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constelação de ídolos na terra do chuvisco

por Walter Duarte

“Festa no interior”. Diria eu nessa importante incursão do Museu da Pelada pelos ares da planície Goytacá em Campos RJ. Tivemos a gratíssima satisfação de receber o mestre Sérgio Pugliese e seu fiel escudeiro, o craque cinegrafista, Daniel Planel, na festa anual dos ex-atletas do Americano FC, organizada pelo intrépido Jaílton. A AEXCANO (Associação de ex-jogadores do Americano), mais uma vez, mostrou a importância da união dos jogadores que marcaram época no clube, com a participação de membros da torcida organizada. Um final de semana de reencontros e de recordações das belíssimas fases do Americano e também das participações dos clubes campistas no Campeonato Brasileiro e Carioca, além da eterna rivalidade entre Americano e Goytacaz.

Na véspera do evento principal, como “aquecimento”, estivemos na casa do nosso ídolo, lateral-direito Totonho, sempre generoso, onde ocorreu a tradicional peixada preparada com “requinte” pelo zagueirão Capixaba Giovane. Na verdade, um encontro desejado há tempos junto à equipe do MP.

Ficamos muito felizes em rever e entrevistar o ponta esquerda Sérgio Pedro, o lateral-esquerdo Valdir, hoje radicado em São Paulo, o eterno cabeça de área Índio, os zagueiros mineiros Luciano ” buchecha” e Silvano, os atacantes Eduardo Orçai, Renê e tantos talentos presentes que passaram pelo Alvinegro Campista. No sábado a festa continuou a todo vapor na sede Campestre do IFF, e retornamos ávidos ao local para celebrar com outros craques, entre goles de chopp, boas risadas e sentimentos fraternos.

Tivemos também a grata presença do Disson, Marcelo Almeida, Souza, Afrânio, Oliveira (ex-Bangu), o ponta direita ” ensabuado” Amarildo e os goleiros consagrados Geraldo e Gato Felix. Notada também a chegada de um dos maiores jogadores de Campos, na minha opinião, Paulo Roberto. Ao final da manhã tínhamos a impressão que aquela resenha, não terminaria nunca pelas histórias e experiências de cada um. Houve tempo também para uma rápida entrevista com o habilidoso ponta esquerda Marcinho, cria da casa e o zagueiro Paulo Marcos, que jogou no Internacional de Falcão e Cia, Campeão Brasileiro de 79. Sem dúvidas que essa foi uma das grandes jornadas do MP neste ano, motivo de orgulho de todos nós.

Uma viagem no tempo, desbravando os limites do nosso alegre futebol. Para mim uma satisfação inenarrável de resenhar com aqueles que foram meus primeiros ídolos de infância. Personagens que refletiam a força do futebol do interior, revelador de craques.

Valeu demais !!!

***Nossos sinceros agradecimentos aos amigos Sergio Pugliese, Daniel Planel, e equipe do MP pela grande cobertura no Norte Fluminense, e todo reconhecimento dispensado aos nossos craques do passado. Minha consideração também ao parceiro Carlos Alberto “Patinho” pela ajuda logística (nosso produtor a partir de hoje). E ao Jailton que continue com essa energia contagiante para realizações desses eventos.

O MENINO E A BOLA

por Victor Kingma

O menino joga bola
No pequeno terreno baldio
No recreio da escola
No campo, na beira do rio

Chuta bola no jardim
Quebra o galho da roseira
Até o jogo chegar ao fim
No espinho da trepadeira

Joga bola na praça
Chuta a bola no canteiro
Às vezes quebra a vidraça
Do vizinho encrenqueiro

Chuta bola na calçada
Joga bola na rua
Com o pé faz embaixada
No braço, o ídolo tatua

Como joga esse menino
Debaixo de chuva ou de sol
Que lhe reserve o destino
Ser um jogador de futebol

NÃO SUBESTIMEM UMA LENDA

por Zé Roberto Padilha

Se não fosse a idolatria que o cerca, conquistada dentro de campo pelo talento e obstinação, ninguém prestaria a atenção em Portugal.

Sua seleção, modesta, representa o pouco interesse que seu campeonato nacional desperta na imprensa internacional. De tão pouca repercussão, não foi capaz de seduzir nenhum grande craque a atuar no Porto, Sporting ou Benfica.

Portugal não ganhou nenhuma Copa do Mundo. Um jogador seu, porém, ganhou a Bola de Ouro da Fifa por cinco vezes. Nao há precedentes. Com exceção de Eusébio, nenhum outro foi sequer lembrado pelo bronze. Não é pouca coisa.

Tudo isso incomoda, causa ciúmes, beicinhos nos anonimatos.

Agora, para aparecer debaixo dos holofotes que só ele, Messi, Mbappe e Neymar são capazes de atrair, seu treinador o coloca no banco de reservas diante de uma seleção limitada tecnicamente, como a Suíça. E goleia.

Mais do que isso, com 4×0 no placar, aos 20 do segundo tempo não atende aos apelos do estádio, do mundo, das crianças que só assistiam essa pelada de luxo por sua causa. E só o coloca nos minutos finais com a intenção de puni-lo.

Esse cidadão, treinador de Portugal, não está punindo Cristiano Ronaldo. Está vendendo um show dos Beatles sem o Jonh Lennon porque este insurrecionou. E pune não a ele, mas os amantes da boa música, do bom futebol, que estão cansados da mesmice e das limitações das novas gerações.

Depois dos que torceram contra a Argentina e para que a contusão do Neymar fosse mais séria, a mais idiota das atitudes tem sido torcer para que a Copa sofra a ausência de um das suas maiores atrações.

