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PELÉ SE FOI

por Marcos Fábio Katudjian

Pelé se foi. Ou melhor dizendo, Edson Arantes do Nascimento está morto. A alma já não habita o corpo. Confesso que em minha mente a morte de Edson era previsível, esperada, em virtude da idade e dos sabidos problemas de saúde. Em meu coração, porém, a morte de Pelé é uma surpresa tremenda. Confesso que desconfiava, aqui dentro em minha emoção que Pelé não morreria jamais. Ao corpo físico mesmo. Além de eterno em nossos corações, Pelé pisaria o chão para sempre. Ou a qualquer momento seria abduzido para junto dos seus, fazendo jus ao imenso mistério que foi sua presença entre nós.

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Segue teu caminho, Pelé, de volta à origem de toda a criatividade, a mesma que expressaste tão pura e lindamente neste plano.

Forjaste um esporte e forjaste um país. E para além disso, foste embaixador do sublime e do eterno, como será teu nome em nossos corações.

Retorna Àquele que te reconhecerá como semelhante, como cada um de nós para além desta vida. Àquele que, como tu, diremos para sempre em plena inteligência e emoção: “dois não há”.

Leva contigo nossa imensa GRATIDÃO pelo que semeaste no teu caminho iluminado, aquilo que nos é o mais caro, valioso e fundamental nesta vida: a Beleza.

EMPate, frustração

por Rubens Lemos

No vôlei e no basquete, não existe empate. Ninguém noticia que técnico fulano ou sicrano é retranqueiro, medroso. Se for bom e tiver um time de qualidade, ganha, senão, apanha e vai pra casa conformado. É a vantagem da maioria dos esportes sobre o futebol.

O primeiro covarde dos gramados surgiu quando tirava um cochilo depois do almoço e sonhou(ou teve um pesadelo?), com as vantagens do empate. Em seus devaneios, pegou um papel ou campo de futebol de botão e foi recuando jogadores imaginários até que todo o seu lado ficasse inteiro, povoado, congestionado, numa barreira que impediria o adversário de fazer gols e garantiria o seu emprego.

Dunga, um xerife da tranca boleira, disse, impoluto como um Cony escrevendo, que, se ninguém arriscar, o jogo fica pelo menos em 0x0. E o delírio dos empatadores foi ganhando força e forma, gerando um monstro espalhado em cada “professor ”inimigo do drible,do lançamento e do gol de placa.

O campo de jogo ideal para os retranqueiros nem precisaria das duas traves. Gol pra quê? O jogo teria e tem 90 minutos de cotoveladas, divididas, toques curtos, laterais e pronto: 0x0, ninguém alegre e ninguém triste. Os subprodutos do empate são zagueiros sem classe, cabeças-de-área que parecem vikings, meias tímidos e covardes, que rodam com a bola feito enceradeiras.

Como seria um empate no amor? O sexo sem orgasmo, cada um dando, no máximo, um beijo na face do outro. Sem avanços e ousadias porque fisicamente não haveria consumo de suor nem possibilidade de procriação.

Como seria um concurso com todo mundo empatado? Ninguém classificado, ora, porque, na mentalidade avarenta dos retranqueiros, mais prudente anular a prova do que contratar todo mundo. Ou os candidatos iriam aos pênaltis?

Os apóstolos do empate devem imaginar um mundo feito de pessoas rigorosamente iguais, bonitas ou feias, mas com nada diferente umas das outras. O empate não permitiria a paixão, porque a distinção, o detalhe, o sorriso seriam invisíveis.

O empate poderia acabar no futebol. O impedimento também. Empatar, impedir. Parem, pensem. São duas palavras antipáticas, dois atos proibitivos, censores, que tolhem. Gol e gozo são termos muito mais gostosos. Na pronúncia, no ato e no fato. Na causa e na consequência.

COPIAR E COLAR

por Idel Halfen

Ao fim de toda Copa do Mundo costumam surgir as teses que determinam as razões das conquistas e dos fracassos. Após o título da Alemanha em 2014, o modelo de futebol no país campeão foi exaltado como a fórmula ideal para o sucesso, curiosamente, nas temporadas seguintes, a seleção alemã nem conseguiu passar da primeira fase. Na Copa de 2018, o modelo francês era o exemplo a ser seguido, mas ainda que tenha chegado à final em 2022, seu time foi derrotado pela Argentina que, por enquanto, vem sendo enaltecida por seus jogadores, todavia, não faltaram elogios ao modelo adotado por Marrocos.

