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CAMISAS DE PESO

Colecionador tem quase 300 peças de jogadores de grandes times dos anos 70 aos 90

Enzo Krieger

O colecionador e empresário Luis Augusto Quedinho tem quase 300 camisas de futebol originais dos anos 1977 a 1992. Há peças que foram usadas em campo por craques como Zico, Toninho Cerezo, Roberto Dinamite e Rubens Galaxe. A coleção traz a nostalgia daquele período. O compilado representa uma paixão pelo esporte, além de ser um hobby que relembra a época de ouro da bola e torna a casa dele um museu. O primeiro uniforme que Quedinho ganhou foi um presente do pai – uma blusa branca do Flamengo (versão de torcedor) – quando tinha 12 anos de idade, em 1980. Torcedor do rubro-negro carioca, ele se abstém do clubismo e busca ter uma variedade de equipamentos de jogo, até dos rivais. 

O acervo atual contém peças de 73  times, por exemplo Flamengo, Vasco, Botafogo, Fluminense, América-RJ, Bangu, Volta Redonda, Olaria, Americano, Serrano, São Cristóvão, Portuguesa-RJ, Coritiba, Grêmio, Internacional, Sport, Remo, Guarani, Goiás, Palmeiras, Santos, São Paulo, América-MG, Atlético-MG, Cruzeiro, Ceará, Criciúma, Bahia, Vitória e mais. Ele troca e compra camisas, sempre com o objetivo de aumentar o número de cabides nas araras e memórias no coração.

A coleção tem uniformes da seleção brasileira da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e de seleções estaduais que disputavam amistosos e representavam as federações de futebol locais: Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ), Federação Paulista de Futebol (FPF) e Federação Gaúcha de Futebol (FGF). A galeria também inclui trajes de equipes que não existem mais, tais quais ADN Niterói, Pinheiro, Colorado e Matsubara, de times amadores e de outros esportes, como Sumov (futsal) e Copacabana FC (futebol de areia).

Para ele, a camisa mais especial é o uniforme branco usado em jogo por Zico – o maior ídolo do Flamengo – em 1981, ano em que o time conquistou Libertadores e Mundial de Clubes. Esse é o mesmo modelo que ele ganhou de presente do pai quando era criança. “Eu fiquei maluco assim que consegui. Quando eu olho para ela, me lembro do Maracanã, do Zico subindo para o gramado, saindo do vestiário, aquele Flamengo, aquelas camisas da Adidas. Não tem como esquecer isso”, lembra.

Outra peça importante para Quedinho é uma que a seleção brasileira vestiu na Copa América de 1979. A amarelinha está autografada por boa parte dos talentos da época, como Toninho Cerezo, Rivelino, Émerson Leão, Roberto Dinamite, Nelinho, Waldir Peres, Zé Sérgio, Zico, Amaral, Dirceu e Reinaldo; um timaço. “Eu comprei de um colecionador. É uma bem difícil de achar, porque a Adidas teve algumas variações em alguns detalhes, quem coleciona sabe. Eu tenho o prazer de ter essa camisa autografada com os ídolos da época na minha coleção. É a história do futebol brasileiro nas minhas mãos”, exalta.

O hobby se iniciou despretensiosamente no fim da década de 90, uma época ainda sem as facilidades do mundo digital, quando começou a trabalhar e ter a própria renda. “Eu comecei a comprar peças, a buscar em brechós e, na época, em jornais. Não existia internet naquele tempo. Comprei uma camisa do Guarani, uma do Vasco, e o acervo começou a crescer”, diz.

O arquivo tem um elemento comum: tudo é da Adidas, marca alemã que conheceu aos 10 anos, na Copa de 1978, competição na qual o Brasil, ainda na era CBD, usava um traje amarelo com três listras verdes. “Minha preferência por camisas da Adidas é por causa do capricho e da qualidade da marca”.

Uma delas, a tradicional vermelha e preta do Flamengo da década de 80, é chamada carinhosamente de furadinha, por conta do material, não do estado, revela Quedinho, que restringiu a busca dele até 1992 porque a impressão das estampas mudou de padrão. A partir de 1993, as blusas passaram a ser confeccionadas com a técnica de impressão digital chamada sublimação. “São camisas xerocadas, lisas. Por isso me desinteressei”, explica.

