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O FÃ E O ÍDOLO

por Elso Venâncio

Antes de ser Flamengo, Max já era Zico. De família rubro-negra, ele corria pela casa gritando “Zico, Zico, Zico”, gesto hoje repetido pelo seu filho José Edgar, nome em homenagem ao avô paterno.

Maximiliano de Souza Oliveira nasceu e mora em Mossoró, segunda maior cidade do Rio Grande do Norte, com quase 300 mil habitantes. O município fica localizado entre duas capitais, Natal e Fortaleza. Nos jogos pelo Norte e Nordeste do país, Max está presente há décadas, tirando fotos. Pela educação e simpatia, é sempre bem recebido por todos.

O primeiro contato entre o fã e o ídolo foi em 1995, no Centro de Futebol Zico (CFZ), no Rio de Janeiro. Max levou uma mala de 10 quilos com fotos e matérias sobre Zico. Ele foi de ônibus, desceu na Avenida das Américas e caminhou até o centro de treinamento. Trêmulo e com as mãos geladas, viu as lágrimas surgirem no aperto de mão. “

– Calma, garoto. Bebe um copo d’água! – interferiu Zico. 

O acervo da família Coimbra em poder do Max impressiona. Ele tem fotos que Zico nem conhecia ou das quais pelo menos nem se lembrava, como uma com os pais no Cristo Redentor.

Num dos quartos onde Max reside, na Rua Rodrigues Alves, 1410, bairro Santo Antônio, há um museu em homenagem a Zico, que virou atração turística em Mossoró. O trabalho do fã é feito com carinho, sem envolvimento financeiro. Há uma sequência de camisas usadas pelo ídolo ao longo da carreira. A coleção da revista Placar pode ser vista desde a primeira edição, publicada em 1970. Em agosto de 2018, ele criou no Instagram a página @arthurzicobiografhy. O número de seguidores ultrapassa os 23 mil.

No Jogo das Estrelas, a cada ano, Max chega cedo ao Maracanã e ajuda no que for possível, ao lado de Júnior Coimbra. Mesmo se a partida for perto do Natal, como na última edição, ele deixa os familiares e vem para o Rio.

Certa vez, Zico almoçava em Fortaleza, onde participaria de um jogo festivo. O garçom pediu licença e, sem jeito, se dirigiu a ele:

– Tem um rapaz dizendo que é amigo do senhor e mandou esse bilhete! – Max, radiante, almoçou com o ídolo.

Há duas semanas, Max visitou Edu Coimbra, um dos irmãos de Zico, em Quintino. Edu o levou para conhecer a nova estátua de Zico, na praça principal do bairro onde cresceu. O maior orgulho do flamenguista Max é ter o respeito e consideração do seu ídolo e de toda a família Coimbra.

DOIS ANOS SEM O MEU ROBERTO DINAMITE

por Pedro Chiaverini, do Jornal dos Sports

Sim, Roberto Dinamite é meu. Ou, pelo menos, o Dinamite é. Afinal, esse apelido foi dado pelo Jornal dos Sports na edição de 26 de novembro de 1971, pelos gigantes Eliomario Valente e Aparício Pires com a histórica manchete “Garôto-Dinamite explodiu” após o primeiro gol dele pelos profissionais, contra o Internacional.

Porém, na verdade, a alcunha surgiu quase uma semana antes, exatamente na publicação do dia 20 daquele mês. Ainda atuando pelos juniores, no treino da véspera, realizado – pasmem! – na Gávea, Roberto anotou dois gols, o que chamou atenção de todos que presenciaram a atividade. Além disso, esbanjou “agressividade ofensiva” e “chutes potentes”, o que lhe rendeu o famoso apelido.

Querido por todos, o camisa 10 tinha entre seus melhores amigos ninguém menos que Zico, ídolo maior do rival Flamengo.

Inclusive, fez o Galinho vestir a camisa cruzmaltina, em amistoso no Maracanã.

De tão especial como atleta e exemplar fora de campo, Roberto tinha poucos inimigos, sendo os principais adquiridos após virar presidente do clube do coração.

Infelizmente, são dois anos sem a simpatia e o sorriso fácil do ídolo que o Cor de Rosa, de alguma forma, ajudou a forjar.

