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A CONTA CHEGA

por Zé Roberto Padilha


Jogara toda a Taça GB 74. Carlos Alberto Parreira no comando, Gerson no seu último ano, Cleber e Pintinho voando nos seus primórdios.

Na última partida antes da final, contra a Lusa, meu tornozelo direito encontrou um buraco. O Maracanã naquele tempo tinha buracos. E ali fraturei o maléolo. Muito grave.

Fora da final, o Fluminense perdeu o título para o América, eu minha maior promoção. No vestiário da derrota, Parreira explicava: “Faltou o Zé Roberto!!”

Quase meio século depois, veio a conta. Como em toda profissão. Tomado pela artrose, desembarquei no Rio em busca de um especialista. Se a medicina esportiva não conhecia os parafusos que o fixaria corretamente, agora precisa dar um jeito de amenizar as consequências.

Como evitar que a gente caminhe com dificuldades. Segundo Henfil, no Pasquim, a gente só percebe que está mancando quando as crianças começam a nos atirar pedras.

Eu lembro do Coca-Cola, saco nas costas, barba na altura do peito, andando a esmo pelas ruas de Três Rios e toda a molecada, eu no bolo, correndo atrás.

Como disse, as contas e as pedras, os buracos no campo e o desrespeito com os mais sofridos, chegam um dia para qualquer um.

CARTA ABERTA A ROBERTO DINAMITE

por Luis Filipe Chateaubriand


Prezado Ídolo:

A primeira lembrança que tenho de futebol, remete a você.

O Brasil ganha da Áustria, na Copa do Mundo de 1978, com gol seu, e se classifica à segunda fase da Copa do Mundo da Argentina.

Depois, nós saímos para passear, ali mesmo na Ilha do Governador, e passamos em frente àquele prédio de fachada verde onde você morava e que, naqueles dias, ostentava uma grande bandeira do Brasil na janela.

Eu tinha sete anos e, mesmo sem saber ainda, já era vascaíno.

Depois, o tempo se encarregaria de provar que eu era, mesmo, vascaíno.

Vi gols de falta, de pênalti, de oportunismo, de voleio, de sem pulo, de tudo quanto é jeito.

O moço dinamite explodia de todas as formas possíveis.

Como não ser Vasco da Gama, ainda mais sendo português, como sou?

Tive o prazer de presenciar uma carreira linda, de um homem bom, exemplo de pai de família, cidadão acima de qualquer suspeita, gente de bem.

O que me estimulou a escrever um livro sobre você.

Sim, Dinamite, eu escrevi um livro sobre você!

Um livro de exaltação, porque você merece!

E te digo: eu vou lançar esse livro, com você ao meu lado, pleno de saúde e bem-estar!

Porque você vai vencer essa doença!

Você vai dinamitá-la.

E sabe por quê?

Porque você é um vencedor.

Muita fé, querido Bob.

Porque Papai do Céu vai dar aquela força, e eu ainda vou ter o prazer de te dar um abraço!

Do seu fã,

Luis Filipe Chateaubriand

SURPRESAS DA COPINHA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Enquanto não começa o campeonato estadual, tenho acompanhado a Copinha. Sei que o torneio é uma oportunidade única para centenas de garotos pelo Brasil, mas esse excesso de times acaba desvalorizando a competição. Não temos nem estrutura para tantos jogos e o resultado são gramados de péssima qualidade por conta da grande quantidade de jogos e os meninos que se virem!

Fico contente com os times considerados pequenos eliminando os favoritos: o Mirassol goleou o Bahia e o Oeste eliminou o Flamengo merecidamente. A comissão do rubro-negro carioca teve a absurda ideia de tirar os principais jogadores da competição para colocarem no Carioca e deu no que deu…

Ainda sobre a Copinha, gostei muito de acompanhar o Resende, time que joga tocando de pé em pé, sem chutão e deu um banho de bola no Corinthians na casa do adversário. Acompanhei a classificação do Botafogo contra eles nos pênaltis e ficou nítido que o gramado atrapalhou bastante o estilo de jogo. Tudo isso exige tempo e é fruto de um investimento 100% na base em parceria com a Pelé Academia e o Lyon, da França, que dão todo suporte à garotada, inclusive acadêmico. Queria eu que todos os clubes tivessem essa consciência porque é a salvação para o futebol brasileiro! Também destaco as campanhas de América-MG e Santos, que fazem um ótimo trabalho na base.

Durante a minha caminhada no Leblon, um vendedor ambulante me perguntou sobre a convocação do Tite. Sinceramente, não tenho mais paciência para falar! Já são mais de 20 anos sem ganhar uma Copa do Mundo, não vejo luz do fim do túnel. E olha que o nível do futebol europeu não está lá essas coisas! O Real Madrid levantou mais um caneco, mas dá pra ver que já não é mais o mesmo quando vemos que Eder Militão, Casemiro, Rodrygo, Vinicius Jr. são a base do time. Não tem mais jogadores excepcionais como Zidane, Ronaldo, Raúl, Beckham, Roberto Carlos e o próprio Marcelo!

A pedido da galera, finalizo a coluna com uma pérola que anotei dos analistas de computador: “A bola está viva! Foi chapada por um jogador agudo, que trombou com os zagueiros da segunda linha e fez uma ligação direta pela beirada do campo”. E aí, geraldinos? Entenderam alguma coisa?

HADDOCK LOBO: CAMISAS DOS MARRONS DA TIJUCA SÃO REVIVIDAS

por André Luiz Pereira Nunes


O escritor Kléber Monteiro relança modelos do Haddock Lobo

O escritor e professor Kléber Monteiro Fins (foto) marcou mais um gol de placa. Após relançar, com a ajuda de interessados, várias camisas de times extintos do Rio como Andaraí, Confiança, Vila Isabel, Catete, Helênico, Tijuca, Palmeiras e Riachuelo, a bola da vez, ou melhor, a camisa da vez é a do Haddock Lobo Football Club, outra saudosa agremiação que se localizava na Tijuca, pródiga região da cidade do Rio de Janeiro que abrigou dezenas de equipes de futebol.