As relíquias são mantidas do jeito que chegaram, principalmente para preservar a numeração em veludo. Muitas camisas estão do jeito que os jogadores tiraram após as partidas. Cada um dos quase 300 itens fica guardado em sacos plásticos em um quarto da casa do empresário, no Méier, Zona Norte do Rio – um paraíso do mundo da bola. “A minha casa é como se fosse um museu. Quando eu olho esse tipo de camisa agora, eu volto a ser criança e me lembro do Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo no antigo Maracanã. Não tem como esquecer”.

Quedinho nunca entrou em campo profissionalmente, mas sempre atuou no ramo esportivo: teve uma empresa de mesas de jogos de salão e antecipa que em breve abrirá uma companhia de eventos. 

Ele afirma que não vai parar de colecionar. O armário de um colecionador é que nem coração de mãe; sempre tem espaço para mais um. “Nós damos um jeitinho. Esse é o meu brinquedo, o brinquedo de adulto. Se não for entrar mais uma camisa, como fica o hobby? Tem que manter, porque essa é a graça”, observa o empresário, que tem uma página nas redes dedicada à coleção.

Com essa brincadeira, Quedinho cultiva a memória do futebol brasileiro – e chegou a ser convidado a expor o tesouro no Maracanã, em 2022, na exposição Memórias da Bola FC. Também participa de eventos esportivos e encontros com ex-jogadores, nos quais lhes mostra os uniformes que usavam. Alguns se comovem e agradecem a ele por manter a história do jogo viva. “Eu estive com o goleiro Paulo Sergio, do América, e levei a camisa verde da Ceop, que não tinha o escudo do clube. Há pouco tempo, estive com o Rubens Galaxe, que se emocionou muito quando viu a camisa 4. Já me encontrei com o Zinho, com Arthurzinho e Ado, do Bangu. Os olhos deles brilham, porque viveram aquilo”, descreve.

A história da camisa de goleiro do América é inusitada: Paulo Sergio a adquiriu numa turnê internacional e trouxe para o Brasil porque gostava de verde. Ele jogou com ela na final do Campeonato Carioca de 1985, uma derrota do Mecão por 1-0 para o Fluminense, que ficou com o título. 

“Encontrei com o Quedinho no Leblon, quando fui homenageado pelo Museu da Pelada. Ele mostrou a camisa que eu usei no América em 1985. Não era camisa do clube, eu comprei essa camisa numa excursão na Malásia, pedi para botar o patrocinador e jogava. Eu sempre fiz isso. E essa nem era de goleiro, era uma de manga comprida de um time lá de fora, só que eu comprei esse número, sem nada”, conta Paulo Sergio.

Galaxe, o sexto jogador que mais atuou pelo Fluminense (462 partidas), destaca que lembrar daqueles tempos ao ver as blusas é tocante. O próprio atleta guarda alguns uniformes que vestiu, mas fica orgulhoso ao ver que colecionadores e torcedores carregam um pedaço da vida dele. “Eu me sinto emocionado porque eu me lembro da época. É uma camisa que, para muita gente, não significa nada, é um pano, mas para mim, é a que eu vesti, tem um valor imenso. Fica na memória, guardado com muito carinho e com muita saudade. Eu fico um pouco emocionado, mas mantenho a linha”.

Com a coletânea, Quedinho poderia escalar aproximadamente 27 times em campo: elencos de peso e grandes feras da bola. As vivências de jogadores e clubes de futebol estão em boas mãos; uma coleção digna de gol de placa.

O TAL DO TIME MISTO…

por Zé Roberto Padilha

Não importa a competição, a modalidade esportiva, uma ida ao altar para estar à altura dos seus compromissos: nunca leve um interino. Jamais aceite ser substituído pelo seu reserva imediato.

Nada é pior, irreal, confuso e desentrosado do que o tal time misto.

De que adianta o Botafogo ter o meio-campo mais entrosado do país, capaz de reunir dois eficientes marcadores que sabem jogar, ao lado de dois hábeis volantes que poucos times tem o privilégio de ter, se você deixa três deles no banco de reservas?

O cansaço, compreensível, o desgaste, esperado, só seria amenizado com o entrosamento. Com os titulares, se corre menos. A bola, mais.

