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ARTILHEIRO, CONSAGRADO, REVERENCIADO E INJUSTIÇADO (SELEÇÃO BRASILEIRA)

por Fabio Lacerda

Aniversariante do dia, Roberto é o unico artilheiro e campeão brasileiro aos 20 anos; ele tem 81 gols a mais que a somatória de Romário e Ademir Menezes no Vasco da Gama

Artilharia pesada! Importante em todos os momentos quando vestiu por 22 anos a mesma farda com a faixa diagonal preta ou branca na diagonal. Nascido na cidade ‘esquina do Brasil’ que homenageia seu filho ilustre, Luis Alves de Lima e Silva, nome de registro do militar e político, Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro, Roberto é outro filho da terra na história do Brasil. Na história de vitórias e superações de adversidades. Assim como um dos mais ilustres brasileiros nos campos da Política e batalhas, Roberto Dinamite deixou sua marca nos gramados onde desfilou sua força de uma Cavalaria, e a habilidade de uma Infantaria, sabendo e confiando em quem estavam nas trincheiras consigo.

Hoje é dia da explosão! Hoje é o dia da camisa 10 que tinha o cheiro de gol. Hoje é aniversário, nada mais, nada menos, de Roberto Dinamite, um atleta exponencial, e um ser humano colossal, um artilheiro sem igual. Se uma vez, o ex-craque, Pepê, do Santos, disse em tom de brincadeira que ele era o maior artilheiro da história do Santos, porque o Pelé não poderia participar da contagem, o mesmo poderia aplicar ao futebol brasileiro como um todo. Sem contar o Rei do Futebol, Roberto é o maior artilheiro do futebol brasileiro.

Roberto desperdiçando uma chance na pequena área contra o Fluminense na final do Brasileiro de 1984 que custou o título; um ano complicado na vida pessoal que refletiu na hora da decisão

Analogias à parte, falar de Roberto é mostrar semelhanças com outros artilheiros do Campeonato Brasileiro, mas um detalhe o difere dos demais – ele é o único que conseguiu levantar o caneco, aos 20 anos, e sendo o artilheiro. Pode ser que nossos queridos leitores e comentaristas do Museu da Pelada tenham recebido uma bola cheia de azeite (efeito) e não consigam a dominar. Ao considerar que o Campeonato Brasileiro iniciou, em 1971, apenas seis jogadores atingiram a proeza de se tornar artilheiro aos 20 anos. O primeiro da lista é o próprio. Roberto Dinamite, em 1974. Passados três anos, outro craque chega à honraria individual de maior feitor – não é fazedor, não gente, não me matem de vergonha! – de gols. Reinaldo, do Atlético-MG no ano que quem vos escreve nasceu. O maior ídolo do Galo ficou fora da final contra o São Paulo, o time mineiro perdeu, ele não conseguiu atingir o feito de Roberto conquistar o segundo título do Atlético-MG aos 20 anos quando assinalou, assustadoramente, 28 gols. 

Outro artilheiro aos 20 anos foi Paulinho, companheiro de Roberto no Vasco da Gama, quando o clube foi eliminado na semifinal pelo Guarani, em 1978. No ano seguinte, aos 21 anos, Paulinho foi à final com o Vasco. Mas o Internacional sagrou-se tricampeão (invicto e único time a não perder em uma edição do certame), e a partir daí, o time Colorado nunca mais foi campeão brasileiro. 

A breve passagem pelo Camp Nou vestindo a camisa do Barcelona quando estreou fazendo dois gols, e abrindo o placar no segundo jogo da decisão da Supercopa da Europa contra o Notthingam Forest que ficou com o título

Artilheiro do Brasil por três ocasiões, em 1989, quando o Vasco da Gama faz as pazes com o Brasileiro, surge Túlio, no Goiás. Um jogador que também merece ter o apelido dado ao Roberto pelo icônico mestre do radiojornalismo esportivo, Waldir Amaral – a camisa com cheiro de gol. Em 1994, o ano do título da Copa do Mundo, em Campinas, o carioca Amoroso surpreendeu pelo Guarani. O atacante, assim como Roberto, foi injustiçado na seleção. Poderia estar no plantel de Carlos Alberto Parreira, mas foi preterido. 

Artilheiro do Brasil na Copa do Mundo de 1978, quando o escrete foi eliminado invicto graças à marmelada argentina, Roberto ficou no banco na Espanha (Copa do Mundo anterior). E muitos apontam o fato como uma falha abissal do mestre Telê Santana, que não deu um fio de esperança ao artilheiro que vivia grande fase balizada pela performance na Copa da Argentina. E ao ignorar, novamente o artilheiro, na Copa do Mundo do México (1986), Telê ficou pelo caminho diante da França.  Nem mesmo o entrosamento e o entendimento com seu fiel amigo e rival, Zico, que disse uma vez ter tido o Roberto como o melhor companheiro de ataque vestindo a ‘amarelinha’, foi capaz de mexer com as convicções do técnico em duas Copas do Mundo consecutivas em um ciclo de oito anos. 

