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ABRAM AS ASAS SOBRE NÓS

por Zé Roberto Padilha


Durante uma partida de futebol, um dos momentos mais complicados para o árbitro acontece durante a cobrança de um corner. Ou de uma falta ao lado da área.

Fica quase impossível marcar uma penalidade, contra ou a favor, pois todos se agarram e todos se empurram na grande área.

E salta aos olhos a quantidade de gols que são marcados na pequena área diante de um goleiro colado à linha do gol. Estático e omisso, tem sido batido por qualquer desvio. Contra ou a favor.

E fico a esperar, como um apaixonado pelo futebol, o dia em que um goleiro corajoso, treinado por um preparador de goleiros de vanguarda, “descobrir” que ele é o único que pode tocar as bolas com as mãos durante aquele alvoroço.

E ele resolver não apenas sair para cortar um cruzamento dentro da pequena área, mas buscar a bola em toda a extensão da grande área.

Como um Albatroz, voará com suas luvas, deixará de ser coadjuvante de um desvio para ser o protagonista que estanque no ar uma granada atirada por um adversário. E próxima a explodir em suas redes.

No momento em que todos por ali estão escondendo as suas mãos, porque qualquer toque é pênalti, quem está liberado para utilizá-la a encolhe. E se omite dos recursos que as regras do esporte lhe concede.

Fico a pensar neste goleiro do Flamengo, o Hugo, alto, com braços longos, se fosse treinado para buscar a bola em toda a extensão da grande área.

O futebol iria mudar. Porém, para mudar uma postura precisa-se de coragem, ousadia, não ter medo de perder o emprego E, principalmente, treinamento, elasticidade, tempo da bola para entrar para a história.

Os goleiros precisam abrir as asas sobre todos aqueles que encolhem as suas.

Não se trata de uma invenção, algo que eles não sabem fazer, como sair jogando à la Fernando Diniz. Se foram para o gol é porque desde pequeno eram ruins “na linha”. E, com o tempo, se tornaram hábeis com as mãos.

Quem se atreve a abrir as suas e colocar no cardápio mais um ingrediente dessa doce degustação, que é sentar numa poltrona, abrir uma Corona e assistir a uma partida de futebol ?

Raul Carlesso, o pai dos treinadores de goleiros, e Nielsen Elias, seu discípulo mais consagrado, colocavam cones sobre estacas, no lugar dos zagueiros e realizavam cruzamentos para que saíssem da meta com um olho na bola outro nos homens.

Parou por quê?

AGUENTA CORAÇÃO

::::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Embora a expectativa com o Campeonato Brasileiro não fosse alta, essa primeira rodada foi de lascar. Os times considerados favoritos não foram nada bem e deixaram escapar pontos importantes que podem fazer falta lá na frente.

O Flamengo empatou com o Atlético-GO e ainda saiu no lucro, porque foi beneficiado em um gol legal anulado pelo VAR. O Palmeiras perdeu em casa para o Ceará do Dorival Júnior e o Fortaleza, campeão da Copa do Nordeste, foi derrotado para o modesto Cuiabá, no Castelão. O único que se safou foi o Atlético-MG, extremamente dependente de Hulk e seus 35 anos de idade. O atacante fez dois belos gols e continua deitando e rolando em cima da garotada. No nível atual do futebol brasileiro, vai jogar até os 40 mole!

No sábado, assisti Fluminense x Santos e estou muito triste com a situação atual do alvinegro praiano. Sou do tempo em que o clube encantava o mundo e hoje a equipe está sem perspectiva nenhuma, sem toque de bola, sem nada! Após fugir do rebaixamento no Campeonato Paulista, fico preocupado com o restante da temporada do Peixe e, se nada for feito, corre sério risco de cair para a Série B pela primeira vez na sua história. Também recebi o convite para assistir Botafogo x Corinthians e não ter ido foi uma das melhores escolhas que fiz. Para não falarem que sou chato e saudosista, vou dar tempo ao tempo e ver para onde esse barco vai!

Pela Série B, as equipes tradicionais também deixaram escapar pontos importantes. Acho que nunca tivemos uma Segunda Divisão tão forte e Vasco, Grêmio e Cruzeiro precisam abrir o olho para evitar surpresas negativas no fim do ano.

