corinthians eliminou o Santos o Santos em uma das semifinais.

Na outra das semifinais, o Cruzeiro eliminou a Portuguesa de Desportos.

O primeiro jogo das finais foi disputado no Mineirão, em Belo Horizonte, com mando de campo do Cruzeiro.

Müller e Valdo marcaram para o Cruzeiro no primeiro tempo, mas Dinei e Marcelinho Carioca marcaram para o Corinthians no segundo tempo – um empate em 2 x 2.

O segundo jogo das finais foi disputado no Morumbi, em São Paulo, com mando de campo para o Corinthians.

Marcelinho Carioca marcou para o Corinthians primeiro, mas Marcelo Ramos marcou para o Cruzeiro logo depois, ambos os gols no segundo tempo – um empate de 1 x 1.

O terceiro jogo das finais foi disputado no Morumbi, em São Paulo, com mando de campo para o Corinthians.

Edílson e Marcelinho Carioca marcaram para o Corínthians no segundo tempo – vitória do Alvinegro por 2 x 0.

Pela segunda vez, o “Timão” era campeão do Brasil!

“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 55

por Eduardo Lamas Neiva

Após a apresentação de Teixeirinha e Mary Terezinha, a semifinal da Copa de 62, entre Brasil e Chile, voltou à mesa de debates.

Ceguinho Torcedor: – Garrincha foi mais uma vez a figura do jogo, a maior figura da Copa do Mundo, e naquele momento a maior figura do futebol brasileiro desde Pedro Álvares Cabral. Quando eu dizia que Garrincha era varado de luz como um santo de vitral, os idiotas da objetividade torciam o nariz.

Idiota da Objetividade: – Eu não, eu não. Só me atenho aos fatos.

Ceguinho Torcedor: – Se desminto os fatos, pior pros fatos. Mas faltava a Garrincha um toque de martírio. O lívido, o gelado árbitro o expulsou com a hedionda conivência do bandeirinha uruguaio Esteban Marino. Amigos, como é linda a vitória roubada.

Garçom: – Há quem ache que é melhor ganhar roubado.

O povo do bar iniciou um burburinho, por causa da afirmação de Zé Ary, logo cortado pelo Ceguinho Torcedor, que não deixou a bola sair de seu domínio.

Ceguinho Torcedor: – O juiz gatuno deu ao nosso feito uma dimensão mais comovida e mais deslumbrante. Com essa vitória do homem genial do Brasil fomos à final. E com Garrincha.

Garçom: – Seu Ceguinho e amigos, nosso grande Mané Garrincha, que ali se encontra pra nossa honra, foi homenageado musicalmente das mais diversas formas, como já demonstramos aqui neste palco.

João Sem Medo: – Merecidamente!

Garçom: – Sem dúvida alguma, seu João. Mas, além da música, também no cinema. Teve o documentário “Garrincha, alegria do povo”, do diretor Joaquim Pedro de Andrade, nos anos 60, e “Garrincha, Estrela Solitária”, de 2005, dirigido por Milton Alencar e baseado no livro “Estrela Solitária – um brasileiro chamado Garrincha”, de Ruy Castro. A trilha sonora deste filme foi composta e executada pelo saxofonista Leo Gandelman.

Ceguinho Torcedor: – Zé Ary, você incorporou o Idiota da Objetividade?

Todos riem.

Garçom: – É, seu Ceguinho, acho que sim, com todo respeito ao seu Idiota. Mas as informações são importantes.

Ceguinho ri, mas concorda com o garçom.

Idiota da Objetividade: – Você foi muito bem, Zé Ary. A informação é fundamental!

Garçom: – Sem dúvida! Mas vamos ouvir aqui no nosso som a música de abertura do filme “Garrincha, Estrela Solitária”, de e com Leo Gandelman.

Todos curtem muito a música, com alguns se lembrando do filme estrelado pelo ator André Gonçalves, que fez o papel de Garrincha, e comentando cenas que se lembravam. Quando houve uma breve pausa nas conversas paralelas, Idiota foi objetivo e recomeçou o papo da mesa.

Idiota da Objetividade: – Na final, disputada no dia 17 de junho de 1962, no Estádio Nacional de Santiago, o Brasil derrotou por 3 a 1 a Tchecoslováquia, a quem já havia enfrentado na primeira fase e empatado sem gols. Masopust abriu o marcador para os tchecos, aos 14 minutos de partida, mas Amarildo empatou dois minutos depois. No segundo tempo, Zito marcou de cabeça, aos 23, e Vavá fechou o placar, após falha do goleiro Schrojf, aos 32. O Brasil jogou a final com Gilmar, Djalma Santos, Mauro Ramos (o capitão), Zózimo e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Amarildo, Vavá e Zagallo.