Roberto, na Portuguesa, onde fez 18 jogos e nove gols no Brasileiro de 1989, cumprimenta seu amigo Zico, antes da partida no Morumbi

Nove anos depois foi a vez de Dimba, pelo Goiás, assim como Túlio, ser o artilheiro do Campeonato Brasileiro. E por fim, o último a conseguir balançar mais as redes adversárias aos 20 anos foi Keirrisson, um furacão do Coritiba que despertou o interesse do Barcelona, foi à capital da Catalunha, seguindo os passos de Roberto, mas não teve sucesso assim como o ídolo vascaíno, apesar de ter chegado à final da Supercopa da Europa fazendo gol em um dos jogos contra o Notthingam Forest na temporada 1979-1980. 

Não há no Brasil um jogador que tenha defendido um clube por tempo equivalente. Roberto vestiu a camisa do Vasco da Gama por 1.110 vezes ao longo de 22 anos. Não há maior artilheiro nas edições do Campeonato Brasileiro, do Estadual do Rio de Janeiro e dos grandes derbys disputados no Maracanã. Não há um jogador que assinalou mais gols em uma partida única o Maracanã. Não há um gol mais bonito no Maracanã que se compare ao feito contra o Botafogo levando em consideração a importância da partida. Não há outro artilheiro de Campeonato Brasileiro, aos 20 anos, que se sagrou campeão. Ele é único. Ele é Roberto Dinamite, o jogador que, após um hiato de títulos do Vasco da Gama, na década de 1960, colocou o clube novamente nos trilhos das conquistas. 

Parabéns, Roberto, pelos 71 anos. Nos corações, nas emoções e nos gritos de campeões da torcida cruzmaltina. 

Juntamente do vascaíno Dirceu, Roberto liderou a seleção de Claudio Coutinho sendo efetivo com gols e passes como a abertura de jogada para Nelinho empatar contra a Itália naquele gol que nem a Física é capaz de explicar na disputa pelo terceiro lugar

Jogos Inesquecíveis – Palmeiras 2 x 3 Internacional Pelo Campeonato Brasileiro de 1979

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1979, o Campeonato Brasileiro de Futebol teve, como semifinais, os confrontos entre Vasco da Gama x Coritiba e Internacional x Palmeiras. O Vasco da Gama se classificou para a final ao superar o Coritiba.

O primeiro jogo entre Palmeiras e Internacional foi realizado no Estádio do Morumbi. O Palmeiras saiu na frente aos 34 minutos do primeiro tempo, quando o goleiro Benitez rebateu mal uma bola alçada na área e Baroninho, de fora da área, chutou aproveitando que o goleiro colorado estava adiantado e fora da meta: Palmeiras 1 x 0 Internacional.

No entanto, o Internacional empatou aos cinco minutos do segundo tempo, quando Jair chutou de fora da área e o goleiro Gilmar falhou: Palmeiras 1 x 1 Internacional. Aos dez minutos, Jorge Mendonça, com imensa categoria, recebeu a bola na área, adiantou-a passando pelo zagueiro, girou e, já de frente, concluiu com êxito: Palmeiras 2 x 1 Internacional.

A alegria alviverde, porém, duraria pouco. Aos 19 minutos do segundo tempo, um cruzamento da direita encontrou a cabeça de Paulo Roberto Falcão, que subiu mais do que todo mundo e colocou a bola à esquerda do goleiro Gilmar: Palmeiras 2 x 2 Internacional. E, aos 25 minutos, novo cruzamento na área palmeirense resultou num bate-rebate danado. A bola sobrou novamente para Falcão, que, na parte direita da área, emendou um sem pulo sensacional: Palmeiras 2 x 3 Internacional.

O lance mais bonito do jogo, no entanto, aconteceu aos 44 minutos do primeiro tempo, quando Paulo Roberto Falcão acertou uma bicicleta maravilhosa que passou raspando o travessão. Bicicleta, gol de cabeça, gol de sem pulo. Jogava pouco, o rapaz?

A vitória colorada levou a decisão da vaga para o Gigante da Beira-Rio, onde o empate em 1 x 1 classificou o time sulino, muito bem comandado pelo brilhante técnico Ênio Andrade, para a grande final. E o Colorado levou seu terceiro título brasileiro para sua gigantesca taça de troféus ao superar o Vasco da Gama.

