HISTÓRIA DE REPÓRTER NO MORRO DOS VENTOS UIVANTES
por Wendell Pivetta
Celebramos no dia 16 de fevereiro o Dia Nacional do Repórter, comemorado anualmente no Brasil. A data homenageia os profissionais responsáveis por transmitir através dos meios de comunicação fatos e informações de interesse público. Todo o repórter é jornalista, mas não são todos os jornalistas obrigatoriamente repórteres (Site: Calendarr).
No futebol, uma das figuras que deixa a jornada esportiva mais descontraída e cativante com entrevistas muitas vezes engraçadas e emocionantes é a do repórter. Seja no pré-jogo entre a torcida ou na beira do campo, este sagaz comunicador busca a informação e humaniza um belo dia de futebol.
O narrador e seu comentarista com fervor atendem à demanda dentro de campo, vislumbrando a partida em sua cabine de imprensa. O repórter na beira do gramado cria olhos para sua equipe nos mais variados detalhes. Grandes equipes de jornalismo conseguem executar com exímio estas funções, dividindo as ações, porém uma equipe reduzida transforma o jornalista em comentarista e repórter.
Este caso do jornalista se transformar em uma tartaruga ninja, com várias funções, é tradicional no interior do Rio Grande do Sul, e eu vivenciei estes momentos acompanhado do colega Vinicius Carvalho, narrador e, neste texto, também repórter. O jogo era de extrema importância: a SER Cruz Alta enfrentava o Nova Prata para conquistar a última vaga para as eliminatórias da Copinha, promovida pela Federação Gaúcha de Futebol, famosa competição por dar acesso ao campeão para a Copa do Brasil ou Série D.
Iniciamos a jornada esportiva! Naquele ano, eu estava comentando praticamente um jogo a cada final de semana, com a narração do Vinícius, uma dupla que estava muito entrosada, tanto que quase não olhávamos para as escalações, os nomes dos jogadores já estavam na ponta da língua. O estádio Morro dos Ventos Uivantes, naquela tarde de decisão, estava com o clima igual ao nome, uma tremenda ventania em pleno outono, gelando a garganta, judiando na dupla que estava na humilde cabine de imprensa, formada por tijolos que fechavam um quadrado sem porta, dois degraus normais igual ao que o torcedor se sentava, para largar ali equipamentos e sentar junto dos mesmos. Sentar no modo de dizer, a final, as vigas de proteção da cobertura dos assentos faziam com que a equipe ficasse de pé acompanhando até a ponta do degrau cada lance protagonizado pelos jogadores.
Era dia de fazer história, e os jogadores venceram a partida, protagonizando uma classificação histórica: vitória de 1×0 e muita comemoração por parte dos jogadores, e o personagem da equipe, o padeiro, gandula e presidente, Renato Chagas de Souza. Depois de 20 anos, a cidade de Cruz Alta voltaria a enfrentar um clube da primeira divisão do Estado, e foi o Pelotas, 111 anos de tradição. Mas o que comoveu mesmo naquele ano, e que ficou gravado na memória, foi o fim do jogo, quando o presidente estava celebrando assim como toda torcida, a equipe que antes era formada por narrador e comentarista, se transformou instintivamente em repórteres na beira do alambrado, entrevistando o presidente e vislumbrando o mesmo tomar o banho da vitória.
A emoção tomou conta, apenas anunciamos o apito final e descemos correndo degrau abaixo para pegar a fala do presidente e jogadores, deixamos boa parte do equipamento na cabine totalmente insegura, e nos contagiamos com aquela história nascendo em nossa frente. O frio da cabine foi deixado com a mesma, e o calor da emoção tomou conta diante de uma das principais histórias do futebol cruz-altense. Assim como o jogador, o bom repórter tem que estar em cima do lance.
O CRAQUE DO BRASIL EM 1980
por Luis Filipe Chateaubriand
Arthur Antunes Coimbra, o Zico, sempre foi um jogador de futebol excepcional.
Tanto como armador, preparando precisos passes para o centroavante, como se fazendo o próprio centroavante, contribuía para gols dos outros ou fazia-os ele mesmo.
Não à toa, foi apelidado pelo grande jornalista Armando Nogueira de arco e flecha.
O repertório era vasto.
Cabeçadas precisas.
Lançamentos milimétricos.
Dribles esfuziantes.
Domínio de bola perfeito.
Uso do calcanhar de forma magnífica.
Uso da bicicleta como recurso de jogo.
Inversões de bola de um lado para o outro no momento preciso.
Tudo isso estava aflorado no ano de 1980, o que resultou no título de campeão brasileiro, pela primeira vez, para o rubro negro carioca.
