TÁ RUIM? ENTÃO TROCA
por Idel Halfen
Não gostei da demissão do técnico Fernando Diniz!
Expurgar o aspecto “gratidão”, por mais esforço e frio que eu queira ser, não seria possível, embora isso aqui pouco importa, já que o artigo terá um foco voltado essencialmente à gestão.
Os resultados estavam ruins. Ok, mas qual o intervalo de tempo que estamos nos referindo? Ou melhor, qual deve ser o intervalo padrão para avaliação? Difícil responder!
No final de temporada, quando é possível iniciar um novo ciclo? No meio dela, quando não há tempo hábil para se instaurar e treinar uma filosofia de jogo diferente, a qual, não necessariamente será melhor?
O momento da competição e as pretensões também não podem ser desprezados, o que aumenta a quantidade de variáveis e a complexidade da decisão.
Podemos incluir nessa equação, as opções de reposição, considerando aqui as perspectivas no que tange o relacionamento com os jogadores, se o estilo de jogo é compatível com as características do elenco, se tem a “cara” do clube e qual a capacidade financeira para se trazer um profissional adequado às necessidades.
Deixo propositalmente de fora um ponto que admito ter forte influência, mas que não deveria existir: a pressão imposta pelos torcedores, cada vez mais inflados pelas redes sociais. Pior, uma pressão advinda da emoção, a qual deve ficar de fora tanto no que diz respeito à gratidão, como na insatisfação proporcionada pela sequência de resultados ruins.
Por mais que a emoção esteja presente no esporte, ela não combina com gestão, onde a frieza – não confundir com ausência de empatia – é fundamental para o atingimento dos objetivos.
Qual organização nunca passou por uma crise, substantivo utilizado para identificar uma situação na qual a realidade está divergente da expectativa, sendo que, muitas das vezes, essa última é otimista demais. Não digo que seja o caso do Fluminense, mas, não custa incluir essa variável na reflexão.
Seria apropriado demitir um CEO que deu uma lucratividade recorde no exercício anterior por não ter performado bem nos dois trimestres posteriores?
Acrescentamos nesse exercício de imaginação o fato de que o tal CEO é extremamente querido por sua equipe, a qual confia plenamente nele.
Claro que de fora é fácil criticar, dentro de um clube, sei bem como é, a pressão é enorme. Mas em empresas, por mais que não tenham torcedores ou mesmo que não exista a imprensa e blogueiros alimentando o assunto, a pressão também é enorme, pois mexe com dinheiro de acionistas e emprego de colaboradores, tanto os próprios como os dos fornecedores.
A opção de trocar o gestor sempre irá existir, o que pode acontecer inclusive por vontade dele, todavia, essas mudanças não podem vir sem o devido estudo, sem se ter havido, mesmo que hipoteticamente, um plano de sucessão.
Fazer concessão à pressão denota falta de convicção no planejamento elaborado, se é que ele existe.
QUANDO O CANO ENTOPE, TIGRE VIRA UM GATINHO
por Zé Roberto Padilha
Ele nunca realizou grandes jogadas. Não é um exímio driblador, muito menos um excelente pivô. Assistências? Raríssimas. German Cano sempre superou toda essa carência de fundamentos colocando, em sua maneira instantânea e competente de decidir, a bola no fundo das redes adversárias.
Calava, com os gols, os comentários que se avolumam perante sua costumeira falta de participação coletiva.
Porém, quando a bola não chega porque o Arias está na Copa América e o Ganso não tem mais pernas para alcançar a grande área, Cano é menos um. Fica parecendo que o Fluminense teve um jogador expulso.
Com sua garra e determinação, volta para ajudar a defesa sem saber defender. Recua para armar o jogo sem saber armar as jogadas. Nesse momento difícil, que todos os jogadores passam, o de viver uma fase ruim, melhor deixá-lo no banco de reservas.
Tanto quanto um treinador, o Fluminense precisa urgente de um centroavante.
Principalmente quando esse sinal, sua marca registrada com os dois dedos, deixa de se tornar uma homenagem para parecer indicar o número da divisão que caminhamos para disputar.