João Sem Medo: – E como não poderia deixar de ser, Garrincha foi eleito o melhor jogador daquela Copa.

Garçom: – Garrincha merecia ainda mais homenagens!

Garrincha (de sua mesa): – Muito obrigado, meu amigo Zé Ary.

Zé Ary acena sorridente pro Mané, que retribui o carinho.

João Sem Medo: – Você tem razão, Zé Ary. O que fizeram com o Garrincha foi o mesmo crime que cometeram contra Pelé. Mané chegou a levar seis infiltrações no joelho pra fazer seis jogos pelo Botafogo na Itália, em 65.

Garrincha olha pra Pelé, que só faz um gesto de concordância com a cabeça.

Idiota da Objetividade: – Depois do Botafogo, Garrincha jogou no Corinthians; na Portuguesa Santista; no Junior de Barranquilla, da Colômbia; no Flamengo; no Red Star 93, da França, e no Olaria, onde encerrou a carreira em 1972. Depois ele ainda fez jogos de exibição ao lado de outros ex-jogadores no time do Milionários até 1982.

Garçom: – A grande fase do Mané foi mesmo no Botafogo, né?

João Sem Medo: – Sem dúvida alguma. Mas como falei, arrebentaram com ele.

Idiota da Objetividade: – O último jogo do Garrincha pelo Botafogo foi contra a Portuguesa da Ilha do Governador, em 15 de setembro de 1965, pela primeira rodada do Campeonato Carioca. A partida foi realizada no antigo estádio de General Severiano e o Alvinegro venceu por 2 a 1.

Garçom: – Na despedida dele eu fui ao Maracanã e fiquei com os olhos cheios de lágrimas quando ele deu a volta olímpica. Vou aproveitar a presença dele aqui pra fazer uma declaração: Garrincha você foi, ou melhor, você é um grande ídolo meu, mesmo eu não sendo botafoguense.

Mané Garrincha se levanta novamente e agradece e ambos são aplaudidos.

Idiota da Objetividade: – Em 19 de dezembro de 1973, no Maracanã, Garrincha se despediu do futebol num amistoso que ficou conhecido como o Jogo da Gratidão. A renda foi toda para ajudar Garrincha, que passava por sérias dificuldades financeiras. A seleção brasileira formada em sua maioria por jogadores da Copa de 70 derrotou um combinado de estrangeiros, quase todos em atividade no Brasil, por 2 a 1. Mais de 130 mil torcedores compareceram para dar adeus ao Anjo das Pernas Tortas, que saiu de campo aos 30 minutos de jogo para a sua última volta olímpica no gramado do Maracanã.

Ceguinho Torcedor: – Foi uma festa maravilhosa. Uma festa que nenhum outro jogador havia recebido em qualquer tempo, em qualquer país. E houve duas festas: primeiro, a de Mané; segundo, a nossa. A nossa porque estávamos felizes com a nossa própria felicidade. Devíamos muito a Garrincha.  A alegria que ele nos deu, durante anos, não tem preço. Mas, fosse como fosse, juntamo-nos para dizer obrigado. Simplesmente, obrigado.

Mané Garrincha chora de emoção e recebe muitos aplausos e abraços.

Garçom (também muito emocionado): – Como a emoção já toma conta de todos aqui, vamos chamar ao palco Noite Ilustrada pra mais uma homenagem ao grande Mané Garrincha.

Muito aplaudido, Noite Ilustrada vai ao palco.

Noite Ilustrada: – Muito obrigado. Todo o meu respeito a você, Mané Garrincha. Todo o meu respeito e toda a minha admiração. Vamos de Balada nº 7 (Mané Garrincha), esta belíssima música de Alberto Luiz que também fez muito sucesso na gravação de Moacyr Franco.

Músico: – São duas versões bem diferentes, mas igualmente lindas.

Garçom: – É verdade!

Noite Ilustrada: – Muito obrigado. Vamos lá!

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Um gol desse não se perde!

