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NAS ONDAS DO RÁDIO

por Elso Venâncio

A Rádio Tupi uniu José Carlos Araújo e Luiz Penido, consolidando a audiência no futebol

Os dois grandes nomes da comunicação esportiva, o ‘mestre’ José Carlos Araújo e Luiz Penido, seguem firmes a impulsionar cada vez mais a audiência da carioca Super Rádio Tupi/FM nas transmissões de futebol.

Um dos momentos marcantes do Rádio Esportivo foi quando o ‘Garotinho’ José Carlos Araújo, após 42 anos na Rádio Globo, passou o comando no ar para Luiz Penido, ‘O Garotão da Galera’. José Carlos, lenda viva do Rádio, sem nenhuma vaidade e muito menos rancor, já percebia o que o tempo só iria comprovar.

Errou a direção da emissora líder de audiência em todo o país, que dava ainda um chicote sonoro não só no Maracanã, mas nos carros, bares, bancas de jornais e portaria dos edifícios da cidade. O slogan da Rádio Globo era ‘Um Brasil de Audiência’.

Penido voltou à Tupi devido ao enfraquecimento da Globo, e o Garotinho passou pela Bradesco Esportes e pela Transamerica.

Treze anos depois, a Tupi fez o que a Globo deveria ter feito. Uniu os dois profissionais, contratando José Carlos Araújo e, assim, consolidando a audiência.

Luiz Mendes ‘O Comentarista da Palavra Fácil’, previu a perda da popularidade das Rádios Globo, Rio e São Paulo, quando surgiram os programas em rede nacional:

“Rádio é regional, diferentemente da TV.”

O narrador Bruno Cantarelli, da Transamerica, deixou de ser revelação e se tornou realidade, em um mercado que resiste a se renovar. Bruno e Beto Júnior criaram o excelente Charla Podcast e estão migrando para a tevê.

Na Super Rádio Tupi, a boa novidade é Rafa Penido, ‘O Brabo’. Esse bordão, uma gíria da internet, é genial. Aliás, Penido, que é tio e mentor do Rafa, assumiu o comando do ‘Show do Apolinho’, que passa a se chamar ‘Geraldinos e Arquibaldos’, termo criado pelo eterno Washington Rodrigues. O ‘Giro Esportivo’ está revigorado, com a apresentação de Edilson Silva. Ágil, informativo, traz os experientes comentaristas Rubem Leão e Waldir Luiz. É ainda divertido, graças às participações de Fonfom e Hélio Júnior. O primeiro apresentador da atração, criada há mais de 30 anos por Luiz Penido, foi Eraldo Leite. Este se tornou o primeiro programa esportivo noturno, com duas horas de duração. O ‘Panorama Esportivo’, que na Globo contava com o inesquecível Gilson Ricardo, começava às 22hs e terminava às 23hs, sendo prolongado imediatamente até meia noite.

O rádio usa hoje a tevê e a internet como aliados, além dos ouvintes, que podem opinar, pedir músicas ou passar informações. Não à toa, o veículo é apontado em todas as pesquisas como o de maior credibilidade da comunicação brasileira.

CAMPEÕES DE FANTASIA

por Péris Ribeiro

Moreira, Cao, Zé Carlos, Leônidas, Waltencir e Carlos Roberto,  em pé; Rogério, Gérson, Roberto, Jairzinho e Paulo Cézar Caju, agachados.Este é o timaço do Botafogo, bicampeão carioca em 1967/68. O “Tri Mundial”de Caracas, no entanto, acabou solenemente ignorado pela FIFA

Pode não parecer uma explicação definitiva – ou a mais coerente de todas. No entanto, é comum muitos clubes optarem por contar a própria história – e então decidem contá-la, quase sempre, à sua maneira. Uma transgressão que leva a imediatas – e esperadas – distorções, já que vários números por eles apresentados, fatalmente acabam se chocando com a dura realidade dos fatos. Daí uma série de conquistas, de alguns dos maiores clubes do mundo, se verem inapelavelmente contestadas – ou, até mesmo, não reconhecidas.

