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ADEUS, AMIGO

por Zé Roberto Padilha

Era assim que nossos treinadores pediam para fazer: “Não deixem o Roberto chegar perto da área!”. Às vezes, eu, Gerson, Assis e Marco Antonio (foto) exagerávamos. Nessa jogada, Taça Guanabara 74, devo ter lhe acertado por trás. Foi mal.

Nesta hora que você nos deixa, e alcança o plano superior, gostaria de lhe agradecer pelo prazer de ter jogado, desde os juvenis, contra um dos mais talentosos e leais centroavantes que enfrentei em minha carreira.

Minha cidade, Três Rios, que teve a honra de sediar seu casamento com a Jurema, junta-se a todos os que, neste momento difícil, solidarizam-se com os seus familiares.

Descanse em paz meu amigo.

O FUTEBOL CHORA POR DINAMITE

por Wesley Machado

Roberto Dinamite certa feita, em uma entrevista, afirmou que o momento de maior sintonia do jogador com o torcedor é o gol. O gol que levanta a torcida, que explode em êxtase. E ele fez isto muitas e muitas vezes. Chutava a bola com a potência de uma dinamite, balançava as redes e corria para a torcida, com o braço direito levantado em sinal de força e luta.

Os cruzmaltinos, em especial, têm o orgulho de ter tido um grande artilheiro e obstinado dirigente, que com seu faro de gol e persistência política deixou uma marca indelével, com relevantes serviços em mais de 25 anos de clube, como jogador e presidente, tendo inclusive deixado de ir para o arquirrival Flamengo e voltado para envergar com amor a camisa do Vasco da Gama.

A saudade era tanta que Dinamite fez logo cinco gols e brindou a sua antiga e amiga torcida com doses extras de felicidade em dias inesquecíveis no Maracanã. E como não lembrar do golaço no meu Botafogo, um voleio após um chapeuzinho, considerado o gol mais bonito do camisa 10 de São Januário.

Os torcedores da Lusa e do Campusca também podem se orgulhar do fato de Dinamite ter vestido suas camisas. A passagem pelo Barça foi rápida, mas ficou na história.

Ficam ainda na história as imagens de Dinamite com a camisa da seleção brasileira nas Copas de 1978 e 1982.

Roberto, Calú, Bob, permanecerá vivo na nossa memória.

Nestes dias cinzas, o céu preparava o luto ao anoitecer de domingo para você, eterno garoto Dinamite, que virou estrela, daquelas gigantes.

Descanse em paz, ídolo de todos nós, amantes do futebol, que choramos sua partida derradeira.

DINAMITE, PELÉ E OS ARCANJOS

por Rubens Lemos

Pelé e Roberto Dinamite, Roberto Dinamite e Pelé enfrentaram-se duas vezes e a vantagem é de Roberto, uma vitória e um empate. Em 14 de outubro de 1973, Maracanã com 44.590 torcedores, os dois deram show. Roberto, aos 21 anos, fez um golaço de sem-pulo. Pelé empatou de falta (1×1).

Nas finais do Brasileiro de 1974, conquistado pelo Vasco, Roberto fez o gol da vitória por 2×1 aos 43 minutos do segundo tempo, Maracanã com cerca de 100 mil pessoas, 13 minutos após Pelé, outra vez de falta, balançar as redes de Andrada.

Meus maiores ídolos no Vasco foram Roberto Dinamite e o meia-armador Geovani, o Pequeno Príncipe. Roberto Dinamite, o artilheiro do sorriso triste, é dos tempos de supremacia flamenguista. Símbolo – ele, Roberto, de dias tristes e raras vitórias obtidas por ele em clássicos contra a seleção comandada por Zico.

O Vasco, gerido por lusitanos de mão fechada, fazia times medíocres, nos quais brilhava a luz solitária de Roberto Dinamite. Ele era um estoico, apanhava sem reclamar, dividia espaço com coadjuvantes de baixo nível e, ainda assim, endurecia os confrontos com o rubro-negro.

O Vasco nos anos 1970 até 1982, quase sempre esteve em desvantagem, exceto pelo timaço de 1977: Mazarópi; Orlando Lelé, Abel, Geraldo e Marco Antônio; Zé Mário, Zanata e Dirceu; Wilsinho, Roberto Dinamite e Ramon.