O FEITICEIRO
por Elso Venâncio
O treinador paraguaio que lançou futuros ídolos, como Dida, Evaristo, Zagallo e Zico
O paraguaio Fleitas Solich foi um dos maiores técnicos da história do futebol. O ‘Feiticeiro’, como era chamado, surgiu jogando com estilo elegante no meio de campo do Nacional, de Assunção. Por esse clube, se destacou a ponto de ser convocado para a seleção do seu país aos 18 anos de idade. Líder nato, três anos depois, tornou-se capitão e treinador da seleção paraguaia. Ídolo no Boca Juniors, uma contusão o afastou dos gramados. Assim, abraçou de forma precoce a nova carreira, dirigindo o mais popular clube argentino antes de comandar o Paraguai na Copa de 1950. Depois, levou o Paraguai ao título da Copa América de 1953, vencendo a seleção brasileira, na final, por 3 a 2.
O Flamengo sofria com um jejum de oito anos sem título. Não era campeão desde o primeiro tricampeonato estadual (1943/1944/1945), conquistado sob o comando de Flávio Costa. O presidente Gilberto Cardoso contratou Fleitas Solich, que de imediato lançou três jovens: os alagoanos Dida, ídolo de Zico, e Zagallo, que veio do América, além de Evaristo de Macedo, comprado junto ao Madureira. Vale dizer que Dida é o segundo maior artilheiro do clube, com 253 gols marcados. Apenas Zico o supera, com 523.
O Flamengo embalou com Solich, conquistando mais um tricampeonato (1953-1954-1955). O inventor do esquema 4-2-4 chegou a ser cotado para comandar o Brasil na Copa de 1958, na Suécia, porém o escolhido pela CBD, a antiga CBF, foi o paulista Vicente Feola. Solich dirigiu, então, o poderoso Real Madri de Puskas, Di Stéfano e Cia., em 1959, conquistando a Liga dos Campeões. Depois, passou pela Seleção do Peru, pelo River Plate e, ao voltar ao futebol brasileiro, dirigiu Corinthians, Palmeiras, Atlético Mineiro, Bahia e Fluminense.
Na decisão do Campeonato Carioca de 1963, novamente a agonia de um Flamengo sem títulos havia oito anos. No Fla-Flu, dois personagens, rivais declarados, frente a frente. Flávio Costa, de volta, e Fleitas Solich, agora no tricolor. No empate em zero a zero, o Flamengo ficou com o título, por ter melhor campanha. O clássico registra até hoje o maior público da história, entre clubes de futebol. No total, 194.603 presentes, com 177.656 pagantes.
Em seu último trabalho na Gávea, Solich, no ano de 1971, lançou o magricela Zico, aos 18 anos de idade, como titular, na vitória de 2 a 1 sobre o Vasco. Com 504 jogos, o paraguaio é o segundo técnico que mais dirigiu o Flamengo. Só perde para Flávio Costa, com 765 partidas.
A Federação Paraguaia entrega aos melhores do ano a medalha ‘Mérito Esportivo Manuel Fleitas Solich’. O ‘Feiticeiro’ faleceu em 1984, aos 83 anos de idade, sendo sepultado no Cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro.
DIÁLOGOS BOTAFOGUENSES
por Wesley Machado
Vejo uma ligação perdida da minha mãe Ezilane, ligo de volta, meu pai Fernando atende.
– Temos de ganhar – ele sempre diz em dia de jogo do nosso Botafogo.
O hino que Seedorf quis mudar afirma:
– Não podes perder, perder para ninguém.
O botafoguense é um calejado e por vezes se contentou com um empate.
– Não podes perder.
Então empatar pode?
Para o realista que é meu pai, não.
– Em casa temos de ganhar.
Esta é uma lição que aprendi com ele.
Em 2023 a confiança era tanta que meu pai sonhou que seríamos campeões.
Meu amigo de mais de 15 anos, jornalista Hugo Soares, gravou uma matéria com minha família botafoguense.
No final do ano o título não veio.
Mas em tempos de curtidas, curtimos o momento.
Nas lideranças em algumas rodadas em 2024, evitei o:
– Segue o líder.
Conforme pregava Tiquinho em 2023 e Júnior Santos assimilou em 2024:
– Pezinho no chão.
