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“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 66

por Eduardo Lamas Neiva

Logo ao fim da música dos irmãos Valle, Idiota da Objetividade, como um coelhinho de desenho animado, antecipou-se a qualquer jogada e partiu em frente com as informações sobre o jogo seguinte ao clássico entre as duas seleções que haviam ganho os três mundiais anteriores a 70.

Idiota da Objetividade: – Com essa vitória sobre a Inglaterra, o Brasil foi para o último jogo da primeira fase podendo perder por até dois gols de diferença para a Romênia, que precisava pelo menos ganhar para manter suas chances, dependendo do resultado da Inglaterra contra a Tchecoslováquia. Mas a seleção brasileira venceu por 3 a 2, com dois gols de Pelé e um de Jairzinho.

Sobrenatural de Almeida: – Zagallo naquela partida escalou Fontana na zaga ao lado de Brito e deslocou Piazza para o meio de campo.

João Sem Medo: – Rivelino havia se machucado no jogo com os ingleses e ficou fora. Paulo Cesar continuou no lugar de Gérson, que estava machucado e só voltaria contra o Peru, nas quartas de final.

Idiota da Objetividade: – No segundo tempo, Zagallo tirou Everaldo e pôs Marco Antônio e depois substituiu Clodoaldo por Edu.

João Sem Medo: – Fiquei feliz com a vitória. O Brasil mereceu ganhar, apesar de cometer erros muito infantis naquele jogo. O problema estava no banco de reservas, pois uma substituição que precisava ser feita, a saída de Clodoaldo, mexeu em três posições do time, com a entrada de Edu. Faltavam jogadores de meio-campo no banco. Se Clodoaldo tivesse um problema sério, teríamos dificuldades pra organizar a parte mais importante do campo.

Sobrenatural de Almeida: – Com você iriam Zé Carlos e Dirceu Lopes, dois meias do Cruzeiro.

João Sem Medo: – Mas já tinha ficado muito feliz com as três vitórias nos três primeiros jogos.

Ceguinho Torcedor: – Amigos, os 25 minutos iniciais contra a Romênia mostraram um futebol jamais atingido, em qualquer Copa até ali, seja na terra, seja no céu. O nosso adversário sofreu um massacre inédito.

João Sem Medo: – Não eram passados dezoito minutos e o ataque brasileiro havia desferido dezoito chutes contra a meta da Romênia. Aos 20, marcou seu gol e logo depois ampliou.

Ceguinho Torcedor: – Depois de 2 a 0 paramos um pouco. Os gols da Romênia aconteceram por causa da facilidade da partida. Alguns brasileiros rebolaram, evidentemente. O Brito enfeitou. Fontana um pouco. Marco Antônio também. Mas nossos jogadores aprenderam naquele jogo esta verdade absoluta: só se ganha uma Copa do Mundo de cara amarrada. Basta um segundo, não mais, um único segundo de máscara, de indolência, distração, para que um abismo se cave aos nossos pés. Mas feita esta advertência, ficou patente ali nos 25 minutos iniciais que naquele campeonato não havia uma equipe com o nosso talento, a nossa imaginação, o nosso virtuosismo, a nossa magia. Após o jogo, a Jules Rimet, loura como nunca, perguntava: “onde é que esses brasileiros foram arranjar tanto futebol?”

E mais uma vez o Ceguinho Torcedor arranca risadas da plateia.

Sobrenatural de Almeida: – Ela foi conquistada e depois derretida. Assombroso!

Músico: – Assombroso mesmo, Seu Almeida. Mas aqui no Brasil até notícia ruim vira samba.

Sobrenatural de Almeida: – E isso também é assombroso!

Músico: – Verdade. Em 1985, a Caprichosos de Pilares cantou o samba de enredo “E por falar em Saudade…” na Marquês de Sapucaí a plenos pulmões com o público presente.

Garçom: – Aquele foi um dos maiores sucessos daquele ano antes, durante e até depois do carnaval.

Músico: – Isso mesmo, e a letra fala da Jules Rimet derretida.

Garçom: – Vamos ouvir, então?

Músico: – Vamos nessa! Só pra matar as saudades.

Depois do povo do bar Além da Imaginação se esbaldar com o sambão de Pilares, composto por Almir de Araújo, Balinha, Marquinhos Lessa, Hércules e Carlinhos de Pilares, Idiota da Objetividade foi mais uma vez mais rápido.