O Fluminense do Rio, por exemplo, até hoje se considera vencedor de três Torneios Rio- São Paulo, quando, na realidade, venceu apenas dois – foi campeão em 1957 e 1960. Explica-se. A edição de 1940 da competição não foi até o fim, sendo paralisada antes da fase decisiva, devido ao pouco interesse do público e ao consequente prejuízo nas bilheterias. Porém, como a dupla Fla-Flu era líder do torneio até ali, o Fluminense decidiu, apressadamente, autoproclamar-se campeão – o que o Flamengo se recusou a fazer.

Aliás, outro fato semelhante veio a ocorrer 12 anos depois, quando realizou-se a disputa da II Copa Rio. Na verdade, um torneio internacional de importância comprovada, com a presença, inclusive, do Peñarol, campeão uruguaio – e recheado de jogadores que haviam ganhado a Copa do Mundo, realizada no Brasil dois anos antes, em 1950. Porém, aquela era  uma competição que, mesmo com times da Europa e da América do Sul, jamais foi considerada um Mundial de Clubes – muito menos, pela FIFA.

O que não impede o Fluminense – campeão da competição, ao vencer o Corinthians por 1 a 0, no primeiro jogo decisivo, empatando o segundo em 2 a 2 – de pensar de maneira diferente. Tanto que se autoproclama, oficialmente, “Campeão Mundial Interclubes” de 1952.

Por falar nisso, tal comportamento é o mesmo adotado pelo Palmeiras de São Paulo, vencedor da I Copa Rio, em 1951. Uma façanha celebrada, até hoje, com grande vibração pelo clube alviverde – que se considera, oficialmente, o primeiro “Campeão Mundial Interclubes” da história.

Aliás, pouco importa aí a determinante – e definitiva – decisão da FIFA, afirmando não reconhecer nas conquistas de palmeirenses e tricolores edições de um pretenso Campeonato Mundial entre clubes. O que as duas agremiações brasileiras, evidentemente, demonstram jamais aceitar como uma resolução irrevogável. Ainda mais, partindo da principal Entidade do futebol internacional.

                                       O delírio, em lugar da verdade

No entanto, o que parece ainda mais surrealista em toda essa história – tornando os fatos, inclusive, cada vez mais inverossímeis -, são os seguidos desmandos perpetrados por vários e vários clubes de todo o mundo, no que se poderia chamar de uma típica “forçação de barra”. Por sinal, tais desmandos se veem expostos de forma ainda mais desavergonhada, no exato instante em que tais clubes tentam, despudoradamente, atribuir a si próprios importantes conquistas que jamais obtiveram. Quando não, títulos que jamais conseguiram.

É o caso específico, para não ir mais longe, do Botafogo do Rio, que ao ganhar, por três anos consecutivos, o Torneio Internacional de Caracas – realizado por volta da década de 1960 -, resolveu exigir da FIFA que o considere “Tricampeão Mundial”. Certamente, numa delirante alusão ao antigo torneio realizado na capital da Venezuela, em plenos Anos 1950, e que foi denominado pomposamente pelos seus organizadores, de Pequena Taça do Mundo de Caracas. Normalmente, um Quadrangular disputado por clubes da Europa e da América do Sul.

Por sinal, até o poderoso Real Madrid – recordista absoluto, no quesito grandes conquistas internacionais – chegou a cair nessa armadilha. A ponto de catalogar como oficiais, os títulos que ganhou nos anos de 1952 e 1956.

Explica-se. Campeão em 1952, na primeira edição da competição, e novamente campeão em 1956 – já então, podendo escalar Di Stéfano, Kopa, Rial, Gento e Cia -, o Real se tornou o clube mais vezes campeão da badalada Pequena Taça do Mundo. E, empolgado pelo fato de haver vencido uma competição fora da Europa naquela época, passou a anexar aqueles dois títulos de maneira oficial por vários anos. Um fato que só foi corrigido recentemente, com as duas Pequenas Taças do Mundo de Caracas passando a fazer parte, tão somente, da lista dos torneios amistosos vencidos pelo Gigante de Madrid.