E, por tudo isso, Zico foi o jogador do ano de 1980!
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
CASTOR: O POLÊMICO “BENFEITOR”
por André Luiz Pereira Nunes
Após “Marielle” e “Em Nome de Deus”, o Globoplay conseguiu magistralmente emplacar mais um gol de placa ao lançar “Doutor Castor”, série documental em quatro episódios sobre o bicheiro Castor de Andrade (1926-1997).
Dirigida por Marco Antônio Araújo, a produção reúne depoimentos e imagens de arquivo que, segundo o diretor, nunca foram exibidas na TV.
Um dos homens mais poderosos do Rio de Janeiro nos anos 80, o contraventor não só dominava o jogo do bicho, como também patrocinava o time de futebol do Bangu e a escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel.
É bom que se diga que a produção acerta ao incluir entre os entrevistados tanto aqueles que o admiravam como os que o execravam. Reverenciado por políticos, artistas, jogadores, dirigentes, torcedores e autoridades, Castor é uma figura bastante polêmica. Na minha modesta opinião está mais para um Don Corleone do que um Robin Hood.
Dotado de inegável influência política, flertava com o poder, chegando a adentrar tribunais com a certeza absoluta de que seria absolvido.
Provavelmente é bem difícil presenciarmos um torcedor banguense falar mal de Castor. Afinal de contas, sob seu comando, o Alvirrubro da Zona Oeste se sagrou vice-campeão brasileiro e estadual, em 1985, além de vencedor da Taça Rio de 1987.
Contudo, é importante frisar que a sua relação com o time sempre foi cercada de interesses. Há quem diga que o bicheiro usava o clube para lavar dinheiro. É fato ainda que, em 1988, Castor se afastou totalmente do Bangu, se voltando totalmente para a Mocidade Independente de Padre Miguel, fato que culminou no rebaixamento da equipe para a Série B do Campeonato Brasileiro. Daí em diante nunca mais o Bangu voltaria a figurar entre os grandes do futebol brasileiro. Atualmente a agremiação faz figuração no Campeonato Estadual e vergonha na Série D do Brasileirão, não passando da primeira fase de grupos.
Os atletas que brilharam no time do Bangu, vice-campeão brasileiro em 1985, relembram quando Castor injetava fábulas de dinheiro no elenco. E evidentemente exaltam o contraventor, embora um recorde quando o bicheiro chegou a dar uma rajada de metralhadora contra a parede para assustar os jogadores e pressioná-los a ganhar jogos.
Em outra ocasião, o mecenas correu atrás de um árbitro que teria errado contra seu time. Numa cena extremamente lamentável, os capangas de Castor cercaram o juiz e, por pouco, a cena, inclusive retratada na série, não terminou em linchamento.
Fato é que, vilão ou mocinho, Castor é uma personalidade riquíssima para um documentário, como ressalta o diretor da série.
MEU AMIGO MANGA
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::
O Brasileirão está em sua reta final e meu Botafogo já garantiu sua vaga na Segunda Divisão. O Vasco deve seguir o mesmo caminho e alguns torcedores, irados, apedrejaram a entrada social de São Januário. O VAR continua gerando dúvida e os estádios não tem previsão de serem abertos ao público. A polêmica da vez foi uma falha no sistema no jogo entre Vasco x Internacional! Os comentaristas continuam me irritando e até quando teremos Leonardo Gaciba como diretor de arbitragem?
O próximo campeão desse campeonato medonho não terá nada de novo para nos apresentar, assim como o campeão da Libertadores não teve. Continuo na torcida por Guardiola, que há anos vem remando contra a maré. Mas não estou com ânimo para falar sobre esse futebol atual, ainda mais depois do sábado especialíssimo que vivi ao reencontrar o lendário goleiro Manga, o maior que vi em toda a minha carreira. Está no Retiro dos Artistas acompanhado de sua mulher, a equatoriana Maria Cecília.
É difícil explicar às novas gerações quem foi Haílton Corrêa de Arruda, o Manga, e todo aquele grupo espetacular do Botafogo, na década de 60, do qual depois, orgulhosamente, fiz parte: Paulistinha, Zé Maria, Nilton Santos, Ayrton Povil, Rildo, Garrincha, Didi, Amarildo, Quarentinha e Zagallo. Meu pai treinou esse timaço. Não quero desmerecer o Botafogo de hoje, mas me entristece demais ver toda essa história soterrada, manchada, tratada com desleixo. Ali, sentado, ouvi Manga reviver várias histórias que nem lembrava mais. Não usava luvas e chegou a jogar com dedos quebrados, cabeça rachada e diversos problemas físicos.