Idiota da Objetividade: – Naquele mesmo dia, por outro grupo, o Uruguai jogou sob protesto contra a Suécia. Tudo porque a Comissão de Arbitragem da Fifa resolveu trocar o árbitro brasileiro Airton Vieira de Moraes, o Sansão, pelo americano Henry Landauer, que apitaria Itália e Israel, no dia seguinte, jogo que acabou tendo Sansão como árbitro. A alegação, de acordo com os próprios uruguaios, é que a Comissão teria recebido uma denúncia de que o árbitro brasileiro teria sido subornado por alguém do Uruguai.

João Sem Medo: – Os dirigentes uruguaios ficaram revoltados e disseram que não passava de mais uma armação europeia pra derrubar os sul-americanos, como já havia ocorrido na Inglaterra, quatro anos antes.

Idiota da Objetividade: – Além disso, os italianos reclamaram que Landauer era de família judia e poderia favorecer Israel. Assim, a comissão de arbitragem da Fifa achou melhor trocar os árbitros das partidas.

João Sem Medo: – O árbitro de Brasil e Romênia foi o austríaco Ferdinand Marschall, que era romeno de nascimento, e apesar de pouco enérgico, foi bem na partida.

Ceguinho Torcedor: – A Romênia, com uma brutalidade e uma deslealdade inominável, mandou pro estaleiro o Clodoaldo e o Everaldo. Sofremos uma caçada humana. Eu estava vendo a hora que ia aparecer, com a camisa romena, o Zaroff, o Caçador de Cabeças.

João Sem Medo: – Mas sobre o suborno, não houve comprovação. Sansão sofreu o mesmo tipo de acusação na final entre Flamengo e Bangu, em 66. Mas pra mim ele teve uma atuação perfeita naquela final carioca.

Idiota da Objetividade: – No fim, após a troca de árbitros, os uruguaios foram derrotados por 1 a 0, mas acabaram se classificando, enquanto os suecos foram eliminados com o empate sem gols entre Itália e Israel no dia seguinte.

Garçom: – E acabou que a semifinal foi entre Brasil e Uruguai.

Idiota da Objetividade: – Sim, mas antes, o Brasil passou pelo Peru, com uma vitória de 4 a 2. Os gols brasileiros foram marcados por Tostão, duas vezes, Jairzinho e Rivelino.

João Sem Medo: – Foi uma vitória merecida em uma partida relativamente fácil para o Brasil, que apesar disso andou levando um susto.

Ceguinho Torcedor: – Os gols que perdemos são incontáveis. Dois lances geniais de Pelé explodiram na trave. Tostão, que fez dois gols, perdeu uns três.

Sobrenatural de Almeida: – Mas a defesa do Brasil andou facilitando de novo…

João Sem Medo: – É um erro acusarem aquela defesa brasileira de débil. Era composta de excelentes jogadores e Zagallo armou bem o sistema defensivo, principalmente com a magnífica ajuda que Jair dava a Carlos Alberto. Além do recuo de Jair e Paulo César ou Rivelino, Pelé também voltava bastante e, quando isso era impossível, Tostão aparecia defendendo. O defeito é que os nossos atacantes quando recuavam para defender se colocavam bem, mas não atuavam como defensores. Quero dizer que não combatiam com vigor como se fossem defensores. Desta maneira ficava relativamente fácil para o adversário passar pela primeira linha e avançar contra a segunda. Erradamente a última linha é que é chamada de defesa quando na verdade todos seriam defesa e não apenas os últimos quatro ou cinco.

Garçom: – Por isso, tanto a Romênia, como o Peru conseguiram fazer dois gols no Brasil?

João Sem Medo: – Sim, este fato é que permitiu aos peruanos, por exemplo, assustarem, pois penso que um primeiro combate mais rígido faria o Brasil ganhar mais fácil ainda aquele jogo.

Ceguinho Torcedor: – Amigos, sei que ninguém se ruboriza mais. Nem mesmo naquela época. O último rubor que se conhece ocorreu num baile da Ilha Fiscal. Mas a Copa de 70 foi uma experiência fabulosa pra nós brasileiros.  Vocês sabem o que diziam os jornais ingleses do nosso futebol? Diziam apenas e textualmente o seguinte: “Devia ser proibido jogar tão bonito”.

