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JAIR E ROBERTO – ÍDOLOS ETERNOS

por Elso Venâncio, o “Repórter Elso

Jairzinho e Roberto Miranda juntos de novo. Descontraídos, contando histórias do tempo em que formavam a inesquecível dupla de ataque. Isso aconteceu na Sede Náutica do Botafogo, na Lagoa, no tradicional churrasco de fim de ano organizado pelo benemérito Antonio Carlos Mantuano.

Numa excursão ao México, o técnico Paraguaio chamou os dois, que estavam no banco. Os garotos substituíram Quarentinha e Zagallo. Nunca mais deixaram de ser titulares. Jair foi à Copa de 1966, mas uma contusão impediu Roberto de acompanhá-lo no Mundial da Inglaterra. Já no Tricampeonato, em 1970, ambos estiveram juntos. Roberto, que disputava a posição com Pelé e Tostão, disputou apenas alguns minutos de dois dos sete jogos que o Brasil fez no México. Jairzinho se tornou o ‘Furacão da Copa’, marcando gols em todos os jogos da vitoriosa campanha.

Além de Jair e Roberto, outros ídolos estiveram presentes nessa festa. Paulo Cézar Caju, Carlos Roberto, Nei Conceição e Moreira, além de Aída dos Santos, lenda do Atletismo que tem hoje 85 anos. Roberto relembrou alguns duelos que travou no passado com o zagueiro Fontana. Ele e Jairzinho, contra Brito e Fontana. Eram duelos mesmo! O futebol era violento e não havia câmaras de TV espalhadas pelo campo. Nem cartão amarelo, que surgiu somente na Copa de 1970.

Roberto e Fontana, após disputas duríssimas e troca de socos no chão, foram expulsos no Maracanã e tiveram de ir direto para a 16ª DP, na Praça da Bandeira. Os advogados combinaram com os jogadores a versão que eles dariam: tinham se desequilibrado no campo molhado e caíram rolando no gramado. Porém, o tempo estava firme. Foi uma noite com direito à lua cheia.

Na frente do delegado, Roberto surgiu com o rosto inchado. Fontana, de olho roxo e com um baita hematoma. O delegado percebeu o teatro e liberou os dois, aconselhando-os a irem a um hospital.

Anos depois, Brito e Fontana jogavam no Cruzeiro. Fontana entrou duro no ‘Furacão da Copa’ e Brito gritou:

– Não faz isso. Eles voltam!

Jair se lembrou de Assis, o zagueiro durão do Fluminense, e as disputas que teve com o ‘xerife’ Moisés, como aquela que o tirou do Campeonato Carioca de 1971, quando a ‘Selefogo’ perdeu o título. Carlos Roberto entrou no papo:

– Na decisão da Copa do Brasil, contra o Atlético, o roupeiro avisou ao Gerson que estava tirando dois pregos das suas chuteiras.

O ‘Canhota’ foi firme:

– Deixa essa porra aí.

Carlinhos completou:

– Paguei o pato. Bianchini, que tinha uma rixa com o Gerson, me rasgou a perna àquele dia.

Ele me mostrou a cicatriz, comprovando a história.

Caju disse que, antes de um jogo contra o Cruzeiro, no Mineirão, o lateral Pedro Paulo falou grosso com ele:

– Ô, rapaz, olha isso aqui…

Levantou o pé e mostrou-lhe as chuteiras com travas altas que brilhavam contra o sol.

A gente ouvia muito nas peladas que “futebol é pra homem”. Até Pelé passou a revidar, aconselhado por seu ídolo Zizinho:

– Garoto, você tem que aprender o jogo bruto, caso contrário vão te quebrar.

Sim, o futebol era violento, mas tinha um punhado de craques. Aliás, supercraques! Eram tantos ídolos que Dirceu Lopes, um gênio da bola, nem Copa do Mundo jogou.

Depois do tricampeonato no México, quando Pelé eternizou o número 10, o craque de cada clube usava a mesma camisa do ‘Rei’. Gerson, Rivellino, Dirceu Lopes, Zico, Eduzinho, Ademir da Guia, Silva Batuta, Parada, Samarone, Jairzinho, todos usavam ou passaram a usar a sagrada 10 do maior de todos, Pelé.

Saudade desses craques… E muitas saudades do nosso eterno Rei Pelé!

