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HORA H

por Eliezer Cunha

Chegamos à véspera de mais uma decisão de um campeonato mundial de futebol, e novamente, nos absteremos de mais uma final. Somos milhões de brasileiros que frustrados buscamos justificativas para mais uma eliminação dolorosa. Jornalistas, treinadores, ex-jogadores e demais brasileiros, todos no fundo, tentamos entender esse processo, e para isso, análises e justificativas são expostas. Individualizar, procurar culpados, justificar erros não trarão o título para o Brasil. O que está claro perante nossos olhos é que as seleções adversárias não se curvam mais diante do talento de nossos jogadores, não temem mais a nossa história e nossos títulos. A camisa verde e amarela não causa mais arrepios temidos em nossos adversários.

Voltando às quatro linhas e recorrendo aos fatos e acontecimentos das eliminações de campeonatos mundiais anteriores, se deparamos sobre um fato, ou a falta dele, o gol. O estigma dos gols perdidos ou das chances desperdiçadas nos acompanham de quatro em quatro anos. Foi assim nas copas de 82, 86, 90, 2010, 2018 e agora 2022, desculpem-me se me falhe a memória. A falta de gols decisivos que nos impedem de lograr vitórias deve e precisa ter justificativas. Por que que a bola não entra no nosso último toque ou oportunidade, e nossos adversários às coloca eficientemente dentro das redes? Falta treinamento, condições psicológicas, falta talento ou seria apenas obra do destino? Não sabemos concluir as jogadas em gols nos momentos mais decisivos e precisamos encarar isso, buscando respostas e soluções. Inexperiência, falta de maturidade e malícia são justificadas pela média bem reduzida das idades de nossos atacantes, sobra o vigor físico, mas falta talento para o último toque decisivo.

Está na hora de mudarmos nossos critérios para as futuras convocações, mesclar mais experiências e juventude será a fórmula que poderá nos trazer resultados. Jogar a responsabilidade de uma batida de pênalti sobre um menino de 21 anos é criminal para o jogador e desapontador para a nação.

LIONEL MESSI…ânico

por Mauro Ferreira

Lionel, quantos adjetivos são necessários para compor a sinfonia? Tu, Lionel, dê-nos uma pista, uma explicação, uma luz, uma colcheia, uma clave que seja… mas, por favor, diga-nos, diga a nós os mortais, qual barro o escultor maior usou pra te esculpir, como diria o maldito poeta Sérgio Sampaio.

É normal que mortais exijam de suas divindades tolas explicações para o sobrenatural. Portanto, cabe a ti dizer algo que nos convença sobre o sobrenatural habitado em teus pés; que arte surpreendente e divina emana de teus movimentos; como fazes para construir obras espetaculares aos olhos dos comuns, mesmo que o tempo e a distância contrariem a lógica, embora – a gente sabe -, lógica não seja própria de gente como tu.

Lionel, escreva um manual. Não sejas egoísta; dê-nos a frase perfeita, aquela capaz de indicar o caminho, a verdade e a vida existente no pequeno retângulo onde praticas o encantamento. Diga como fazes com a esfera para que ela não abra mão de ti; qual relação possui capaz de manter objeto tão arisco subordinado a sua vontade. Qual argumento utilizado para ceder aos teus caprichos inimagináveis.

Vá, conte logo, não deixes a interrogação nos consumir. Mate nossa curiosidade. Use a física, a matemática, a química, a neurociência, seja lá o que for, e nos explique o poema sem palavras, sem versos, sem estrofes. Como fazes, meu Deus, como fazes? É imperativo sabermos. Afinal, se és de carne e osso, não podes ser Deus. Não podes!

Ou serias? Talvez, escolheste um corpo comum, bem comum, para viver terreno e ungiste óleos consagrados capazes de derrubar adversários, espantá-los e, ao mesmo tempo, trazer para perto de ti aquela circunferência, pedaço de ouro arredio para os demais, íntima de ti a tal ponto que dela não tiras o olho e nem dela arrancas o couro.

Lionel, tu és o Deus encarnado? O sorriso pequeno, de colo, amor estampado nos olhos, generoso, precioso, valoroso e mínimo. Diga, por favor, és o Deus encarnado? Suponho, ajoelhado e mãos postas, que sim. E descubro em seu sobrenome, Lionel, uma pista, uma luz, um fragmento do tamanho de sua divindade:

Tu, Lionel, és MESSIânico…

Amém!

A FALTA QUE O DRIBLE NOS FAZ

por Zé Roberto Padilha

Não inventamos o futebol. O drible, a finta, a bicicleta, o elástico, o da vaca e usando a perna do adversário, me desculpem os ingleses, fomos nós.

Essa geração de treinadores gaúchos, Dunga, Felipão e Tite, de uma escola de resultados, nada ousados, pois limitados todos foram atuando, praticamente aboliu o drible na seleção brasileira.

De Marcelo a Daniel Alves, que driblavam e apoiavam, levamos Danilo e Militão que não sabem driblar ou ultrapassar. E deixamos no Brasil Guilherme Arana (machucado), de um lado, Rodinei e Marcos Rocha do outro.

Garrincha, o maior dos nossos dribladores, deve estar se contorcendo em seu descanso eterno. Saiu o ranking das equipes que mais driblaram na primeira fase da Copa do Mundo: o Brasil foi apenas o décimo, média de 6,4 dribles por partida.