Garçom: – E um futebol tão bonito merece ser sempre louvado com música, né? Vamos chamar novamente ao palco Paulinho Nogueira.

Paulinho Nogueira é muito aplaudido novamente e vai ao palco.

Paulinho Nogueira: – Muito obrigado. Bom, aquela inesquecível seleção do tri era formada por gente grande que jogava com a alegria de verdadeiros meninos, concordam?

Todos dizem sim, com a voz ou a cabeça.

Paulinho Nogueira: – Então, em 1970, gravei um disco pela Som Livre chamado “Paulinho Nogueira canta suas composições”, e uma delas era “Menino jogando bola”, que vou cantar aqui, mais uma vez em homenagem aos heróis do tri.

Ao fim da apresentação, Paulinho Nogueira é muito aplaudido. O músico Angenor Rosa não se conteve e foi dar um abraço em Paulinho Nogueira.

Músico: – Que maravilha! Aprendi a tocar violão pelo seu método, mestre. Gente, muitos provavelmente não sabem, por isso faço questão de contar: eis aqui o inventor da craviola, instrumento de 12 cordas que foi, inclusive  usado por um inglês famoso, Jimmy Page, guitarrista da banda de rock Led Zeppelin.

Paulinho Nogueira ganha mais aplausos.

João Sem Medo: – Apesar de toda fleugma britânica, os ingleses sempre souberam que o brasileiro é um monstro quando o assunto é bola ou música. 

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Um gol desse não se perde!

O FLUMINENSE TAMBÉM ERA UMA MERCEDES

por Zé Roberto Padilha

Ano passado só dava Mercedes. E Fluminense também. O carro de Louis Hamilton e a máquina de Fernando Diniz desfilavam soberanos nas pistas e gramados.

Ontem, no Autódromo do Engenhão, a RBR do Botafogo, mostrou que os tempos mudaram. E atropelou a Mercedes Tricolor.

Com motores novos e potentes, o Botafogo não tomou conhecimento de um carro com equipamentos ultrapassados e envelhecidos. E alcançou a linha de chegada com uma volta de antecedência. E é o novo líder do campeonato.

No boxes da Mercedes, mecânicos desolados lamentável a perda de peças fundamentais de sua antiga suspensão. Perderam o Nino, o André machucou, Arias foi correr pela Colômbia, Keno se lesionou e o botão de ultrapassagem por cima dos atacantes, Felipe Melo, não pode ser acionado.

Em seus lugares, peças de segunda mão, como Renato Augusto, Douglas Costas, fizeram o rendimento do carro cair. Que tem rateado na largada da bola. E ainda tem problemas no Cano que, se antes era uma descarga de gols, tem andado entupido.

Lewis Hamilton deixou a liderança do mundial e o Fluminense, bem próximo de largar, já na próxima etapa, entre os quatro últimos, acaba de contratar Thiago Silva para reforçar a asa traseira.

Definitivamente, Mercedes e Fluminense não são as mesmas máquinas que encantaram o mundo esportivo no ano passado.

ELEIÇÕES NO FLAMENGO

por Elso Venâncio

Rodolfo Landim cumpre acordo e vai apoiar Rodrigo Dunshee na eleição a Presidência do Flamengo.

O clima político começa a tomar conta do Flamengo. Os sócios vão eleger, no fim do ano, o Presidente para o próximo triênio (2025/2026/2027). Rodolfo Landim tem força hoje para tornar o seu indicado favorito a sucedê-lo.

Landim chegou da Europa e vai conversar com Luiz Eduardo Baptista, o Bap, atual Presidente do Conselho de administração, e também com Mauricio Mattos, ex-vice de Consulados e Embaixadas, numa tentativa de unir a situação.

Rodrigo Dunshee, Luiz Eduardo Baptista e Mauricio Mattos, no momento, são pré-candidatos. Bandeira de Mello pode lançar o advogado Flávio Willeman.

O Presidente vai declarar seu apoio ao vice Rodrigo Dunshee, cumprindo um acordo entre os dois, feito nesse sentido. Rodrigo é, no momento, o Procurador-Geral do Flamengo. Gony Arruda, nome influente, hábil politicamente e responsável por levar Landim para o clube, deve ser o vice na chapa.

