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TRANSMISSÃO IMAGINÁRIA

por Wesley Machado

Imaginei uma transmissão com Silvio Luiz narrando, Antero Greco e Washington Rodrigues comentando. Jogo entre Flamengo e Palmeiras. Os torcedores, porém imparciais em serviço, My friend e Apolinho, seguram a emoção. O engraçado narrador não grita gol.

– Pela mãe dos meus filhinhos!
Apolinho lembra dos arquibaldos.

My friend solta uma gargalhada.

Apolinho critica Gabigol com a camisa do Corinthians.

O ex-artilheiro rubro-negro não joga mais no time da Gávea – informa Apolinho.

My friend, “o palmeirense mais corintiano que existe”, segundo Juca Kfouri, também não se faz de rogado e, ironicamente, diz.

– Só Gabigol para livrar o Corinthians do rebaixamento este ano – decreta My friend.
Celso Unzelte, que estava assistindo à partida de casa, envia um Zap e Silvio Luiz lê:

– Vocês adoram falar do Corinthians, até no jogo que ele não está jogando – diz a mensagem de Celso.
– Então vamos falar do Flamengo – comenta Apolinho.

– O Palmeiras está melhor no jogo – considera My friend.

– Olho no lancê! Ééééééééééé do Flamengo! – grita Silvio Luiz.

– Balançou o capim no fundo do gol! Foi, foi, foi, foi ele… o craque da camisa número 10! Zico, o Galinho de Quintino, o verdadeiro camisa 10 da Gávea, como cantava Moraes Moreira! Confira comigo no replay! – narra Silvio Luiz.

Toca a música “Replay” com o Trio Esperança:

– É gol, que felicidade! É gol, o meu time é a alegria da cidade! – diz a canção tema de transmissões em várias rádios.

Um minuto de silêncio.

Infelizmente não teremos o replay destes cronistas esportivos.

Será difícil esquecer profissionais do quilate deles.

A crônica esportiva brasileira está de luto.
A saudade já dói.

Gratidão pelo que fizeram.

Deixaram seus nomes na história.

E ficarão guardados em nossas memórias.

– O que eu vou dizer lá em casa? – mais um bordão daquele que tanto nos divertiu!

Eu direi para os que estão e ainda vão vir que vocês são eternos!

Valeu por tudo, senhores do microfone!

Na crônica esportiva vocês foram reis!
Por isto nós os veneramos!
Ontem, hoje e amanhã!

LUTO NA IMPRENSA FUTEBOLÍSTICA

por Luis Filipe Chateaubriand

Pois que os últimos dias estão sendo muito tristes no futebol, especialmente para a Imprensa Futebolística.

Antero Greco, my friend, acaba de falecer, vítima de um insidioso câncer no cérebro.

Sílvio Luiz, o irreverente locutor, sofreu um derrame e também nos deixou.

E Washington Rodrigues, o Apolinho, também acaba de falecer, vítima de um câncer agressivo, desta vez no intestino.

Ah, Apolinho, por que foste nos deixar?

Como é que a gente fica sem as expressões deliciosas, como “batom na cueca”, “briga de cachorro grande” e “mais feliz do que pinto no lixo”?

Como é que a gente fica sem os comentários pertinazes sobre os jogos de futebol – capaz de enxergar, na maioria das vezes, o cenário do jogo com poucos minutos de bola rolando?

Como é que a gente fica sem a linguagem popular, sem frescuras, nos dando aulas sobre futebol de forma simples e direta?

Como é que a gente fica sem a dobradinha com o Garotinho José Carlos de Araújo, uma formação clássica no futebol carioca e, porque não dizer, brasileiro?

Como é que a gente fica sem seus programas diários, que informavam e divertiam ao mesmo tempo?

Ah, Velho Apolo, você não podia ter feito isso com a gente!

Mas, se você escolheu assim, vai em paz.

Um dia, a gente se encontra.

“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 62

por Eduardo Lamas Neiva

Após a festa do Simonal, que foi aplaudido de pé, o povo deu uma dispersada rápida e na primeira sobra de bola, João Sem Medo pôs a bola no pé e voltou às eliminatórias para a Copa de 1970.

João Sem Medo: – A seleção nunca se assustou. Lá como cá…

Sobrenatural de Almeida: – Cá, não, João! (dá sua risada medonha)

Todos riem.

João Sem Medo (rindo também): – Verdade. Mas, como eu dizia, tanto em Assunção, quanto no Maracanã, o Paraguai jogou retrancado. Ficamos no 1 a 0, em casa, por sorte deles, já que a bola pererecou bastante na porta do gol, ora batendo em qualquer um, ora com o goleiro defendendo.

Ceguinho Torcedor: – Invicta, com 23 gols a favor e somente dois contra, a seleção de Saldanha deixou de ser uma promessa, uma utopia. O escrete do João Sem Medo esmagou todas as resistências, inclusive dando olé nos campeões do mundo de então.

