O VASCO VOLTOU
por Wesley Machado
Na minha cidade, Campos dos Goytacazes, tem um prédio chamado “Balança, mas não cai“.
É a torre de Pisa do interior do Rio de Janeiro.
Diante do sucesso do último texto sobre o Vasco, resolvi trazer mais estas mal traçadas para você, leitor, cruzmaltino ou não.
A colega de serviço, vascaína Luciana, voltou a comentar comigo sobre o time do coração.
– O Vasco é muita emoção. Cada jogo uma palpitação – afirma Luciana.
Rimou.
É crônica ou poesia?
Sei lá.
Veio da também colega de serviço vascaína a consideração que remete ao início deste texto.
– O Vasco balança, balança, mas não cai – assegura Luiza, que vestia a cruz de malta (ou de Cristo – como queira).
Ainda é muito cedo para garantir alguma coisa.
Mas uma coisa é certa.
O Vasco voltou!
UM EMPRESÁRIO DOS SONHOS
por Zé Roberto Padilha
Existe um abismo entre o futebol jogado, hoje, por Gerson e Lucas Paquetá. E isso é uma falta de respeito com nossa seleção, eliminada, com toda a justiça, da Copa América.
Enquanto Gerson tem chamado a responsabilidade para colocar o Flamengo na liderança do Campeonato Brasileiro, Paquetá se exime, ou não tem competência, para organizar o meio-campo da seleção de muitos brasileiros. Menos minha.
Futebol, e aprendemos isso com nosso treinador Pinheiro, nas divisões de base do Fluminense, é momento. Não é passado, nem futuro. Com a ausência de Arrascaeta e De la Cruz, Gerson tem corrido como o segundo e jogado como o primeiro. Vive o seu melhor momento na carreira.
Sem a genialidade de Gerson, Rivaldo ou Rivellino, armadores canhotinhos habilidosos e sem liderança, como Paquetá, são encontrados às pencas nas peladas do Aterro do Flamengo. O que Dorival Jr. pensa que ele, Paquetá, pode fazer, James Rodriguez faz.
E fez a diferença.
Se o tempo voltasse, e eu fosse de novo o menino que sonhava em ser jogador de futebol. gostaria de chutar como Rivellino, driblar como Zico e ter o empresário de Lucas Paquetá.
Estava feito na vida. E nossa seleção desfeita de um Gerson que realmente merecia ocupar o meu lugar.
ÍDOLOS DA NAÇÃO
por Elso Venâncio, o repórter Elso
Zico, Júnior e Leandro são ídolos eternos da Nação Rubro-Negra e amigos de vida. Eles
representam a geração que conquistou inúmeros títulos nacionais, além de torneios
internacionais, culminando com o Mundial, em Tóquio. Júnior não discutia contrato: “Meu
salário é metade do que recebe o Galo”. Leandro entrava na sala do dirigente George Helal e
logo saía, avisando que tinha renovado. Zico cobrava faltas até anoitecer. Nem goleiro tinha
para auxiliá-lo. A barreira móvel ficava em posições alternadas e diante de várias bolas.
Marcelinho Carioca, ainda juvenil, observava as cobranças e apanhava as bolas atrás do gol.
O maior time da história do Flamengo tinha Leandro na lateral-direita e Júnior, na esquerda.
Júnior atuava como segundo homem de meio-campo. Devido à concorrência, foi para a lateral-
direita e, quando Leandro subiu para os profissionais, trocou de lado. Júnior, seria um dos
maiores cobradores de falta do futebol. Não batia porque jogava com Zico. Também há que se
falar de Dida, ídolo do Zico e segundo maior artilheiro da história do clube, com 264 gols em
358 partidas. Só foi superado pelo próprio Zico, com 509 gols marcados em 732 jogos. Júnior,
por sua vez, é quem mais vestiu a camisa rubro-negra, com 876 jogos.
Leandro, quando a situação estava difícil em campo, gritava para o goleiro Raul: “Toca a bola
em mim”. Usava tanto a perna direita como a esquerda, e driblava para os dois lados. Num
Bahia x Flamengo na Fonte Nova, Valter, atuando na zaga, saiu driblando vários adversários, desde a sua área até o meio-campo. A torcida baiana aplaudia de pé, comemorando o futebol-
arte que encantava o mundo. No intervalo, pergunto ao Valber: “Que jogada é essa?”. Resposta
imediata: “Baixou o espírito do Leandro”.
