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Campeonato brasileiro ao longo da temporada inteira

por Luis Filipe Chateaubriand

Qual a principal competição entre todas que o futebol brasileiro está envolvido?
O Campeonato Brasileiro, sem sombra de dúvidas.
Não é a Copa Libertadores da América, mas sim o Campeonato Brasileiro.
Enquanto, na Copa Libertadores da América, apenas alguns grandes clubes brasileiros disputam, no Campeonato Brasileiro todos (ou quase todos) os clubes brasileiros disputam, jogando todos ele entre si.
É muito mais interessante!
Por isso, o Campeonato Brasileiro precisa ser valorizado, ao momento de se elaborar o calendário de nosso futebol para cada temporada.
Isso significa que, com a adequação do calendário do futebol brasileiro ao calendário do futebol europeu, o Campeonato Brasileiro deve se iniciar em Agosto de um ano e terminar em Maio do ano seguinte – praticamente toda a temporada (o mês de Junho ficaria para as férias dos jogadores e o mês de Julho ficaria para a pré-temporada).
E, com o Campeonato Brasileiro sendo jogado a temporada toda, pode-se, perfeitamente, fazer todas as rodadas em fins de semanas.
Não é uma boa ideia colocar o principal certame ao longo de toda a temporada, com jogos somente aos fins de semanas.
Garantia de êxito técnico, esportivo e comercial!

UM SONHO NÃO VIVIDO

por Zé Roberto Padilha

Essas fotos são da nossa conquista em Cannes, em 1971, 2×0 em cima da seleção francesa, dois gols de Enéas, da Portuguesa, Mundial Sub-20.

Com uma entorse no tornozelo, joguei as seis partidas com botinha de esparadrapo e meu esforço não foi recompensado. Para a CBD, era o último teste para quem iria à Olimpíadas de Munique, seis meses depois.

E fui cortado pelo DM e meus quatro companheiros de conquista, Abel, Nielsen, Marco Aurélio e Rubens Galaxe partiram e realizaram o sonho de todos os atletas.

Sem graça, fiquei escondido em casa e faltei aos treinos. E tratei de estudar Direito na Universidade Gama Filho. Eles voltaram sem o título, e eu os reencontrei com o O Capital, de Karl Marx, debaixo do braço.

Phudeu.

O cotidiano deles, nem tanto, mas o meu virou de cabeca pra baixo. Passei a levar para as Laranjeiras, onde ficamos jogando por sete anos, a Constituição debaixo do braço. E colocava, nos quartos da concentração, O Pasquim, Opinião e Movimento no lugar das revistas de futilidades, como Querida e Amiga.

Bicho igual para roupeiro e massagista, término da concentração, anistia para o Mario Sérgio por ter tirado a calça e colocado a bunda fora da janela…comecei a me meter em todas as causas. E não eram poucas.

Se eles soubessem o “monstro” que criaram me deixando por aqui, me levariam mesmo com botinha de esparadrapo para disputar as Olimpíadas.

Evitariam que defendesse, dali pra frente, direitos sociais e trabalhistas que poucos, como Afonsinho e os heróis da Democracia do Corinthians, ousavam defender. Evitariam que um ponta esquerda ocupasse a ponta esquerda das lutas democráticas, como as Diretas Já, a Anistia, quando saísse dali.

Evitariam que, tantos anos depois, levasse tantas pancadas da hipocrisia política quantos a que levei por procurar incessantemente a linha de fundo. E por isso quase toquei o fundo.

Me levar pra Munique, enfim, seria melhor pra todo mundo.

“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 72

por Eduardo Lamas Neiva

A música de Marco Pereira foi providencial pra evitar que as discussões mais acaloradas ganhassem maiores proporções. Zé Ary manteve as disputas na área controladas pra conter os ânimos exaltados, o bate-rebate, e virou o jogo prum outro lado.

Garçom: – Eu não acredito nisso, mas aquela história do Ronaldo, em 98, teve o dedo do patrocinador, como o povo andou dizendo?

Ceguinho Torcedor: – Zé Ary e amigos, somos, os brasileiros, uns Narcisos às avessas, que cospem na própria imagem. Para nós, o futebol não se traduz em termos técnicos e táticos, mas puramente emocionais. Ora, nada se compara ao ódio que, de momento, açula o torcedor sempre que o adversário põe um gol como um ovo.