Idiota da Objetividade: – Em junho de 1969, no jogo de despedida do goleiro Gilmar, o Brasil derrotou a Inglaterra, no Maracanã, por 2 a 1, de virada.

Ceguinho Torcedor: – Naquele dia também tinha gente até no lustre do Maracanã. Por conta do jogo, a cidade suspendeu todos os pecados. Ninguém matou, nem roubou, nem traiu. Que eu saiba, não houve um único e escasso assalto. Todas as classes, profissões, ideologias, raças e idades se juntaram no Maracanã.

Garçom: – Vamos aplaudir Gilmar dos Santos Neves, que ali está. Levante-se, por favor, Gilmar!

Todos os aplausos vão para o grande goleiro da seleção que conquistou os títulos mundiais de 1958, na Suécia, e de 1962, no Chile.

Garçom: – Vamos ver um vídeo com os gols daquela partida, transmitida pela TV Cultura?

Todos concordam e Zé Ary põe o vídeo no telão do Bar Além da Imaginação.

Ao ver pela primeira vez ou rever aqueles lances, o nome de Tostão novamente ganhou muitos elogios entre o público presente. Mas Zé Ary voltou à jogada e comparou o público presente no Maracanã naquela partida com outro importantíssimo jogo.

Garçom: – Seu Ceguinho, contra o Paraguai foi ainda mais gente do que contra a Inglaterra. Eu fui ao Maracanã naquele dia.

Idiota da Objetividade: – Pagaram ingresso 183.341 pessoas em 31 de agosto de 1969 para ver Brasil 1, Paraguai 0.

Ceguinho Torcedor: – Uma multidão inédita! Veio gente de todos os estados para espiar as feras. O povo sabia que o Brasil tinha o seu escrete. Um time maravilhosamente unido, maravilhosamente irmão. O escrete jogava na base de uma solidariedade total. Não havia o caso de um jogador ressentido ou despeitado. Como um verdadeiro líder, João criou entre seus comandados uma consciência, uma estima, um nobilíssimo caráter. E por isso também foi campeão do mundo depois: porque tinha caráter.

Garçom: – Pelé e Tostão jogaram muito naquele dia.

Ceguinho Torcedor: – O melhor naquele dia podia ser Pelé, podia ser Tostão, mas para mim foi Edu. Ele era o único atacante que não fugia, que não corria do marcador. Pelo contrário, Edu é quem perseguia o marcador e o envolvia e o desintegrava. Seus dribles eram empolgantes. Ia até a linha de fundo e cruzava magistralmente.

Garçom: – Vamos ver lances daquele jogo, com imagens do Canal 100 e a  crônica do Nelson Rodrigues, o criador dos nossos quatro personagens que formam a mesa principal do nosso bar, na voz inconfundível de Paulo César Pereio, que se despediu no fim de semana passado do Mundo Material e em breve estará aqui com a gente também. Vamos prestar atenção que vale muito a pena!

A vibração no bar é igual ao dia do jogo.

Sobrenatural de Almeida: – Contra aquele time nunca joguei, porque dava muito gosto de ver. Ficava só admirando sentado à beira do gramado. E nem precisava atrapalhar o adversário.

João Sem Medo: – Achei que você não gostasse do que é bom?

Sobrenatural de Almeida: – Eu só gosto de participar do jogo de vez em quando, pra não vulgarizar meu trabalho. (dá sua risada medonha característica) Gosto de fazer umas artes em campo pra espantar e algumas vezes fazer o impossível se tornar possível.

Ceguinho Torcedor: – E aquela seleção fez o que parecia impossível em campo: o mais nobre futebol com arte. E com um apoio popular que nenhum outro escrete teve no Brasil, a seleção do João Sem Medo seria campeã do mundo em 70 com uma campanha ainda mais flamejante que a de 58.

Sobrenatural de Almeida: – O mais assombroso é que você disse isso no dia em que o Brasil se classificou para a Copa. Só errou na profecia quanto ao técnico.

Garçom: – Eram mesmo os reis da bola! E esse é o nome da música que vamos apresentar aqui no palco com o grande Moraes Moreira, relembrando os tempos de Novos Baianos. Vem pro palco, por favor, Moraes Moreira!  

Muito aplaudido, Moraes Moreira volta ao palco.

Moraes Moreira: – Obrigado, gente! Como o Zé Ary falou, esta é dos tempos de Novos Baianos, a gente jogava muita pelada e sempre adorou futebol. Até um disco a gente lançou chamado “Novos Baianos Futebol Clube”. Mas deixa de papo e vamos cantar, relembrando o Furacão da Copa e o Rei Pelé. Um abração, Rei!

Pelé acena sorrindo de sua mesa a Moraes Moreira.

Moraes Moreira: – Vamos nessa, moçada!

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Um gol desse não se perde!

VALEU, APOLINHO

por Paulo-Roberto Andel

Neste exato momento, tem muuuuita gente chorando. Eu também, mas vou tentar fazer um réquiem.

Falar de alguém que a gente sempre ouviu desde a infância, por quase meio século.

