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ELIMINAÇÃO PRECOCE

::::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::::

Antes de falar da eliminação em si, gostaria de fazer uma pergunta: quantas vezes eu bati na tecla que precisávamos enfrentar uma seleção da Europa durante a preparação para a Copa do Mundo?

Pois é, não deu outra! Não enfrentamos e caímos no primeiro duelo que poderia ser perigoso para o Brasil! Isso porque os croatas estão longe de serem os melhores do continente! Será que repetiremos a dose para 2026 e seremos eliminados pela sexta vez seguida por uma seleção da Europa antes da final? Pior que eu não duvido nada! O lado positivo é que não corremos o risco de tomar uma outra goleada histórica de uma França, por exemplo. Para quem não sabe, igualamos o maior jejum de títulos mundiais – os mesmos 24 anos antes da conquista de 94.

Sobre o jogo, o que pude perceber foi uma imaturidade tremenda da nossa seleção, com muitos jovens talentos, mas ainda sem bagagem, e um treinador que não passa confiança alguma. Não existe, em hipótese alguma, tomar um gol daqueles nos minutos finais da prorrogação.

Se repararmos, não fizemos nenhuma grande exibição durante a Copa do Mundo e acho que chegamos até muito longe. Torço muito para que o próximo treinador renove esse time, porque, na minha visão, esses últimos oito anos foram jogados fora por Tite.

Na outra chave, fiquei muito contente com a classificação marroquina! Tenho grandes amigos por lá e, embora a França seja favorita, prevejo um duelo duríssimo valendo a vaga na final. Lideradas por Messi e Modric, respectivamente, Argentina x Croácia também prometem fazer um jogo duríssimo, já que são duas seleções com ss mesmas características. Vamos aguardar!

Por fim, gostaria de ressaltar a minha indignação com o fato de Pelé ter recebido uma homenagem bacana no Catar e, apesar de convidados pela Conmebol, os jogadores 1994 e 2002 (Ronaldo, Rivaldo, Cafu, Kaka e Roberto Carlos não compareceram. Vocês têm noção do quanto isso é preocupante? Se nem o Pelé é digno de respeito e admiração, imagina os meros mortais. Que loucura, acho que esqueceram que quem trouxe a Jules Rimet foram os senhores de 1958, 1962 e 1970!

Pérolas da semana:

“Atacar a bola com leitura de jogo e mental contra um time que tem argumento sincronizado, com uma linha de zagueiro alta para buscar o espaço confortável, dar volume e sustentar o bloco”.

“A partir da temperatura do jogo, o ala tem tendência a chapar a bola com o pé invertido e encaixar os atacantes agudos por dentro na região central, atacando o setor e descompactar seu DNA”.

SELEÇÃO SE AFASTA DO TORCEDOR

por Repórter Elso

A missão da CBF hoje é reaproximar o torcedor da sua principal paixão, que é a seleção brasileira. A distância esfria qualquer relação. O sentimento vai se diluindo e vi muita gente sequer se envolvendo com a Copa do Mundo do Catar.

Nos amistosos pelo país a galera entupia os aeroportos. Hoje os craques fogem pela pista. O calor humano era intenso na Granja Comary. Porém, os treinos passaram a ser fechados e a preparação agora é na Itália. Sim, na Europa. E não em Teresópolis.

E o embarque para os Mundiais? Festa marcante, multidão invadindo o Galeão e passando forte energia e responsabilidade para todos os jogadores.

A gigantesca comissão técnica e os atletas convocados agora ficam ilhados, e nem a submissa imprensa consegue mais se aproximar.

Em Fortaleza vi o hotel cercado por apaixonados nordestinos em busca de autógrafos. Felipão aparece e um garoto de, sei lá, sete ou oito anos grita chorando:

“Olha ali”, ele apontou com o dedo, “é o dono da seleção!”

Há anos os amistosos vêm sendo disputados no exterior e contra adversários fracos. Deram as costas para os que tanto admiravam a camisa mais famosa e pesada do mundo da bola.

Discute-se agora o substituto do Tite. Guardiola, Jorge Jesus, Ancelotti, Abel Ferreira, Fernando Diniz? A cada dia um nome e uma cavada. Até Mano Menezes, da escola gaúcha, do futebol força e fechado, foi lembrado. Difícil escolher um brasileiro sem que ele seja contestado. Guardiola parece sonho, mas Jorge Jesus, Abel Ferreira e até Carlo Ancelotti são viáveis.

Fundamental na escolha é a filosofia de jogo, além do comprometimento com a renovação. O escolhido precisa ter DNA ofensivo e se reportar a um diretor com autoridade e experiência, que evite que ele tenha poderes absolutos.

Temos que correr riscos, como a Croácia fez dentro de suas limitações. Chega de sofrer para vencer Suíça e Sérvia, perder para Camarões, massacrar os empolgados coreanos e sair novamente nas quartas de final.

Chegou a hora de entregar a nossa seleção para alguém que seja realmente capaz de trazer de volta o caneco.