IDOLATRIA SEM FIM

por Paulo Cézar Caju

Quando uma pessoa fica muito tempo internada, dizem que a dor da partida é menor, pois temos um tempo para nos preparar para o pior. Não sei quem inventou essa máxima, mas ela não se adequa ao caso do Rei do Futebol. Durante os 30 dias que o craque ficou internado, eu sempre acreditei em um milagre e, talvez por isso, tenha sofrido tanto com o adeus dele na semana passada. Sou suspeito para falar, pois me considero um privilegiado por ter, não so atuado ao lado de Pelé, mas conquistado uma Copa do Mundo ao lado dele. Que vazio que ficou!

A minha mãe, Dona Esmeralda Lima, também é de Três Corações e, desde pequeno, eu já tinha uma idolatria pelo Rei. Essa eu nunca revelei para ninguém, mas quando fui adotado, vivia em um dilema. Nos anos 60, meu pai era treinador daquele timaço do Botafogo com Garrincha, Quarentinha, Zagallo, Didi, Nilton Santos e travava um dos maiores clássicos de todos os tempos com o Santos de Pelé, Mengálvio, Pepe, Coutinho e cia. O natural era eu torcer para o time do meu pai, mas a admiração por Pelé fazia com que um grande ponto de interrogação surgisse na minha cabeça!

Agora, vocês imaginam a minha felicidade quando fui convocado para as Eliminatórias da Copa de 70 e tive o privilégio de dividir a concentração com o maior de todos os tempos? Àquela altura, Pelé já era tetracampeão mundial (dois títulos com a Seleção e mais dois pelo Santos) e a minha idolatria só aumentava. No Retiro dos Padres, em São Conrado, local da nossa concentração, eu adorava ficar ao lado dele para ouvir as suas histórias. Às vezes, em tom de brincadeira, ele até falava para eu largar do pé dele! Kkkk! De tanto ouvir as resenhas, com muito orgulho, acabei virando seu secretário na concentração e fazia algumas ligações quando ele solicitava. Que saudade!

Lembro direitinho dos momentos ao lado dele! Na época com 20 anos, eu parecia estar sonhando por estar ao lado do Rei do Futebol. Inclusive, era dessa maneira que todos o chamavam. Sabem qual é o melhor? Ele nunca se comportou dessa forma e sempre foi um cara humilde, que atendia todos os fãs, dava conselhos para a garotada, um grande ser humano. Eu tinha separado para citar algumas qualidades do Rei dentro de campo, mas ficou tão extenso que prefiro dizer que Pelé era completo! Até bater ele sabia! Kkkk! Quem não se lembra da cotovelada que ele deu no uruguaio depois da agressão covarde que sofreu? Coisa linda!

Me emocionei com as diversas homenagens que fizeram para ele, mas sempre vou achar pouco por tudo que o Rei nos proporcionou. Se algum maluco voltar a dizer que Pelé não jogaria nos dias atuais, juro que vou passar direto. Para matar as saudades, recomendo que assistam o filme “Pelé Eterno”.

Fora de campo, também gostaria de ressaltar tudo que o Rei representou! Em uma época de tanto racismo, quando olhavam torto para os negros em qualquer lugar e ocasião, estendiam o tapete vermelho para o “negão” em qualquer lugar do mundo! Quando ele marcou o milésimo, deixou um recado que é válido até hoje: “Ajudem as crianças desafortunadas, que necessitam do pouco de quem tem muito. (…) Pelo amor de Deus, o povo brasileiro não pode perder mais crianças”.

Gostaria de ressaltar outra frase marcante de Pelé que também cabe nos dias atuais: “O povo brasileiro ainda não está em condições de votar por falta de prática, por falta de educação”. A terceira e última mensagem que queria relembrar foi na sua despedida do Cosmos em New York, quando o Rei pediu mais amor aos seres humanos: “Love, love, love”. Nesses gestos contra o preconceito e a desigualdade, gosto de comparar Pelé a líderes como Nelson Mandela e Martin Luther King!

No mais, obrigado por tudo, Pelé! Que você abençoe e traga luz ao nosso futebol daí de cima, Rei!

Pérolas da semana:

“Mesmo com um futebol amarrado, o jogador agudo tem a leitura de jogo para dar tapas na orelha da bola e desmanchar o terreno na transição. Dessa forma, expande o jogo e dá consistência ao encaixe”.

“Através de uma variação do 3-5-2, o treinador montou uma linha de quatro com dois pitbulls mordendo os adversários atrás da linha da segunda bola que vem no ar. Para fazer a transição, utiliza-se o jogador de beirinha para meter a chapa e pentear a bola com leitura labial”.