O simpático Haddock Lobo, fundado em 23 de julho de 1908, se notabilizou pela singular combinação de cores de seu pavilhão. Em três anos de existência contou com três fardamentos. O primeiro, predominantemente, na cor marrom, perdurando até a metade do Campeonato Carioca de 1909, quando foi criado o segundo fardamento, este listrado nas cores marrom e branco.


Modelo marrom do Haddock Lobo

Contudo, durante o Campeonato de 1910 o clube abandonaria as cores originais, passando a atuar com a indumentária azul.

Vale ressaltar que o clube possivelmente foi um dos poucos a adotar a cor marrom. Porém, é preciso ressaltar que o Grêmio, de Porto Alegre, quando foi fundado, em 15 de setembro de 1903, ainda não contava com sua icônica e conhecida camisa tricolor, imortalizada como umas das mais belas do mundo. Seu primeiro modelo era composto por um design listrado, na horizontal, nas cores azul celeste e havana, uma espécie de marrom.

Em 1911, o Haddock Lobo, em virtude de uma grave crise econômica, se fundiria ao America Football Club. A proposta inicial era o novo clube se chamar Haddock Lobo-America, mas, a ideia não prosperou. Tanto o nome, quanto as cores originais, não foram mantidas. Na prática, o America incorporou o co-irmão, se apropriando do terreno, localizado à Rua Campos Sales. Inclusive, Marcos Mendonça, o primeiro goleiro da Seleção Brasileira, pertencia ao Haddock Lobo e passou a atuar pelo America.


Grêmio, de Porto Alegre, foi o pioneiro na utilização do marrom

Curiosamente, o novo presidente do America foi Álvaro Zamith, oriundo do Haddock Lobo, o qual veio a substituir o lendário Belfort Duarte, que passou a ser o capitão da nova equipe integrada.

Apesar da existência breve, o Haddock Lobo deixou a sua marca na história do futebol carioca. Disputou os estaduais da primeira divisão de 1909 e 1910 e a segunda divisão de 1911.

Os interessados em adquirir os modelos todo marrom e o listrado marrom e branco devem procurar Kléber Monteiro através das suas redes sociais ou pelo ZAP 21 99791-5589.

ONDE VOCÊ ESTAVA?

por Paulo Roberto Melo


Onde você estava, em 25 de novembro de 1971, quando o Roberto Dinamite explodiu as redes do Maracanã, fazendo seu primeiro gol como profissional do Vasco, contra o Internacional? Primeiro gol dos mais de setecentos, ao longo de mais de vinte anos de carreira. Eu, com cinco anos de idade, provavelmente estava presenciando uma comemoração dupla: pelo gol do Roberto e pelo aniversário do meu saudoso pai.

Onde você estava, em 9 de maio de 1976, quando o Roberto Dinamite encobriu o zagueiro Osmar, do Botafogo e emendou de voleio, fazendo um dos gols mais bonitos da história do Maracanã? Eu, com 10 anos de idade, estava saindo da missa e correndo para falar com o Irmão Josafá, da Paróquia Santo Afonso, que com seu radinho de pilha, acompanhava todos os jogos do Vasco e gostava de me perguntar no final de cada missa: “rezou pro Vasco ganhar?”

Onde você estava, em 11 de junho de 1978, quando o Roberto Dinamite acertou o ângulo do bom goleiro Koncilia, da Áustria, na Copa da Argentina? Gol salvador, que classificou o Brasil e evitou o vexame de uma volta antecipada para casa. Eu, com 12 anos de idade, de frente para a primeira TV em cores da nossa casa, pulava de alegria pelo sucesso do meu ídolo.

Onde você estava, em 9 de agosto de 1987, quando o Roberto Dinamite, depois de matar a bola no peito, rolou-a suavemente para a bomba do Tita, dando, assim, o título carioca daquele ano ao Vasco? Eu, com 21 anos de idade, estava na arquibancada do Maracanã, vibrando como um louco, a vitória de um grande time, cujo astro era o Roberto.

Onde você estava, em 24 de março de 1993, quando o Roberto Dinamite deu uma volta olímpica pelo gramado do Maracanã, acenando para a torcida e se despedindo do futebol? Eu, com 27 anos de idade, na arquibancada do Maracanã, via uma linda parte da minha vida se despedindo junto.

Onde você estava, em 8 de junho de 2011, quando o Roberto Dinamite, presidente do Vasco, comemorava com os jogadores o último título nacional de relevância do clube da Colina? Eu, com 45 anos de idade, estava abraçado à minha esposa, de frente para a TV, vibrando em silêncio, para não acordar a nossa filha.

Onde você estava, em 26 de outubro de 2021, quando o Roberto Dinamite abriu a porta da sua casa para me receber com o mesmo sorriso de sempre? Eu, com 55 anos de idade, conversei alguns minutos com meu ídolo, entreguei a ele o projeto de um livro, tirei uma foto e me despedi com a vida zerada.

Onde você estava, em 9 de janeiro de 2022, quando o Roberto Dinamite revelou que começaria o tratamento para combater determinados tumores que haviam aparecido? Eu, com 55 anos de idade, demorei alguns dias para absorver o impacto da notícia e corri para rezar por ele e enviar pensamentos de cura e restauração.

Onde você estará, quando, em nova revelação, o Roberto Dinamite afirmar que venceu mais essa luta? Eu, com qualquer idade, estarei onde e como sempre estive: distante, mas junto dele.