Interessante pensar que um eventual resultado diferente, o que era bastante factível em algumas partidas que foram decididas por detalhes, os discursos dos defensores de alguns modelos estruturados mudariam o foco a favor dos vencedores, mesmo sem uma detalhada análise sobre eles.

Mas estariam errados os que defendem a elaboração e implantação de modelos estruturados no esporte? Óbvio que não! O erro consiste em considerar apenas uma razão tanto para o sucesso quanto para o insucesso, até porque não basta apenas ter um bom desempenho, é preciso superar os adversários, os quais não são impedidos de adotarem os mesmos modelos.

Algo similar acontece no ambiente corporativo, onde surgem frequentemente técnicas “revolucionárias” de gestão, as quais trazem no embalo consultores para auxiliarem a adoção, além, é claro, de cursos, palestras e livros a respeito.

Assim como citado no parágrafo referente ao futebol, não se discute aqui a importância de processos estruturados para se atingir objetivos, a tônica da reflexão tem a ver com as conclusões definitivas acerca do que é o mais certo. Nessa busca, desprezam que tão importante quanto os processos são as pessoas, ou seja, se não houver recursos humanos talentosos, os processos não atingem todo seu potencial, sendo a recíproca verdadeira.
Também não se coloca em questão a evolução do esporte e do mercado corporativo de forma geral, o que demanda constante atualização dos processos e requer tempo para se chegar a bons formatos.

Reparem que não fizemos referência ao “melhor formato”, por entendermos que a customização diante dos recursos disponíveis é necessária e, como cada equipe tem características e potenciais diferentes, o melhor para um não significa que seja o melhor para todos.

Diante do exposto, cabem às organizações usarem os cases de sucesso como benchmark, adaptando-os, porém, às próprias características. Constitui-se um enorme erro simplesmente copiar algo que aparentemente dê resultados sem considerar a conjuntura em que se está inserido, seja interna ou externamente.

Não há como negar que é muito mais fácil copiar algo pronto e responsabilizar o acaso, o árbitro, a economia, no caso de empresas, ou qualquer terceiro pelo insucesso, afinal adotaram, em tese, um modelo comprovadamente de sucesso. O problema é que tais modelos não existem, eles são, na melhor das hipóteses, roteiros que auxiliam na reflexão sobre os pontos a serem focados para, a partir daí, avaliar se fazem sentido diante dos recursos disponíveis e cenários.

SEM ESPERANÇA

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Fim de ano é sempre uma época de muita reflexão, balanços e promessas para o futuro. Juro que ia aproveitar a última coluna de 2022 para renovar as minhas esperanças – que estão cada vez mais baixas – com o futebol brasileiro, mas foi tudo por água abaixo quando abri o jornal para ler as notícias.

Nos áureos tempos, a essa altura, as manchetes seriam sobre os preparativos para os campeonatos estaduais, contratações de peso e a expectativa para o ano seguinte, certo? Pois é, agora só se fala de futebol inglês, do tal “Boxing Day” e não sei mais o quê. Esse é o problema! Estamos tão desvalorizados que nem os nossos próprios jornalistas se preocupam com as novidades daqui. Queremos imitar o futebol inglês, mas esqueceram de dizer que a Inglaterra só ganhou uma Copa do Mundo, em 1966, e, para quem não se lembra, foi com a ajuda da arbitragem! Geoff Hurst chutou a bola, que bateu no travessão, quicou nitidamente fora e o juiz deu gol.

Sei que não é um trabalho do dia para a noite, mas não consigo entender como nada foi feito desde os 10 x 1 (7 da Alemanha e 3 da Holanda). Perdi as contas de quantas vezes bati na tecla de que precisávamos enfrentar seleções da Europa durante a preparação para a Copa do Mundo e não deu outra: fomos eliminados por uma de lá. É preciso investir na base, trabalhar os fundamentos básicos dos garotos ou ficaremos mais 20 anos sem conquistar uma Copa do Mundo. Além disso, ao invés de contratarem professores de educação física, seria importante buscarem os craques do passado para trabalharem no base do clube, como Telê Santana, Pinheiro, Neca, Carlinhos e tantos outros.