Nessa hora de reconhecer os méritos do Botafogo, dar os parabéns pelo ano brilhante que alcançou, também seria justo ouvir nosso inesquecível Mario Vianna, com dois enes, a respeito da decisão de seu treinador em poupar seus titulares.

“Errrrooooouuuuuuu!!!!!!!!”

É RACHA!

por Paulo-Roberto Andel

Foto: Alex Ribeiro

Agosto ou setembro de 1980. Instituto Santo Antônio de Pádua, rua Tenreiro Aranha, transversal à Figueredo Magalhães, coração de Copacabana.

Exceto nas aulas de Educação Física, era proibido o uso de qualquer bola para qualquer prática de jogo dentro da escola. Alguém teve uma ideia para a hora do recreio: e se não fosse uma bola, mas um quadrado?

Não me lembro como, mas viabilizaram um quadradinho de madeira, melhor dizendo, quase um taco de piso. Um taquinho.

Não podia ter gol, nem golzinho. Então nasceu o racha: os players ficavam em três das quatro paredes do terraço da escola. Todos ficavam de prontidão quando o grito era de algum grandão da oitava série: “É RACHAAA!”. Misturavam sétima, sexta e quinta séries. Os menorzinhos, não.

Dado o grito, o taquinho era chutado para uma das paredes. Todo mundo corria para bicar quem dominasse a “pelota retangular”. Gritos e gritos, “É RACHAAA!”. O taquinho ia de um lado para o outro, ficávamos suadíssimos em quinze minutos e o jogo acabava. O mais incrível é que ninguém se machucava e a gente só disputava aquela loucura na escola.

Lembrar do racha é lembrar de um grande ano do futebol, o campeonato brasileiro, o carioca, os craques: Edinho, Cláudio Adão, Mendonça, Roberto, Paulo Cezar, Adílio, Tita, Zico, Luisinho, tanta gente. Pintinho, Zé Mário, Deley. Os botões, os álbuns de figurinhas, o Futebol Cards. Juntar dinheiro para comprar um escudo bordado e pedir à mãe para costurá-lo na camiseta Hering, combinada com short Silze. Sonhar com o pai falando “Tome seu banho que vamos pro Maracanã”.

O colégio acabou, a rua Tenreiro Aranha também. Agora tem o batalhão da PM e a estação do metrô. Onde foram parar os amigos do racha? O Fernandão eu sei, tá todo contente com o Botafogo. O Leo é super atleta de corrida, natação e o diabo.

Meu pai, ah, agora está longe demais dessa capital, mas penso nele todo dia. Hoje pensei mais, é que vi figurinhas de um álbum, ele adorava colecionar. Lá se vão quarenta e quatro anos, mas a vida é isso: envelhecer, poder olhar para trás e ter lembranças marcantes. O racha é uma delas. O lindo Fluminense cheio de jovens e todo de branco, sendo um esplêndido campeão. A garotada atual não vai entender, mas a gente nem estava aí para Libertadores – e por motivo justo.

No fundo, no fundo, o futebol é nosso eterno teletransporte para a infância. Deve ser por isso que gostamos tanto desse jogo de bola, tanto que nem ligamos se a própria bola vira um taquinho.

@pauloandel

A TI, GEROMEL, A NOSSA GRATIDÃO

por Cláudio Lovato Filho

Ele formou com Walter Kannemann uma das maiores duplas de zaga do Grêmio em todos os tempos. Um dupla de zaga histórica, como históricas foram as duplas de Airton Pavilhão e Ênio Rodrigues, Ancheta e Oberdan, Baidek e De León, Adilson e Rivarola (para ficar entre as mais míticas).

Ele chegou em 2013, vindo da Alemanha.

Um desconhecido.

Cara de guri bem comportado, magrão, alto, sotaque paulista.

“Tem nome de remédio”, disseram alguns.

As brincadeiras com o nome duraram pouco, porque rapidamente o nome virou sinônimo de zagueiro sério e bom de bola.

Pedro Geromel.

Das tantas atitudes bonitas e exemplares de Luisito Suárez durante sua maravilhosa passagem pelo Grêmio em 2023, uma das que falaram mais alto sobre a humildade do uruguaio e o respeito (e a estima) de todos por Geromel aconteceu num jogo contra o América/MG. O zagueiro começou no banco, Suárez era o capitão. Assim que Geromel pisou no gramado, Suárez lhe entregou a faixa, sem que ninguém houvesse pedido.