A única coisa que não me surpreendeu nessa primeira rodada foram os analistas de computadores, que seguem tentando complicar o que sempre foi fácil!

Pérolas da semana:

“Em um jogo pegado, o ideal é espetar a última linha com atacantes agudos e quebrar a bola para acampar no campo adversário”.

“Para ampliar o leque de jogadas, o atacante entra pela diagonal, centraliza na última linha e chapa na bochecha da rede”.

A TORCEDORA-SÍMBOLO: DONA ELIANE

por Jonas Santana


Dona Eliene era a torcedora símbolo daquele time, capaz de deixar queimar a panela para discutir sobre quem era o melhor jogador. Pelo time, dizia ela, era capaz de qualquer coisa, até de viajar a cavalo sem saber montar.

Mãe de Nego Jordan (ela não gostava quando chamavam o filho dela de Ney Rio, em comparação a um determinado jogador, cuja amplitude aquática era bem maior), era uma mulher confiante no talento daquela equipe, que seria, segundo ela, a cópia do Vasco (seu time do coração) dos bons tempos, com Rondinelli, Orlando, Dinamite e tantos outros que vestiram a camisa cruzmaltina.

Era verdadeiramente uma torcedora fiel. Por várias vezes abriu sua casa para as comemorações do clube sempre aconteciam. Só tinha uma coisa: nada de bebida alcoólica, palavrões ou algo do tipo. Não importava quem era, se o melhor da equipe, o astro do jogo, o presidente ou até mesmo o seu marido, que também não bebia, ninguém entrava com nenhum tipo de bebida nem abria a boca para falar qualquer impropério. Contam a boca pequena que certa feita ela fez Dirran (atleta do clube conhecido por sua delicadeza de jumento enfurecido numa loja de louças) escovar a boca com detergente por conta de um palavrão que lhe escapara quando contava uma peripécia para o grupo de jogadores ali reunidos, a popular resenha.

E era na resenha que surgiam as estórias mais inusitadas, sempre sob o olhar e ouvidos atentos da torcedora número um daquele time.

E ela era uma mulher de fé. Dizia que não fazia promessa porque isso não era certo, pois se fizesse tinha que cumprir, mas não largava sua bíblia, nem deixava de ir ao culto por nada, mesmo que fosse final de campeonato e o time estivesse disputando. Era uma pessoa singular, com um enorme coração, aconselhadora, amiga, mas também, como diziam os “meninos”, quase uma “delegada” quando a situação assim se impunha. E gostava de cumprir o que dizia, como naquela vez que fez Nerroda tomar quase um frasco de óleo de rícino por este ter se queixado de uma prisão de ventre, ou mesmo quando botou Nego Jordan pra tomar durante duas semanas direto beterraba com ovo, leite e aveia, para criar “sustança”.

Era médica, fisioterapeuta, psicóloga, conselheira daqueles marmanjos, como dizia Dona Terezinha, “Dona Eliene é a mãe desses meninos e a saúde do time”.

E como não podia deixar de ter um acontecido, Dona Eliene se meteu a andar de cavalo, por sinal um cavalo que Lila tinha ganho como melhor atleta de um jogo em que ele conseguiu parar ninguém menos que Litinho, o jogador mais cobiçado daquelas plagas. Mas voltando ao caso do cavalo, ela, toda pimpona e com a ajuda do filho, montou no animal. A recomendação era de não bater nas “ancas” do cavalo, senão ele dispararia e aí quem não tivesse habilidade iria ao chão. E ela queria porque queria andar, mais para poder se distrair que por necessidade.