MANGA

por Marcos Vinicius Cabral

“O que leva um menino a ser goleiro?”, foi o questionamento que fiz quando passei pelo portão principal do Retiro dos Artistas, na Pechincha, Zona Oeste do Rio, naquela manhã de domingo. O dia guardo comigo até hoje: 23 de fevereiro de 2021, data da primeira entrevista presencial para a série Vozes da Bola, criada em parceria com Fabio Lacerda. O amigo Beethoven nos acompanhou.

Apesar da restrição em razão da Covid-19, o encontro, marcado pelo afastamento das pessoas que participaram da entrevista com o rosto coberto por máscara e álcool em gel sendo passado nas mãos a todos instante, foi inesquecível.

Ao avistar Manga – que ganhou o apelido por sempre pedir as mangas maduras que caíam de uma mangueira próxima ao centro de treinamento do Sport – comecei a entender o que faz um menino trocar o encanto do drible, a euforia do gol, e a chance de ser herói de uma partida de futebol.

Entendi também o quão difícil é a tarefa de guardar a meta para evitar o gol de quem atua no limite da área, espaço que não nasce grama de tão amaldiçoado que é.

Ser goleiro, para mim, passou a ter um novo significado após essa entrevista que fizemos com o Manga. Ainda mais sabendo que ele não usava luvas para proteger os dedos, maltratados pelos chutes violentíssimos de Rivellino e Nelinho, por exemplo.

Nascido no dia 26 de abril de 1937 e registrado Hailton Corrêa de Arruda, o maior goleiro da história do Botafogo começou a jogar bola nos campos de pelada do Recife.

Herói alvinegro, de 59 a 68, Manga foi o maior campeão da história do clube: 442 jogos e 20 títulos. Para muitos botafoguenses, as maiores conquistas foram as vitórias em cima do Flamengo que, como o próprio Manga dizia, “garantiram as feiras do fim de semana”.

Alto e imponente, Manga, com sua camisa preta, jogando sem luvas e exibindo os dedos tortos, resultado das defesas acrobáticos que resultaram em múltiplas fraturas, chegou à seleção brasileira.

Diferente de Castilho, que tendo contundido o dedo mínimo esquerdo pela quinta vez, decidiu amputá-lo para retornar o mais rápido aos jogos pelo Fluminense, em 1957, Manga foi na contramão.
Conviveu até a morte com eles tortos.

A entrevista já havia terminado e nas fotos que tiramos com Manga, na minha vez, ele sussurrou:

“Era preciso ser um pouco maluco para jogar no gol”, confessou. Ri. Achei curioso a frase dita pelo ex-goleiro que, por causa do camisa 1 alvinegro, passou a existir o Dia do Goleiro, tamanha representatividade dele para a posição.

Enquanto Manga considera sua defesa mais difícil da carreira um chute do lateral-direito Nelinho, do Cruzeiro, na final do Brasileirão de 1975, como bem disse em off, fora de campo enfrentou terríveis adversários. Um foi a fama que não lhe garantiu uma vida financeira boa. A outra se estendeu aos problemas de saúde.

Trazidos do Uruguai ao Rio de Janeiro pela ESPN em 2020, Manga e a esposa Maria Cecília Cisneros passaram a viver no Retiro dos Artistas, presidida por Stepan Nercessian. Foi ele, inclusive, o primeiro ex-jogador a morar na instituição sem fins lucrativos.

Na manhã dessa quarta-feira (9), dezenas de torcedores e amigos compareceram ao velório de Manga, realizado na sede social do Botafogo, em General Severiano.

O ex-jogador morreu na manhã da terça-feira, aos 87 anos, em um hospital na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Manga lutava contra um câncer de próstata. O corpo do ex-camisa 1 foi enterrado no Cemitério São João Batista, em Botafogo, às 11h.

Torcedores do Sport, Botafogo, Nacional (URU), Internacional, Operário-MS, Coritiba, Grêmio e Barcelona de Guayaquil vão guardar os títulos, as defesas difíceis e as atuações heróicas de um dos maiores goleiros do futebol mundial.

Prefiro não esquecer das fotos que tirei ao lado da lenda e da conversa que tive com ele depois que Sergio Pugliese informou ao cinegrafista que “rendeu”.

Longe de todos e das câmeras, Manga demostrou ser um homem simples, educado e afetuoso”.

PIADAS ADIADAS

por Wesley Machado

O Botafogo empatava em 0 a 0 com o Carabobo da Venezuela pela Libertadores nesta terça-feira no Nilton Santos e as piadas já estavam prontas. Não “há coisas que só acontecem com o Botafogo”? O jornal engraçadinho de boas manchetes preparava a zoação. Mais eis que de repente: “Parem as máquinas”!