Geromel disputou 408 partidas pelo Grêmio. Conquistou 12 títulos. Foi unaminidade no clube pela entrega, pela liderança, pelo talento. E pela simplicidade – marca do comportamento e do estilo de jogo. Mestre do posicionamento, brilhante na antecipação, no cabeceio, no desarme, na saída de bola.

Pedro Geromel se despediu do futebol aos 39 anos, no dia 8 de dezembro de 2024, um domingo, com a Arena recebendo mais de 40 mil torcedores.

Fico pensando se ele faz realmente ideia do quanto todos nós, gremistas, somos gratos a ele.

Gratos não apenas pelos 11 anos vestindo a camisa azul-preta-e-branca, não apenas por esses mais de 400 jogos, pelas 12 taças que levantou, pelos tantos gols que ajudou a evitar e pelos que fez, mas gratos sobretudo pelo gremismo mais genuíno que ele incorporou e para sempre representará.

Pedro Geromel é motivo de orgulho para todos os gremistas, e o legado que ele deixa, como jogador e como ser humano, lhe assegura um lugar entre os maiores da nossa História iniciada em 1903.

Valeu, Geromel. Valeu demais.

Foi um privilégio para nós te ver tantas vezes vestindo com a bravura e altivez de sempre o Manto Tricolor.

Foi para guerreiros como tu que a nossa camisa foi feita.   

DE REPENTE, UM DIA COM OS MESTRES

por Zé Mário

Eu fui jogador de futebol. Tive a sorte de conhecer muitos treinadores que me marcaram profundamente, não apenas pelo conhecimento técnico que tinham sobre o esporte, mas também pelas lições de vida, honestidade e trabalho que compartilharam comigo. Com eles, fui aprendendo e me moldando, recebendo orientações que um jovem jogador aprendiz tanto precisava naquele momento.

Os anos passaram e, de repente, eu estava do outro lado: me tornei treinador. Levei comigo tudo o que aprendi com esses mestres, buscando replicar — ou até mesmo superar — as lições que me transmitiram. Não sei se consegui ser melhor, mas isso nunca foi o mais importante. O que sempre importou foi ter um espelho para refletir e aprender. E que espelho! Escolhi espelhos convexos, que oferecem uma visão ampla e ousada. Joguei tudo o que aprendi neles e recebi algo transformador em troca.

Pelas minhas andanças, tanto no Brasil quanto no mundo árabe, levei o aprendizado deles sem reservas. Ganhei títulos, vivi derrotas — porque faz parte do jogo —, mas, no fim, a balança pesou a meu favor. Agora, a fase é outra: a saudade, a idolatria e o prazer do convívio com esses mestres que tanto me ensinaram.

Graças a Deus, Ademar Braga criou um grupo no WhatsApp. Com ele, organizou encontros memoráveis com esses grandes nomes, que acontecem mensalmente ou bimestralmente. O último foi na segunda-feira, 9 de dezembro de 2024. Foi um dia emocionante. Cada abraço, cada aperto de mão trazia consigo um misto de alegria e emoção.

Muitos de nós não se viam há mais de 30 anos. E lá estavam eles: Ademar Braga, Parreira, Lazaroni, Valinhos, Dante Rocha, Carlos Alberto Lancetta, Adriano Lancetta, Joel Santana, Antônio Lopes, Gílson Nunes, Jair Pereira, Júlio Cesar Leal, Carlos Cesar Custódio, Luiz Henrique Meu Garoto, Ênio Farias, Waldemar Lemos, Antônio Melo, Arthur Bernardes, Cláudio Café, Paulo Zagallo, Dr. Clóvis Munhoz… e eu, Zé Mário. Se esqueci alguém, coloque na conta da minha idade!

A mesa estava cheia de histórias, risadas e, claro, debates sobre o futebol de ontem e de hoje. Nostalgia? Sim, mas com razão. Futebol de ontem era arte. Hoje, tudo mudou — e não necessariamente para melhor. O futebol sul-americano perdeu sua essência, seus protagonistas. A técnica evoluiu? Não. O espetáculo melhorou? Definitivamente, não.

Estamos prontos para nos pronunciar e lutar pela recuperação do nosso futebol arte, ganhador e autêntico. Muito do que se fala sobre “evolução do futebol” não passa de engodo.

Aguardem.