O TRICAMPEONATO MUNDIAL

por Elso Venâncio

Zagallo tinha 38 anos quando substituiu João Saldanha no comando da seleção brasileira, a dois meses da Copa do Mundo de 1970, no México. Ele trocou o esquema de jogo e ainda mexeu no time. Saiu o 4-2-4 e entrou o 4-3-3. Rivellino, que disputava posição com Gerson, passou a jogar mais recuado, pela esquerda. Clodoaldo tornou-se titular. Piazza deixou o meio de campo para formar a zaga com Brito. Everaldo ganhou a posição de Marco Antônio.

Pelé e Zagallo estavam frente a frente, no gramado do Maracanã:

“Eu só não admito sacanagem” – disse Pelé.

“Você é o único titular absoluto” – retrucou o Velho Lobo.

Emílio Garrastazu Médici, o general-tirano, indicou o baixinho e linha-dura brigadeiro Gerônimo Bastos como chefe de delegação. Vários jogadores eram fumantes: Gerson, Félix, Carlos Alberto Torres, Brito, Jairzinho…

O Brigadeiro determinou:

“Só três cigarros por dia, para cada um”.

Na comissão técnica estavam os capitães Cláudio Coutinho, Kleber Camerino e José Bonetti. O subtenente Raul Carlesso treinava os goleiros.

Pelé, tetracampeão do mundo, duas vezes com o Santos e outras duas com a seleção, já era chamado de Rei, inclusive pelo Presidente da CBD, a antiga CBF, João Havelange. Por Zagallo, seu ex-companheiro nas conquistas de 1958 e 1962, também.

Pelé, Gerson e Tostão, cada um dava um único toque na bola. Fontana teve imensa dificuldade de sair da roda de bobo, o que provocou uma enxurrada de risos… O zagueiro acusou Pelé:

“Você coloca os paulistas no time.”

O Rei convocou uma reunião no hotel, com as presenças de Gerônimo Bastos, João Havelange e Zagallo.

“Esse moleque”, apontou para Fontana, “disse que eu escalo a seleção. Se eu tivesse mesmo influência, ele nem estaria aqui, porque não joga nada. Quero ser tricampeão, e se alguém achar que estou errado, vou embora agora mesmo.”

O Brasil venceu os seis jogos que disputou. Jairzinho marcou gol em todas as partidas. Na estreia, 4 a 1 na Tchecoslováquia. Para enfrentar os ingleses, Gerson, sentindo a coxa, foi substituído por Paulo Cézar Caju, que entrou na ponta esquerda, passando Rivellino para o meio. Na entrada em campo, alguns jogadores brasileiros olhavam com admiração para os adversários, atuais campeões do mundo.

“Parem de olhar esses branquelos de merda”, reagiu Pelé. “Vamos ganhar!”

Foi o jogo mais difícil e equilibrado da Copa, com Gordon Banks fazendo uma defesa que parecia impossível, numa cabeçada de Pelé. Paulo Cézar Caju tornou a brilhar na vitória de 3 a 2 sobre a Romênia. Zagalo reuniu Carlos Alberto Torres, Piazza, Gerson e Pelé:

“Caju deve ser mantido? O voto é secreto…”

Deu empate.

Zagallo teve que decidir. Para isso, chamou Caju:

“Você é garoto ainda, pode esperar. Mas não se considere reserva.”

A seleção, unida, embalou. Venceu o Peru, dirigido pelo brasileiro Didi, ‘O Mestre da Folha Seca’, e espantou os fantasmas uruguaios ao virar para 3 a 1, com direito ao histórico drible de corpo de Pelé no goleiro Ladislao Mazurkiewicz. Na conclusão desse lance icônico, a bola caprichosamente passou rente à trave.

No Estádio Azteca, palco da grande final, Rivellino apresentou ao mundo seu elástico, um drible desmoralizante, nos indefectíveis 4 a 1 sobre a Itália. No gol que deu números finais ao placar, participação coletiva de quase meio time. Presenciamos, ao vivo ou pela tevê a cores, um dos últimos momentos do futebol-arte. Piazza para Clodoaldo, que rolou para Gerson e recebeu de volta. Clodoaldo driblou um, dois, três, quatro italianos, depois tocou para Rivellino, que descobriu Jairzinho fugindo de Fachetti, quem lhe marcava homem a homem. O ‘Furacão da Copa’ passou para Pelé, que, sem olhar para o lado, tocou para a direita, onde entrava Carlos Alberto Torres. A bola rolada rente à grama ainda deu um leve quique no gramado antes de encontrar o pé do ‘Capita’, que bateu forte, cruzado, estufando as redes do goleiro Albertosi. O golaço fechou com chave de ouro uma das maiores, senão a maior, conquista do futebol brasileiro.