TRINTA ANOS DEPOIS…
por Paulo-Roberto Andel
Eis o tempo, que escorre e vai oferecendo reflexões e reflexões, ainda mais no futebol por ter uma espécie de tempo próprio.
Imagine a ficção científica se você estivesse em 1994 e um cientista te oferecesse uma oportunidade como a do famoso filme “De volta para o futuro”. “Você vai para 2024 e espia como está a Seleção Brasileira, depois volta”. O susto seria grande. Estamos mal, bem mal e com evidente preocupação.
Há trinta anos, o Brasil vivia uma loucura. Depois de 24 anos, voltamos a ganhar uma Copa do Mundo em decisão dramática contra a velha Itália, sempre ela. Pela primeira vez, a Copa foi decidida nos pênaltis – e talvez esse drama ajude a explicar porque nós, brasileiros, passamos anos e anos sacaneando os tetra campeões.
Ah, o Zinho é enceradeira. Ah, o Brasil não joga bonito. Ah, o Brasil não goleia.
Não, a Seleção de 1994 não se compara às suas antecessoras vitoriosas em 1958, 1962 e principalmente 1970. Mas qual outra Seleção no mundo se compararia? Talvez justamente as que não venceram, talvez. Hungria 1954, Holanda 1974 e Brasil, ele mesmo, 1982.
A verdade é que, longe de paternalismos, não soubemos dar o devido valor aos tetra. Reconhecer que, desde a retumbante goleada sobre a Bolívia no Arruda, reagimos nas eliminatórias até a batalha final diante do Uruguai, quando Romário fez a maior exibição de sua carreira.
O Brasil não era uma tampinha chutada no chão. Na boca da Copa, perdeu Mozer e Ricardo Gomes, depois Ricardo Rocha – que outra Seleção aguentaria esse tranco? E o azar em ter um craque como Raí na pior fase de sua carreira? Tivemos e superamos.
Taffarel, goleiraço. Jorginho, monstruoso. Aldair e Márcio Santos, duas feras. Leonardo, ótimo. Quando Branco entrou, decidiu e mostrou a que veio.
Dunga e Mauro Silva formavam uma tremenda dupla de volantes. Mazinho era um jogadoraço, capaz de fazer várias funções. E Zinho ia muito, mas muito além da enceradeira, como provou no decorrer de sua carreira.
Bebeto e Romário. Desnecessário comentar.
Membro da comissão técnica de 1970, Parreira já nasceu com o DNA da vitória. Um dos treinadores que mais classificou equipes para os mundiais, fez trabalhos espetaculares no Brasil, sendo o Fluminense de 1984 o melhor deles. Com Parreira, o Brasil foi frio, equilibrado, pragmático mas também talentoso. Ao lado de Parreira, o implacável e glorioso Zagallo.
Não brilhamos intensamente em todos os jogos, mas o fato é que o Brasil se impôs a todos os rivais na Copa dos EUA. Sua única grande dificuldade além da final foi a semifinal diante da poderosa Holanda, num jogaço por sinal. Em todas as partidas o futebol brasileiro foi superior, traduzindo sua força em grandes jogadas.
A beleza dos gols de Romário e Bebeto, a eficiência dos passes de Dunga, os bons cruzamentos de Jorginho, a elegância do miolo com Aldair e Márcio Santos, tudo isso está registrado.
Ok, não fomos brilhantes o tempo todo e nem precisávamos. Agimos quando foi preciso. Rever os jogos contra a Holanda e a Suécia a seguir, pela semifinal, ajudaria muitos a perceber que a nossa Seleção estava longe da mediocridade.
Há trinta anos o Brasil parou e enlouqueceu. As pessoas foram ao delírio. Nós não tínhamos mais Pelé e Garrincha, Didi ou Tostão, é fato, mas ainda tínhamos uma cortina do passado: Bebeto e Romário foram assombrosos, Taffarel e Jorginho foram devastadores, Branco foi demolidor, Dunga foi o símbolo da garra. O Brasil ganhou o tetra porque mereceu.
Quem não queria ter a chance de rever Pelé no campo? Ou Rivellino? Ou Didi? Claro que sim, mas na inevitável ausência destes craques porque o tempo não para, não há como não reconhecer que o Brasil de 1994 teve o seu valor. Que o digam os tempos modernos em que estamos, ao menos por ora.
@pauloandel
SÉRGIO CABRAL
por Paulo-Roberto Andel
Morreu num domingo frio de julho, aos 87 anos, um dos maiores brasileiros que já tivemos.
