SE RUINDADE PEGA, A CLASSE CONTAGIA
por Zé Roberto Padilha
Não é a primeira vez que isso acontece com o Fluminense. Em 1975, minha geração chegava aos profissionais e se preparava para fazer parte de uma outra boa equipe tricolor.
Eu, Rubens Galaxe, Abel, Edinho, Cleber, Marinho, Carlinhos, Pintinho, Erivelto e Cia não iríamos fazer feio junto a Félix, Toninho, Assis, Marco Antônio e cia. Até que Francisco Horta contratou Rivellino, PC Caju e Mario Sérgio.
Como acontece agora com Antônio Carlos, Felipe Andrade e quem mais tenha o privilégio de jogar com Thiago Silva, tamanha categoria, colocação, opções por atalhos que só o tempo nos ensina a chegar antes e com o menor esforço. Tudo isso eleva o sarrafo à altura máxima do que o bom jogador é capaz de atingir.
Só a genialidade seria capaz de transformar coadjuvantes em co-atores à altura do espetáculo. Como Al Pacino faz.
Em resumo, a gente joga até o que não sabe para justificar estar ao lado de quem sabe muito. De um bom time que talvez passasse despercebido pelas Laranjeiras, nos tornamos a Máquina Tricolor. E todos se valorizaram.
O que Thiago Silva anda fazendo, coberturas, domínio de bola, exercendo uma natural liderança e concedendo orientações precisas, Rivellino e Paulo Cesar fizeram por duas temporadas com a gente.
E uma grande equipe que vinha se perdendo ladeira abaixo, encontra em um filho seu, que jamais fugiu à luta e, sim, foi honrar seu berço mundo afora, um elevador carregado de esperanças em recuperar sua hegemonia vice campeã mundial de clubes.
ALEGRIAS E DRAMAS DE ZICO
por Elso Venâncio
Antes de seguir para a Udinese, em 1983, Zico teve uma despedida do Flamengo apoteótica.
Ninguém imaginava que, ao entrar em campo na decisão do Campeonato Brasileiro, contra o
Santos, o ídolo já estava negociado. Os italianos pagaram um valor surreal para a época: 4
milhões de dólares.
Zico foi dúvida durante a semana, devido a um foco dentário só descoberto na véspera da
decisão, lhe causando dores musculares. Mas o camisa 10 não só jogou, como fez um dos gols
na vitória por 3 a 0. Leandro e Adílio também marcaram pelo esquadrão rubro-negro, num dia
em que o Maracanã recebeu o maior público da história do Brasileiro: 155.255 pagantes.
Dois anos depois de ir para a Udinese, decepcionado, Zico pediu para sair. Afinal, a diretoria
prometera investir, mas só Edinho tinha sido contratado. Mesmo tendo jovens ao seu lado e
defendendo um clube modesto, Zico fez 30 gols em 54 partidas. Foi George Helal, então
presidente do Flamengo, o responsável por repatriar o craque.
De volta em 1985, Zico passou a ser a grande esperança da Seleção Brasileira para a Copa do
Mundo do ano seguinte, no México. Acontece que, num Flamengo x Bangu, o lateral Márcio
Nunes deu uma voadora criminosa no camisa 10 rubro-negro, que torceu joelhos e tornozelos.
O técnico Moisés “Xerife” foi acusado por Zico de ser o mandante da agressão. O ídolo operou
o joelho direito e, meses depois, o esquerdo.
Dali em diante, o Brasil acompanhou o drama de Zico para jogar o Mundial. Convocado por
Telê Santana, o craque trabalhava forte na sala de musculação da Toca da Raposa, em Belo
Horizonte. Esgotado, desabafou: “Não tenho condição!”. Irritado, Telê reagiu no dia seguinte:
“Levo Zico, mesmo só com um joelho”.
Foi uma preparação polêmica aquela para a Copa de 86. Por Renato Gaúcho e Leandro terem
chegado à concentração após o horário combinado, Renato acabou cortado. E Leandro, se
sentindo culpado pelo desligamento do amigo, decidiu não viajar.
No Mundial, o Brasil avançou até as quartas de final, quando enfrentou a França, campeã
europeia, no Estádio Jalisco, em Guadalajara. Com 1 a 1 no placar, gols de Careca e Platini, Zico
entrou no lugar de Muller aos 29 minutos do segundo tempo. Foi num lançamento dele que
Branco sofreu pênalti do Joel Bats. Até hoje, Zico é criticado por bater e perder o pênalti, já
que ainda estava “frio” no jogo. Mas, quem ousaria apanhar a bola com Zico em campo?
Persistido o empate, a vaga na semifinal foi decidida nos pênaltis, com vitória da França por 4 a 3. Platini desperdiçou a sua cobrança. Zico bateu e, dessa vez, converteu. Mas de nada adiantou, pois Sócrates e o zagueiro Júlio César perderam. Ali escapava a última chance para a geração de Zico, Júnior, Falcão e Sócrates conquistar um Mundial.