Por falar no nosso artilheiro Júnior Santos, desfalque no jogo desta quarta-feira contra o Bragantino, este foi mais um dos assuntos da minha conversa com meu pai.
– Sem Júnior Santos…
Conversa que reproduzi com Hugo, que vestia a linda camisa do título da Série B de 2021, o recomeço do Botafogo na era SAF.
Hugo responde:
– Não podemos depender só de um jogador.
E continua:
– Eduardo precisa aparecer mais.
E não é que Eduardo apareceu?
Foi o autor dos dois gols da virada contra o time da Red Bull.
Em uma semana que começou com uma hora na cadeira do dentista para fazer um canal, os sofrimentos e as dores de ser Botafogo foram amenizados com uma alegria proporcionada por uma vitória como esta.
Agora é dormir satisfeito e sonhar:
– E se o Botafogo for campeão…
“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 68
por Eduardo Lamas Neiva
Após a música ser acompanhada com atenção por todos e até aplaudida em direção a Pelé, o compositor, João Sem Medo retoma a pelota pra voltar a falar das semifinais da Copa de 70.
João Sem Medo: – Como vocês devem estar lembrados, acertei os vencedores das semifinais. Nos quatorze prognósticos dados, acertei oito dos vencedores da primeira fase, três dos quatro vencedores das quartas – cometi o erro na partida entre Uruguai e União Soviética, e acertei os dois finalistas, Brasil e Itália.
Idiota da Objetividade: – A Itália derrotou a Alemanha Ocidental, por 4 a 3, num dos jogos mais emocionantes de todos os tempos. A partida terminou empatada em 1 a 1 no tempo normal, com os alemães empatando aos 47 minutos do segundo tempo. Na prorrogação, a Alemanha virou, a Itália empatou e fez 3 a 2, mas os alemães voltaram a empatar, até que os italianos conseguiram a vitória com gol de Rivera, aos 5 minutos do segundo tempo da prorrogação.
Ceguinho Torcedor: – Emocionante foi a vitória do Brasil. Havia em nós uma chaga já velha, senil chaga. A vitória sobre o Uruguai a tapou, não restou nem a cicatriz. E milhões de homens, mulheres e crianças beijaram a nossa doce bandeira. Os idiotas da objetividade (aponta pro Idiota da Objetividade) rosnaram: “É ridículo beijar a bandeira!”
Idiota da Objetividade: – Protesto!
Ceguinho Torcedor: – Protesto negado! Não faz mal. Vamos assumir, nobremente, o nosso ridículo. Cada povo, cada homem tem sua dimensão de ridículo. Preservemos o nosso.
Garçom: – Os críticos, os que vaiaram a seleção, deviam estar se rasgando, né, “seu” Ceguinho?
Ceguinho Torcedor: – As hienas, os abutres, os urubus…
Garçom: – O urubu nada tem com isso, “seu” Ceguinho…
Ceguinho Torcedor: – Ah, os entendidos deveriam ter mudado de ofício, imediatamente. Por que não se tornaram bombeiros hidráulicos? Deviam entender mais de desentupir pia, do que de futebol.
Idiota da Objetividade: – E na final, como todos sabem, o Brasil derrotou a Itália, por 4 a 1, com gols de Pelé, Gérson, Jairzinho e Carlos Alberto. Como primeira seleção a conquistar o tricampeonato mundial, o Brasil ficou com a posse definitiva da Taça Jules Rimet.
Sobrenatural de Almeida: – E o Médici não perdeu tempo e estampou em todas as manchetes: “Ninguém segura este país!”.
João Sem Medo: – Foi mesmo difícil segurar a sanha de tantas torturas e mortes nas mãos do governo dele.
Ceguinho Torcedor: – Raríssimos acreditavam no Brasil, amigos. Um deles era o presidente, que me dizia: “Vamos ganhar, vamos ganhar”. Na véspera deu o seu palpite certeiro: “Brasil 4 a 1”.
Zé Ary, percebendo que o papo penetrava na área perigosa, cortou a bola e saiu tocando rápido pra aliviar a pressão.
Garçom: – Senhores, senhores, todos aqui, aquele futebol maravilhoso merece ser visto e revisto por muitos e muitos anos, não é mesmo?
Ninguém discorda. Muito pelo contrário.