Por fim, o que podemos afirmar seguramente é que, mesmo sendo tentadora – mas condenável, sob todos os pontos de vista -, a estranha mania de os clubes contarem à sua maneira a  própria história, continua se espalhando mundo afora. Infelizmente!

E é isso, por sinal, que anda fazendo com que a grandeza de alguns clubes – todos eles, centenários e vitoriosos, e reconhecidos internacionalmente -, acabe entrando no perigoso terreno da contradição. Com a sua história, inclusive, até mesmo sendo posta em dúvida.

Triste, não?

A CAMINHO DO ESTÁDIO

por Cláudio Lovato Filho

O menino e o velho estão a caminho do estádio. Neto e avô. Dessa vez, o pai do menino, filho de velho, não pôde ir ao jogo com eles, por causa do trabalho.

O velho está dirigindo; o menino ao lado. Ouvem no rádio as entrevistas e os comentários pré-jogo.

Lá pelas tantas, o menino diz:

“O Fulano não vai jogar!” O espanto e a decepção dele são enormes.

“Lesionado”, diz o velho.

“Mas ele já estava recuperado! Eu li!”

“Parece que ainda não…”

Pela janela do carro, o menino observa a movimentação de torcedores que estão indo a pé para o estádio.

“Será que vai lotar hoje?”, ele pergunta ao avô.

“Vai estar cheio. Lotado, lotado, não sei”.

“Você acha que vão demitir o Beltrano se a gente perder?”

“O que você acha dele?”

O neto ficou um tempo pensando.

“Não sei…”

“Nâo é fácil avaliar o trabalho de um técnico”.

“É…”

“Quero dizer, o quanto do problema é ele e o quanto são os jogadores”.

“Você acha que técnico ganha jogo?”, o menino pergunta.

O avô ri. Rio alto.

“Essa pergunta é velha!”

“Mas o que você acha?”

“Acho que sim. Acho que o técnico pode ganhar jogo e também pode perder jogo”.

“Mais ganhar do que perder ou mais perder do que ganhar?”

“Aí não sei. Acho que meio a meio”.

Estão agora bem próximos do estádio. É só virar a esquina para avistar o lugar de que tanto gostam.

“Você se lembra da primeira vez que foi ao estádio?”, o neto pergunta.

O avô sorri. Não ri. Sorri. O sorriso da nostalgia.

“Eu me lembro como se fosse hoje”.

Diz isso e sente que os olhos umedeceram. Está emocionado.

“Sério? Quando foi?”

“Foi com o seu bisavô. Faz muito tempo. Eu tinha mais ou menos a sua idade. Ele era como nós. Largava tudo para ver um jogo do time”.

“Eu me lembro pouco dele…”, diz o menino.

“Você era muito pequeno quando ele morreu”.

E então o velho conta ao neto, o mais detalhadamente que pode, como foi aquela primeira ida ao estádio, mesclando realidade e imaginação, coisa vivida e coisa sonhada.

Depois, já subindo a rampa que os levaria a seus lugares no estádio, com o neto caminhando à sua frente, o avô projeta como estará o menino daqui a alguns anos, homem maduro subindo aquela mesma rampa, talvez com o filho, ou filhos, talvez sozinho, quem sabe lembrando dos tempos em que vinha ao estádio em companhia do avô, e em como aquelas idas ao estádio com o avô foram agradáveis, importantes e impossíveis de serem esquecidas.

CANELADAS E GOLAÇOS DE AGNER

por Zé Roberto Graúna

No início dos anos 1970, um garoto de apenas 13 anos chamou a atenção no diário
carioca O Jornal.
Mais precisamente, nos primeiros meses de 1973, o menino Luiz
Carlos Agner Caldas, tornou-se colaborador do Jotinha, suplemento juvenil de O
Jornal, quando publicou alguns depoimentos, cartas, quadrinhos e chegou a ser tema de
um artigo de página inteira, na qual o artista mirim foi apresentado como um desenhista
juvenil que despontava com talento e criatividade. O Jornal, uma das publicações dos
Diários Associados, de Assis Chateaubriand, era bastante popular no Rio de Janeiro e
tornou Agner conhecido entre seus leitores, especialmente com suas histórias em
quadrinhos. Com seus personagens Gileno (inspirado em seu irmão mais novo) e o
divertido Breu, um inseto que aparecia nas cenas desenhadas dentro de quadros em
formato de folhas, numa autêntica “história em folhinhas” (muito criativo e atual),
Agner teve um início de carreira de fazer inveja a qualquer veterano.