É triste dizer isso, mas precisamos ter a humildade de reconhecer que já não somos mais aquela seleção que faz os adversários tremerem. Antigamente, os rivais já entravam derrotados no túnel ao se depararem com Pelé, Gerson, PC, Brito, Didi, Clodoaldo, Félix, Garrincha, Vavá, Zagallo, Nilton Santos, Djalma Santos, Tostão, Carlos Alberto Torres, Rivellino, Jairzinho, Zico, Leandro, Eder, Sócrates e por aí vai! E hoje? É capaz de nem conhecerem os que vestem a amarelinha! Inclusive, não sei como ocupamos o primeiro lugar no ranking de seleções da FIFA, superando Argentina e França, respectivamente. Sinceramente, não consigo ver uma luz no fim do túnel.

No futebol carioca, Fluminense e Vasco contrataram diversos jogadores e aposto que, assim como eu, a maioria não sabe quem são. Por que não investir essa grana na garotada, no centro de treinamento?

Pérolas da semana:

“Com uma ligação direta e marcação alta, o jogador faz a transição com uma leitura de como armar um jogo tendo uma rotação qualificada para chapar a bola explodida como pedra e gerar consistência para o time encorpado, com ideia de jogo por dentro, sobre as linhas”.

“Intensidade e jogo vertical para replicar dinâmica e viés de contenção dos pilares de gravidade do gramado. Dessa forma, encaixa o tapa pelas beiradas com a bola viva para que o atacante do 4-3-2-1 na cratera reativa vertical da diagonal centralizada possa receber a assistência no último terço do campo”.

TOSTÃO, O PELÉ BRANCO

por Elso Venâncio, “o Repórter Elso”

Rei Pelé sempre o considerou um gênio. Para Gerson, Tostão foi o grande nome do tricampeonato mundial que o Brasil conquistou na Copa de 1970. Seus maiores fãs estão na Europa, especialmente na Grã-Bretanha, onde o meia cruzeirense recebeu o apelido de ‘Pelé Branco’.

Tostão foi o primeiro jogador fora do eixo Rio-São Paulo a ser convocado para a seleção. Tinha 19 anos em maio de 1966, quando Vicente Feola o relacionou declarando que o garoto ia longe no futebol.

Ele realizou o sonho de seu pai, que era conhecer Pelé. Em Caxambu, o pai do craque chorou ao receber um abraço e o autógrafo do Rei, que já era tetracampeão do mundo. Duas vezes com o Brasil, outras duas com seu Santos.

A Copa da Inglaterra deu experiência a Tostão, Gerson, Brito, Jairzinho, atletas que seriam campeões quatro anos depois, numa conquista absolutamente indiscutível. Diferente da Argentina no Catar, que foi derrotada na estreia e venceu nos pênaltis uma França desfalcada de meio time.

A final antecipada, no Mundial de 1970, foi diante dos prepotentes ingleses. Eles chegaram ao México de navio, levando sua própria alimentação e até mesmo a água que beberiam.

Na entrada de campo, com as seleções lado a lado, Pelé tratou de dar uma sonora bronca nos companheiros:

– Parem de olhar para esses branquelos de merda. Eles não jogam nada!

O adversário era forte. A base havia sido campeã em 1966: Gordon Bancks, Bobby Moore, Bobby Charlton, todos sob comando do mesmo técnico, Alf Ramsey. Vimos os últimos momentos do futebol-arte, como na jogada do gol marcado por Jairzinho. Mérito para Tostão, que tabelou com Paulo Cézar Caju, passou por três adversários e, mesmo desequilibrado, cruzou de direita para Pelé precisar apenas rolar com açúcar para o Furacão explodir as redes.

Tostão, já era um atleta consagrado. Desde a Copa do Brasil de 1966, competição que, na época, representava o Campeonato Brasileiro. O Santos de Pelé e Cia. foi ao Mineirão e, ao fim do primeiro tempo, o Cruzeiro já os vencia por 5 a 0. Fim de jogo, 6 a 2.

Na partida de volta, Santos 2 a 0 no tempo inicial no Pacaembu. No segundo tempo, o Cruzeiro virou para 3 a 2, derrotando mais uma vez o maior esquadrão do mundo para chegar ao até então inédito título.

Sem dúvidas, foi o maior time da história celeste: Raul, Pedro Paulo, Willian, Procópio e Neco; Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Evaldo, Tostão e Hilton Oliveira.

Alguns empolgados jornalistas, para nossa surpresa, declararam terem torcido pela Argentina por causa de Lionel Messi. Mais que isso: disseram que, com o título, ele teria superado Pelé e Maradona.

Pergunto: será que eles viram Pelé? Não, não viram. Muito menos Tostão!