A liderança do Landim se fortaleceu graças aos vários títulos e com a saúde financeira do clube. Conquistou duas Libertadores, dois Brasileiros, duas Supercopas, uma Copa do Brasil, outra Recopa e quatro Cariocas. O orçamento se aproxima de um bilhão e meio de reais, com superávit operacional recorde, de R$ 320 milhões.

Além do Maracanã, em tabela com o Fluminense, o Flamengo planeja erguer seu estádio para 80 mil torcedores.

O ex-Presidente George Helal, uma das lendas vivas do Flamengo e do futebol brasileiro, repetia:

“Em ano de eleição, me preocupo com o time, diante da pressão insuportável que fica na Gávea”.

Helal, atualmente com 92 anos, foi o responsável por acreditar e investir na formação de Zico e, fosse pouco, comprou o terreno do ‘Ninho do Urubu’, sem imaginar que o Centro de Treinamento levasse seu nome e, mais que isso, se tornasse fundamental para blindar a equipe do furacão que se transforma a sede social em anos eleitorais.

Nas últimas quatro décadas, os três grandes presidentes rubro-negros foram Márcio Braga (88 anos), Bandeira de Mello (71) e Rodolfo Landim (67), que, curiosamente, conhecem bem o poder público e a arte de costurar acordos.

O tabelião Márcio Braga, deputado federal em dois mandatos, foi por seis vezes eleito Presidente. O administrador de empresas Bandeira de Mello, que reequilibrou as finanças, trabalhou 36 anos no Banco de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, sendo atualmente deputado federal. Quanto a Rodolfo Landim, aos 22 anos ele já estava na Petrobras, onde permaneceu por quase duas décadas e meia. Ainda presidiu a BR Petrobras, hoje Vibra Energia.

Termino com outra frase clássica de George Helal:

“Eleição no Flamengo acontece sempre no primeiro decênio de dezembro.”

“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 65

por Eduardo Lamas Neiva

Após os aplausos a Tonico e Tinoco por cantarem a “Marcha do tri”, a brilhante campanha da seleção brasileira na Copa de 70 começou a ser revivida com objetividade e posteriormente também muita subjetividade e poesia, que era o que aquele timaço fazia dentro de campo.

Idiota da Objetividade: – A seleção brasileira estreou na Copa de 70 contra a Tchecoslováquia, no dia 3 de junho. De virada, o Brasil goleou por 4 a 1, gols de Rivelino, Pelé e dois de Jairzinho.

Ceguinho Torcedor: – Nenhum outro escrete do mundo podia oferecer o futebol que os nossos jogadores ofereceram na estreia. E olha que vários cronistas fizeram um verdadeiro terrorismo com o quadro da Tchecoslováquia. O nosso adversário era fabulosíssimo, ao passo que o nosso pobre jogo antigo, obsoleto como a primeira sombrinha de Sarah Bernhardt.

João Sem Medo: – Já havia escrito antes do início da Copa que achava a Tchecoslováquia a partida mais fácil do grupo 3, porque os tchecos deixavam jogar. Foi uma vitória muito fácil.

Ceguinho Torcedor: – Aqui, João, promoveram os tchecos como se fossem os fantasmas da Copa. E que vimos nós? Um desenho, uma pintura, um tapete bordado. Ganhamos de 4 a 1, sem sorte nenhuma.

Garçom: – Foi um baile. Jairzinho fez um golaço maravilhoso, dando um lençol no goleiro.

João Sem Medo: – Foi muito boa a nossa atuação, mas diria também que foi muito consentida pelos tchecos.

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso foi Pelé. Não no gol espetacular que fez, mas naquele que não fez, do meio do campo.

João Sem Medo: – Se o Pelé conquistasse aquele gol num chute de 60 metros, quando o goleiro Viktor estava adiantado, acho que até os reservas da Tchecoslováquia teriam obrigação de ir cumprimentá-lo. Pelo menos o árbitro deveria ter feito isso.

Ceguinho Torcedor: – O que fez esse escrete que saiu daqui vaiado? Um jogo prodigiosamente articulado, sim, harmonioso, plástico, belo. Era uma música, meu Deus. Fizemos jogadas que foram para o futebol momentos de eternidade.

Garçom: – Foi uma festa tremenda no país inteiro desde o primeiro jogo.