E ela vai, toda esbelta, afinal era uma mulher elegante, de calça comprida, botas, caracterizada a rigor para o momento. E eis que num momento de empolgação, o cavalo cavalgando pacificamente, alguém chama a atenção de Dona Eliene que, distraidamente, meteu os calcanhares das botas no cavalo. Foi a conta. O cavalo em disparada, ela gritando por socorro e os jogadores abandonando o jogo que corria ali perto para tentar segurar sua patrona. A disparada era tanta que quanto mais gritavam para puxar a as rédeas e não castigar a barriga do animal, mais ela atacava o bicho e mais ele corria. Finalmente, depois de uma desabalada carreira, Pedro Preto consegue alcançar as rédeas e pára o equino. Assim que o animal estava sob controle desce Dona Eliene, mais suada que pano de cuscuz e mais arranhada que sofá de casa onde tem gato, por conta das árvores encontradas à beira do caminho e que castigaram a torcedora símbolo daquela equipe. E haja água com açúcar para ela, que a esta altura estava totalmente sem fôlego e sem direção.

Tranquilamente os atletas voltaram ao jogo, não sem antes receberem cartões amarelos distribuídos à vontade pelo juiz, que tina interrompido a partida por conta do episódio.

Terminada a partida, procuraram pela torcedora e ela estava tacitamente sentada, ainda se recuperando. Depois desse acontecido ela não quis mais saber de andar de cavalo, mas se tornou veterinária e criou uma escola de equitação.

MÁRIO? QUE MÁRIO?

por Luis Filipe Chateaubriand


Mário Português começou a se destacar no final dos anos 1970, no Fluminense.

Jogador de grande técnica e extrema criatividade, era o cérebro do time que foi campeão carioca no ano de 1980.

Pouco à frente, transferiu-se para o Bangu, onde fez uma “dupla do barulho” com Arturzinho.

Arturzinho e Mário “infernizavam” as defesas adversárias e faziam a alegria dos atacantes companheiros, como Marinho e Fernando Macaé.

Em seguida, no ano de 1984, Mário, junto com Arturzinho, se transferiu ao Vasco da Gama, onde se formou um trio ofensivo “da pesada”: Mário, Arturzinho, Roberto Dinamite.

O Vasco da Gama foi muito bem no Campeonato Brasileiro, tendo sido o vice-campeão do certame.

Em 1985, enquanto Arturzinho se transferia para o Corínthians, Mário voltava ao Bangu, para exibir o seu repertório de bom futebol.

Em seguida, Mário Português foi para Portugal, onde jogou no Sporting de Lisboa, com a mesma classe de sempre – jogar bola “vestindo terno”.

 Mário Português deixou um legado que demonstra que a bola deve ser bem tratada.

O MAIOR DE TODOS

por Péris Ribeiro


Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gilmar e Mauro (em pé), Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe (agachados)

Em toda a história do futebol, nunca um time teve um reinado tão longo e glorioso como o Santos da Era Pelé. Foram 15 belos anos – ou seja, uma década e meia. De 1958 a 1973. Tempo suficiente para que o esquadrão da Vila Belmiro encantasse o mundo definitivamente, chegando ao inacreditável recorde de 49 títulos de campeão – 27 deles, pelo menos, em competições internacionais. E 29, em torneios oficiais.

Um detalhe marcante em toda essa apaixonante história é que, apesar de haver se consagrado como o primeiro Bicampeão Mundial de Clubes, nas temporadas de 1962/63, o ano dourado do Santos do Rei Pelé e Cia foi mesmo o de 1968.

Afinal, nele foram conquistados nada menos de oito títulos – outro recorde histórico. Figurando como maiores destaques, o Campeonato Brasileiro – na época, chamado de Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Ou Robertão -, o Octogonal Internacional do Chile, o Pentagonal de Buenos Aires e as Recopas Sul-Americana e Mundial de Clubes.

Exibindo, onde quer que jogasse, o tão proclamado estilo refinado dos seus craques, o que aquele Santos sempre fazia questão de deixar evidenciada era uma espécie de comprometimento nobre. E esse comprometimento falava do dever – e da seriedade – de entrar em campo para  ganhar os seus jogos. E, ganhando, isso significava ser campeão quase sempre. Daí as muitas conquistas, o rosário de títulos pelos cinco Continentes.

O que talvez pareça incrível é que, apesar das dores musculares e de algumas contusões que, volta e meia, acabavam por incomodá-lo – além dos tradicionais resmungos de contrariedade, pois o excesso de jogos era cada vez mais frequente -, nem o próprio Pelé, muito menos Coutinho, Gilmar, Dorval, Pepe, Zito ou Mauro Ramos de Oliveira, eram capazes de dizer “não” aos mais variados tipos de competições em que viviam se metendo.