Não me peçam para comentar a vitória do Flamengo, me deixem mirar os dedos retorcidos de Manga e ouvi-lo contar sobre o dia que defendeu um chutaço de Nelinho com apenas uma das mãos. Manga foi campeão no Sport, Botafogo, Nacional, do Uruguai, Internacional, Coritiba, Grêmio e Barcelona, do Equador. É ídolo do Operário, de Mato Grosso. Me deixem pensar em Manga porque ele não dá para ser explicado. História linda, mas pouco reconhecida, o que não é de se admirar no Brasil.
Saí do Retiro com a alma aliviada e fui com os amigos Rodrigues e Leo Russo para o Bar do Helinho, ali perto. Helinho, esse mesmo, ponta ensaboado de Botafogo e Vasco. Pelo celular, falei com Edson, outro ponta do Botafogo. Daqueles que quando pegava a bola a torcida levantava. Por favor, não me peçam para falar do futebol atual, me deem uma trégua e me deixem sonhar.
AMERICA, UM SONHO, UM DRAMA
por Paulo-Roberto Andel
Pesquisando alfarrábios e me deparando com uma partida de setembro de 1977. Lá se vão quase 44 anos. É tempo demais.
País, Jorge Valença, Alex, Russo e Álvaro; Renato, Bráulio (Jarbas) e Reinaldo; Mário, Leo Oliveira e César (Aílton). Renato jogava demais, hoje Renato Trindade. Bráulio era um monstro. Reinaldo foi para o Flamengo, Mário foi para o Inter, César para o Grêmio.
Um pouco diferente do primeiro que vi: País, Uchôa, Alex, Geraldo e Álvaro. Tinha Nedo, Nelson Borges, Luisinho de volta. Silvinho. Depois teve Duílio, Heraldo, o falecido Aírton, Gilberto, o espetacular Moreno, até Valdir Peres. Gilson Gênio, Gilcimar, os irmãos Zó e Kel. Renato Carioca, Polaco, Régis. Donato. Jorginho.
Cresci ouvindo as histórias do America. Tricolor, eu ficava fascinado com o adversário do outro lado da arquibancada, todo de vermelho. Já contei por aqui do meu amigo americano de Santo Cristo. Até o começo de 1987, o America era uma promessa. O Rio foi para o Maracanã apoiá-lo contra o São Paulo, não deu certo mas deu orgulho. E aí…
Veio a pernada da Copa União. O querido Estádio Volnei Braune foi soterrado. De uma hora para outra, foi como se o America tivesse se mudado de cidade ou até de país. Aparecia no Campeonato Carioca e só, até que um dia também caiu por lá. Voltou, caiu, voltou, caiu.
Nunca mais foi o mesmo, e isso é mau para a cidade do futebol.
Eu procuro pelo America nas lembranças, nos hiatos. Nos saborosos vídeos do YouTube. Eu procuro pelo America na saudade que tenho de meu pai, num sábado à tarde nublado no Maracanã, espiando o misterioso adversário vermelho, todo vermelho.
Li o desabafo do Trajano no Facebook e me emocionei. O tempo está passando, as pessoas, o amor segue sua luta e o America parece Ivan Lessa, meu ídolo que foi embora para nunca mais voltar. Bom, até o Ivan voltou um dia por duas semanas.
Talvez eu entenda a dor do America. Lembro de um causo anos atrás: louco com a oportunidade de fazer alguma coisa trabalhando com futebol, fui com meu amigo Catalano a uma reunião com o presidente americano Leo Almada. Nosso objetivo era fortalecer as redes sociais do clube, criar um movimento, chamar o Rio para perto de seu segundo time de coração. Ressalte-se que Leo Almada foi um gentleman, diferente de seu principal assessor na reunião, que além de debochar o tempo inteiro de nossas propostas, só perguntava que dinheiro nossas ideias trariam para o clube. Partindo desse testemunho, não é difícil para mim entender o que aconteceu ao Mecão nos últimos anos, a começar por sucessivas quedas no Campeonato Carioca.
É difícil pensar numa saída ou solução. Só sei que não consigo parar de pensar nas palavras do Trajano, nem naquele bandeirão rubro de mais de quarenta anos atrás. Em País voando para celebrar Pompéia, em Renato fazendo as vezes de Alarcón, de Alex na zaga como o zagueiro mais sério do mundo. O que sei é que o America é um pedaço importante do Rio de Janeiro, que não pode morrer à míngua ou desprezado. É preciso fazer alguma coisa, ou várias, mas antes que seja tarde demais e o futuro só carregue um lindo passado desperdiçado.
@pauloandel