E aí, geraldinos! Assim como vocês, não entendo lhufas!

PELÉ EM NATAL: GOLS, GOZAÇÕES, PROVOCAÇÕES

por Rubens Lemos

Foram três partidas em campo e uma jogada empresarial. Nas quatro vezes em que Pelé esteve em Natal, seria redundante escrever que a cidade parou. Pelé pisou primeiro no modestíssimo palco do Estádio Juvenal Lamartine, em amistoso contra o América dia 12 de dezembro de 1971, empreitada da antiga agência Dumbo Promoções que causou prejuízo de R$ 70 mil a preço de 2022.

Natal, em 1971, era a solitária capital a não ter visto o Rei do Futebol e promotor de eventos Carlinhos Silva entendeu que era hora de unir história e lucro. Naquele ano, Pelé se despedira da seleção brasileira e seguia atuando com brilho no Santos.

Excluído da festa, o ABC tratou de boicotá-la. Dirigentes alvinegros espalharam o boato de que haveria outra partida a preços simbólicos e não mais que 4 mil pessoas saíram de casa na tarde chuvosa de um domingo com ares melancólicos. Pelé e o Santos ficaram hospedados no Hotel dos Reis Magos, posto abaixo pela decadência e tiveram toda a paciência possível com fãs e puxa-sacos que impediram o astro de dar mísero mergulho na convidativa piscina da ampla área de lazer.

Em campo, Pelé não esteve ligado, se deixando levar pela marcação do nervoso quarto-zagueiro Ivo. O América se encheu de brios e fez 1×0 na primeira etapa com o atacante paraense Amorim. O Santos seguiu bocejando até o técnico Orlando Peçanha, beque da seleção brasileira campeã de 1958, encher os jogadores de esporros. Edu empatou aos 15 minutos do segundo tempo. Faltando menos de um minuto para acabar o jogo, o árbitro Jáder Correia marcou falta na entrada da área da trave dos fundos do Juvenal Lamartine.
Entra o cômico em cena. O lateral-direito Pimentel Batata implorou a Pelé para que chutasse para fora, para “que o bicho fosse bom para os de casa” e o América ganhasse fama nacional. Mudo, Pelé bateu com estilo no ângulo superior do goleiro Jairo, fazendo 2×1 e dando tapinha nas costas do inconformado Batata: “Garoto, futebol é assim”. O jovem zagueiro rubro, em prantos, protestava: “Você é um Rei, mas não é humano”.

O Santos venceu com Cejas; Orlando Lelé, Paulo, Oberdan e Rildo; Léo Oliveira e Dicá(Nenê); Jáder, Pelé, Edu e Ferreira. O América perdeu com Jairo; Pimentel Batata, Cláudio, Ivo e Duda; Osmar e Gobat; Bagadão, Tuta(Zé Roberto), Petinha e Amorim. Técnico: Pinguela.

Pelé foi embora levando cajus e deixando a camisa 10 para exposição na lendária loja Formosa Síria na Avenida Rio Branco e depois leilão com renda revertida para a Companhia Nacional das Escolas da Comunidade. Recebeu título de cidadão natalense e potiguar.

No dia 29 de novembro de 1972, pelo primeiro Campeonato Brasileiro com a presença de um clube potiguar na divisão principal, Pelé voltou a fazer gol na vitória por 2×0 sobre o ABC diante de 49.150 pagantes, terceiro maior público da história do Estádio Castelo Branco(que passaria a ser chamado de João Machado em 1989 até ser demolido em 2011 para a Copa do mundo de 2014). Edu marcou o outro gol.

O confronto foi cercado de expectativa pelo encontro de Pelé com Alberi, o Deus provincial. Lendas urbanas criaram um lençol de Alberi em Pelé e uma caneta do Rei no Negão, os dois lances desmentidos pelo capitão do ABC, o zagueiro Edson. “Não houve nada disso. Pelé nem estava a fim de jogo e Alberi entrou tenso. Eu dividi com força a bola com Pelé, ele ganhou e fez o gol”, contou Edson em depoimento ao livro Memórias Póstumas do Estádio Assassinado, sobre o Castelão(Machadão).

Além da tietagem de políticos, o duelo foi marcado por uma foto de Pelé com Alberi, e o show do ponta-esquerda Edu. O Santos venceu de Cláudio; Turcão, Vicente, Paulo e Murias; Léo Oliveira, Afonsinho e Pelé; Jair da Costa, Brecha(Pitico) e Edu. ABC: Tião; Sabará, Edson, Quelé e Anchieta(Preta); Maranhão, Orlando e Alberi; Libânio, Baltazar(Everaldo) e Petinha.