Apenas três anos depois, em agosto de 1976, ainda menor de idade, Agner teve sua
primeira charge publicada no semanário O Pasquim, quando, aproveitando que os Jogos
Olímpicos de Montreal tomavam conta do noticiário, desenhou uma charge de uma
família tentando saltar sobre a inflação, na modalidade salto com vara. Curiosamente, o
desenho saiu com o título “Olimpíada da Vida” num quadro desenhado pelo cartunista,
mas que foi riscado pelo Ziraldo. Na legenda, ficou o título “Olimpíadas do 3º Mundo”,
mas quem fez a arte final da página esqueceu de remover o quadro riscado pelo criador
do Menino Maluquinho. Coisas de uma época, quando jornais eram montados
artesanalmente com tesoura e cola.

Ainda em 1976, o jovem artista faturou um prêmio de 10 mil cruzeiros, quando foi
agraciado com o 1º lugar no concurso de monografia promovido pela Telebrás,
“Graham Bell – O Telefone e sua importância social”, que era destinado aos estudantes
matriculados no 2º grau e foi criado para marcar o centenário da invenção do telefone e
os 4 anos da empresa. Agner destacou-se ao utilizar de seu talento como desenhista de
histórias em quadrinhos sendo, por conta da premiação, destaque em artigo ilustrado na
revista Sino Azul, da antiga Telerj.

Em 1979, levado pelo cartunista Nani, Agner chegou ao Jornal dos Sports, em 1º de
fevereiro, quando desenhou uma charge apresentando as dificuldades do Vasco da
Gama em renovar o contrato de Roberto Dinamite, o maior ídolo e artilheiro do
cruzmaltino. Como um colunista diário, as charges do humorista eram apresentadas com
o título de “Canelada”, e divertiam os leitores de terça a domingo. Inicialmente, as
charges de Agner circularam na página 3, mas a partir de março, foi fixada na página 2,
a mesma onde diariamente saía a coluna “Ataque e Defesa”, de Ruy Porto, na época um
dos jornalistas mais respeitados da crônica esportiva carioca.

O tradicional espaço que antes fora habitado pelo argentino Molas, e os brasileiros
Otelo Caçador, Henfil e Nani – a quem substituiu, foi ocupado pelo artista, que
manteve-se no diário esportivo carioca por 10 anos, chegando a cobrir a Copa da
Espanha, em 1982, desenhando charges e caricaturas que imortalizaram a Seleção
Brasileira de Zico, Sócrates e Falcão, que era comandada pelo treinador Telê Santana.
Parte destas charges foram selecionadas e editadas no livro Pra Frente Brasil – As
Charges da Copa, que teve o prefácio do vascaíno Sérgio Cabral (o verdadeiro!), e

lembrou em seu texto que o cartunista, que iniciara sua trajetória usando calças curtas,
contava naquele momento apenas 22 anos, e já era um experiente desenhista de humor,
com ideias hilárias como o General Avelar (criado em parceria com seus colegas de
traço Hubert e Cláudio Paiva) para O Pasquim. Sérgio Cabral também lembrou o fato
de Agner ser torcedor do Flamengo, conforme Cabral, seu único defeito, porém,
recentemente, numa troca de mensagens com Agner, o cartunista nos confessou que
nunca foi daqueles rubro-negros mais fanáticos. O livro, que é hoje peça de coleção dos
aficionados por caricaturas, foi editado pela Codecri, a mesma editora do subversivo
semanário, apresentou em 98 páginas uma divertida coleção de charges que nos situam
sobre nossa Seleção na Copa da Espanha. A capa do livro exibia o escrete canarinho,
apresentando os ídolos em estupenda caricatura coletiva, onde se destacava o Doutor
Sócrates, munido de seu estetoscópio, “examinando” o coração teimoso de Telê
Santana. O desenho da capa foi tão feliz e divertido que, durante a Copa do Mundo, os
moradores de Vila Isabel o reproduziram numa daquelas decorações de rua, habituais e
tradicionais naquela década.