Brincadeiras à parte, não é do Jornal dos Sports.

É do mundo.

Do Brasil.

Do Rio de Janeiro.

Do Vasco da Gama.

De todos.

Obrigado, Roberto.

Texto publicado originalmente: https://jornaldossports.com.br/dois-anos-sem-o-meu-roberto-dinamite/

3165 DIAS SEM UMA CARREATA

por Zé Roberto Padilha

Certa vez, melhor, há três anos, meu neto, Felipe, educado e alimentado desde criancinha com as vestes tricolores, cansou de esperar por um título tricolor que o conduzisse a uma carreata.

A maioria dos seus amigos já tinha participado dessa festa pós título. E ele comunicou oficialmente sua saída para o outro lado do Fla x Flu.

Acontece naquela fase em que o ser humano recebe um terço da carga de hormônios reservada a toda a sua existência. E, adolescentes, estão expostos a toda a sorte de experimentos.

Seis meses depois do dia do “Não Fico”, nós, tricolores, realizamos, ao conquistar a Libertadores, a maior de todas as carrreatas.

Acontece.

Toda essa lembrança veio à tona porque o Vasco acaba de se aproximar de uma década sem títulos. As primeiras doses dos hormônios são introduzidas aos 10 anos. E se você tem um filho vascaíno perto dessa idade, cuidado. Porque…

Casaca, casaca, o Vasco é o time da virada!

PATADA ALVINEGRA

por Rubens Lemos

No dia 4 de julho de 1979, enquanto os norte-americanos comemoravam sua independência (para sofrer quatro anos mais tarde com a invasão iraniana à embaixada em Teerã), a canhota mais-que-perfeita do futebol brasileiro desfilava no gramado do Estádio Castelão (Machadão) com a camisa 10 do ABC.

Aos 33 anos, depois de passar a liderança artística no futebol a Zico, Rivelino disputava amistosos, de férias do Al-Hilal da Arábia Saudita, de onde sairia por desavenças com o príncipe Kaled. A ideia de trazê-lo a Natal foi do empresário e então dirigente do Alecrim, Joílson Santana (mais tarde cartola do ABC e falecido em 2013), que não tremeu diante do cachê altíssimo cobrado pelo tricampeão: 100 mil cruzeiros em dinheiro vivo, pagos antes do amistoso contra o Vasco (RJ), que excursionava pelo Nordeste e aceitou incluir Natal no roteiro.

Rivelino foi notícia durante uma semana. O governador Lavoisier Maia fez questão de visitá-lo no majestoso Hotel Ducal, no centro da cidade (o primeiro arranha-céu de Natal), próximo ao Palácio Potengi, então sede do Governo do Estado. Demonstrando tédio, Rivelino, fanático por passarinhos, perguntava a quem pedia um autógrafo onde poderia encontrar um curió cantador. Voltou sem levar nenhum.

O Vasco veio com suas principais atrações: Roberto Dinamite, o goleiro Leão, o lateral-esquerdo Marco Antônio, o zagueiro Abel Braga, e um complemento mediano. O Flamengo de Zico, Júnior, Adílio, Carpegiani e Cláudio Adão mandava no futebol carioca.

O técnico do ABC, Ferdinando Teixeira, armou um meio-campo habilidoso. Baltasar, o encarregado da marcação, ficou recuado. Rivelino tocou bola com o ex-vascaíno Danilo Menezes, uruguaio que era chamado de Rei do Castelão pela imprensa.

Indisposto, Rivelino acertou dois lançamentos preciosos que, por má vontade do destino, caíram no pé desastrado do centroavante Dentinho, de triste memória para o alvinegro local.

O Vasco se impôs com o volante Dudu e o meia Carlos Alberto Garcia (ex-Londrina e futuro jogador do ABC em fim de carreira). Pressionou e chegou ao primeiro gol aos 44 minutos do primeiro tempo. Roberto Dinamite amorteceu a bola no peito e fuzilou o goleiro Carlos Augusto.

Rivelino – seguindo o contrato – saiu e a torcida não sentiu sua falta. Xodó do abecedista, o baixinho Noé Macunaíma entrou em campo, pôs nitroglicerina no time e acabou como a verdadeira estrela.