João Sem Medo: – Haverá sempre uma conspiração na cabeça do torcedor derrotado, ainda mais daquela maneira como foi pra França.

Ceguinho Torcedor: – João, os lorpas, os pascácios poderão objetar que se trata de futebol, apenas o futebol. Não é só o futebol. É, sobretudo, o homem brasileiro.

Garçom: – Houve também quem dissesse que Ronaldo tremeu, amarelou.

João Sem Medo: – Isso é bobagem.

Ceguinho Torcedor: – Também não creio. Mas o jogador é, antes de tudo, um homem e que, nessa base, a condição humana está implicada em todos os seus defeitos e virtudes.

Sobrenatural de Almeida: – Posso jurar que não tive nada com aquilo. Juro pela minha mãe mortinha, até porque ela já está, há muitos e muitos séculos. Hahaha

O povo se acalma um pouco e até ri, mas logo João Sem Medo pôs de novo o dedo na ferida.

João Sem Medo: – Não sou médico, mas um jogador que tem uma convulsão na manhã da final de uma Copa do Mundo, não pode entrar em campo à noite.

Sobrenatural de Almeida: – Isso sim é assombroso!

Idiota da Objetividade: – Zagallo já se defendeu aqui dizendo que o médico garantiu que Ronaldo podia jogar.

João Sem Medo: – Todos viram, ele andou em campo. E o time todo, preocupado com ele, também. Quando Ronaldo deu uma corrida, teve um choque com Barthez, o goleiro da França, no primeiro tempo, que deixou todo mundo sobressaltado. A seleção só acordou no segundo tempo, mas já era tarde.

Garçom: – Alguns jogadores disseram que contariam tudo o que aconteceu lá, mas até hoje nada.

João Sem Medo: – Muita gente ficou com medo de abrir a boca pra não se prejudicar, pois seria muito prejudicado, sabe-se lá até que ponto, principalmente os jogadores. O Edmundo, que jogaria no lugar do Ronaldo aquela final, foi o que mais falou na época, anunciou que botaria a boca no mundo, mas depois achou melhor fazer boca de siri.

Ceguinho Torcedor: – A verdade é que aquela Copa seria a Copa do Ronaldo.

Idiota da Objetividade: – O que só ocorreria quatro anos mais tarde. A de 98 acabou sendo a Copa do Zidane.

Músico: – Desculpe me meter na conversa, mas naquela final com a França parecia que acabaria ali, naquele momento, um sonho daquele menino chamado Ronaldo. Mas, pra sorte nossa e de todos os torcedores brasileiros, com muito esforço dele, o sonho do penta seria realizado em 2002.

Nossos personagens e o público concorda com Angenor Rosa e alguns até aplaudem o breve discurso.

Garçom: Gente, aproveitando o gancho do Angenor, vamos botar pra tocar aqui uma música gravada pelo Evandro Mesquita, um samba-funk chamado justamente de “Sonho de menino”, para o CD “Rumo ao Penta”, lançado em 98. A composição é de Reinaldo Arias e Carlos Colla. Bóra dançar, meu povo!

Quase não houve quem ficasse sentado. Depois de muita dança e diversão, houve certa dispersão, logo interrompida pelo Idiota da Objetividade, que, como um raio, tomou a bola pra prosseguir o jogo na Copa de 98.

Idiota da Objetividade: – O Brasil estreou com vitória sobre a Escócia, por 2 a 1, depois derrotou com facilidade o Marrocos, por 3 a 0, e garantiu a classificação pras oitavas antecipadamente. Acabou sendo derrotada na última partida da primeira fase para a Noruega, por 2 a 1, de virada.

João Sem Medo: – Foi a primeira derrota na primeira fase da seleção brasileira desde a Copa de 66, quando fomos precocemente eliminados, perdendo duas partidas, pra Hungria e pra Portugal.

Idiota da Objetividade: – Verdade, João. Em 66 só ganhamos da Bulgária, na estreia, com gols de Pelé e Garrincha.

João Sem Medo: – Foi a última vez que atuaram juntos.