É que tudo aquilo era de lei, não havia como fugir. E o que eles tinham então a fazer, felizes ou não, era vestir o uniforme imaculadamente branco santista e entrar em campo. Afinal, era isso o que os cruéis e rigorosos contratos exigiam. Menos mal, é que o time seguia ganhando quase sempre. Daí aqueles estranhos títulos que, de repente, o consagrado Esquadrão da VilaBelmiro passou a exibir. Era Santos, campeão do Octogonal de Santiago do Chile, pra lá; Santos, campeão do Hexagonal de Buenos Aires, pra cá; Santos, campeão do Pentagonal de Guadalajara, no México…

– Pois é, minha gente, eu sei bem como tudo isso é difícil. Mas, mesmo em meio a todas essas dificuldades que temos sempre de superar, nunca deixamos de amar o futebol como a melhor coisa do mundo. E é esse sentimento, que procuramos passar aos povos que conhecemos. Jogue a gente em que estádio jogar – disse Pelé, certa vez, mesmo extenuado após mais uma vitória do Santos, cumprindo outra alucinante maratona de jogos por vários países da Ásia.

Aliás, dentre as muitas façanhas obtidas naqueles anos dourados, o Santos do Rei Pelé foi bicampeão do Torneio de Paris e tricampeão do Torneio Internacional de Santiago do Chile. E sagrou-se, ainda, campeão dos Torneios de Buenos Aires, Cidade do México, Nova York, Caracas e Kingston, na Jamaica.

Porém, em 1961, eis que, de uma hora para outra, surgiu enfim um desafio de peso pela frente. É que a Juventus, bicampeã italiana, dizia-se em melhor fase que o time brasileiro. E ainda tinha acabado de ver o seu camisa 10, Sívori, escolhido o “Bola de Ouro “ da Europa, na famosa enquete da revista “France Football”.

Mesmo assim, mesmo com toda aquela pompa, o fato real é que a Juva não foi páreo em momento algum para o Peixe. E, no jogo decisivo, uns sonoros 2 a 0 – gols de Pelé e Dorval – foram mais que suficientes para o Santos ser campeão do aguardado Torneio Itália/ 61.

É bem verdade que, pela imponência que emanava do estilo único daquele mágico Santos, aqueles eram os típicos torneios para serem disputados, sempre, em Paris – em pleno Parc des Princes.  Quando muito, em Roma, Madrid, Cidade do México ou Lisboa. Mas, e os múltiplos – e quase sempre escusos – interesses dos cartolas e empresários? O que fazer, senão seguir na irracional roda-viva por países e estádios, enfrentando adversários cada vez mais inesperados?

Afinal, era dos cartolas e empresários, apenas deles e mais ninguém, a ideia de umnovo Pentagonal na longínqua Costa Rica. E ainda houve quem programasse uma surpreendente chegada à, então,desconhecida cidade de Kingston. Sendo que foi lá, sob um calor de mais de 40 graus, que o exaurido time brasileiroparticipou do modesto Torneio Triangular da Jamaica. Por estranha e  infeliz ironia, a competição que iria proporcionar o último título internacional de campeão, ao inigualável Santos de Pelé e sua troupe de gênios.

Passados, hoje, nada menos de 50 anos daquele formidável  legado de glórias, o que fica nos remoendo a imaginação é uma certa  inquietude, uma  incômoda impressão. Talvez, a dolorosa certeza de que aquele mágico Santos, o Santos do Rei Pelé e do capitão Carlos Alberto Torres, de Clodoaldo, Edu, Lima, Toninho Guerreiro, Ramos Delgado e tantos outros artistas da bola, poderia muito bem ter durado um tanto mais. O que matou-o, foi a ganância dos cartolas.

Como consolo, o que ficou para os que o viram jogar – como negar? – foi um verdadeiro presente dos deuses. Porém, para os que não o viram, não custa nada imaginar. E sonhar, sonhar …