Ceguinho Torcedor: – As cidades se levantaram em gigantesca apoteose. As pessoas se olhavam na rua e diziam umas às outras: “Somos brasileiros!” Eu vi a grã-fina das narinas de cadáver cair de joelhos, no meio da rua, e estrebuchar como uma víbora agonizante.

O povo no bar todo ri às gargalhadas imaginando a cena descrita pelo Ceguinho. Zé Ary aproveita a deixa.

Garçom (rindo ainda): – Gente! Amigos, como a seleção brasileira jogou os primeiros cinco dos seus seis jogos em Guadalajara, vamos tocar no nosso aparelho de som a homenagem que Murilo Caldas, irmão de Silvio Caldas, que aqui está e peço aplausos a ele (todos aceitam a proposta de Zé Ary), que os Demônios da Garoa gravaram em 1970. Chama-se “Guadalajara”, a música.

Após a execução da música, Idiota da Objetividade vai em frente.

Idiota da Objetividade: – O segundo jogo foi chamado pela crítica de a final antecipada da Copa. Brasil e Inglaterra se enfrentaram no dia 7 de junho e a seleção brasileira venceu por 1 a 0, gol de Jairzinho, após jogada espetacular de Tostão e Pelé.

Garçom: – Lembro até hoje como vibrei com aquele gol!

Ceguinho Torcedor: – Quando Jairzinho fez aquele gol maravilhoso, cada um de nós, depois de se apalpar várias vezes, concluiu: “Eu sou brasileiro!”. Realmente, por mais espantoso que pareça, nós somos brasileiros.

Mais risadas na plateia.

João Sem Medo: – Grande vitória do Brasil. A falta de Gerson, que foi substituído por Paulo César, criou problemas muito difíceis que foram resolvidos por muita garra. Jair foi o mapa da mina. No primeiro tempo, que foi muito agarrado, ele proporcionou grande jogada para grande cabeçada de Pelé e também grande defesa de Banks.

Sobrenatural de Almeida: – Aquele jogo teve pelo menos dois momentos assombrosos: a defesa de Gordon Banks, em cabeçada certeira de Pelé, no primeiro tempo, e a jogada de Tostão no gol do Brasil.

Garçom: – Dois lances de outro mundo, “seu” Almeida.

Sobrenatural de Almeida: – Sobrenatural. (todos riem)

Ceguinho Torcedor: – Tostão fez uma prolixa jogada de gênio no gol brasileiro. A área inglesa estava entupida de adversários. E ele teve de driblar um, depois outro, mais outro, devastando aquela floresta de botinadas. Depois deu um rodopio e entregou alto, para Pelé. O sublime crioulo estava cercado por não sei quantos adversários. Enfiou para Jairzinho. Este encheu o pé: gol do Brasil! Este gol é uma das relíquias da pátria. A Inglaterra levou uma lição de futebol.

João Sem Medo: – Dois adversários difíceis tinham de se respeitar e somente uma jogada de craques poderia burlar o verdadeiro muro da defesa inglesa. Foi uma jogada de gênio de Tostão, pela esquerda, a Pelé, que entregou de bandeja a Jair. Aí, Banks, o melhor goleiro do mundo na época, nada pôde fazer.

Ceguinho Torcedor: – Napoleão, o Grande, bem disse: “O que me faltou em Waterloo foi um Jairzinho”.

O povo se esbalda em mais gargalhadas.

João Sem Medo: – Depois do gol, os ingleses responderam com substituições e bolas altas na área. Surgiram jogadas de perigo, houve momento de nervosismo na defesa brasileira, mas ao mesmo tempo nosso contra-ataque se tornou mais perigoso. O Brasil mereceu a vitória, porque jogou melhor.

Músico: – Aquele timaço jogava por música!

Garçom: – É verdade. E músicas não faltaram pra lembrarmos eternamente daquela seleção e da grande conquista do tri. Agora, vou pôr aqui no som os Golden Boys cantando “Sou tri-campeão”, dos irmãos Valle, Marcos e Paulo Sérgio Valle.

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EDINHO, O MAIOR ZAGUEIRO DA HISTÓRIA TRICOLOR

por Paulo-Roberto Andel

Ele disputou três Copas do Mundo, se destacou como um dos maiores jogadores brasileiros dos anos 1970 e 1980 e viveu dezenas de tardes inesquecíveis no velho Maracanã com mais de 100 mil torcedores. Ainda garoto, foi simplesmente titular da Máquina Tricolor ao lado de campeões mundiais como Paulo Cezar Caju, Rivellino, Carlos Alberto Torres, Félix e Marco Antônio. E ninguém mais do que ele equilibrou tanta garra em campo com qualidade técnica vestindo a camisa do Fluminense.

