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UMA ESTRELA PARA MARINHO

por Rubens Lemos

Depois do tricampeonato mundial de 1970, com a seleção brasileira, o lateral-esquerdo do Grêmio, falecido Everaldo, recebeu uma singela homenagem do clube, que colocou sobre o escudo uma estrela simbolizando a participação do jogador na campanha. Everaldo morreu em 1974 num acidente de carro quando fazia campanha para deputado estadual.

Marinho Chagas, o sempre derrotado pela vida e o seu legado, jogava por 200 Everaldos, foi o melhor jogador do Brasil na Copa da Alemanha e não é nem nome de rua em Natal. A colocação de uma peça de propaganda sobre o uniforme oficial do ABC seria a única e marcaria os 109 anos de fundação do clube.

É difícil compreender o tratamento que Natal deu a Marinho Chagas em vida e dá à sua memória. Simplesmente esquecido e, quando citado, só se fala no seu final de vida marcado por vícios. Marinho Chagas morreu doente e as pessoas colocam o alcoolismo como uma marca dos desocupados, boêmios e vagamundos.

O currículo de Marinho Chagas o afasta de todos esses defeitos. Aos 18 anos, Marinho Chagas foi campeão estadual de 1970 pelo ABC, após um jejum de quatro anos. Marinho Chagas e Alberi conduziram um time bem arrumado: Erivan; Sabará, Edson, Josemar e Marinho Chagas; William e Correia(Gonzaga); Zezé, Alberi, Petinha e Burunga. Para a época um excelente time doméstico.

Marinho Chagas foi fulminante. O Náutico levou-o e ele fez uma tempoada tão boa, apenas no campeonato estadual e meio, que foi considerado o melhor lateral-esquerdo já visto em terras recifenses.

Não demorou para os times do Sudeste começarem uma busca pelo galego que bailava como um meio-campista jogando pelos lados. Marinho Chagas, se começasse a jogar de meia-esquerda, seria um dos 20 melhores jogadores do mundo pela criatiatividade ilimitada.

Marinho Chagas, no segundo semestre de 1972, vestia a camisa do Botafogo que também tinha um timaço: Wendell; Valtencir, Rildo, Osmar Guarnelli e Marinho Chagas; Nei Conceição, Ademir Vicente e Carlos Roberto; Zequinha, Jairzinho e Fischer. Zagallo, técnico do Flamengo, preferiu o obscuro Mineiro ao loiro de madeixas berrantes.

Na estreia pelo Botafogo no Brasileirão de 1972, nenhuma moleza. O adversário era Pelé, com 32 anos, no crepúsculo da categoria mais Edu, Clodoaldo e o restante da companhia teatral. Na primeira jogada, Marinho Chagas deu um balão em Pelé, pegou do outro lado e ouviu do Rei:

– Você é maluco?

Marinho Chagas respondeu de bate-pronto

– Vai jogar tua bola, cara.

Para coroar a estreia, Marinho Chagas bateu uma falta com extrema violência, que o goleiro Cejas nem viu por onde passou. O futebol brasileiro passava a conhecer uma nova estrela. Marinho Chagas entrou no perigoso turbilhão do novo rico.

Passeava em carros conversíveis, frequentava a night carioca, colecionava calcinhas das chacretes do programa do Chacrinha e incendiava o Rio de Janeiro. Louro, 20 anos, irreverente, ríspido com quem tentava diminuí-lo.

A esses, respondia em arrancadas deslumbrantes pelo lado esquerdo infiltrando-se para o meio, muitas vezes deixando o flanco esquerdo sem cobertura, o que irritava zagueiros saindo em sua cobertura.

Marinho Chagas, seguindo a linha de Nilton Santos nos anos 1950, transformou a lateral-esquerda. Já naquele tempo, muitos jogadores de talento poderiam deixar a função defensiva para se lançar ao ataque. Não demorou e chegou 1973.

A um ano da Copa do Mundo, o país estava convicto de que o titular seria Marco Antônio do Fluminense e depois do Vasco e do Botafogo. Marco Antônio era técnico, mas carregava a fama de tremer nos jogos importantes, daí ter perdido a vaga para Everaldo em 1970.

Marinho Chagas, convocado pela primeira vez em 1973, ganhou de vez a posição pela magistral atuação contra a Tchecoslováquia, quando abriu a jogada com um lindo drible de calcanhar e correu para marcar aproveitar o passe de Jairzinho.

Na Copa do Mundo, foi estupendo. O Brasil já não era o mesmo de 1970, mas ele atuou tão bem que Neeskens da Holanda perguntou se era possível naturalizá-lo para jogar no Carrossel.

O resto já se sabe. Marinho Chagas mergulhou em álcool e drogas e morreu em 2014 tendo seu corpo velado no Bar do ABC, um absurdo. Enquanto brinca entre as estrelas, espera o gesto raro da gratidão.

EXEMPLO A SER SEGUIDO

por Zé Roberto Padilha

Como Thiago Silva, Philippe Coutinho foi merecedor do tamanho da festa que lhe preparavam para a volta. Sabe quando você deixa a sua casa, amigos e professores e sai pelo mundo exercendo cada uma das lições aprendidas?

