REFORMA DO CALENDÁRIO DO FUTEBOL BRASILEIRO – ADEQUAÇÃO AO CALENDÁRIO EUROPEU
por Luis Filipe Chateaubriand
Vemos, tristemente, que o Campeonato Brasileiro não foi interrompido para a realização da Copa América.
Com isso, o Campeonato Brasileiro ficou desfalcado de nada menos do que 32 jogadores.
Isso mesmo: a principal competição de futebol do país está sendo jogada sem 32 de seus principais jogadores.
O Flamengo, por exemplo, perdeu cinco jogadores para a Copa América.
Assim como o Palmeiras perdeu três jogadores, o Atlético Mineiro perdeu três jogadores, o Internacional perdeu três jogadores, e assim por diante.
Simplesmente, não cabe, em um futebol dito profissional, competições de seleções e relevantes competições de clubes serem jogadas ao mesmo tempo.
E qual a solução, então?
Simples!
A adequação do calendário do futebol brasileiro ao calendário do futebol europeu.
Significa ter pré-temporada em Julho, temporada oficial regular de clubes de Agosto a Maio e férias em Junho – a temporada deve ir de Julho de um ano até Junho do ano seguinte.
Isso resolveria inteiramente o problema, com a Copa América, a Copa do Mundo e torneios de seleções não coincidindo com as competições de clubes.
Simples assim.
E, como diria o meu amigo Sergio Pugliese, estamos conversados!
130 ANOS DE REBELDIA
por Pedro Barcelos
A briga do Botafogo contra esquemas de apostas esportivas não começou com John Textor. Pelo contrário, essa batalha deu origem ao primeiro Botafogo.
No final do século XIX, as apostas no remo (esporte mais popular da época) aumentaram consideravelmente, gerando cotações bizarras e resultados esportivos duvidosos. Nessa época, alguns atletas do Clube Guanabarense cansaram das jogatinas e, liderados por Luiz Caldas (também conhecido como “Almirante”), fundaram o Grupo de Regatas Botafogo, em 1891.
Além de combater as práticas antidesportivas, esse coletivo também era bastante politizado, fazendo forte oposição ao governo de Floriano Peixoto. Ou seja, o clube praticamente virou uma célula rebelde. Quando a Revolta da Armada começou, alguns sócios eram figuras importantes do confronto e as atividades do grupo precisaram ser interrompidas.
Alguns ficaram foragidos, mas outros não tiveram a mesma sorte. Luiz Caldas foi preso e faleceu poucos meses depois, em 25 de junho de 1894.
Quase uma semana depois, em 1º de julho, como resposta ao falecimento de seu líder, os sócios do grupo se reuniram e fundaram o Club de Regatas Botafogo. Além de concretizar o desejo do Almirante, isso também melhorou a estrutura organizacional da entidade.
O clube idealizado por Luiz Caldas deu certo. O Botafogo está prestes a completar 130 anos de história, é o único clube brasileiro campeão nos três séculos e é o primeiro campeão nacional, contando todas as modalidades. Em Olimpíadas, são mais de 70 convocações, sendo que 7 atletas alvinegros estarão em Paris nesse ano.
Talvez a forma que John Textor encontrou para batalhar contra as “bets” não seja a mais eficaz, mas isso só o tempo dirá. Porém, uma coisa é certa: um pouco de rebeldia nunca fez mal a ninguém, muito menos ao Botafogo.
A DOIS PASSOS DO PARAÍSO
por Zé Roberto Padilha
Muitos carregam dentro de si noções diferentes do paraíso que sonham alcançar. Claro que todos queremos ser felizes, saudáveis, queridos, amados e ricos. Porém, no fundo, tem um projeto, uma mulher, uma viagem, um mandato que vai lhe dar um gostinho único de realização pessoal.
Algo que foi crescendo dentro de sua formação e ganhando proporções de desejo absoluto acima do objeto comum cobiçado pela maioria dos mortais. Quando comecei minha carreira de treinador de futebol, em Xerém, esse paraíso foi se formatando enquanto comandei, por oito anos, quatro clubes.
Para mim, o paraíso seria alcançar a equipe profissional do Fluminense. Se alcancei como jogador, por que não? Para isso, percorri, desde os infantis, todos os caminhos para obter licitamente tal oportunidade.
E ela surgiu quando Edinho, então técnico dos profissionais, perdeu a decisão carioca de 1993, para o Vasco, em uma quarta-feira à noite, no Maracanã. Antes de partir, virou para mim, então técnico do Juniores, e disse:
– Agora é com você, parceiro!
Como o presidente do clube, Arnaldo Santiago, nada declarava. Perguntei ao supervisor, Roberto Alvarenga, o que faria.
– Você vem pela manhã e dá o treino. Deve ficar como interino até o clube resolver.
Claro que não consegui dormir direito. Estava próximo do Paraíso e domingo tinha jogo com o Palmeiras pelo Torneio Rio São Paulo. E passei a noite idealizando o time que levaria a campo. A novidade seria entregar a camisa 10 ao Nilberto, irmão do Nelio e do Gilberto, que estava arrebentando no Juniores.