Um ídolo não se faz da noite para o dia. Muito menos, conseguem apagar seu brilho da noite para o dia.

Essa Copa do Mundo ainda vai falar muito pouco sobre Portugal. Mas sobre Cristiano Ronaldo, motivado e mordido, vão ter que reservar muito espaço para lhe exaltar.

E pedir desculpas.

BETO FUSCÃO

por Paulo-Roberto Andel

Chegou a hora. É assim para todos nós.

Eu vi Beto Fuscão uma vez no Maracanã de antigamente, de muito tempo atrás, 1979. Não era jogo do Fluminense, mas meu pai me levou ao Maracanã e nos sentimos bem, em meio a uma turma de verde. Nós, espremidos por verdadeira multidão de flamengos.

Aconteceu uma das maiores partidas da história. Eram dois timaços, mas o Palmeiras, com sua camisa verdona linda, nocauteou sem dó. Fez 4 a 1 e se classificou para a semifinal do campeonato brasileiro. Meu pai ria, que saudade. À beira do campo, o treinador era um símbolo do Fluminense: Telê Santana, o mestre.

A goleada mudou o futebol brasileiro. A partida do Palmeiras foi tão espetacular que levou Telê para a Seleção Brasileira. O resto já se sabe: o Brasil viveu dois anos e meio de sonho com o escrete que encantou o mundo, exceto os idiotas da objetividade.

Gilmar, Rosemiro, Beto Fuscão, Polozzi e Pedrinho; Pires, Mococa e Jorge Mendonça; Jorginho, Cesar e Baroninho. Depois entrou Zé Mário, que inclusive fez gol. Daquela tarde de sonhos, foram embora o Mococa e o Jorge Mendonça, que jogaram aqui no Rio, mais o Beto Fuscão. Meu pai também foi embora, assim como muitos torcedores que viram ao vivo aquele jogo espetacular. Eu, que continuo por aqui, reitero: foi uma das maiores partidas da história do Maracanã. Antes disso, o Beto foi Seleção em 1977.

Beto Fuscão, muito obrigado por ter existido. Pessoas como você me trouxeram até aqui. Aquele domingo à tarde de 1979 é imortal.

@pauloandel

ZICO E UM CERTO FLA-FLU

por Marcos Vinicius Cabral

Por conta dos altos custos com o Maracanã, Flamengo e Fluminense preferiram sair do Rio de Janeiro e jogar o clássico em Juiz de Fora.

Ainda no vestiário, Zico, faltando poucos minutos para as equipes entrarem em campo, sabendo que as cortinas estavam prestes a serem fechadas e que o público não assistiria sua arte, pediu:

Não quero homenagens. O melhor presente é jogar com garra. Este vai ser o agradecimento que eu quero receber de vocês.

Atentos, Zé Carlos, Josimar, Júnior, Rogério, Leonardo, Ailton, Luis Carlos, Renato Gaúcho, Bujica e Zinho ouviram o pedido e selaram ali um acordo de que não comprometeriam a despedida do camisa 10 em partidas oficiais pelo clube.

Era Campeonato Brasileiro de 1989. Tanto Flamengo e tanto Fluminense iam mal das pernas.

Os tricolores na rabeira do grupo em que estava e os rubro-negros sem forças para alcançar o São Paulo por uma vaga na decisão.

O momento de ambos, prometia um jogo insosso. Uma partida em que as duas equipes, sem pretensões nenhuma, não poderiam oferecer nada aos 13 mil pagantes que estiveram presentes no Estádio Municipal Mário Helênio, naquele 2 de dezembro de 1989.

Mas um pedido de Zico é uma ordem. E assim foi na vitória por 5 a 0.

O primeiro gol nasceu da genialidade do Chaplin dos campos, que sem dizer uma só palavra – como fazia o gênio do cinema mudo – aplicou uma caneta desconcertante em Donizeti, antes de ser parado com falta.

Se preparando para a cobrança, os olhos aflitos do goleiro Ricardo Pinto buscavam solução para algo insolucionável: como deter aquele chute de Zico?

Ricardo Pinto voou e tentou em vão, mas a bola foi na gaveta, sem que o camisa 1 tricolor conseguisse evitar mais uma pintura de gol.

Já nos 45 minutos finais, outro lance magistral do camisa 10. Zico descolou de bicicleta um lançamento fabuloso para Renato Gaúcho, que arrancou e resolveu.

Era o suficiente ao veterano de 36 anos, que coincidentemente, aos 36 minutos, foi substituído por Valdir Espinosa e deixou o campo logo depois disso. Luis Carlos, Uidemar e Bujica fecharam a goleada.

Há 33 anos, não há mais Fla-Flus como os que Zico jogava.

Contra o Fluminense, o Galo era impiedoso e muito, muito malvado.

Ao final do clássico, Zico não disfarçava a emoção, já que receberia, merecidíssima nota 10 dos jornais que cobriram o jogo.

Pouco mais de dois meses depois, 100 mil pessoas estiveram na despedida grandiosa que o genial 10 rubro-negro realizou no Maracanã, em fevereiro de 1990.

Até hoje, depois de 33 anos sem ver o maior camisa 10 do Flamengo em campo, me pergunto: haverá um outro Zico?

Pelo menos alguém merecedor de, como dizem os boleiros, “carregar as chuteiras” do Zico?

Zico foi arco e flecha. Zico foi semente plantada na Gávea, regada por muitos treinos, que cresceu, frutificou, fez sombra e as raízes permanecem firmes até hoje, no coração de nós, rubro-negros.

Zico já saiu de cena do futebol e mantém-se simples e humilde com todos, bem diferente do jogador altivo que foi enquanto esteve em campo fazendo peraltices como uma criança levada.

Ah, Zico… quantas saudade!