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AOS 30, MAS COM 14

por Rubens Lemos


Ídolo de minha geração cinquentona, Zico estava sublime ao fazer 30 anos. Se perdeu a Copa do Mundo de 1982, era campeão mundial de 1981 e brasileiro do ano seguinte. Em 1983, completou 30 anos maduro, respeitado por torcedores de todos os clubes, incluídos os do Vasco da Gama, meu time, Fluminense e Botafogo, rivais rubro-negros domésticos.

Zico partiu ao completar três décadas de vida se despedindo ao dar de presente o terceiro título brasileiro ao Flamengo numa surra homérica de 3×0 no Santos diante de 155 mil pessoas, maior público das finais nacionais.

Fez um gol com menos de um minuto e depois partiu para a Udinese, uma espécie de Ponte Preta de Campinas da Itália, mediana e que luziu apenas enquanto Zico vestiu sua camisa 10, por sinal, parecidíssima com a do Vasco.

Até os 30 anos, Zico construiu uma imagem cristalina de atleta e cidadão. Estava no Flamengo nos três mundiais que disputou, porque voltou da Udinese em 1985.

Zico estava nos álbuns de figurinhas, nas campanhas publicitárias politicamente corretas, era o Flamengo nascido no subúrbio de Quintino, aparência frágil e voracidade assassina em direção gol.

Em toda a sua carreira profissional, de 1971 a 1983, Zico encarnou o jovem e depois o adulto modelar. Não dava declarações polêmicas, evitava divididas políticas (só depois de pendurar as chuteiras, foi Ministro de Fernando Collor), honrava a camisa 10 que Pelé passou a Rivelino, seu antecessor.

Zico criou uma sólida reputação de bom caráter que o permitiu circular livre em todas as camadas futebolísticas, jornalísticas e passionais de arquibancada.

Somente aos 30 anos, Zico se preocupou com prioridade em ganhar dinheiro mais do que suficiente. Assim mesmo, teve que jogar até quase 40 no futebol japonês, que a ele deve o sol nascente ludopédico.

Zico e Neymar não podem ser comparados. Zico jogava mais bola do que Neymar assim como os outros dois da trinca mágica e azarada vestindo amarelo: Sócrates e Falcão. Zico era um meia-atacante que os tecnocratas hoje chamariam de vertical, como se fosse possível alguém jogar deitado. Zico era um driblador progressivo, sentava cinco marcadores e o goleiro antes de fazer o gol.

Uma – das inúmeras – vantagens de Zico sobre Neymar: Zico buscava o gol com objetividade requintada, sempre quis a vitória e o gol como seu instrumento único. Zico jamais driblou Dudu do Vasco, Jandir do Fluminense ou Carlos Alberto do Botafogo para trás e depois deu um sorrisinho irritante para as câmeras.

Outra diferença em favor de minha patota de barriga proeminente mas sem onde guardar hectolitros de cerveja: Zico comemorava seus gols com a torcida do Flamengo. Nem que tivesse de atravessar o campo inteiro do Maracanã. Não mandava galera rival se calar tampouco fazia sinais pornográficos aos adversários.

Zico foi uma instituição, em lampejos no PSG, Neymar é contradição, literal ou metafórica: é o que sobrou de um futebol profanado em sua matéria-prima de arte e molejo, de ginga e balé, de malabaristas ocupando o espaço tomado de assalto por trogloditas especializados na deformação do 0x0, no máximo 1×0, como regra autoritária pelas ideias paupérrimas de técnicos de prancheta e sem contato com a dona do teatro, a bola.

Enquanto Zico atravessou a fase final de Pelé, passou por Rivelino, Ademir da Guia até ser o primeiro de uma seleta galeria com Reinaldo, Sócrates, Falcão, Júnior, Roberto Dinamite, Adílio, Paulo Isidoro, Jorge Mendonça, Paulo César Caju. Até ensinar à garotada bicampeã mundial de juniores(1983/85), com Geovani, Bebeto, Mauricinho, Romário(não foi campeão, mas era estupendo ainda criança), Silas e Muller.

Neymar nunca teve concorrência. Surgiu como um raio e, em 2010/11, explodiu como o fora de série que misturava dribles e danças com passagens na mídia indesejável, colecionava baby girls e, a contragosto, segue de figurante na Europa, primeiro para Messi e depois para o francês Mbappé.

Zico fez 30 anos sem festejos, é só pesquisar. Neymar, na idade comportamental, deve estar provocando coleguinhas com 16 Iphones de última geração. Ele completou 30, mas, na prática, parece estar com 14 anos.

ESQUADRÕES DO FUTEBOL

por Elso Venâncio


O tema era muito comum e hoje está esquecido. Quais foram os “Esquadrões do Futebol”, os grandes times que encantaram o mundo?

Os requisitos começavam por um que é considerado fundamental: ter um punhado de craques na equipe. Depois, conquistar títulos por alguns anos e, se possível, mantendo sua base.

Abro esse papo com o Vasco do decantado “Expresso da Vitória”. Primeiro clube brasileiro a conquistar um título internacional, levantou o Torneio dos Campeões Sul-Americanos – o equivalente à Taça Libertadores da América – no ano de 1948.