Coutinho não decepcionou ninguém. Foi disciplinado, agregador, não foi para o bagaço, pagou seus impostos em dia e foi um exemplo como pai de família. Simples assim. Porém, difícil para muitos assim.

Da base até o Barcelona, da ajuda de custo até uma fortuna em euros, tudo muda muitas vidas. Mas há os que resistem, honram o berço, os conselhos dos avós, as aulas de Educação, Moral e Cívica.

Entre eles, Thiago Silva e Philippe Coutinho. Ninguém vira ídolo de uma torcida desse tamanho e merece um carinho desses se não fez por merecer.

Seja bem-vindo!

JÁ VI ESTE FILME

por Wesley Machado

Uma sensação déjà vu este Botafogo X Palmeiras.

Déjà vu de “já visto” em francês.

Que é nome de filme e de música também.

No Brasileirão de 2023, ao contrário do que muitos podem, traídos pela memória, pensar, o Botafogo tinha apenas 6 pontos de diferença para o Palmeiras quando o enfrentou no fatídico 1º de novembro pela 31ª rodada.

Naquela época, o Botafogo vinha em uma decrescente depois de abrir 14 pontos de vantagem.

A virada do Palmeiras foi o começo do fim do campeonato para o Botafogo.

Em 2024, apesar do déjà vu, o cenário é outro.

São três vitórias seguidas do Botafogo e apenas uma derrota nos últimos 11 jogos do Brasileirão.

O Palmeiras também vem bem, com apenas uma derrota nos últimos 10 jogos do Brasileirão.

Portanto, a expectativa é de um jogão nesta quarta-feira.

Decisão?

Ainda não.

Porém o resultado pode, talvez, apontar uma certa direção de quem poderá ser o campeão.

Ou não.

Fogão ou Verdão?

Qual a sua opinião?

TITLE SPONSOR NO FUTEBOL

por Idel Halfen

Os que acompanham o futebol e, por que não dizer, o esporte de uma forma geral, certamente notaram um expressivo aumento na quantidade de competições que passaram a ter patrocinadores dando o nome ao evento. É o que chamamos de title sponsor.

Diante desse cenário, um estudo produzido pela Jambo Sport Business se propôs a analisar o comportamento das marcas que investem nesse tipo de patrocínio.

O detalhamento da amostra que contempla cem campeonatos/ligas da primeira divisão, além de outras informações adicionais, podem ser acessados pelo link: https://www.linkedin.com/posts/halfen_title-sponsor-nas-principais-ligas-de-futebol-activity-7216356884214128640-cCbH?utm_source=share&utm_medium=member_desktop

No estudo é possível ver que o setor de apostas é o mais presente, são 26 campeonatos que têm alguma empresa do segmento nominando a competição. Na segunda posição aparece o setor financeiro com 13,5%, seguido pelo de telecomunicações com 12,5%. A razão para se ter números fracionados é devido ao fato de o campeonato paraguaio ter duas marcas dividindo a propriedade, daí o trabalho ter considerado cada uma dessas como meia.  

Ao analisarmos o histórico desse tipo de investimento, notamos que há realmente uma espécie de “onda” no que tange a setores. Se nos primórdios poucos campeonatos adotavam essa iniciativa, hoje apenas 24% não a utilizam, sendo que alguns por razões legislativas e outros, como é o caso do inglês, por entender que a receita auferida não compensa as eventuais perdas dos clubes. 

Ao longo do tempo já tivemos o domínio das empresas de telecomunicações, vimos o crescimento das instituições financeiras e agora chegou a vez das empresas do ramo de apostas.

Se o title sponsor atende aos intentos das marcas que o adotam é difícil responder, até porque não sabemos quais são eles, tampouco sabemos se os gestores têm essa intenção contemplada no planejamento estratégico que definiu a adoção desse patrocínio como parte de algum objetivo de marketing. 

Mais grave, a própria mensuração é complexa, fruto da dificuldade de expurgar a influência das demais ações da mesma marca, da reação da concorrência e da escolha dos indicadores de avaliação. Quais seriam eles? Recall? Receita? Quem sabe market share? Lucratividade? As opções são vastas, além do que, a resposta pode não ser única, tampouco generalista, já que as características de cada país são diferentes sob os mais diversos focos, seja no que tange ao perfil socioeconômico da população, à competitividade de dado mercado e até à maturidade do mercado.

Sobre essa última, vale citar que entre os 50 campeonatos que geram mais receitas, apenas 14% deles não têm title sponsors e quando vamos reduzindo a amostra até chegar aos TOP 10, esse percentual aumenta para 40%, conforme pode ser visto no gráfico ao lado. Tais índices dão legitimidade à hipótese de que, quanto mais madura a liga, menor a necessidade de comercializar a propriedade que estamos analisando.

No caso das marcas de empresas de apostas – atuais líderes nessa propriedade de marketing –  a resposta sobre a eficácia do investimento se torna ainda mais difícil, pois, se nas empresas de telecom, bancos ou até de cervejas, é possível identificar diferenças de atributos ou mesmo de posicionamento, nas bets a confusão é grande, o que faz com que a aquisição dos direitos aos nomes de eventos prescinda mandatoriamente de fortes ativações, encarecendo assim a operação.

