PRESENÇA ILUSTRE
por Luis Vargas
Criei-me na Tijuca e, felizmente, sempre fui boleiro. Lá pelo início dos anos 70 – não me recordo a data exata -, éramos um grupo de peladeiros que “descobriu” um campinho numa das entradas na subida do Alto da Boavista que era perfeito: grama ótima e duas “balizas” devidamente instaladas. Sem pensar duas vezes, nosso grupo passou a utilizar o campinho aos sábados à tarde (seis pra cada lado mais o goleiro) para jogar peladas.
Um belo dia, aparece um carro que não conhecíamos. O motorista estacionou e, quando desceu, a cabeleira loura já chamou a atenção – embora nós todos também cultivássemos as melenas tradicionais da época e da nossa geração. Não demorou muito para identificarmos a figura do Marinho, que estava numa ótima fase da carreira. Ele se aproximou do grupo, cumprimentou geral e, com a simplicidade dos grandes, perguntou se poderia “brincar” conosco. Claro que a alegria foi geral pela possibilidade de jogar uma pelada com um craque daquele naipe.
Divididos novamente os times – com a preocupação de equilibrar por causa do “reforço” do Marinho – e a pelada rolou tranquila, com ele jogando naquele ritmo que os craques usam quando jogam com amadores: só acelerava quando precisava “equilibrar” o jogo. Bola vai, bola vem, o Marinho subiu para o ataque e minha defesa rebateu uma bola – mal – que veio à feição para o jogador adversário que vinha de frente “encher o pé”. Para meu azar, o cara que vinha de frente, na corrida, era o Marinho. E o adversário que saiu para cortar o chute era eu! O craque largou o pé e só tive tempo de virar de costas. A porrada – felizmente! – veio baixa e pegou na coxa. Ardeu pra cacete e o Marinho, imediatamente, correu para mim com um pedido sincero de desculpas, estampado também no olhar. Fitei-o e respondi, sorrindo:
– Tudo bem, mas você largou o pé só porque eu sou flamenguista!
Ele riu, pediu desculpas, me deu um abraço e, claro, eu ri também e mandei o jogo seguir. Acabada a pelada, ele agradeceu e disse que não poderia ficar pois tinha um compromisso.
Cumprimentou um a um, entrou no carro, deu um tchau e foi embora. Passei a admirá-lo como pessoa depois desse dia, pois como jogador ele era excelente. Que Deus o tenha!
O CRAQUE DO BRASIL EM 1979
por Luis Filipe Chateaubriand
Paulo Roberto Falcão sempre foi um jogador diferenciado.
Elegante, postura ereta, cabeça levantada – não precisava olhar para a bola, sabia onde ela estava –, visão de jogo que lhe propiciava antever jogadas, um jogador fino, completo, raro, diamante em forma de gente.
Em 1979, estava no esplendor de sua carreira.
Conduziu seu Internacional ao título de campeão brasileiro, de forma invicta, como um comandante leva sua tropa à vitória nas sucessivas batalhas.
Os adversários foram sendo superados, um a um, com a maestria de Falcão se destacando de forma soberba, galante, incontestável.
Na semifinal, contra o Palmeiras, na casa do opositor, um recital de futebol, com direito a gol de cabeça indo até o “último andar”, gol de sem pulo incrível e uma bicicleta espetacular que não resultou em gol por poucos centímetros.
No jogo da final, contra o Vasco da Gama, em seus próprios domínios, Falcão deu o tom da atuação do time e, de quebra, marcou o gol que confirmou o título do Campeonato Brasileiro de 1979.
Não à toa, no ano seguinte, 1980, os italianos da Roma vieram buscá-lo.
Por tudo isso, dá para afirmar que o craque do Brasil em 1979 foi Paulo Roberto Falcão!
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
ADEUS, AMIGO
por Zé Roberto Padilha
Sei que nessa hora você está nos ouvindo. Porque falo enquanto escrevo e você esta escutando na subida. Que bom ainda ter tempo de dizer do carinho que eu e meu irmão, Flavio, temos por você.
Chegamos os dois para defender o Santa Cruz, em 1977, e quem nos recebeu com o maior gentileza e consideração? Quem nos levou a conhecer a Feirinha de Olinda? Nos apresentar aos jangadeiros para trazer peixe fresco todas as tardes?
Joel Mendes, Carlos Alberto Barbosa, você, Levir Culpi e Pedrinho; Givanildo, Wilson Carrasco, Betinho e eu: Luiz Fumanchu e Nunes. Tecnicos: Joubert Meira e Evaristo de Macedo. Que time, quarto colocado no Brasileirão de 78.
Flavio tinha idade de juniores e jogava nas preliminares. Assim passamos ele, um, eu, dois anos maravilhosos das nossas vidas conhecendo um povo amigo, uma torcida apaixonada como a do Santinha e um lugar privilegiado chamado Recife. E um cicerone do tamanho da sua estatura e gentileza.
Claro que nunca mais nos vimos. O futebol faz isso com a gente, nos devolve para nossas origens e nunca mais o respeito e a consideração de quem nos contratou pensou em nos reunir.
Uma pequena festa, uma medalhinha, um jogo beneficente. Nada. Azar o nosso de nunca mais o ver nem que fosse para agradecer ter lhe conhecido.
