E SURGIU A ARBITRAGEM FORÇA
por Zé Roberto Padilha
Na foto, anos 70, do futebol e arbitragem arte, Luiz Pereira vai pra cima do árbitro Agomar Martins. Leivinha pede calma e Brito reclama do meio-campo que não voltou pra marcação.
Aí a Alemanha venceu a Copa do Mundo, em 1974. Veio o futebol força, as academias de musculação, as máquinas Apolo e Nautilus.
E na esteira, Rambo, Cobra, Van Dame e Jason Sthatam. E a arbitragem Daronco.
Aí nem o poderoso Hulk!
HAILTON, O GOLEIRO QUE NÃO QUERIA “BARREIRA”
por Kadu Braga
Haiton Corrêa de Arruda poderia passar despercebido como mais um “CPF” entre milhões de brasileiros que amam futebol e jogam pelos campinhos de terra batida ou pelas ruas, bem à moda antiga.
E foi num destes, em Pernambuco, onde tudo começou. Em campos de futebol que eram cercados por mangueiras, o goleiro tomou gosto pelo jogo e predileção especial pela fruta. Ele levava caixas de Manga ao treino, oferecia aos amigos de time e recebeu em troca o carinhoso apelido. Nascia então, o imortal Manga, um dos grandes goleiros da história do futebol brasileiro.
O craque iniciou sua trajetória no Sport-RE e ganhou destaque no Botafogo-RJ, sendo parte de um time emblemático atuando ao lado de Garrincha, Nilton Santos, Didi e cia entre 1959 e 1968, conquistando quatro campeonatos estaduais e três torneios Rio-São Paulo.
No Brasil defendeu ainda Coritiba (PR), Operário (MS), Grêmio e Internacional, em Porto Alegre, sendo, pelo colorado, bicampeão brasileiro e defendeu a seleção na Copa de 1966 na Inglaterra. Se tornou ídolo também no Nacional, do Uruguai, onde conquistou a Libertadores da América e o Mundial de Clubes.
O defensor tinha uma característica bastante peculiar em campo. Não gostava de usar luvas, joelheiras e costumava dispensar “barreira” para ajudar a defender as cobranças de falta. Tudo para ser mais participativo em campo e mostrar sua enorme autoconfiança. Também não gostava de ficar de fora por lesão.
Manga, sim, era um jogador que dava gosto de se ter no time. Sua valentia tinha a alma do verdadeiro futebol brasileiro e como justa homenagem à sua brilhante carreira sua data de nascimento se tornou o “dia do goleiro”.
Salve 26 de Abril!
OS CARAS DO TETRA
por Elso Venâncio
Na Copa dos Estados Unidos, em 1994, Bebeto e Romário eram os maiores atacantes do mundo. Romário jogava no Barcelona. Bebeto, no La Coruña.
Romário, eleito o número 1 do planeta, ficou com a fama de ter sido o responsável pela conquista. Assunto que, com toda razão, irrita Bebeto. Não só Romário fez gols decisivos. Bebeto também, além de ter dado passes geniais, precisos, imprimindo mais velocidade aos contra-ataques, em uma seleção que se preocupava bastante em se defender, por apostar no poder de decisão de seus dois goleadores.
Bebeto chegou a Gávea aos 18 anos, em fevereiro de 1983, comprado junto ao Vitória, da Bahia, e já como destaque na seleção brasileira de juniores. Aymoré Moreira, treinador bicampeão no Chile, em 1962, estava no Galícia:
– O Flamengo levou o Dida do passado e o Zico do futuro.
Por sua vez, Romário surgiu como uma máquina de fazer gols. Nos juniores do Vasco, por três anos consecutivos – 1982, 1983 e 1984 – foi o artilheiro do Campeonato Carioca. Juntos, Bebeto e Romário conquistaram a Copa América de 1989, no Brasil, após um jejum de 40 anos. Na semifinal, 2×0 na Argentina, com o marcante gol de veleio de Bebeto e outro de Romário, após driblar o goleiro campeão do mundo Pumpido. Nesse jogo, Romário deu assistência, no gol do Bebeto, fez o dele e ainda descadeirou Maradona com uma caneta.