É difícil definir a trajetória de Sérgio Cabral em poucas palavras. Impossível, aliás. Por mais de meio século ele foi um dos faróis do Rio, disseminando informação, arte e cultura.
Jornalista por ofício, escritor, biógrafo, pesquisador, colecionador e muito mais, Sérgio foi um dos aríetes da Cultura popular carioca. Ao lado de outros grandes nomes, tais como Albino Pinheiro e Hermínio Bello de Carvalho, ele ajudou muito no conhecimento e popularização de expressões artísticas como o samba e, particularmente, as marchinhas de Carnaval.
Como não existe cultura popular do Brasil que não esteja próxima do futebol, Sérgio Cabral marcou presença firme como jornalista, cronista e comentarista de futebol. Torcedor apaixonado do Vasco da Gama, era uma espécie de memorabilia ambulante do futebol carioca.
Quando a barra pesou, Sérgio estava no Pasquim, tablóide de intenso combate à ditadura militar. Viveu o jornal do começo até seu final. O Pasquim não era só de acertos, diga-se de passagem, mas teve um papel importantíssimo na vida brasileira dos anos 1960 até parte dos 1980.
Jornalismo, futebol, samba, marchinhas, carnaval. O Rio das ruas, das vielas e conversa fiada. O Rio dos acepipes e chopes dourados da felicidade. O Rio que passou em nossas vidas e teve momentos brilhantes. Tudo isso foi registrado pelo texto sagaz e pela fala apurada de Sérgio Cabral, a quem o Rio de Janeiro muito deve em termos de divulgação, valorização e protagonismo na vida nacional. O jornalista merece todas as loas por sua dedicação pelo Rio, a quem dedicou toda sua vida profissional até que as limitações de saúde se tornaram implacáveis.
Deveria ser dia de homenagens a Sérgio Cabral no Teatro Municipal, no Teatro João Caetano e no Maracanã. Sergio merece: sua longa trajetória não foi em vão.
@pauloandel
UMA ESTRELA PARA MARINHO
por Rubens Lemos
Depois do tricampeonato mundial de 1970, com a seleção brasileira, o lateral-esquerdo do Grêmio, falecido Everaldo, recebeu uma singela homenagem do clube, que colocou sobre o escudo uma estrela simbolizando a participação do jogador na campanha. Everaldo morreu em 1974 num acidente de carro quando fazia campanha para deputado estadual.
Marinho Chagas, o sempre derrotado pela vida e o seu legado, jogava por 200 Everaldos, foi o melhor jogador do Brasil na Copa da Alemanha e não é nem nome de rua em Natal. A colocação de uma peça de propaganda sobre o uniforme oficial do ABC seria a única e marcaria os 109 anos de fundação do clube.
É difícil compreender o tratamento que Natal deu a Marinho Chagas em vida e dá à sua memória. Simplesmente esquecido e, quando citado, só se fala no seu final de vida marcado por vícios. Marinho Chagas morreu doente e as pessoas colocam o alcoolismo como uma marca dos desocupados, boêmios e vagamundos.
O currículo de Marinho Chagas o afasta de todos esses defeitos. Aos 18 anos, Marinho Chagas foi campeão estadual de 1970 pelo ABC, após um jejum de quatro anos. Marinho Chagas e Alberi conduziram um time bem arrumado: Erivan; Sabará, Edson, Josemar e Marinho Chagas; William e Correia(Gonzaga); Zezé, Alberi, Petinha e Burunga. Para a época um excelente time doméstico.
Marinho Chagas foi fulminante. O Náutico levou-o e ele fez uma tempoada tão boa, apenas no campeonato estadual e meio, que foi considerado o melhor lateral-esquerdo já visto em terras recifenses.
Não demorou para os times do Sudeste começarem uma busca pelo galego que bailava como um meio-campista jogando pelos lados. Marinho Chagas, se começasse a jogar de meia-esquerda, seria um dos 20 melhores jogadores do mundo pela criatiatividade ilimitada.
Marinho Chagas, no segundo semestre de 1972, vestia a camisa do Botafogo que também tinha um timaço: Wendell; Valtencir, Rildo, Osmar Guarnelli e Marinho Chagas; Nei Conceição, Ademir Vicente e Carlos Roberto; Zequinha, Jairzinho e Fischer. Zagallo, técnico do Flamengo, preferiu o obscuro Mineiro ao loiro de madeixas berrantes.