Idiota da Objetividade: – Exatamente. Bom, voltando a 98, nas oitavas o Brasil goleou o Chile por 4 a 0, passou pela Dinamarca, nas quartas, com uma difícil vitória de 3 a 2, e como já dissemos venceu nos pênaltis a Holanda na semifinal, após empate em 1 a 1 no tempo normal e a prorrogação sem gols. Na final, Zidane, que voltaria a brilhar oito anos depois contra a seleção brasileira, foi o dono da partida, com dois gols, e a França foi campeã pela primeira vez, com os 3 a 0 no placar. O último gol foi marcado por Petit.

Ceguinho Torcedor: – Não fizemos uma campanha brilhante na França, mas com o Fenômeno em forma na final teríamos conquistado o penta na terra de Napoleão Bonaparte, deixando os franceses de quatro e trazendo a Torre Eiffell como nossa taça, em definitivo.

O povo ri com vontade.

Garçom: – Infelizmente não foi assim, né, seu Ceguinho. Mas, se não conquistamos a taça em 98, ao menos tivemos outra música muito bonita para aquela Copa, composta e gravada pelo Gilberto Gil: “Balé da bola”. Vamos ouvir!

*Amigos, chega ao fim aqui a primeira temporada da série “Uma coisa jogada com música”, que durou quase um ano e meio. Vou dar uma parada em agosto e, se Deus quiser, na primeira sexta-feira de setembro a segunda temporada começará com o Capítulo 73, já bem adiantado por sinal. Agradeço muito, de coração, a todo mundo que vem curtindo este trabalho que faz parte do projeto Jogada de Música.

Quer acompanhar a série “Uma coisa jogada com música” desde o início? O link de cada episódio já publicado você encontra aqui (é só clicar).

Saiba mais sobre o projeto Jogada de Música clicando aqui.

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Um gol desse não se perde!

ROMÁRIO, ESTETA DO GOL

por Rubens Lemos

Se alguém me acordasse de um sono profundo em meio a uma guerra e me pedisse uma pessoa para me salvar, não teria dúvidas em dizer: Romário. Se a Divisão Panzer alemã da Segunda Guerra Mundial me ameaçasse inteirinha, eu gritaria por Romário. Numa ilha, solitário, berraria por Romário para me livrar do destino e dos pesadelos.

A primeira Copa do Mundo que “ganhei” de corpo presente foi a de 1994 depois de ver a primeira, em 1978. Quando cenas fatalistas se transformam em imagens esparsas é porque estamos envelhecendo.

Pois se estivesse num abrigo, eu, 80 anos pediria por Romário para contar histórias do tetracampeonato dos Estados Unidos, que está completando três décadas este mês de julho.

Nunca gostei de Zagallo e sua mania de perseguição sobre Romário ampliou a antipatia. O Brasil começou a ganhar o quarto título do planeta em setembro de 1993, quando Parreira, aflito pela possibilidade de eliminação da fase classificatória, ouviu o Mundo e mandou chamar Romário em Barcelona.

Revejo diversas vezes aquele Brasil 2×0 Uruguai, que, senão tivesse Pelé ou Zico, eu diria que foi a maior exibição individual de um jogador diante de quase 200 mil pessoas entre a tensão e a catarse. O Uruguai foi um bom sparring, mas a bola, caprichosa, procurava seu amante.

Romário deu caneta, meia-lua, driblou três adversários e marcou os dois gols que deveriam ilustrar em VT gigante cada peleja no Maracanã dos ricos: seria para mostrar que o futebol acabou no Brasil e um dos motivos foi Romário ter deixado de pisar em campo. Com ele jogando, não tínhamos medo de nada e de ninguém.

Classificada, a seleção convocada foi a mais organizada de todos os tempos, mais até do que a de 1958, brilhante e sem discussões porque tinha Pelé, Garrincha e Didi.

Em 1990, o caricato Sebastião Lazaroni fez um time de compadres, perdeu o comando e nós fomos tragados pelas fintas de Maradona, ele próprio vítima de uma bola por entre as pernas no ano anterior, pelo camisa 11 de amarelo.

Me peçam e conto aqui como foi cada gol de Romário nos Estados Unidos. Na estreia, bateu rasteiro dentro da grande área uma bola vinda de escanteio e escolheu o pé de apoio do goleiro Dimitri Karin, que o havia desafiado dizendo não o conhecer. Quem não conhecia Romário foi vítima de sua fúria técnica.