Bebeto era o maior jogador do país e Maradona, o maior do mundo. Romário, o ‘Rei da Pequena Área’, fez o gol do título, na vitória de 1 a 0 sobre o Uruguai, jogo de Maracanã lotado e forra no Maracanazzo de 1950.
No Mundial de 1990, na Itália, Sebastião Lazaroni reuniu o grupo e avisou que duplas disputariam a posição no ataque. Exemplo: Müller e Careca, que jogaram juntos a Copa do México, em 1986; e Bebeto e Romário, que mostraram incrível simbiose um ano antes.
O técnico disse que buscaria um parceiro para Renato Gaúcho, o outro atacante convocado. Bebeto, normalmente calado, ergueu o braço:
– Professor, não entendi. O meu companheiro está manco.
Os jogadores caíram na gargalhada. Romário tinha fraturado o perônio jogando pelo PSV Eindhoven. Dr Lídio Toledo chegou a vetá-lo, mas Lazaroni bancou sua permanência.
Três anos depois, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, diante do clamor popular, mandou Parreira convocar Romário. Müller, contundido, tinha sido cortado. O jogo com o Uruguai, válido pelas Eliminatórias, seria tenso, com o fantasma de 1950 novamente pairando pelo ar. Mesmo adversário, mesmo estádio e mesma vantagem, a do empate. Mas uma derrota tiraria o Brasil pela primeira vez de um Mundial.
Romário chegou de Barcelona na semana do jogo, foi direto para a Granja Comary, em Teresópolis, onde foi confirmado como titular ao lado de Bebeto.
Nessa partida, o Maracanã presenciou a maior atuação da carreira do Baixinho. Foi, sem sombra de dúvidas, uma das maiores exibições de um jogador com a camisa amarela. Romário fez os dois gols na vitória por 2×0, diante de mais de 148 mil pagantes, fora os tradicionais penetras.
Na Copa dos Estados Unidos, após 24 anos de jejum, vencemos novamente um Mundial, foi a conquista do tetracampeonato. O time: Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Branco; Dunga, Mauro Silva, Mazinho e Zinho; Bebeto e Romário.
Trinta anos do Tetra? Nossa, como o tempo passou rápido…
HONRA AO CAPITÃO
por Rubens Lemos
Ninguém foi mais capitão do que Bellini, primeiro brasileiro a erguer uma taça do mundo. Nossa. Só nossa. Homem de porte, nobre de futebol valente. Um zagueiro, galã do seu tempo, antagonista estético do padrão boleiro. Estampa de elegância.
O gesto das duas mãos expondo o troféu e elevando à grandeza a pátria de chuteiras enfeitiçadas de talento, é a posteridade do futebol original, artístico e inimitável. Bellini suava o suor da glória e eternizou o gesto improvisado de segurar a Jules Rimet com as duas mãos e o sentimento guerreiro emocionado do infinito.
Sem o estilo monarca de um Didi, a malícia deliciosamente garrinchiana e a desnecessária adjetivação do garoto Pelé, dava o ar diplomata, quase de premier, à função tradicional das botinadas e trancos noss atacantes atrevidos. Ao espanador de virtudes.
Bellini, bem mais que o primeiro líder nacional a simbolizar o pontapé de um povo no complexo de vira-latas, de lambaio moral, foi o zagueiro do Vasco da Gama de verdade. Seu xerife, sua garantia, seu castelo inviolável.
Bellini traz a figura do meu vascaíno mais querido,. Seu fã aguerrido, disposto a brigar com quem duvidasse da garra e da liderança do seu ídolo. O meu pai escalava o time de 1956,que bateu o grandioso Real Madrid de Puskas, na euforia interiorana de criança ao pé do rádio, ruídos atrapalhando as transmissões na voz impactante do locutor Waldir Amaral:
– Carlos Alberto; Paulinho e Bellini; Laerte, Orlando e Coronel; Sabará, Livinho, Vavá Peito-de-Aço, Válter Marciano e Pinga.