Média que nosso gênio das pernas tortas realizava a cada dez minutos. Desde que chegou ao Botafogo.

No primeiro treino, na primeira bola que pegou colocou-a entre as pernas do mais famoso jogador da casa e da seleção: Nilton Santos.

Além de zoado, ouviu um conselho:

Vai deixar, capitão?

Nilton Santos respondeu:

– Não vou deixar. Vou pedir a diretoria para contratar. Melhor ter esse cara do nosso lado do que jogar contra!

E fomos felizes para sempre, ganhamos cinco mundiais, até que os retranqueiros gaúchos chegaram.

Toca, pega, bah!, guri, marca, aperta, tchê!, barbaridade!

COMO O DESTINO DECIDIU A COPA DO MUNDO DE 1994

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1993, a Seleção Brasileira disputava as Eliminatórias da Copa do Mundo de 1994.

Romário não fazia parte do elenco.

Em um amistoso contra a Alemanha, em 1992, em Porto Alegre, foi colocado no banco de reservas, reclamou e, desde então, não havia sido mais convocado para a Seleção.

A Seleção tinha dois jogos a cumprir: um contra a Bolívia, em Recife, e outro contra o Uruguai, no Rio de Janeiro.

No jogo de Recife, o Brasil fez 6 x 0 na Bolívia, devolvendo, “com juros e correção monetária”, a derrota que tinha sofrido, por 2 x 0, para os bolivianos em La Paz.

Mas Muller, que fazia a dupla de ataque com Bebeto, se machucou, e foi preciso cortá-lo do elenco.

Quem foi chamado para substituí-lo?

Perante um clamor nacional, o escolhido foi Romário!

Romário veio, para o lugar de Muller, para jogar contra o Uruguai.

Fez uma atuação de gala, o Brasil ganhou de 2 x 0 com dois gols dele, e, com isso, classificou-se para a Copa do Mundo de 1994.

E, na Copa do Mundo de 1994, Romário “estraçalhou”, foi o craque do certame, e garantiu o nosso tetracampeonato.

A pergunta que não quer calar é…

E se Muller não tivesse se machucado?

Romário teria vindo para o jogo com o Uruguai?

Romário teria ido ao Mundial?

Provavelmente, não.

Mas estava escrito… Romário tinha de ir, e foi!

O resto é história.

CERTEZA OU CONVICÇÃO

por Idel Halfen

Pela 5ª vez o sonho do hexa não se concretizou e, assim como ocorreu nas vezes anteriores, a caça aos culpados tornou-se a atividade mais popular por parte dos torcedores e da imprensa esportiva.

“O técnico errou ao estabelecer a ordem dos batedores dos pênaltis, jamais o melhor na função, supostamente o Neymar, deveria ser o último a cobrar”.
“O técnico errou ao não recuar o time para garantir o resultado após ter feito 1 x 0”.
“O técnico errou ao escalar um time todo reserva no jogo contra Camarões, pois o resultado ruim transmitiu confiança aos adversários”.

Mas o que falariam se o Brasil tivesse vencido a partida?

Não podemos ignorar que se o Neymar batesse o primeiro pênalti e errasse, seria bem provável que a confiança dos demais ficaria abalada.

Não podemos ignorar que, ao se jogar recuado, o adversário passa a ser mais ofensivo, o que pode incorrer no vazamento da defesa, ainda que essa esteja mais protegida.

Não podemos ignorar que o ato de poupar jogadores minimiza o risco de contusões e punições disciplinares.

Mas ignoramos isso tudo em nome da caça aos culpados, ou responsáveis, como queiram.

E aqui reside o ponto que pretendo abordar: a prepotência das pessoas em se acharem capacitados em assuntos que necessitam de um conhecimento muito maior do que o que efetivamente possuem, sendo que, mesmo que detivessem todo esse conhecimento, a certeza prévia é impossível por se tratar de uma atividade na qual o imponderável é bastante presente.

O tão criticado técnico, seja ele quem for, acompanha treinos, tem uma equipe que o municia sobre o estado fisiológico e psicológico de cada jogador e consegue ser bem remunerado exercendo tal atividade. Será que nós – sim eu me incluo entre os críticos – sem acompanharmos os treinos, sem informações e sem sermos bem ou nada remunerados em função do futebol, temos como atacar de forma peremptória as decisões do treinador?

A resposta parece fácil: evidente que não, ainda que tenhamos o direito a opinar.

O futebol, no caso, serve apenas como um exemplo para nos fazer refletir o quanto pecamos em outras áreas ao nos apegarmos à busca por se ter razão a qualquer custo, negligenciando que esse tipo de atitude traz consigo um risco enorme à própria credibilidade.

Na vida corporativa, por incrível que possa parecer, é comum ver profissionais criticando decisões em assuntos que julgam conhecer, mas cuja capacitação não passa de mera retórica.

Aliás, até na vida pessoal essa postura se manifesta usualmente. A preferência por ter razão, além de não deixar a pessoa evoluir, já que fica arraigada à sua convicção, ainda faz com que fique evidente sua limitação, insegurança e o pior, que sejam “evitadas” em diálogos, conversas e demais situações de interação, afinal, estarão sempre “certas” ou “sertas”.

Evidentemente que o assunto poderia ser explorado com muito mais exemplos até mesmo em relação à Copa do Mundo, porém, creio continuaríamos sem poder precisar o que levam as pessoas a transformarem suas convicções em certezas absolutas.