O mercantilismo dos homens de São Januário desmontou o esquadrão, sendo vendidos logo Zanata e Dirceu, responsáveis pela criatividade no meio-campo. E o Vasco foi recebendo jogadores medíocres do padrão de Peribaldo, Toninho Vanusa, Osnir, Jáder, Washington Rodrigues(uruguaio), Ticão, Amauri e Zandonaide.

Na retina, Flamengo x Vasco de 1979, daqueles jogos que serviam somente para carimbar a superioridade em vermelho e preto. O Flamengo fez 1×0 com Cláudio Adão e Roberto Dinamite empatou de pênalti.

Transmitido pela TV Educativa, na narração do saudoso Januário de Oliveira, o jogo mostrou a rebeldia de Roberto Dinamite, que resolveu desafiar a lógica, marcando três gols de técnica e raça, partindo da intermediária ao gol de Cantarelli. Vencemos por 4×2 e pude, em rara concessão do destino, desafiar a esmagadora maioria flamenguista em sala de aula da 3ª Série. Os pés de Roberto Dinamite significavam meu desabafo.

Em 1982, a seleção brasileira fez seu primeiro jogo do ano contra a Alemanha Oriental em Natal. Roberto Dinamite estava no grupo de jogadores hospedados no antigo Hotel Ducal, primeiro arranha-céu da cidade e hoje um entulho urbano.

Pelas mãos do meu pai, encontrei Roberto Dinamite à beira da piscina. Eu tremendo de timidez, ele com o aspecto blasé que a identificava, semblante sempre aberto e alegre. Foi monossilábico o diálogo, o autógrafo ele assinou no meu caderno escolar, inexplicavelmente perdido nas mudanças de casa que eram revoltantes e costumeiras. Perdi um tesouro.

Roberto Dinamite teria classificado o Brasil contra a Itália. Já havia salvo a seleção brasileira em 1978, contra a Áustria, mas a teimosia do técnico Telê Santana e uma certa antipatia inexplicável afastaram o camisa 10 do Vasco das partidas na Copa da Espanha. Roberto Dinamite sorria o sorriso dos resignados nas cadeiras.

Por preconceito, a mídia sempre tratou Roberto Dinamite como um centroavante trombador. Corram ao Youtube e procurem jogos de Roberto Dinamite mais maduro. Ele demonstra categoria nos passes e liderança natural sobre uma turma de garotos que formou um dos melhores elencos do clube: Geovani, Romário, Mazinho, Mauricinho, Bismarck e William.

Roberto Dinamite morre e eu vou no automático, tecendo linhas de saudade e inconformismo. Roberto Dinamite sofreu na vida, perdeu a primeira esposa, a Cabocla Jurema, de problemas renais, chegou a pensar em parar, foi desprezado pelo Vasco em empréstimos para a Portuguesa de Desportos (SP) e Campo Grande (RJ).

O câncer no intestino fez Roberto Dinamite emagrecer e abutres das redes sociais usavam imagens dele combalido. Aquele Roberto Dinamite era miragem do original, explosivo, generoso, fundamental. O homem que me deu mais alegrias na vida em quatro linhas.

Pelé, certamente, faz as honras da casa divina, onde Roberto Dinamite ocupará o ataque em gols sob o som de arcanjos vascaínos. Aqui, me agasalho na solidão das lágrimas aflitivas.

A CASA DO MADUREIRA

por Zé Roberto Padilha

Depois de mais um fracasso mundial do nosso futebol, o já combalido Campeonato Carioca começa da pior maneira possível.

Logo na segunda rodada, com ingressos a R$ 400 mais taxa de 60 reais, Flamengo enfrenta o Madureira em Cariacica, no Espírito Santo. E com time Sub-20.

No lugar de cobrar ingressos ao vivo mais barato do que o sentado na poltrona pagando o Canal Premiére, a Federação de Futebol do Rio continua a afastar seu público dos estádios. E logo de Madureira, que o Arlindo disse ser o nosso lugar?