O craque do meu pai era Válter Marciano, driblador que botou a constalação do Real Madrid no bolso na vitória por 4×3 que valeu o Torneio Internacional de Paris de 1957. Bellini, após expulsar Puskas e Di Stéfano da área, sublimou a consagração que viria no ano seguinte.
Foram 11 anos suando e sangrando por um clube que já nem existe mais na vida real. É somente fotografia amarelada de suas glórias e refugiado pela nostalgia. Bellini representava a coragem do almirantado da Cruz de Malta, hoje náufrago bombardeado pelos homens sem coração para cantar os versos do seu hino.
Há 30 anos, recolhido à aposentadoria e ao exílio crepuscular em São Paulo, desabafou indignado, por ter sido preterido de uma seleção dos melhores do Vasco de todos os tempos, feita pela Revista Placar. Começavam as injustiças de internet. Bellini perdeu para Ricardo Rocha, tricampeão carioca pelo Vasco e tetracampeão mundial pelo Brasil. Bellini protestou:
– O que fiz para merecer tanta desfeita? Eu fui tantas vezes campeão, ergui a Jules Rimet, o Vasco sempre foi a minha razão de viver e é assim que sou premiado na velhice?
Seria segunda decepção pública de Bellini. Em 1962, Mauro fez pressão sobre o técnico Aymoré Moreira, exigiu ser titular e capitão e o treinador cedeu.Aos jornalistas, lágrimas escorrendo de surpresa devastadora, pediu em prantos:
– Por favor, não me chamem mais de capitão!
Disciplinado como os militares de hierarquia e combate real, saiu bicampeão com uma medalha no peito e uma mágoa incurável. Hideraldo Luiz Bellini, paulista de Itapira, era maior que os escaninhos do futebol. Sujeira, bastidores nefastos.
Em 7 de junho de 1960, esteve em Natal, chamando a atençãoao pela simpatia natural, atendendo a todos os fãs e posando com mulheres hipnotizadas por sua beleza. Em campo, o Vasco arrasou o ABC por 6×2 no velho estádio Juvenal Lamartine e Bellini ficou impressionado ao levar um drible desconcertante do ídolo Jorginho Professor. Mas não apelou às pancadas.
Para a eternidade, ser capitão de campo tornou-se majestade instituída por Bellini, estátua em vida no Ex-Maracanã. O futebol brasileiro – desde 2014 com sua morte, está desfalcado em seu time titular da segurança e do seu caráter. Bellini significou vergonha na cara. Deveria ser em maiúsculo.
QUE FALTA LUCIANO DO VALLE NOS FAZ
por Zé Rober
to Padilha
Além de brilhante locutor, Luciano do Valle criou algo inédito no futebol brasileiro: a Seleção de Futebol Master. Jogadores que recebiam alta da profissão, como Diego, Fred e Filipe Luis, eram convocados para disputar amistosos pelo país onde sua arte, e idolatria, não saíam subitamente de cena.
Todo mundo saía ganhando. O torcedor, que tinha um bis dos seus ídolos, e estes, por sua vez, iam se acostumando, com mais técnica do que correria, com a chegada da barriga e da aposentadoria.
Se ele estivesse vivo, a convocação seria mais ou menos assim:
Goleiros: Fábio, Gatito, Cássio e Felipe (Amazonas);
Laterais: Mariano, Filipe Luis, Cortez, Edilson;
Zagueiros: David Braz, Felipe Melo e David Luiz;
Meio-campo: Ganso, Diego, Renato Augusto, Thiago Neves;
Atacantes: Coutinho, Diego Souza, Lucas Moura e Douglas Costa, Wellington Paulista, Rafael Sóbis e Walter (sem clube);
Técnico: Felipão;
Supervisor: Isaías Tinoco.;
Chefe da delegação: João Havelange (in memoriam);
Patrocinadores: Banco Nacional, Mesbla, Grapete, Cashmere Bouquet e Drible.