No ano seguinte, Pelé ficou irritado com provocações de origem duvidosa e liderou o massacre do Santos sobre o América pelo Campeonato Brasileiro por 6×1, sendo três gols dele. Alunos do curso de Comunicação Social convidaram o Rei para o programa Xeque-Mate, da TV Universitária e, educadamente, Pelé disse não.

Na manhã do jogo, ele estava à beira da piscina do Hotel dos Reis Magos, fustigado por fãs, quando um grupo de jovens vestindo vermelho e portando bandeiras do América passou a xingá-lo de velho e míope. Pelé pediu para esperar pela noite no gramado. Os baderneiros, contam não poucas testemunhas, eram, na verdade, torcedores do ABC, à época suspenso de competições nacionais desejosos de um fracasso rubro. O América vinha fazendo ótima campanha, conquistando a Taça Almir de melhor desempenho entre clubes do Norte e do Nordeste.

Aos 20 minutos do primeiro tempo, Pelé já impunha 4×0 para desespero do público local. Fez questão de ficar em campo os 90 minuto e armou os gols de Mazinho, Eusébio e Brecha. O mais castigado pelos dribles de Pelé foi o capitão e maior zagueiro da história americana, Scala, companheiro do Rei nas Eliminatórias para a Copa de 1970.

Na terceira e última partida de Pelé em Natal, o Santos atuou com Cejas; Hermes, Carlos Alberto Torres(Bianchi), Vicente e Zé Carlos; Clodoaldo e Léo Oliveira(Brecha); Mazinho, Eusébio, Pelé e Edu. América: Ubirajara, Mário Braga, Scala, Djalma e Cosme; Afonsinho e Careca; Almir(Bagadão), João Daniel(Santa Cruz), Hélcio Jacaré e Gilson Porto.

No dia 1º de abril de 1974, em meios aos apelos infrutíferos para disputar a Copa da Alemanha, Pelé veio a Natal de paletó branco e reluzente camisa vermelha assinar os documentos e receber a escritura de um terreno de 1.400 metros no filé imobiliário da praia de Ponta Negra, generosamente doado pelo governador Cortez Pereira. Ouviu piadas irritantes de assessores, entrou no Galaxie do governador e seguiu ao Aeroporto de Parnamirim, onde embarcou para Recife(PE).

PELÉ MORREU. MENTIRA. PELÉ NUNCA MORRERÁ

por Marcos Eduardo Neves

Se Elvis não morreu, Pelé… muito menos. Pelé é eterno.

Hoje o mundo se despede de um corpo. Um corpo de ET. Um corpo perfeito, esculpido pelos anjos do esporte e por deuses do Olimpo, criado para brilhar como o de nenhum outro humano na face da Terra.

Pelé não morreu. Nem jamais morrerá. Pelé sobrevive.

Edson, sim, morreu. O simplório Edson. Humilde como só ele, e que tentou por toda a vida, até o fim, absorver que dentro de si havia algo maior, imortal. Um espírito santificado que lhe tomara a alma, feito pacto de morte. E agora, de vida. Vida eterna.

Edson Arantes do Nascimento ficou exatos 30 dias em um mês no hospital lutando por sua vida, não pela de Pelé.

Covid, infecção respiratória, câncer no colón? Deuses não morrem disso. Deuses são entidades.

Edson se vai, deixando nos parentes a saudade dos momentos íntimos por que passaram nos bastidores.

Pelé fica. Deixando na memória lembranças de genialidade, toda ela pública, exposta aos olhos de todo o planeta por quem nunca teve e nem terá comparação. Quem é único. Quem é História.

Pelé, o futebol te venera. Mas agora o jogo acabou, Edson. E a eternidade apenas se inicia para você, Rei.

Você não foi o corpo que hoje se foi. Você é alma. É espírito. Você é pele. Pele é.

Deus salve o Edson. Porque o Rei está mais do que salvo.

Por tudo o que fez. Tudo que representou. Tudo que te fez o humano mais próximo de Deus.

Deus que agora recebe com todas as honrarias o Edson. Mas não você. Porque você também é um deus.

Louvado seja teu nome, Pelé.

Mil gols farão ao teu lado, outros mil à sua direita, mas você sobreviverá.

Por ter nascido Edson, mas se tornar infinito. Potência máxima, imortalidade plena. Pelé, o eterno.