Dois jogadores criticados, Patrick de Paula e Matheus Martins, marcaram no finzinho derradeiro do jogo os gols da vitória de 2 a 0 do Glorioso e calaram os críticos. Frustraram também os do contra, que já se atiçavam para mandar memes nos grupos do Zap. O atual campeão das Américas tem sido alvo fácil neste 2025 ainda muito abaixo.

O mesmo poderia acontecer com o Vasco, que enfrentou o Puerto Cabello, também da Venezuela, pela Sul-Americana. Ah, como sofrem os vascaínos na boca dos adversários, que não respeitam a história e as glórias do Cruzmaltino. Tanta decepção nos últimos anos e até um lance clássico de perda de gol do Vasco foi parar em um comercial.

Mas o Gigante tem o “Pirata da Colina”! Ele, o veterano com físico de garoto, argentino Pablo Vegetti, que com seus olhos claros ilumina o verdadeiro time do povo carioca. Segundo o narrador de ontem, Vegetti é “o melhor cabeceador da América do Sul”! O gol da vitória de 1 a 0 saiu no final do primeiro tempo.

Para o torcedor cruzmaltino, Vegetti é “o melhor cabeceador do mundo”, comenta o narrador. Vegetti é isso tudo e mais um pouco. No tento que garantiu os três pontos ontem, o argentino cabeceou uma bola improvável, de longe, que foi no cantinho do goleiro. Parecido com a falta batida por Patrick de Paula do Botafogo que contou com o desvio artilheiro.

Assim, Botafogo e Vasco vão seguindo seus caminhos. Meus primeiro e segundo times na capital do Rio de Janeiro, por mais que possa parecer pejorativo chamar o Cruzmaltino de segundo time. Mas assim o considero. Tanto que o Sérgio Pugliese achava que eu era Vasco.

AGARRA, MANGA!

por Luiz Cláudio Latgé

Por que um menino resolve ser goleiro? O que faz com que troque o encanto do drible, a euforia do gol pela difícil tarefa de guardar a meta, de jogar no limite conflagrado da área, o lugar onde segundo os cronistas não cresce grama? Fiz algumas vezes esta pergunta, enquanto vestia a camisa preta nos campos de pelada. A resposta ainda não é fácil, mas passa pelo goleiro Manga.

A história de Manga começa nos campos de pelada do Recife. É um dos heróis do Botafogo, de 59 a 68, o maior campeão da história do clube, 442 jogos e 20 títulos, num tempo em que, dizia, enfrentar o Flamengo era bicho certo. Imponente, com sua camisa preta, jogando sem luvas e exibindo os dedos tortos, de muitas fraturas, chegou à Seleção brasileira.

O goleiro nesta é época não era uma estrela, não era disputado no mercado do futebol, isso só iria acontecer mais tarde, a partir de Júlio Cesar. Mas, daquele tempo, o Brasil se lembrará de Castilho, Gilmar, Dida, Leão… E Barbosa, eternamente marcado pela derrota na copa de 50. Este é o problema: jogar numa posição que você será lembrado pelo que não fez, pela bola que não defendeu.

Era preciso ser um pouco maluco para jogar no gol, dizia-se. A posição impunha coragem para levar bolada, se atirar aos pé do centroavante, comer areia, porque nem sempre havia grama por ali, já falamos disso. Muita força física, e explosão muscular para reagir no reflexo a um chute à queima roupa. Ao mesmo tempo, cobrava técnica, para encontrar o melhor posicionamento a cada lance. Manga tinha todas estas qualidades.

Na pelada, a gente costumava jogar e narrar os lances como um locutor. ‘Atira no canto, é gol.’ Mas a frase que ficou na minha lembrança era outra: ‘a bola vai entrando e … espalma, Manga.’

Manga era o salvador da pátria, o último homem. Capaz de voar. Se esticava para tocar a bola com a ponta dos dedos, evitando o gol. E a ponte do goleiro talvez seja uma das jogadas mais plásticas do futebol.

Manga teve uma carreira longa. Jogou no Nacional do Uruguai e foi campeão da Libertadores. Jogou no time memorável do Internacional, bicampeão brasileiro, em 75 e 76, já perto dos 40 anos. Se aposentou em 82, aos 45 anos, jogando pelo Barcelona de Guayaquil, no Equador, campeão até o final.

Uma carreira tão completa que o dia em que nasceu, o 26 de abril, é lembrado no esporte como o dia do goleiro, em sua homenagem.

A fama, no entanto, não lhe garantiu boa vida. Teve problemas de saúde e dificuldades financeiras e foi resgatado pelo jornalista Sérgio Pugliese, do Museu da Pelada, há alguns anos e passou a viver no Retiro dos Artistas.

Pode parecer que o goleiro está ali para fechar o gol. Mas Manga fez mais do que isto. Em cada defesa, tocou muito mais que a bola para escanteio. Obrigado, Manga.