Barbosa, Augusto e Rafagnelli; Danilo, Ely e Jorge; Friaça, Ademir, Dimas, Ipojucan e Chico. Que timaço!

A torcida do Flamengo, após seis anos sem vitórias sobre os vascaínos, fez um tremendo carnaval fora de época quando o venceu, de virada, por 2 a 1, gols de Índio e Adãozinho, em setembro de 1951.

Outra equipe inesquecível foi o Santos de Pelé. Gilmar, Carlos Alberto Torres, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Bicampeão da Libertadores e do Mundial Interclubes, tetra do Torneio Rio-São Paulo, penta da Copa do Brasil e Octacampeão paulista na década de 60. Quer mais?

Como esquecer o Botafogo de Nilton Santos, Didi e Garrincha? Veja só: Manga, Paulistinha, Tomé, Zé Maria e Nilton Santos; Airton e Pampolini; Garrincha, Didi, Quarentinha (Amarildo) e Zagallo.

Por sinal, Santos e Botafogo formaram a base do Brasil bicampeão mundial em 1958 e 1962. Os jogos entre ambos os clubes reuniam, na década de 60, os maiores craques do planeta.

A seleção húngara – cuja base era o temido Honved, que chegava a ceder nove craques titulares: Puskas, Bozsic, Czibor e o artilheiro Kocsis, dentre outros – não deve ser esquecida. Foram 39 jogos sem perder. Sem falar que a derrota para a Alemanha, na final da Copa do Mundo de 1954, causou um espanto maior até do que a derrota do Brasil para o Uruguai, quatro anos antes, no Maracanã.

O Real Madrid, com seu ataque formado por Del Sol, Kopa, Di Stéfano, Puskas e Gento, enfileirou títulos entre as décadas de 50 e 60. Como o tetracampeonato espanhol, o primeiro Mundial Interclubes e o único pentacampeonato consecutivo da Liga dos Campeões da Europa (atual Champions League), transformando um clube de, até então, poucos triunfos e torcida exígua na maior força do país e uma das maiores potências do mundo do futebol.

Outros três esquadrões europeus foram Bayer de Munique, de Franz Beckenbauer; o Ajax, de Johan Cruyff; e o Barcelona de Guardiola, que, liderado por Lionel Messi, conquistou 14 dos 19 títulos oficiais possíveis.

Peris Ribeiro, o grande escritor campista e biógrafo do Mestre Didi, analisa a matéria:

“Se quisermos ser um tanto rigorosos, veremos que o último grande time que tivemos foi o Flamengo de Zico. Durante cinco anos, entre 1978 e 1983, essa equipe conquistou um Mundial Interclubes, uma Libertadores, três Brasileiros, quatro Cariocas, o penta da Taça Guanabara e seis torneios internacionais, inclusive o bicampeonato do badalado Torneio Ramon de Carranza, na Espanha”.

Alguns ameaçaram chegar lá, como as Academias do Palmeiras (houve duas), o Cruzeiro de Tostão – e, depois, o de Zezé Moreira – e o São Paulo de Telê Santana.

Hoje, infelizmente, não temos as feras de antigamente. Mas vale recordar. Então, me diz, qual é o seu “Esquadrão de Futebol” inesquecível?

BANGU: A EX-MISS DO FUTEBOL CARIOCA

por André Luiz Pereira Nunes


O Bangu mais uma vez decepcionou no Campeonato Estadual. Sua pífia campanha, a qual culminou na goleada acachapante para o Flamengo, por 6 a 0, demonstra que os áureos tempos em que jogava de igual para igual com os grandes em busca de títulos, tanto em esfera regional como nacional, ficaram mesmo para trás.

O Alvirrubro da Zona Oeste só não foi rebaixado porque o regulamento, no tocante ao descenso à segunda divisão, foi recentemente alterado. Apenas o último colocado, Volta Redonda, cairá sem choro nem vela. É óbvio que essas mudanças não ocorrem por acaso. Servem justamente para conceder um certo alívio a determinadas ex-misses. Já viram por acaso álbum de ex-miss? É o famoso “olha como eu era”. Se aplica perfeitamente a equipes como Bangu e America que ainda respiram ares aristocráticos e bolorentos de um passado cada vez mais remoto e que hoje se assemelham mais a maracujás de gaveta.

A principal atração do Bangu esse ano foi o treinador. O ex-lateral-esquerdo Felipe, que fez história no Vasco. Foi uma aposta, é claro, pois está a iniciar a nova e ingrata carreira. E, ainda assim, não tem como fazer milagres. O elenco é comprovadamente muito fraco. Tão, mas tão ruim que capitulou por 6 a 0 diante do Flamengo, em pleno Maracanã, no último jogo. Parece até resultado de jogo-treino contra time juvenil.