ZICO E O BRASIL DE 1982

por Luis Filipe Chateaubriand

Na Copa do Mundo de 1982, tínhamos na Seleção Brasileira um time muito bom – não o time de almanaque que alardeiam por aí –, mas um time muito bom.

Esse time tinha em Arthur Antunes Coimbra, o Zico, o seu melhor jogador, liderança técnica do time.

Zico vinha fazendo uma Copa do Mundo muito boa, até que, no jogo Brasil x Argentina, foi agredido de forma desleal e covarde pelo defensor argentino Passarela.

Automaticamente, Zico virou dúvida para o jogo seguinte – o confronto decisivo contra a Itália.

Zico jogou.

No primeiro tempo, inclusive, muito bem, com jogadas como o passe genial para Sócrates fazer o primeiro gol brasileiro na partida.

O problema é que veio o segundo tempo…

Nesse segundo tempo, Zico começou a sentir dores na região do corpo atingida por Passarela.

E, com isso, ficou sem condições de desenvolver seu melhor jogo.

Então, a verdade, “nua e crua”, é que o Brasil perdeu para a Itália porque Zico não reunia as melhores condições físicas para fazer valer a sua técnica.

Se Zico estivesse em seu melhor padrão físico, possivelmente não perderíamos.

AMIGOS AMIGOS, ELIMINADOS À PARTE

por Zé Roberto Padilha

Na Copa de 90, fomos eliminados pela Argentina. Alemão, companheiro no Napoli de Maradona, poderia ter parado com falta sua arrancada no meio-campo. E não fez. Apenas o cercou. Maradona deixou Caniggia na cara do gol e fomos eliminados.

Contra a Croácia, Casemiro poderia ter feito o mesmo, parado Modric com uma falta no meio-campo. Mas apenas cercou o seu ex-companheiro de Real Madrid. E ele pode puxar o contra-ataque que resultou no gol de empate.

A história é implacável. E se repete. Contra imagens, não há argumentos. Só lamentos.

Amigos amigos, eliminados à parte.

AINDA SOBRE FUTEBOL, APEDREJAMENTOS E REFLEXÃO

por Paulo-Roberto Andel

Foto: Alex Ribeiro

Nesta manhã de domingo triste – meu amigo Caninha se foi -, parei para ler perfis diversos, admiráveis e desconhecidos, todos teorizando sobre a Copa do Mundo. Especialmente os que tentaram fazer um mergulho, digamos, mais intelectualizado sobre o tema.

Para meu gosto e análise pessoal, entre desabafos e decepções naturais, também li um festival de besteiras sobre o assunto. Besteiras colossais, aliás.

O futebol não é apaixonante apenas no Brasil, mas no mundo todo. A Copa do Mundo para a Terra. É um fato. E quem nutre paixão pelo esporte mais popular do planeta não é “alienado” nem vive de “ilusão” por conta dos sentimentos que desenvolveu. Muitas vezes o futebol é bálsamo para aliviar as pancadas diárias na sofrida vida brasileira.

Para quem viveu o Maracanã de verdade até 2010 e vive o esporte, explicar essa paixão no Brasil não é simples. Há uma enorme complexidade em torno do tema, que teorias acadêmicas distantes não dão conta de cobrir. O que dá para dizer é que foi uma febre nos primeiros 25 anos do século XX que nunca mais passou.

Portanto, falarei aqui como o que sou: um torcedor. É apenas o meu relato pessoal e só.

Embora sempre tenha pertencido à maioria pobre da população brasileira, tive uma criação digna, passando por boas escolas, tendo como estudar. Passei muitas dificuldades, mas caminhei até à universidade pública, bem ao lado do Maracanã, para minha alegria

Durante boa parte da minha vida, 25 anos, vivi no bairro mais misturado do Brasil: Copacabana. Lá, vi e conheci de tudo, porque todas as classes sociais interagem de alguma forma, com a quase exceção de parte dos milionários da Avenida Atlântica. Havia interação na escola pública que frequentei, no grupo de escoteiros que fiz parte por muitos anos, mas o único lugar em que realmente sentia integração total era no futebol – de praia, da vila onde estudei, da quadra que alugávamos com trocados no Corpo de Bombeiros.

Quando meu pai começou a me levar ao Maracanã, logo percebi que as pessoas não eram exatamente iguais às de Copacabana (e olhe que lá era tudo misturado). Havia uma mistura única. Várias vezes, ele comprava na bilheteria ingressos extras, três ou quatro, e distribuía para os garotos que pediram dinheiro para comprar um. Eles pulavam enlouquecidos, felizes, se abraçavam e subiam a grande rampa do Maracanã com suas roupas simples, às vezes sem chinelos e isso me emociona porque me leva a mais de quarenta anos atrás.

Eram crianças alienadas ou crianças de posse e total vivência de sua única alegria?