O futebol, nós sabemos, é um meio pouco ou nada progressista, mas nem por isso,
Agner deixou de fazer humor político, mesmo na página 2 do JS. O chargista carregava
a verve da geração de cartunistas criados durante a repressão política que cravou suas
travas nas canelas da democracia do país, a partir do golpe militar de 1964 e, sempre
que a oportunidade se apresentava, deixava suas piadas desenhadas cutucarem a
Ditadura e suas injustiças sociais. Quando da partida beneficente entre Flamengo x
Atlético-MG, jogo com renda destinada às vítimas das enchentes de 1979 que atingiram
a população de Minas Gerais, algumas charges do cartunista apontavam para outras
vítimas sociais ignoradas pelo futebol. Em outras situações, o chargista adaptava textos
e frases que eram usadas no período do governo do ditador João Baptista Figueiredo,
como “Anistia ampla, geral e irrestrita”, adaptando para situações do futebol, ou ainda
como quando desenhou bonecos como sendo jogadores do Vasco, na época com
salários atrasados, pedindo emprestadas placas de uma greve de trabalhadores durante
uma passeata. Influenciado pela geração Pasquim, Agner não perdia a oportunidade de
fazer humor político, mesmo num jornal direcionado ao alienado mundo do futebol.

Na mesma época do JS, Agner também teve importante passagem pela televisão,
quando desenhou algumas charges animadas para o noticiário Globo Esporte, da TV
Globo. Uma delas, gerou descontentamento de Zico, que tentava recuperar sua condição
física. Todos sabem que em 1985, após entrada criminosa do zagueiro Marcio Nunes,
do Bangu, Zico passou por idas e vindas por conta de seu joelho. Por um considerável
período, o Galinho sofreu com a contusão. O cartunista não perdeu a viagem e desenhou
uma charge animada onde um repórter entrevistava o joelho do Zico. Na cena, surgia do
joelho do atleta uma figura no pior estilo “bicho de goiaba” que, sorrindo, dizia: “É isso
aí, bicho!”. Agner lembra que o ídolo da Gávea não gostou muito e passou por um
período sem conceder entrevistas ao telejornal esportivo da emissora de Roberto
Marinho. Em 1986, de certa maneira, o artilheiro da Gávea deu boa resposta aos
humoristas e aos torcedores adversários, quando de seu retorno ao Flamengo, o craque
do Mengão enfrentou o tricolor das Laranjeiras, no Maracanã. Ao entrar em campo,
torcedores do Fluminense fizeram coro para provocar o Galinho e, em uníssono,
cantaram “Bichado, Bichado!”. Resultado: Flamengo 4 x 1 Fluminense, com 3 gols do
“bichado” ídolo rubro-negro.

Após ligeira mudança no perfil editorial do JS, que passou a dedicar maior espaço à
política e ao noticiário policial, as charges de Agner migraram para esses temas e
passaram a circular esporadicamente, em algumas edições saindo na primeira página ou
no caderno JS Notícias, com pauta mais temática na política do governo do “imortal”
José Sarney e seu “Marimbondo de Fogo”, o ministro Dilson Funaro. Nesse período,
Agner criou uma charge com Sarney, que apoiava as Diretas Já, mas em troca de mais 1
ano de mandato. No desenho, Sarney foi caricaturado com a camisa da campanha
enquanto fazia pose de fortão, gesto que, décadas depois, viraria a marca do artilheiro
Gabigol. Teria o cartunista criado uma charge premonitória? Bobagens à parte, aos
poucos, Agner parou com as charges e passou a publicar, a partir de maio de 1988,
sempre aos domingos, as tirinhas da personagem Bete Bola – A repórter Esportiva, uma
sátira que brincava com as raras presenças femininas na imprensa esportiva.
Apresentada como a “estagiária da Gozeta Diária”, a personagem fez graça até a edição
do dia 8 de janeiro de 1989, sendo este o último desenho de Agner no Jornal dos Sports.