CAMISA 10 DA ETERNIDADE

por Rubens Lemos

Começando pelos compatriotas: Friendenreich, Leônidas da Silva, Zizinho, Jair Rosa Pinto, Zico menos por vontade de Zico do que da mídia. Todos comparados a Pelé. Nenhum sequer 30% dono do futebol do Crioulo.
No Brasil, inferior complexidade, Pelé sempre foi cobrado mais pelo que seu corpo humano Edson Arantes fazia do que o extraterrestre maravilhoso produziu. O Brasil tinha e terá inveja de Pelé.

Contam os antigões que, Leônidas da Silva, o brilhante propagador da bicicleta, o salto corporal ao infinito para o chute poderoso sem defesa para os goleiros, foi o mais incomodado entre os craques depois da chegada de Pelé.

Pelé mundialmente famoso a partir de 1957, aos 16 anos marcando um gol contra a Argentina diante de 60 mil pessoas no Maracanã, ele um menino atrevido e sem dar a menor peteca às tremedeiras juvenis.

Chegava a entidade capaz de chutar, cabecear, driblar, lançar, bater falta, pênalti, escanteio, ser mau quando preciso, desde que uma bola foi usada sabe-se lá onde. Pelé veio para ser primeiro e incomparável. Ninguém, enquanto existir espécie humana sobre a terra, será, sequer, assemelhado a ele.

Seguiram os invejosos. Na Argentina, Di Stéfano era tão bom ou superior ao neguinho estupendo. Maradona por palavras próprias, era melhor do que Pelé, neurose de milhões de portenhos que jamais admitirão um brasileiro no topo da lista e a anos-luz à frente do segundo colocado, outro brasileiro, Mané Garrincha.

Pelé quatro vezes campeão mundial aos 23 anos, duas pela seleção brasileira, duas pelo Santos. Nenhum dos seus concorrentes forçados chegou perto. Pelé campeão de três das quatro Copas disputadas.
Maradona disputou quatro, ganhou uma, em 1986, esplendoroso. Mas saiu em 1994 pela antessala da eternidade, dopado até a medula apenas no começo da derrocada que lhe tirou a vida. E Maradona foi ilusionista.

Chegando à Europa, ousaram comparar Pelé com o magnífico português Eusébio, destaque na Copa do Mundo de 1966, aquela em que o Brasil convocou 44 jogadores e não conseguiu formar um time.

Eusébio acabou com o Brasil na partida(Portugal 3×1), em que os zagueiros patrícios esfolavam todas as dobradiças do Rei. Do único e irrevogável Rei.

Dois meses depois do Mundial, em um torneio nos Estados Unidos, Pelé pelo Santos e Eusébio pelo Benfica se encontraram. Cara a cara. De testa. E Pelé usou sua filarmônica de jogadas de efeito e gols humilhantes, sem precisar provar nada, apenas mandando os chatos para a PQP. Santos 4×0.

Antes, Pelé havia triturado Eusébio em 1962, em Lisboa, na decisão do Mundial Interclubes, Santos 6×2 Benfica, provavelmente a melhor partida entre clubes da história.

Depois o múltiplo holandês Cruijff na Holanda de 1974. Supercraque. Líder de um carrossel em que ninguém tinha posição. Mas Cruijjff para chegar a Pelé seria preciso um tiro de canhão acertar uma formiga. Pelé aguentando, suportando, ouvindo e rindo.

De todos os pretensos, Maradona foi o mais insistente. Maradona era equivalente a Roberto Rivelino, ele, padroeiro das contradições, dizia e repetia: imitava Rivelino em seu bairro pobre da Villa Fiorito, território da aristocracia boleira de Dieguito. Ele dizia copiar Rivelino para irritar o Rei e porque, a exemplo de todos os milhões de seres humanos, nunca repetiria os toques e traços de Pelé.

Bobagem de blogosfera : Messi se iguala a Pelé. Pecado capital. Pelé não entrava na disputa porque seria referendo, mas experts, sabe com base em quais quesitos, o colocaram em primeiro em 1958/59/60/61/63/65 e em 1970, ano em que, sozinho, teria jogado a Copa do Tri.

Messi, Mbappé , Cristiano Ronaldo, todos os anteriores e posteriores não chegarão nem perto de Pelé. Ele nasceu, como todos os outros, em chão terreno. Pelé é da galáxia espiral da Via Láctea. Na eternidade, a camisa 10 é dele. O corpo de Edson Arantes se vai. Pelé estará invisível em cada campo vazio humilhando zagueiros e matando goleiros.