O grande locutor esportivo Jorge Curi, apaixonado pelo Flamengo, tinha adoração por Leandro.
A família atendeu ao desejo do Curi de ser sepultado em sua terra natal, Caxambu/MG, com a
camisa 2 que recebeu do ídolo. Curi gostava de falar sobre Leandro: “Que habilidade! Podia ser
o camisa 10 em qualquer time”.
No início de 2020, uma enquete do jornal “O Globo”, em parceria com o “Extra”, apontou Zico,
Júnior e Leandro como os maiores ídolos da história do Flamengo. Na época da pesquisa,
Gabigol começava a decidir e conquistar títulos memoráveis. Carismático, a cada vitória,
orquestrava do gramado uma grande festa no Maracanã.
Embora hoje desmotivado, em má fase e sem apoio da comissão técnica e da diretoria, Gabigol
é outro nome para figurar na prateleira dos maiores que vestiram a camisa do clube mais
querido do Brasil.
CALMA, É O VASCO
por Wesley Machado
Encontro no corredor do serviço com o amigo vascaíno Márcio.
– O Vasco não vai cair – afirmo.
Márcio retruca.
– Calma, é o Vasco.
Márcio tem razão.
Muita calma nessa hora.
Ainda faltam 23 rodadas.
E a roda do futebol gira rápido.
Como uma roda gigante.
Um dia se está por cima.
Outro dia se está por baixo.
Como a vida.
E o vascaíno tem razão em conter a euforia.
Os últimos anos têm sido de muito sofrimento.
Mais do que o meu Botafogo.
A recepcionista Luciana, que ouviu minha conversa em voz alta com o Márcio, me pergunta.
– Você é vascaíno?
– Não, sou botafoguense – eu respondo.
Mas gosto muito do Vasco.
Admiro sua torcida, sua história.
Sábado, meu cunhado vascaíno Felipe sentou-se ao meu lado na sala da minha casa para assistir comigo ao clássico da amizade.
Deu no que deu.
Empate.
Mas o Vasco é o time da virada e sua padroeira é Nossa Senhora das Vitórias.
E de vitória em vitória, com os gols do Pirata Vegetti, o Cruzmaltimo vai enxergando a saída dessa maré de azar.
Porque lá para baixo nem pensar.
Avante Gigante da Colina!
Saudações de um alvinegro amigo que torce por vocês!
PONTE PARA O CÉU
por Wesley Machado
– Nunca critiquei.
Entre expressões que se popularizaram no futebol, esta recente também pegou.
É utilizada em forma de ironia para se desculpar com um jogador que havia criticado.
– Queimei a língua, antigamente se falava.
E foi o que aconteceu na quarta-feira passada no jogo do Botafogo contra o Cuiabá fora de casa.
O lateral direito reserva, uruguaio Mateo Ponte, de apenas 21 anos, é um jogador inconstante. Erra e acerta, na maioria das vezes erra mais que acerta.
Mas nesta partida não.
Ponte acertou muito mais que errou.
No primeiro gol do Botafogo, marcado por outro jovem, Kauê, também de 21 anos, Ponte recupera a bola no lance que resultou no tento de abertura do placar.
Ainda na primeiro tempo, o zagueiro Halter cometeu um pênalti infantil, que o paraguaio Pitta, de 24 anos, converteu.
Halter falharia outra vez diante de um endiabrado Pitta, que incorpora o demônio contra o Botafogo.
Mas o goleiro John salvaria o Botafogo.
A jogada foi invalidada por impedimento.
O botafoguense está destinado a sofrer.
O sofrimento é algo religioso.
E o Botafogo é minha religião.
Eis que quase aos 30 minutos da etapa final, Ponte recebeu uma bola pelo lado direito de ataque.
Ele domina e dá o passe para Júnior Santos, que dribla e chuta no canto.
O goleiro Walter dá o rebote e a bola sobra para Ponte chutar forte para dentro da meta.
Foi mais um gol da vitória de Ponte, assim como na segunda rodada, em mais um dia sofrido para os botafoguenses que terminou com uma alegria.
Ironias da vida e do futebol que nos prega peças como esta do jogador crucificado que se torna redentor.