Enfim, descanse em paz amigo. Poucos foram tão corretos e amigos nesta longa e tortuosa jornada chamada futebol como você, Lulão. E isto não tem preço, tem saudades.
PERDEMOS O PRESTÍGIO
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::
A eliminação do Palmeiras só foi novidade para os comentaristas clubistas que torcem ao invés de analisar. A final da Libertadores, uma das piores de todos os tempos, evidenciou um time covarde, apagado e que só venceu por conta de um erro individual. Mas essa estratégia medonha de jogar por uma bola nem sempre dá certo e dessa forma o elenco milionário do Palmeiras perdeu para o Tigres, que não está nem entre os quatro primeiros colocados do campeonato mexicano.
Foi a vitória da escolinha do Neca, lendário professor do Botafogo, que lançou muitos craques, entre eles Carlos Roberto, Nei Conceição e os irmãos Ferretti, Victor, Bruno e Tuca, técnico do Tigres. A verdade é que o Brasil vem perdendo espaço, prestígio, no cenário mundial do futebol. Uma prova contundente disso foi a compra do atacante Brenner pelo FC Cincinnati, dos Estados Unidos. Quando apenas a Europa levava nossos talentos considerávamos isso algo inevitável, mas a partir do momento em que mercados secundários fazem abordagens agressivas só vai sobrar o bagaço da laranja.
Já, já Austrália, Nova Zelândia e Islândia baterão à nossa porta. Dessa forma, o nível de nossos campeonatos será esse que estamos acompanhando. Até o Flamengo que vinha embalado Rogério Ceni conseguiu frear. A queda do Botafogo me deixou realmente assustado porque o time em nenhum momento pareceu estar jogando para escapar do rebaixamento. Certamente o pior grupo da história do clube e mesmo assim alguns “atletas” chegavam atrasados no treino e outros andavam em campo.
Em determinado momento da partida, o Botafogo precisando empatar, um alvinegro cai querendo atendimento médico. Não joga nada e quer massagem!!! Meu Deus, nessa hora é para comer grama, jogar de muleta e vai cair por causa de câimbra!!! Essas pessoas não podem passar pelo portão de General Severiano!!! Foi arrastado por dois parceiros porque não existe mais o maqueiro Mike Tyson, foi arrastado como o nosso futebol vem sendo há anos, tratado como entulho, jogado para escanteio. E, olha, se Mike Tyson ainda estivesse em atividade talvez se negasse a entrar em campo, pedisse substituição, se sentasse à beira do campo e chorasse conosco com saudade do que já fomos.
A ANSIEDADE TOMOU CONTA
por Wendell Pivetta
Quando acabou o jogo do Palmeiras contra o Tigres, tive clareza de uma coisa: a ansiedade tomou conta. Weverton declarou em entrevista após o jogo que não conseguiu dormir devido ao nervosismo e preocupação, e a ansiedade é um termo geral para vários distúrbios que causam exatamente nervosismo, medo, apreensão e preocupação.
O restante do plantel pode ter sentido mais medo e apreensão, já que não conseguiram render tudo aquilo que se esperava do torcedor. Está aí a palavra-chave, antes do atleta, vem o torcedor. Este sim está com a ansiedade à flor da pele. Nos grupos de futebol cujos os quais eu faço parte, se cria uma apreensão dramática antes, durante e depois de uma partida. Se o atleta não dorme, imagina só o torcedor, que hoje pega aquela “zoeira” do rival, está trabalhando muito mais ou nem está trabalhando devido a pandemia, refém da falta de lazer e com programas jorrando informações sobre o clube do coração.
O torcedor assimila tudo, e cria uma tremenda expectativa em cima do possível campeão, do time em que ele joga suas emoções em cima, e torce pelo momento máximo, o gol. Quando o Internacional venceu o clássico Gre-Nal rumo a liderança do campeonato, me fez ali criar este tema, pois o colorado estava jogando muito bem, e tomou um gol. Os grupos de WhatsApp jorraram críticas e desistência, um estresse grandioso, tensão de travar respiração. A reação acontece, o time empata e ganha, o torcedor respira o alívio e vibra, grita, pula, e desencadeia reações inexplicáveis perante o resultado.
A ansiedade contracena com a raiva, e acaba por ganhar proporções no dia a dia. É perceptível como os jogos nesta tabela reduzida, acontecendo com uma frequência alta para cumprir com a tabela, têm aumentado ainda mais a pulsação do torcedor e também dos atletas, responsáveis por uma nação dentro do campo. Em uma semana estão no céu, e na outra caem no inferno astral deste futebol cada vez mais cobrado. Restam três rodadas para o fim, e muita coisa ainda pode acontecer. Bipolaridade obrigatória na torcida.
Outra emoção que toma conta é o remorso. Esta sensação de que se o time tivesse vencido A ou empatado com B estraçalha o coração do torcedor. É um sentimento onde o amante do futebol acaba se colocando no lugar do atleta e o atleta, aonde se coloca? Eita emoção complicada, pune severamente aquele que buscava mais.
Aqui vai a minha dica: se desprenda da tecnologia. Tarefa difícil, porém nada impossível. Diminuir este consumo trocando por atividade física é cansar o corpo e refrescar a mente. Tecnologia só na hora do jogo. E por favor, pesquise sobre estes temas citados, busque um psicólogo caso você se encaixe nestas condições em extrema agonia, elas são extremamente prejudiciais à saúde.