Do tempo em que o Maracanã tinha seus astronautas vendendo Coca-Cola na arquibancada, e com tanques de refresco nas costas – no copo era só espuma, mas deliciosa.

Quando Victorio Gutemberg fazia ecoar sua voz potente nos alto-falantes de som abafado, para escalar os times, falar da Loteria e lançar o bordão inesquecível “Suderj informa”.

E no fim dos clássicos abarrotados, quando as vinhetas de minutagem das rádios faziam o som psicodélico de gran finale? Cento e tantas mil pessoas. Corações a mil no maior estádio do planeta, enquanto Rivellino, Adílio, Roberto, Mário Sérgio, Paulo Cezar Caju e outras feras escreviam a história do futebol brasileiro com seus dribles e passes, suas jogadas de arte.

Apolinho viu tudo isso e muito mais. Foram décadas do melhor futebol do mundo, que encantou adultos e crianças para sempre – até hoje vivemos de restos dessas lembranças. Ganhou o apelido pelo transmissor que levava nas costas, atrás do gol, e ficou Apolinho para sempre. Consagrou-se ao lado de Garotinho e Denis Menezes numa equipe que ficou imortalizada no rádio carioca, depois passou anos na Rádio Globo e muitos outros na Tupi, onde ficou até o fim – e é inacreditável que este fim tenha sido hoje, porque depois de muitos anos a gente se acostuma com a ilusão de que monstros do rádio como ele, Washington Rodrigues, são imortais de carne e osso.

Apolinho deu no pé em dia de goleada do seu Mengão. Tudo a ver com seu amor. Também é o dia de Super Ézio. Pronto, já tem um Fla x Flu armado para animar a eternidade.

Um dos maiores jornalistas esportivos da história, ele viu tudo torcendo, trabalhando ou os dois: voos munumentais do goleiro americano Pompeia, folhas secas imperdíveis de Mestre Didi ou gols e gols do jovem Pelé. Precisa mais? Não, mas ele teve o privilégio de ver os melhores, entrevistá-los e depois comentar.

É fim de quarta-feira. A cidade está em lagrimas porque Apolinho deu tchau e, aos poucos, a gente se toca do tamanho da perda, mas morrer é algo no mínimo discutível para quem sempre teve o talento para a imortalidade.

Washington Rodrigues, gênio do rádio brasileiro, familiar a milhões e que fez tanta gente humilde feliz com seus comentários, galhofas e barbaridades sempre populares.

Os gênios dizem adeus, a saudade fica pra sempre. Viva o eterno Maracanã do Apolinho!

@pauloandel

TAPETE VERMELHO PARA VINICIUS JÚNIOR EM WEMBLEY

por Fabio Amaro de Lacerda

Páginas escritas com caneta à tinta, cuja beleza dos traços pode ser confundida ou equiparada com os dribles, arrancadas e gols do jogador que vem se tornando o “queridinho” merengue do século XXI substituindo nada mais, nada menos que Cristiano Ronaldo. Vinicius Júnior segue fazendo história. A próxima página a ser inscrita será sobre o encontro em Wembley na inédita final da Liga dos Campeões contra o Borússia Dortmund no dia 1º de junho. 

O Templo do Futebol  já foi tingido de verde e amarelo este ano. No amistoso contra a Inglaterra – data Fifa – a vitória pelo placar mínimo colocou Endrick com o máximo de moral na seleção. Ele se tornou o mais jovem jogador a marcar em Wembley em toda a história. E agora cabe a Vinicius Júnior, Rodrygo, Éder Militão & Cia. levantar mais um troféu da Liga dos Campeões, o 15º da história do clube. 

Além de jogarem no Real Madrid, Vinicius Júnior, Rodrygo e Éder Militão, o trio brasileiro que já conquistou a Liga dos Campeões uma vez, assim como Didi, na temporada 1959-1960, pode transpor um outro brasileiro que era um craque, mas nunca lembrado naquele time do Real Madrid no final de década de 1950 que contava com Di Stefano, Puskas, Gento, Santamaría, Luís del Sol e outros. 

Se Didi é o primeiro jogador negro do mundo a conquistar a Liga dos Campeões, Canário, ex-ponta-direita do América, é outro brasileiro imortalizado no Santiago Bernabéu e companheiro do inventor da “folha seca” no título que fechava a década de 1950

E os brasileiros comandados por Carlo Ancelloti podem superar o carioca endiabrado pelos flancos direitos que formava o esquadrão ofensivo mortal do Real Madrid que conquistou a Liga dos Campeões com o placar mais elástico da competição na historia.  Canário completaria 90 anos no próximo dia 24. Não teve vida longa na seleção brasileira porque a concorrência com Garrincha, Joel e Julinho era muito acirrada. 

Caso o Real Madrid vença o Borússia Dortmund, Vinicius Júnior, Rodrygo e Éder Militão, tentarão, na temporada 2024-2025, igualar os craques Sávio e Roberto Carlos quanto ao número de títulos da Liga dos Campeões. É ver para crer a quinta decisão envolvendo times alemão e espanhol.