Não tomei remédios para dormir, mas merecia uns três. Lembrava das inúmeras vezes que deixava Três Rios no ônibus das 5h30, descia na entrada de Xerém, esperava o ônibus tricolor chegar, dava o treino, voltava com eles para as Laranjeiras, fazia relatório e voltava no Salutaris das 14h30.
Não foram dois dias. Foram quatro anos. No fim, encontrava um amigo na Rodoviária Novo Rio e quando ele perguntava se estava indo ou chegando tinha que olhar o bilhete.
Enfim, tomei meu café e às 9h entrava pelo portão da Rua Álvaro Chaves, 41, mais nervoso e inseguro do que naquela manhã de 1968, aos dezesseis anos, quando cheguei para fazer testes nos infanto-juvenis. Naquela ocasião, só dependia de mim. Nesta outra, não havia bolas ou chuteiras à disposição para defender meu lugar no meu time de coração.
Fui entrando e logo uma leva de jornalistas passou por mim. Apenas me acenaram, não pararam. Totalmente sem graça, procurei refúgio e consolo na rouparia. Ximbica, meu amigo, contou tudo. E me consolou.
– Liga não, Zé, o Nelsinho é muito amigo do Arnaldo. Você terá outras oportunidades!
Poucas vezes retornei à minha cidade triste daquele jeito. Pela janela do ônibus, mesmo diante da beleza da serra de Petrópolis, não entendia porque me negaram aquela oportunidade, mesmo que fosse interino, como tantos, por uma partida.
Poderia perder para o Palmeiras e retornar ao Juniores, mas perderia para o resultado, que é o que define nossa permanência no cargo, jamais por desconhecimento de causa.
Nas duas horas em que passei dentro do ônibus, fui acompanhado pelo meu anjo de guarda. Só ele poderia conceder-me aqueles momentos de paz e reflexão diante das explicações que desrespeitosamente não me deram.
– Por que deixaram o Edinho citar meu nome à imprensa? Por que o Arnoldo Santiago deixou-me viver uma noite de sonhos estragados?
E cá entre nós, ninguém era mais tricolor do que eu, tinha mais tesão para merecer aquela oportunidade.
Chegando em casa, mal deu tempo de ser consolado pela minha esposa.
– Levanta a cabeça! Como treinador da base, vai ter outras chances. Cai treinador todo dia! – dizia ela, porque o telefone tocou. Do outro lado da linha Roberto Alvarenga nos deu o tiro de misericórdia.
Nelsinho exigiu que seu filho, Nelsinho Batista, trabalhasse com ele. E dirigindo os Juniores. Não havia apenas perdido a chance e de alcançar a equipe profissional, estava demitido do clube. A terra cedeu e levou, naquela manhã esquecível de maio de 1993, meus sonhos quando estava apenas a dois passos do paraíso.
NÃO, OBRIGADO!
por Idel Halfen
Se você estivesse trabalhando numa boa empresa e fosse convidado para assumir o mesmo cargo em uma empresa que seja referência na sua área de atuação, você aceitaria? Depende, né?
E se essa empresa “referência” oferecesse também um contrato maior tanto em termos de compensação financeira como de duração? Difícil recusar, não é mesmo?
E se a capacitação técnica dos colaboradores que você liderará nessa “nova” empresa for superior à dos atuais?
Pois bem, situação similar aconteceu recentemente com Dan Hurley. Quem???? Explico: Hurley é o atual técnico da equipe de basquete da UConn – University of Connecticut – e recebeu um convite para ser o treinador do Los Angeles Lakers, franquia que tem entre seus jogadores ninguém menos do que LeBron James. A proposta girava em torno de US$ 70 milhões por seis anos, o que equivale a um pouco mais do que o dobro do contrato com a UConn.
Ainda que comandar a equipe campeã da NCAA – National Collegiate Athletics Association, o campeonato universitário dos EUA -, seja algo extremamente atrativo, não há, em tese, como comparar com a oportunidade de dirigir uma das equipes mais vitoriosas da liga de basquete mais rica e popular do mundo, tendo, consequentemente, a oportunidade de conviver com os melhores jogadores de basquete do planeta.
Diante de todo esse enredo, os leitores devem estar ávidos para saber quando ele assume o Lakers e, provavelmente, fazendo algum prognóstico quanto ao sucesso, ou não, do treinador.
Podem parar! Hurley recusou a proposta.
As causas, nunca é uma só, estão ligadas às raízes que ele tem em Connecticut junto à família, além, talvez, de um certo receio de assumir a responsabilidade de fazer um time de estrelas, sem resultados expressivos no momento, virar a chave e triunfar.
Analisando a decisão, é certo que não teremos unanimidade. As opiniões variarão em função do jeito de ser de cada um, dos anseios, dos valores, do momento de vida e da necessidade econômica, entre outros fatores. Não há decisão certa ou errada antes de tomá-la.