Garçom: – Vamos, então, ao telão, pra revermos todos os 19 gols da seleção de 70. Vamos lá!
All of Brazil’s 1970 World Cup Goals | Pele, Jairzinho & more! (youtube.com)
Todos ficam extasiados com o vídeo como se fosse a primeira vez que viam aqueles lances.
Músico: – O vídeo é da Fifa, com imagens perfeitas, mas a entidade não se dignou a dar os créditos da ótima música instrumental de fundo, que combina perfeitamente com aquelas jogadas e os gols. Mas descobri: a música se chama “Sambafunk”, do Drumagick, formado por uma dupla de DJs de São Paulo, JrDeep e Guilherme Lopes.
Garçom: – Ah, maravilha, Angenor! Vamos, então, voltar ao nosso papo…
Ceguinho Torcedor, mais rápido que coelhinho de desenho animado, retoma a pelota.
Ceguinho Torcedor: – Amigos, glória eterna aos tricampeões mundiais.
O povo do bar “Além da Imaginação” faz um alvoroço.
Garçom: – Foi um carnaval em junho! Foi muito difícil segurar tanta emoção e alegria naquele dia. Bebi todas!
Ceguinho Torcedor: – Foi a mais bela vitória do futebol mundial em todos os tempos. Desde o Paraíso, jamais houve um futebol como o nosso. Os entendidos diziam que éramos quase uns pernas de pau, quase uns cabeças de bagre. Se Napoleão tivesse sofrido as vaias que flagelaram o escrete não ganharia nem batalhas de soldadinhos de chumbo. Eu me lembro do dia em que o João Saldanha foi chamado para técnico do escrete. Tivemos uma conversa de terreno baldio. E me dizia o João: “Vamos ganhar de qualquer maneira! O caneco é nosso!”
João Sem Medo: – A nossa vibração e a minha, em particular, foi pela vitória da arte, que continua sendo, dentre as mais variadas concepções do futebol moderno, a verdadeira razão de encherem os estádios e a identificação mais sólida e decisiva do futebol do Brasil.
Ceguinho Torcedor: – Cada gol dos nossos era uma preciosidade. A cabeçada de Pelé, na abertura da contagem, foi algo de inconcebível. Ele subiu, leve, quase alado, e enfiou no canto. Vocês podem não acreditar, mas eu vi. Nunca uma seleção fez, na história do futebol, uma jornada tão perfeita como o Brasil em 70.
Garçom: – Aquele time foi o melhor que vi jogar. Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Pelé; Jairzinho, Tostão e Rivelino. Ainda tinha Paulo Cesar Caju, Marco Antônio, Roberto Miranda, Edu… Vamos ouvir “Pra frente Brasil”, do Miguel Gustavo, que é o hino daquela grande conquista.
Garçom: – Toda vez que ouço essa música fico arrepiado de emoção.
Músico: – Amigos, posso me meter nesta conversa?
João Sem Medo: – Claro, por favor.
Músico: – É que como sabia que hoje aqui o assunto ia ser a História do futebol brasileiro, copiei num papel duas citações belíssimas de grandes nomes internacionais sobre aquela seleção de 70, que pra mim só pode ser comparada com a de 58. O cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, que era um apaixonado por futebol e dizem que jogava muito bem, escreveu o seguinte: “Se o drible e o gol são o momento individualista-poético do futebol, o futebol brasileiro é, portanto, um futebol de poesia. Sem fazer distinção de valor, mas em sentido puramente técnico, no México, em 70, a prosa estetizante italiana foi batida pela poesia brasileira”.
Todos aplaudem, inclusive Pelé, Félix, Carlos Alberto Torres, Zagallo, Everaldo.
Garçom: – Tem mais uma, gente.
Músico: – É, Zé Ary, tem outra citação bem bonita também, do historiador britânico Eric Hobsbawm, que escreveu o seguinte no livro “A era dos extremos – o breve século XX”: “Ninguém que tenha visto jogar a seleção brasileira de 1970 poderia negar ao futebol a condição de arte”.
Todos aplaudem, mais uma vez, e festejam todos os campeões mundiais pelo Brasil presentes ao bar “Além da Imaginação”, cantando “Pra frente Brasil”.
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