Na estreia pelo Botafogo no Brasileirão de 1972, nenhuma moleza. O adversário era Pelé, com 32 anos, no crepúsculo da categoria mais Edu, Clodoaldo e o restante da companhia teatral. Na primeira jogada, Marinho Chagas deu um balão em Pelé, pegou do outro lado e ouviu do Rei:
– Você é maluco?
Marinho Chagas respondeu de bate-pronto
– Vai jogar tua bola, cara.
Para coroar a estreia, Marinho Chagas bateu uma falta com extrema violência, que o goleiro Cejas nem viu por onde passou. O futebol brasileiro passava a conhecer uma nova estrela. Marinho Chagas entrou no perigoso turbilhão do novo rico.
Passeava em carros conversíveis, frequentava a night carioca, colecionava calcinhas das chacretes do programa do Chacrinha e incendiava o Rio de Janeiro. Louro, 20 anos, irreverente, ríspido com quem tentava diminuí-lo.
A esses, respondia em arrancadas deslumbrantes pelo lado esquerdo infiltrando-se para o meio, muitas vezes deixando o flanco esquerdo sem cobertura, o que irritava zagueiros saindo em sua cobertura.
Marinho Chagas, seguindo a linha de Nilton Santos nos anos 1950, transformou a lateral-esquerda. Já naquele tempo, muitos jogadores de talento poderiam deixar a função defensiva para se lançar ao ataque. Não demorou e chegou 1973.
A um ano da Copa do Mundo, o país estava convicto de que o titular seria Marco Antônio do Fluminense e depois do Vasco e do Botafogo. Marco Antônio era técnico, mas carregava a fama de tremer nos jogos importantes, daí ter perdido a vaga para Everaldo em 1970.
Marinho Chagas, convocado pela primeira vez em 1973, ganhou de vez a posição pela magistral atuação contra a Tchecoslováquia, quando abriu a jogada com um lindo drible de calcanhar e correu para marcar aproveitar o passe de Jairzinho.
Na Copa do Mundo, foi estupendo. O Brasil já não era o mesmo de 1970, mas ele atuou tão bem que Neeskens da Holanda perguntou se era possível naturalizá-lo para jogar no Carrossel.
O resto já se sabe. Marinho Chagas mergulhou em álcool e drogas e morreu em 2014 tendo seu corpo velado no Bar do ABC, um absurdo. Enquanto brinca entre as estrelas, espera o gesto raro da gratidão.
EXEMPLO A SER SEGUIDO
por Zé Roberto Padilha
Como Thiago Silva, Philippe Coutinho foi merecedor do tamanho da festa que lhe preparavam para a volta. Sabe quando você deixa a sua casa, amigos e professores e sai pelo mundo exercendo cada uma das lições aprendidas?
Coutinho não decepcionou ninguém. Foi disciplinado, agregador, não foi para o bagaço, pagou seus impostos em dia e foi um exemplo como pai de família. Simples assim. Porém, difícil para muitos assim.
Da base até o Barcelona, da ajuda de custo até uma fortuna em euros, tudo muda muitas vidas. Mas há os que resistem, honram o berço, os conselhos dos avós, as aulas de Educação, Moral e Cívica.
Entre eles, Thiago Silva e Philippe Coutinho. Ninguém vira ídolo de uma torcida desse tamanho e merece um carinho desses se não fez por merecer.
Seja bem-vindo!
JÁ VI ESTE FILME
por Wesley Machado
Uma sensação déjà vu este Botafogo X Palmeiras.
Déjà vu de “já visto” em francês.
Que é nome de filme e de música também.
No Brasileirão de 2023, ao contrário do que muitos podem, traídos pela memória, pensar, o Botafogo tinha apenas 6 pontos de diferença para o Palmeiras quando o enfrentou no fatídico 1º de novembro pela 31ª rodada.
Naquela época, o Botafogo vinha em uma decrescente depois de abrir 14 pontos de vantagem.
A virada do Palmeiras foi o começo do fim do campeonato para o Botafogo.
Em 2024, apesar do déjà vu, o cenário é outro.
São três vitórias seguidas do Botafogo e apenas uma derrota nos últimos 11 jogos do Brasileirão.
O Palmeiras também vem bem, com apenas uma derrota nos últimos 10 jogos do Brasileirão.
Portanto, a expectativa é de um jogão nesta quarta-feira.
Decisão?
Ainda não.
Porém o resultado pode, talvez, apontar uma certa direção de quem poderá ser o campeão.
Ou não.
Fogão ou Verdão?
Qual a sua opinião?