O trabalho, fornece ainda uma análise sobre a evolução dessa propriedade no Brasil, cita as parcerias mais longevas no mundo, comenta o case da Premier League que extinguiu a comercialização do title sponsor, além de comentar sobre segmentos inusitados que já fizeram o uso desse tipo de patrocínio. 

OS MOTIVOS DE CADA UM

por Cláudio Lovato Filho

Foi uma tabelinha muito rápida. O passe rasteiro e forte, mas no lugar certo, a bola um passo à frente dele, no ponto exato para pegar bem no meio dela, e ele encheu o pé. A rede estufada. A torcida enlouquecida. E agora ele, eufórico, sem conseguir acreditar no que havia acabado de fazer, recebe o abraço dos companheiros; alguns se jogam sobre ele, rindo e gritando, e a cabeça parece um redominho, um catavento na tempestade, uma hélice descontrolada, pensamentos na velocidade da luz, lembranças que se amontoam, se enroscam, disputam espaço umas com as outras. São frações de segundos que encerram uma eternidade: a fratura, a cirurgia, o tempo parado em casa, o apoio da família e dos amigos, a recuperação, a ansiedade pela volta, a volta, a superação. Sente, neste momento, uma profunda alegria por estar de volta, por estar bem, estar vivo para desfrutar de tudo isto, sem nenhuma amargura em relação ao passado, sem medo do futuro.   

Então ele chora.

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Assim foi, que aos 72 anos, o treinador resolveu parar. Estava honrando um acordo com a família. O coração não estava aguentando mais (literal e metaforicamente). Tinha dado a sorte de encerrar a carreira no clube do coração, o clube que o lançou para o futebol como jogador e que o lançou para o futebol como técnico, e na cidade que tanto amava.  Agora estava ali, se despedindo depois do último jogo. Caminhava na pista atlética, abanando para a torcida nas arquibancadas, sendo ovacionado. Caminhava com seu passo firme, as pernas arqueadas, uma de suas marcas registradas; caminhava e acenava, achando que estava no controle dos nervos, mas quando passou em frente à organizada que ficava atrás do gol do setor Sul, a maior organizada do clube, abriu-se uma bandeira, um bandeirão, um negócio gigantesco e muito bem feito, com o rosto dele pintado e embaixo uma frase que dizia: “Sempre contigo”.

Então, isto era inevitável, ele chorou.

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O menino está na garagem do prédio chutando a bola contra o muro. Ainda sente no rosto a dor da agressão sofrida por ter desafiado a autoridade paterna. Na verdade, apenas fez uma pergunta, mas isso foi o bastante. Agora está ali, tentando afastar o peso da mágoa com o uso da perna direita. Não foi a primeira vez que apanhou, mas desta vez sentiu algo diferente na ação da qual foi vítima. Não percebeu irritação, brabeza, impaciência, esse tipo de coisa. Percebeu raiva. Outro chute na bola, a bola contra o muro, a bola voltando rápida, o corpo desviando, a bola batendo na lixeira ao lado do elevador de serviço. E o tempo todo as lágrimas correndo pelo rosto, que ainda tem um lado mais vermelho que o outro.

É o choro que chega aos olhos depois de percorrer um canal conectado diretamente ao coração – coração que neste momento parece caber numa caixa de fósforos.

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Onze de dezembro de 1983. Estávamos reunidos ali desde o fim da tarde, embora o jogo só fosse começar à meia-noite. A “arquibancada” era a ampla sala da casa desocupada da família de um dos parceiros. (Os pais estavam no exterior, preparando a volta em definitivo para o Brasil, depois de muito tempo fora.) Éramos uns 20, no total, talvez mais, todos na faixa dos 18 anos, todos muito amigos. Alguns, em franca minoria, eram torcedores do meu arquirrival vermelho (incluindo o dono da casa), mas fazer o quê? Bom, para estes valia estar com os irmãos, valia a festa, com toda a sede e todo o gosto pela farra dos 18 anos. Havia um surdo, um tarol, um repinique, um tamborim e outros instrumentos. Um tarol quem tocava era este que vos escreve. Assim avançamos pela noite: cantando, batucando, bebendo, rindo, confraternizando. Até que chegou a hora de parar tudo, porque o jogo ia começar. E o time deste que vos escreve sagrou-se Campeão do Mundo no Japão, dois a um em cima dos alemães, na prorrogação, dois gols de um cara só um pouco mais velho que todos nós que ali estávamos, o nosso ponteiro direito, o nosso camisa 7, Renato Portaluppi.

Então, pouco tempo após o juiz inglês apitar o fim do jogo, escorado num carro estacionado em frente à casa, diante de um irmão que me entregava o velho tarol, chorei tudo o que tinha para chorar. Depois, lágrimas enxugadas nas mangas do sagrado manto azul, preto e branco, ataquei com as baquetas em plena madrugada da rua Monteiro Lobato, bairro Partenon, em Porto Alegre.