No mesmo primeiro jogo contra os soviéticos, Romário foi derrubado e Raí, titubeando, bateu o pênalti do 2×0. Contra Camarões, Dunga meteu uma bola de curva, obra de Didi ou Zizinho e a bola caiu em pleno domínio de Romário que bateu na saída do goleiro. Contra a Suécia, ele apresentou ao mundo o toquinho no canto do goleiro Ravelli no empate em 1×1.

O jogo mais difícil do Brasil foi contra os Estados Unidos e Romário presenteou Bebeto com um passe de compasso. Bebetinho só tirou a bola do goleiro Meola. Contra a Holanda, há a batida esplêndida com o peito do pé abrindo o placar que Branco fechou com uma cobrança de falta perfeita. Romário, tão gênio, desviou a bunda da bola e ela entrou no cantinho.

Contra a Suécia, o suor tomou conta de todo brasileiro. Uma sequência de gols perdidos no primeiro tempo, Romário transformando zagueiros em peças caindo uma atrás da outra. Ravelli desejou pegar tudo e estava conseguindo.

A Suécia ameaçou ser a zebra até que no segundo tempo Jorginho, o terceiro maior lateral-direito do Brasil (só perde para Leandro e Carlos Alberto Torres) cruzou como se tivesse uma régua, na cabeça de Romário, que parecia saltar como acrobata das quatro linhas, marcando o gol da ida à final contra a Itália.

Romário perdeu um gol feito no segundo tempo e foi marcado em cima pelo monstro Baresi. Não treinou um pênalti sequer. Parreira olhou para ele. Romário bateu mal, a bola triscou na trave e entrou. O Brasil conquistou o tetracampeonato. Um ótimo time regido por ele, Romário, que também pode ser a melhor palavra a ser dita em vida.

SEM EVARISTO, SURGE PELÉ

por Elso Venâncio

Lenda viva do futebol brasileiro, Evaristo de Macedo reunia os jogadores antes do treino e relembrava histórias: “Pelé, só surgiu porque eu fui para o Barcelona. Vocês sabiam disso? Eu era o 10 da Seleção Brasileira. Só não joguei as Copas de 1958, na Suécia, e 1962, no Chile, porque quem estava no exterior não era convocado. Fui o único jogador a marcar cinco gols no mesmo jogo com a camisa amarela, além de ser o primeiro brasileiro ídolo no Barcelona e no Real Madrid. Não tem esse negócio de Romário, Ronaldo…”. 

Evaristo diz que nunca foi escravo de clube. O passe, por contrato, ficava com ele. “O Flamengo não me vendeu. Acertei com os espanhóis que me procuraram, e sete anos depois voltei a Gávea”.

Romário mantinha-se atento e dava gargalhadas, que podiam ser ouvidas a distância. A falta de qualidade e comprometimento, hoje, torna atual o tema da conversa do treinador na época em que dirigiu o Flamengo.

O sexto lugar que a Seleção Brasileira ocupa nas Eliminatórias sinaliza uma profunda crise técnica. No ranking da FIFA, a Argentina lidera, enquanto o Brasil é o quinto colocado.

Em toda convocação, mesmo com o entra e sai de técnicos, somos surpreendidos com nomes desconhecidos. Se tem a impressão de que, para ser convocado, a prioridade é de quem joga lá fora.

Por que a mudança de comportamento?

Há 30 anos, na Copa de 1994, no tetracampeonato mundial conquistado nos Estados Unidos, os batedores na decisão iam tensos, concentrados para as cobranças, conscientes da responsabilidade que tinham.

Muito antes, o bicampeão do mundo Didi inventou a paradinha no pênalti, imitada por Pelé e depois por Neymar. Fácil executar a paradinha? Didi explicava. “Não, tem que treinar! Falta também! Repetir, repetir…”.

Didi e Gérson conversavam em General Severiano. “Canhotinha, você tem que ensaiar lançamentos”, argumentava Didi, que colocava cadeiras em posições variadas, no suposto campo adversário, e alternava passes de longa distância com Gérson.

O craque Didi defendia a tese de que os convocados da Seleção tinham que atuar no Brasil, à exceção de nomes indiscutíveis, como hoje Neymar e Vini Jr. Você concorda com Didi ou os tempos são outros?