Questionado, o próprio Zico já declarou que foi um erro ir ao México. Sobre o fato de não ter
conquistado uma Copa do Mundo, quem melhor definiu foi o mestre Fernando Calazans: “Pior
para a Copa”.
NOS MENORES FRASCOS…
por Zé Roberto Padilha
Na primeira excursão à Paris, um pedido da minha irmã: Joy, de Jean Patou.. Anos 70, não havia importadoras, muito menos Free Shop. Perfumes e assistir Emanuelle, a primeira a se despir totalmente, só estando na cidade luz.
Já na Opera Chic, a vendedora nos apresentou dois frascos: o maior, Eau de Toillet, 45 francos. Euro também não tinha. E outro frasco, menorzinho, 320 francos, contendo o Parfum.
O frasco grande, ensinava com gestos, era para borrifar sobre o pescoço e os ombros. Já o outro, com a essência dos deuses embutida, objeto único de sedução, bastava uma gota para cada base das orelhas.
Ontem, o Vasco, que não foi às compras, foi a campo, descobriu que o Grêmio escalou dois frascos. O Kaneman, 1,90m que você encontra em qualquer academia de Boxe, e Soteldo, que você só encontra quando seu goleiro, batido, recolhe a bola no fundo das redes
Em meio a chuva e lama, o que ficou de sedução em 90 minutos para os que amam o futebol, em Chapecó, veio da essência, habilidade e categoria de um jogador que tem apenas 1,59m.
Joy, de Jean Patou, Parfum, e Soteldo. De fato, nos menores frascos estão contidas as melhores essências.
Campeonato brasileiro ao longo da temporada inteira
por Luis Filipe Chateaubriand
Qual a principal competição entre todas que o futebol brasileiro está envolvido?
O Campeonato Brasileiro, sem sombra de dúvidas.
Não é a Copa Libertadores da América, mas sim o Campeonato Brasileiro.
Enquanto, na Copa Libertadores da América, apenas alguns grandes clubes brasileiros disputam, no Campeonato Brasileiro todos (ou quase todos) os clubes brasileiros disputam, jogando todos ele entre si.
É muito mais interessante!
Por isso, o Campeonato Brasileiro precisa ser valorizado, ao momento de se elaborar o calendário de nosso futebol para cada temporada.
Isso significa que, com a adequação do calendário do futebol brasileiro ao calendário do futebol europeu, o Campeonato Brasileiro deve se iniciar em Agosto de um ano e terminar em Maio do ano seguinte – praticamente toda a temporada (o mês de Junho ficaria para as férias dos jogadores e o mês de Julho ficaria para a pré-temporada).
E, com o Campeonato Brasileiro sendo jogado a temporada toda, pode-se, perfeitamente, fazer todas as rodadas em fins de semanas.
Não é uma boa ideia colocar o principal certame ao longo de toda a temporada, com jogos somente aos fins de semanas.
Garantia de êxito técnico, esportivo e comercial!
UM SONHO NÃO VIVIDO
por Zé Roberto Padilha
Essas fotos são da nossa conquista em Cannes, em 1971, 2×0 em cima da seleção francesa, dois gols de Enéas, da Portuguesa, Mundial Sub-20.
Com uma entorse no tornozelo, joguei as seis partidas com botinha de esparadrapo e meu esforço não foi recompensado. Para a CBD, era o último teste para quem iria à Olimpíadas de Munique, seis meses depois.
E fui cortado pelo DM e meus quatro companheiros de conquista, Abel, Nielsen, Marco Aurélio e Rubens Galaxe partiram e realizaram o sonho de todos os atletas.
Sem graça, fiquei escondido em casa e faltei aos treinos. E tratei de estudar Direito na Universidade Gama Filho. Eles voltaram sem o título, e eu os reencontrei com o O Capital, de Karl Marx, debaixo do braço.
Phudeu.
O cotidiano deles, nem tanto, mas o meu virou de cabeca pra baixo. Passei a levar para as Laranjeiras, onde ficamos jogando por sete anos, a Constituição debaixo do braço. E colocava, nos quartos da concentração, O Pasquim, Opinião e Movimento no lugar das revistas de futilidades, como Querida e Amiga.
Bicho igual para roupeiro e massagista, término da concentração, anistia para o Mario Sérgio por ter tirado a calça e colocado a bunda fora da janela…comecei a me meter em todas as causas. E não eram poucas.
Se eles soubessem o “monstro” que criaram me deixando por aqui, me levariam mesmo com botinha de esparadrapo para disputar as Olimpíadas.
Evitariam que defendesse, dali pra frente, direitos sociais e trabalhistas que poucos, como Afonsinho e os heróis da Democracia do Corinthians, ousavam defender. Evitariam que um ponta esquerda ocupasse a ponta esquerda das lutas democráticas, como as Diretas Já, a Anistia, quando saísse dali.
Evitariam que, tantos anos depois, levasse tantas pancadas da hipocrisia política quantos a que levei por procurar incessantemente a linha de fundo. E por isso quase toquei o fundo.
Me levar pra Munique, enfim, seria melhor pra todo mundo.