Nascido no Rio de Janeiro no dia 7 de agosto de 1959, Agner formou-se na Faculdade
de Desenho Industrial, na Uerj; e concluiu Mestrado/Doutorado em Design Gráfico, na
PUC – RJ. Por anos seguidos foi figura marcante em salões de humor país afora, com
classificações em Niterói e Piracicaba, e premiações em Goiânia, quando foi agraciado
com uma charge sobre o atentado terrorista que atingiu o Riocentro, em 1981, e Rio de
Janeiro, no I Salão Carioca de Humor, da Sala de Cultura Laura Alvim, em 1988,
quando foi laureado com o Prêmio J. Carlos, e ainda faturou uma menção honrosa com
uma caricatura em homenagem ao Millôr Fernandes. Foi também destaque no Prêmio
Bola de Ouro, criado pelo saudoso jornalista José Jorge, que concedeu a Agner o
tradicional troféu instituído a partir de 1972 e que, por mais de uma década, tornou-se o
prêmio mais importante para os profissionais de comunicação esportiva. O cartunista
recebeu a Bola de Ouro em duas ocasiões, em 1983 e 1985, nos XII e XIV Troféu Bola
de Ouro, respectivamente.

Atualmente, o artista trabalha como designer gráfico na área de marketing do IBGE –
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e leciona na escola de comunicação da
Facha – Faculdades Integradas Hélio Alonso, e pós-graduação à distância em UX
Design da Universidade Mackenzie. Na internet, o leitor do Museu da Pelada pode
acompanhar o trabalho acadêmico de Agner como professor, no site www.agner.com.br.

“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 67

por Eduardo Lamas Neiva

Enquanto Paulinho Nogueira ainda voltava à sua mesa, Idiota da Objetividade não perdeu a deixa de João Sem Medo.

Idiota da Objetividade: – E já que falamos dos ingleses, que eram os campeões mundiais de então, a Inglaterra caiu nas quartas de final, sendo derrotada pela Alemanha Ocidental, numa reedição da final de 66. Os alemães venceram numa virada espetacular, por 3 a 2. E na semifinal, o Brasil derrotou o Uruguai, por 3 a 1, de virada, gols de Clodoaldo, Jairzinho e Rivelino.

Garçom: – Jairzinho fez gols em todos os jogos. O Furacão da Copa!

Ceguinho Torcedor: – Quando acabou o jogo, o Espectro de 50 foi varrido a pontapés. Está certo, varrido a pontapés?

Sobrenatural de Almeida: – Bem estranho isso, Ceguinho. Assombroso!

Ceguinho Torcedor: – Se não está certo, paciência. Vai assim mesmo. Nós torcemos com as costeletas, os bigodões, o penacho e as esporas do perfeito Dragão de Pedro Américo. Lembro que depois daquela vitória, eu vi a grã-fina das narinas de cadáver, também de penacho e também de esporas. Quanto aos bigodões, Rivelino já o usava.

O público ri das tiradas do Ceguinho Torcedor.

João Sem Medo: – Aquela partida teve um início muito nervoso, mas o Uruguai se acalmou primeiro que o Brasil e teve merecimento em marcar primeiro que nós, apesar de ter sido numa falha dupla de nossos defensores. Mas, depois, o Uruguai passou a jogar para pura e simplesmente manter o um a zero.

Ceguinho Torcedor: – Vocês querem saber por que trememos nos primeiros minutos? Porque éramos artistas e os artistas têm uma larga, uma generosa, uma insuperável emotividade. Nós marcamos um gol e choramos. E daí? E vocês gostariam de ser uns impotentes do sentimento, como Belzebu, o Abominável Pai da Mentira? A maior frustração de Satã é não ter, em sua biografia, uma única e escassa lágrima. Quando vocês estiverem comovidos, não façam cerimônia: sentem-se no meio-fio e comecem a chorar. Mas todos devem ter reparado naqueles dias, a alegria é mais profunda que a dor. Aquele escrete brasileiro foi o melhor que olhos mortais já contemplaram.