Foi-se o tempo em que os banguenses tinham um verdadeiro timaço. No início da década de 80, o bicheiro Castor de Andrade injetava muita grana. E não se omitia na hora de reforçar a equipe. Trazia desde veteranos consagrados, como o lateral-esquerdo Marco Antônio, a revelações do porte de Marinho, Arturzinho, Mário, Baby, Ado e tantos outros. Eram os tempos em que, na pior das hipóteses, o Bangu chegaria às semifinais de uma Taça Guanabara ou Taça Rio.

Em 1985, por exemplo, eliminou o Flamengo e chegou à decisão contra o Fluminense. E só não foi campeão porque o polêmico árbitro José Roberto Wright não concedeu, ao fim do cotejo, pênalti claro de Vica em Cláudio Adão. Ao Bangu bastava apenas o empate. O Fluminense ganhava, de virada, por 2 a 1.

No mesmo ano, os banguenses, em campanha memorável, já haviam sido vice-campeões brasileiros. Inacreditavelmente perderam a final, nos pênaltis, no Maracanã, para o Coritiba. Também houve nesse jogo um polêmico lance que poderia ter dado o título ao Bangu a partir de uma arrancada de Marinho que, claramente vindo de trás, driblou vários marcadores, o goleiro Rafael, e fez um lindo gol. Um lance magistral desse grande craque, o último do Bangu a ser convocado para a Seleção Brasileira. Apesar do bandeirinha ter validado o gol ao correr para o meio, o juiz Romualdo Arpi Filho marcaria impedimento.

Não à toa, o saudoso ex-árbitro Walquir Pimentel dizia sempre que futebol se ganha dentro e fora do campo. Se uma equipe não tem influência nos bastidores, não conquista absolutamente nada. Por incrível que pareça, o Bangu de Castor poucos títulos ganharia naqueles áureos anos. Mas o atual, pelo menos, dificilmente será rebaixado nas próximas edições. A menos que se esforce ao máximo para ser o último colocado do Campeonato Estadual. É uma tarefa difícil, mas não impossível, em se tratando das últimas campanhas e da qualidade sofrível de seus elencos.

OBRIGADO, DIRETORIA DO FLAMENGO

por Zé Roberto Padilha


Em nome de todos os tricolores, gostaria de agradecer aos sábios e ilustres diretores de futebol do Flamengo por ter vendido, e nos livrado, do seu melhor jogador.

Seria muito complicado ter nas semifinais o “Luiz Henrique deles” jogando contra nós.

Sabe aquela jogada cada vez mais rara no futebol, aquele drible que chega à linha de fundo e puxa a bola com um pé, ameaça cruzar e sai para o outro, se bobear, dá mais uma entortada no zagueiro…

Que eu me lembre, excetuando essas duas feras acima mencionadas, apenas o Soteldo realizava essa jogada no Santos. E ela é mortal, objetiva e desmoralizante.

Espero, sinceramente, que o valor da transação tenha sido bem alto. À altura das dores de cabeça que vocês terão para encontrar um outro Michael.

Como vendem um jogador no melhor momento de sua carreira para pagar a maior e mais vultosa Comissão Técnica, portuguesa com certeza, já contratada no país?

Falar nisso, quem foi mesmo o sabido que bateu o martelo? Gostaria de agradecer pessoalmente. Lhe conceder minhas sinceras “saudações tricolores”.

MÁ GESTÃO

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Logo após o golaço de Luiz Henrique chega a notícia sobre sua venda por R$ 72 milhões para o Betis, da Espanha. É uma pena para os torcedores, mas é a solução que os dirigentes tem encontrado para seguir adiante.

Há anos, grande parte dos clubes brasileiros sofre com dívidas estratosféricas, algumas impagáveis, mas basta chegar a época das eleições para começarem brigas entre vários grupos políticos dispostos a assumirem um negócio falido. Alguém consegue me explicar?

O futebol é um esporte assistido por milhões de pessoas e é inadmissível que os executivos desse esporte, o mais popular do mundo, ainda não tenham se unido para transformá-lo em algo lucrativo. As federações, confederações e emissoras de tevê também deveriam estar nessa mesa. Não dá para as revelações irem embora tão cedo e os clubes seguirem arcando com salários altíssimos de veteranos e de quem já deu o que tinha para dar.

Dá para os estádios lotarem como na partida entre Flamengo x Bangu. Todos gostam de ver uma festa bonita. E hoje é fácil encher os estádios porque eles diminuíram, como o futebol vem se apequenando ao longo dos anos. Já falei repetidas vezes que uma boa estratégia de marketing contribuirá para todos, como ocorre, por exemplo, com NBA, Super Bowl e a Premier League.

Hoje, apenas os empresários enchem os bolsos de dinheiro. O torcedor ama futebol e basta o time ganhar uma, duas partidas e ele está lá prestigiando. Mas, hoje, acham que essa SAF é a solução. A solução sempre existiu, unir forças para criar um produto atrativo, mas cada dirigente prefere olhar para o seu próprio umbigo e deu no que deu.

Pérolas da semana:

1) A bola viajou em direção à área adversária para encontrar o atacante centralizado, que tem poder de fogo e corre por dentro para chapar a bola contra o time permissivo.

2) O time não tem a maturação do adversário e cede a bola propositalmente para jogar por uma bola.