O mítico técnico Oto Glória, comandante da seleção de Portugal que destroçou o Brasil em 1966 com a Pantera Eusébio, mandou reforçar a marcação sobre Macunaíma. O lento meia Toninho Vanuza não conseguiu domá-lo.

Cobrando escanteio, o ponta-esquerda Berg cruzou, e a bola sobrou para Noé Macunaíma se consagrar e empatar, violando o titularíssimo da seleção brasileira, o arrogante Leão. Terminou 1×1 com 24 mil pagantes. O promotor teve prejuízo.

Rivelino, que não estava a fim de muito papo, saiu do vestiário direto para o Hotel Ducal e tomou o primeiro voo da manhã de quinta-feira para São Paulo. Os torcedores que pagaram ingresso para tietar Rivelino viram Noé, o Macunaíma do povo, bom e barato.

CAPITÃO DENÍLSON

por Elso Venâncio

Denilson Custódio Machado — ou simplesmente Denilson — foi o primeiro volante a ser chamado de cabeça de área no futebol. Nasceu em Campos dos Goytacazes, no dia 28 de março de 1943. Pelo Madureira, se destacou num jogo nas Laranjeiras, contra o Fluminense, anulando o ataque tricolor. Insatisfeito com os atrasos salariais e com moral após a partida, procurou o conterrâneo Pinheiro para se aconselhar. O ídolo Pinheiro havia deixado o Fluminense após 15 anos, mas tinha influência no clube.

— Fala direto e firme com Zezé Moreira e pede para treinar. Deixa o resto comigo! — orientou Pinheiro.

Forte, com 1m80, Denilson ouviu com surpresa a pergunta do consagrado e sisudo treinador:

— Meu filho, você é goleiro?

— Não, seu Zezé, sou meio-campo e dos bons.

Denilson não apenas foi para o Fluminense, como defendeu o clube de 1964 a 1973, tornando-se o sétimo jogador com mais atuações na história tricolor. Capitão e líder em campo durante tantos anos, recebeu do jornalista Nelson Rodrigues o apelido de Rei Zulu. Logo no primeiro pelo Fluminense, Denilson foi campeão carioca e chegou à Seleção Brasileira.

Nos treinamentos para a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, imperava a desorganização. Foram convocados mais de 40 jogadores, reflexo de uma ditadura militar que usava o futebol do país bicampeão do mundo. Com a proximidade da Copa, o técnico Vicente Feola marcava reuniões com a presença dos convocados, para anunciar os cortes, pois só poderia levar 22 jogadores para o Mundial. Faltando poucos minutos para um desses encontros, Pelé avisou a Denilson:

— Preciso esfriar a cabeça. Vamos dar uma volta?

Denilson reagiu: “Se eu sair, estou cortado”.

— É o contrário… Se estiver comigo, ninguém mexe com você — rebateu o Rei do Futebol, que já era tetracampeão do mundo (duas vezes pelo Santos e duas com a Seleção Brasileira.

Denilson foi à Copa e atuou em duas partidas: contra a Bulgária, na vitória brasileira por 2 a 1, e contra Portugal, na derrota por 3 a 1. Pelo Fluminense, o volante teve 433 jogos. Além de 1964, também foi campeão carioca em 1969, 1971 e 1973. Conquistou a Taça Guanabara em 1966, 1969 e 1971, bem como a Taça de Prata, em 1970.

A maior decepção do Rei Zulu no futebol foi não ter sido lembrado para a Copa de 1970. No ano do tricampeonato mundial, o Campeonato Brasileiro — ainda conhecido como Taça de Prata ou Roberto Gomes Pedrosa (Robertão) — reuniu uma fartura de craques, já que os campeões no México estavam em campo e não era comum os clubes negociarem jogadores para o exterior. Enfim, o Fluminense conquistou o título no maior Brasileiro de todos os tempos. Time-base: Félix; Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio; Denilson e Didi; Cafuringa, Flávio (Michel), Samarone e Lula.

O grande capitão faleceu no dia 1º de outubro de 2024, aos 81 anos. Residia na cidade do Rio de Janeiro e lutou, ano passado, com problemas na próstata. Denilson é um ídolo eterno na história do tricolor carioca.