Garçom: – Até mesmo os olhos de um Ceguinho. Olha, já que falamos daquela derrota, em 50, pro Uruguai, vou chamar a nossa banda aqui no palco pra tocar uma música de 1958, mas que cai muito bem pra relembrarmos a vitória sobre os uruguaios na semifinal de 70. Não é, Angenor Rosa?

Músico: – É isso mesmo, Zé Ary! A letra da música de Denis Brean e Osvaldo Guilherme pra conquista do Mundial de 58 é perfeita pra comemorarmos de novo a vitória sobre o Uruguai em 1970. Chama-se “Vingamos Maracanã” e vamos a ela.

Após a apresentação, o povo do bar aplaude muito a banda Além da Imaginação. E sem deixar a bola cair, Sobrenatural de Almeida domina a pelota e sai se gabando novamente, ainda sobre Brasil 3 x 1 Uruguai.

Sobrenatural de Almeida: – O Espectro de 50 andou se assanhando pelo estádio Jalisco, em Guadalajara. Porém, fui eu que o expulsei a pontapés. E não foi com a vassoura. Na verdade, nem tive muito trabalho, é só rever os gols do Brasil pra vocês entenderem.

João Sem Medo: – Assombroso, Almeida!

O povo ri.

João Sem Medo: – O primeiro foi uma jogada genial do Tostão e um “despregamento” audacioso de Clodoaldo que terminaram com a bola na rede.

Ceguinho Torcedor: – O nosso gol, antes de ser bola nas redes, era obra de arte.

João Sem Medo: – Naquela altura do jogo, o Brasil já era mais equipe e dificilmente o Uruguai, que sentia falta do notável Pedro Rocha…

Idiota da Objetividade: – Que foi ídolo no São Paulo.

João Sem Medo: – Dificilmente o Uruguai alcançaria a vitória. Sem Pedro Rocha o ataque uruguaio ficou muito fraco, mesmo com as boas jogadas de Cubilla.

Ceguinho Torcedor: – Claro que é uma dureza disputar uma semifinal com o Uruguai. E mais ainda quando o juiz é um Rafles de galinheiro que nos negou dois pênaltis ululantes.

João Sem Medo: – Pouco a pouco a pressão aumentava e Jairzinho, uma das atrações daquela Copa, conseguiu a vantagem para o Brasil. O Uruguai se desesperou e começou a atirar bolas altas. Nada de positivo.

Ceguinho Torcedor: – Em campo, o nosso escrete fez suas obras-primas e passeou por obras-primas. Só uma coisa eu deploro na partida contra o Uruguai: é que não tenha entrado o quarto gol, de Pelé. Com uma ginga, driblou o goleiro uruguaio. Correu, apanhou a bola e encheu o pé. A bola, rente à grama, tirou um fininho da trave inimiga.

Garçom: – Um lance de antologia como aquele de Pelé merece ser revisto muitas vezes. Vamos ao telão.

O público aplaude de pé e Pelé se levanta pra agradecer.

Garçom: – Que maravilha! Uma obra de arte como essa, que infelizmente não terminou em gol, merece mais uma música, não acham? O que acha, Pelé?

Pelé (de sua mesa): – Eu vou sempre gostar e agradecer por tudo que tive em minha vida, dentro e fora do campo, a todas as homenagens que graças a Deus recebi e ainda venho recebendo, entende. Muito obrigado, Zé Ary, muito obrigado a vocês todos.

O público aplaude.

Garçom: – Então, já que Pelé está agradecido, vamos pôr aqui no aparelho de som uma música muito especial, composta pelo próprio Rei do Futebol, que foi gravada originalmente em 1971 por Moacyr Franco: “Pelé agradece”.

Quer acompanhar a série “Uma coisa jogada com música” desde o início? O link de cada episódio já publicado você encontra aqui (é só clicar).

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Um gol desse não se perde!