Não basta torcer por uma seleção que, por seus convocados jogarem na Europa, você só os assiste pela televisão. Agora, até os jogos do Madureira vão estar distantes.

Madureira é o nosso lugar. De sambar na Portela e Império Serrano que são de lá. Mais sair de lá, do berço do samba e do futebol para vê-la atuar no Espírito Santo é retirar, de vez, a magia carioca do seu ex-cultuado estadual.

Obs: bebês entram de graça, segundo o site oficial da FERJ. Ainda bem!

BEM-VINDO, CENTROAVANTE

por Claudio Lovato

Em 1972, no comecinho do ano, eu e minha família chegávamos a Porto Alegre, vindos de Santa Maria, minha cidade natal, situada no exato centro geográfico do Rio Grande do Sul. Eu tinha 6 anos. Eu não me lembro de quantos dias se passaram até que eu e meu velho entrássemos num táxi e nos colocássemos no rumo do Olímpico – só sei que foram poucos. Afinal, se o nosso primeiro endereço, o residencial, era na Rua João Manoel, no centro da cidade, o outro endereço, o do coração azul, preto e branco, ficava no Bairro Azenha, e era preciso tomar posse deste também, o quanto antes. E, claro, foi maravilhoso.

Nosso time tinha, entre outros heróis da gloriosa história tricolor, Espinosa, lateral-direito que se tornaria o técnico do nosso campeonato mundial conquistado em Tóquio 11 anos depois; tinha Everaldo, Flecha, Oberti, Loivo… E na zaga central, lá estava ele: Atílio Genaro Ancheta Weiguel, eleito o melhor em sua posição na Copa do Mundo de 70, no México. Uruguaio nascido em Florida. Ancheta foi e continua sendo um dos meus grandes ídolos no futebol. Aos 9 anos, ganhei uma camiseta do Grêmio com o número 2 às costas, o número do Ancheta. O Museu da Pelada publicou um conto meu chamado “O número 2 do Ancheta, costurado torto”, do qual muito orgulho e que segue me emocionando a cada releitura.

Nesta quarta-feira, dia 4 de janeiro de 2023, Ancheta estava lá, agora na Arena, entregando a camisa número 9 a seu compatriota Luisito Suárez, o artilheiro nascido em Salto, sob os aplausos de mais de 40 mil torcedores, que fizeram da recepção ao Pistolero um maravilhoso e inesquecível espetáculo.

Ancheta jogou no Grêmio entre 1971 e 1980. Ele foi um dos craques que mais contribuíram para que o menino de Santa Maria que o assistia da arquibancada tivesse a certeza de que se tornaria jogador de futebol. Isso não aconteceu, mas foi lindo acreditar que assim seria. Ainda é, até hoje, quando o guri da arquibancada se aproxima das seis décadas de vida.

Quase seis décadas de vida e os olhos molhados vendo as imagens da apresentação de Luis Suárez na nossa casa, hoje não mais situada na Azenha, mas no Humaitá. Mais de 40 mil pessoas cantando e aplaudindo o novo herói que chega. Muitas crianças, muitos adolescentes, mas também muitos representantes da velha-guarda, alguns dos quais presenciaram in loco a cena do zagueiro uruguaio, então com 29 anos, ao lado de Tarciso, André, Éder, Oberdan, Tadeu Ricci, Iúra e outras feras, levantando a taça do histórico campeonato gaúcho de 1977.

A chegada de Luisito Suárez é um presente que enche de alegria e orgulho o coração de todos os gremistas. Muitos de nós – e eu sou um destes casos – somos fãs de carteirinha do centroavante desde que ele surgiu para o mundo do futebol, no Nacional de Montevidéu, mesmo clube que formou Ancheta e outro de nossos grandes ídolos, Hugo De León, uruguaio de Rivera, o grande capitão da nossa primeira Libertadores e do nosso Mundial.

O abraço de Ancheta e Suárez no centro do gramado da Arena simbolizou a força e a constância de um sentimento que une uma torcida e seu clube através de gerações. Isso começou em 1903 e – os deuses do futebol já asseguraram – jamais terá fim.

Bem-vindo, Luisito. Estamos juntos, centroavante. Te queríamos muito entre nós e agora já és parte da nossa História.