Todavia, mesmo reconhecendo que há motivos coerentes para a recusa, cabe ao Lakers refletir a respeito do ocorrido, pois, se uma proposta é recusada, a responsabilidade pode não ser apenas da parte que a rejeita, principalmente em situações recorrentes. É preciso, sobretudo, entender o que vem acontecendo tanto em termos de resultados como de atratividade de talentos, os quais podem até estar interligados.
Todo esse relato que tem o esporte como pano de fundo pode, e deve, ser replicado ao mundo corporativo. Entender a razão pela qual as pessoas não aceitam ofertas aparentemente boas, por exemplo, é fundamental para se gerir qualquer organização. Engana-se quem acha que os “bastidores” das corporações ficam restritos a elas. Hoje em dia, há até sites que trazem comentários e críticas de colaboradores sobre suas ex e atuais empresas, isso sem falar nas redes sociais que auxiliam na conexão entre pessoas, o que pode ajudar no esclarecimento de dúvidas sobre qualquer assunto, inclusive na vida dentro de alguma empresa.
Portanto, ainda que uma boa remuneração seja um fator de extrema relevância para avaliação de uma proposta, há pontos, muitos deles aparentemente sem importância, que nortearão o processo de decisão.
GOL DE BARRIGA: O JOGO DOS JOGOS
por Paulo-Roberto Andel
Faz muito tempo, quase 30 anos. Exatamente hoje, 29. Vivíamos num outro mundo, num outro futebol, o Brasil tinha acabado de conquistar o tetra nos Estados Unidos. E o Maracanã, meus amigos, era do povo, da geral, da velha arquibancada de concreto e mil histórias.
Foi assim que Flamengo e Fluminense entraram em campo em 25 de junho de 1995 para provavelmente realizarem o maior jogo da história do clássico. É natural que muitos contestem essa afirmativa, já que o Fla x Flu tem 112 anos e mil capítulos especiais. Mas muita gente que viu as equipes duelarem desde a Era Maracanã crava com louvor o dia do gol de barriga como o maior Fla x Flu de todos os tempos, sem desprezar épicos como o primeiro clássico realizado em 1912, o famoso Fla x Flu da Lagoa em 1941, o estrondoso de 1963, o de 1969 e os de Assis em 1983 e 1984. Ano passado mesmo, a goleada tricolor na decisão carioca de 2023 foi marcante, mas…
Primeiro: o Fla x Flu do gol de barriga foi um jogaço. Debaixo de chuva, o Tricolor impôs 2 a 0 no primeiro tempo e massacrou o rival – poderia ter feito 5 ou 6. No segundo tempo, o Fla reagiu, partiu para cima, empatou o jogo e poderia ter virado, tamanho o volume do jogo. Primeiro com um jogador a menos, depois dois, o Flu esteve por milímetros de tomar uma invertida histórica, mas conseguiu se safar e fazer 3 a 2 num gol pra lá de inusitado, garantido um título que perseguia há nove anos. Mas antes do gol e numericamente desfalcado, o Fluminense não quis saber e também atacou muito. Foi um duelo lá e cá, disputado, fervoroso, inesquecível.
O Flamengo tinha um timaço, com Branco, William, Mazinho, Rodrigo Mendes, Sávio e Romário, o melhor jogador do mundo em 1994, afora Vanderlei Luxemburgo como treinador. Joel Santana respondia pelo Fluminense, que tinha Lima, Lira, Djair, Aílton, o eterno Super Ézio e Renato Gaúcho, autor do gol monumental. Curiosamente, o famoso gol de barriga marcou o jogo para sempre, mas diante de tantas alternativas e nuances de uma partida riquíssima, ele foi um detalhe – ainda que definitivo.
O Fluminense fez 3 a 2 para sempre, sua torcida chorou como nunca – muitos que já estavam fora do Maracanã voltaram aos berros – e os 15 minutos finais do clássico foram apoteóticos. Confirmada a vitória monumental, os mais de 110 mil torcedores aplaudiram efusivamente ao término do jogo imortal, reconhecendo a qualidade da batalha.
Para Márcio Guedes, decano e saudoso jornalista esportivo, que tinha visto pelo menos oito dos dez maiores Fla x Flus da história, não houve dúvidas: o jogo do gol de barriga foi o maior de todos eles. Márcio disse isso em rede nacional de TV no dia seguinte à decisão. O vídeo está no YouTube.
E eu, que era um garoto de 27 anos e já tinha visto muitas coisas belas do Fla x Flu, nunca mais me esqueci daquele dia. Anos depois, tive a honra de escrever três livros sobre aquele título imortal. Muitas e muitas vezes voltei ao Maracanã e recordei cada segundo daquele duelo histórico, único. Desde então, já vi meu Fluminense atravessar céus e infernos, perder e ganhar títulos fabulosos, mas nada, absolutamente nada se compara ao que foi estar na arquibancada tricolor naquele 25 de junho de 1995. Foi o meu dia mais feliz como torcedor do Fluminense, que dificilmente será superado. É que ganhar do melhor jogador do mundo com um gol de barriga e terminando o jogo com apenas oito atletas não acontece duas vezes na vida. É algo que só se vive uma vez – e que vez!
Viva o Tricolor, campeão eterno de 1995!
@pauloandel