Os melhores momentos de minha vida com meu pai foram no Maracanã, sentado ao lado dele, espremido numa multidão. Cheio de pessoas diferentes, de todos os jeitos, de todas as cores, de todas as classes. Juntos, lamentamos grandes gols dos adversários e comemoramos muito os nossos. Vimos lindos espetáculos de bandeiras e muito, muito pó de arroz no ar. Não era só o jogo, mas chegar cedo, ver a multidão se aproximando, mais de cem mil pessoas pobres e ricas, pretas e brancas, gordas e magras, gays e heterossexuais, todas reunidas em torno do gramado para apreciar arte, num tempo em que tínhamos craques a granel.

Vendo um filme arrebatador, ou uma peça espetacular de teatro, ou ainda um show no inesquecível Canecão, você chegava a quinhentas, mil ou duas mil pessoas reunidas. Por vários motivos, nestes palcos sagrados e fundamentais, não havia a devida mistura social da cidade do Rio. No Maracanã, sim, e com cinquenta ou setenta vezes mais gente. Dá para compreender a dimensão? Isso a cada domingo durante quase sessenta anos, desde 1950.

Gostaria de lembrar que dois dos maiores atores brasileiros de todos os tempos eram completamente apaixonados por futebol: Sérgio Britto e Ítalo Rossi. Se fosse fazer uma lista de músicos, passaria o dia escrevendo, então rapidamente me lembro de João Nogueira, Cartola, João Gilberto e Ciro Monteiro, só para começar.

No Maracanã a gente se sentia gente de verdade, integrada, mesmo que o próprio estádio tivesse sido construído com certos apartes – casos da geral e da arquibancada, por exemplo -, mas eles não deram certo. Ali se vivia o único local do Rio de Janeiro onde o riso, o grito e a lágrima do homem pobre tinham o mesmo tamanho do cidadão rico. O único local. Nem o Carnaval, outro palco espetacular, tinha tanta oferta a preços populares.

Completamente louco por futebol, passei a ler todos os jornais possíveis em casa diariamente. Isso me levou às notícias políticas, de cotidiano, da cidade, de arte e cultura, isso com doze anos de idade. Foi o futebol que abriu espaço para meus outros interesses culturais, que não são poucos – vão de Estatística a botequins. E muitos anos depois de estar com meu pai de mãos dadas no Maracanã, foi o futebol que me abriu as portas para ser um escritor publicado, e consequentemente podendo publicar duas dezenas de livros sobre outros assuntos, no que sou eternamente grato.

Monstros sagrados das letras como Eduardo Galeano, Nelson Rodrigues, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade e tantos outros celebraram o futebol em suas obras. É impossível crer que o fizeram por alienação.

Por outro lado, como em qualquer estrato da sociedade, o futebol carrega problemas em seu entorno e até mesmo nas vísceras. Há quem prefira abominá-lo por isso. Eu prefiro procurar nele o que tem de melhor e, na minúscula parte que me cabe, criticar e denunciar o que considero errado e injusto.

O futebol me deu sensação de pertencimento a grupos, me trouxe amigos, me fez ir a veículos de rádio e TV ao vivo que eu jamais imaginaria. O futebol me permitiu passar horas conversando com personalidades como Gilberto Gil e Maria Bethânia. Conheci lugares, viajei e mergulhei tanto em estádios confortáveis como em verdadeiros muquifos para ver jogos com milhares de torcedores ou uns cinco, dez.

Anos depois de publicar meus primeiros livros, passei a produzir obras de outros escritores, em vários casos de futebol. É alienação ou produção?

Por fim, gostaria de dizer o seguinte: o Brasil não vai melhorar em nada porque a Seleção Brasileira é eliminada da Copa do Mundo e então o povo “retorna à realidade”. Diferente de criticar a atuação, apedrejar o futebol não acrescenta nada ao grande debate que todos esperam para que o país saia desse lodaçal. Pelo contrário: o futebol é um dos grandes símbolos da identidade brasileira e deve ser valorizado.

É certo que alguns jogadores famosos estão desalinhados da realidade brasileira e parecem despreocupados com seu povo. Só que eles passam e o esporte fica. Aí está há mais de 120 anos fincado no coração dos brasileiros. E é bom que se diga: mais de 90% dos jogadores de futebol no Brasil não ganham dois salários mínimos mensais.

Tanto faz se é numa arena moderna ou num campinho minúsculo. O futebol une as pessoas, integra, gera convivências e afetos e, num país onde mais de 70 milhões de pessoas oscilam entre a precarização e a miséria, muitas vezes ele é o único momento de alegria – às vezes até de paz. Podem ter certeza: em muitas vezes, o caldo social brasileiro não entornou de vez porque lá estava o futebol ajudando a acalmar os ânimos, em muitas esferas.

Em vez de posts empolados e com teorias confusas, muitos intelectuais contribuiriam para a discussão sobre futebol fazendo exatamente o que fazem com suas temáticas preferidas: pesquisando e estudando em vez de chutar – muito mal, por sinal.

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Paulo-Roberto Andel, escritor e estatístico carioca, é autor/coautor de aproximadamente 40 livros físicos e digitais sobre futebol, poesia, crônicas, humor e política. Edita o site Panorama Tricolor, o blog otraspalabras!, colabora com o Correio da Manhã e o Museu da Pelada. Sobre o Fluminense, seu time de coração, publicou 20 livros.