Aos 68 anos completados nesta quarta-feira, Edino Nazareth Filho, o inesquecível Edinho, está consagrado como um dos maiores nomes da história do Fluminense. Ele foi o principal responsável por segurar o ânimo da torcida tricolor após o término da Máquina. Sempre se destacou mesmo em times menos valorizados do Fluminense. Liderou o time campeão carioca de 1980 e marcou o gol do título na final contra o timaço do Vasco.

Para os tricolores em torno dos 50 anos de idade, Edinho foi o grande ídolo, a estrela maior. Arrancava da defesa para o ataque, marcava gols, dava passes, lançava, cruzava e voltava para combater. Era uma espécie de camisa 10 jogando na quarta zaga, fazendo as duas funções simultaneamente. Enlouquecedor.

É fácil lembrar dele pelos títulos e vitórias. Com 360 jogos pelo Flu, venceu mais da metade e só perdeu 75 em nove temporadas disputadas, somadas as duas passagens pelo clube. Mas o Fluminense de Edinho era tão valente e lutador que recebia aplausos até na derrota. Foi o caso das oitavas de final do Brasileirão de 1981: o Fluminense precisava derrotar o Vasco por 3 a 0 para se classificar, e conseguiu o resultado ainda no primeiro tempo. Num jogo de muita luta, o Cruz-maltino reagiu, descontou para 3 a 2 e conseguiu a vaga. Mesmo triste, a torcida tricolor aplaudiu seu time ao término da partida. Era assim nos tempos de Edinho.

Já como treinador do clube, em sua última passagem, o eterno craque deixou a marca do que pensava sobre o Flu. Contrariado pelos dirigentes, que impuseram a contratação do veterano lateral cruzeirense Nonato, simplesmente declarou: “Jogador reserva de outro time não serve para ser titular do Fluminense”. E pediu o boné. A vitória era sua filosofia desde garoto, no futebol de praia de Copacabana.

Numa típica fake news, ainda há torcedores que apontam Edinho como “traidor” por ter jogado no Flamengo. O tamanho dessa bobagem pode ser desmentido por quem viveu a época: Edinho simplesmente tinha voltado da Itália, estava sem clube, pediu para treinar semanas no Fluminense e foi desprezado pelo inacreditável presidente Fábio Egypto, famoso apenas por ter desmontado o time tricolor tricampeão de 1983/1985. Sem saída – a não ser a loucura de encerrar a carreira aos 32 anos -, o zagueiro foi para a Gávea, ganhou a Copa União e, ao primeiro sinal de arrependimento do Fluminense, acertou imediatamente a volta ao clube, naquele tempo bem mais enfraquecido do que seu rival. Outros preferem dizer que ele era “contra o Fluminense” na função de comentarista do SporTV por uma década – o engraçado é que vascaínos, alvinegros e rubro-negros tinham a mesma reclamação em relação aos seus clubes…

Quem melhor definiu Edinho foi Seu Pinheiro, símbolo eterno do Fluminense, às vésperas de sua morte em 2011. Tive a oportunidade de entrevistar o ídolo no Tijuca Tênis Clube naquela ocasião, ao lado de Raul Sussekind e Álvaro Doria. Passamos horas divertidas conversando sobre o Fluzão e o futebol. Em certo momento, cravei: “Seu Pinheiro, com toda a sua história e títulos, campeão mundial pelo clube, homem de confiança de Castilho com mais de uma década de serviços prestados às Laranjeiras, eu posso dizer que o senhor é o maior zagueiro da história do clube?”.

Com olhar sério e emocionado, o velho Pinheiro – que sabia de tudo do Fluminense dos anos 1930 até 2010, tendo visto inclusive outros cracaços da defesa como Ricardo Gomes – um monstro! -, além de revelar inúmeros craques, cerrou as sobrancelhas, deu uma pausa e disse: “Não, meu filho. Não. Eu joguei muito bem, assim como outros, mas o maior zagueiro da história do Fluminense é o Edinho.”

Ponto final.

@p.r.andel