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“CADÊ VOCÊ, MEU FILHO?”

por Zé Roberto Padilha

Se soubesse que minha mãe, cujo filho a largou aos 16 anos e saiu correndo atrás da bola pelos cantos do país, iria sofrer tanto sem ver nossa carinha, tentaria desde cedo fazer gols. E deixar de ser armadinho.

Começando no salão, eu e os que nascem habilidosos por serem canhotos, vamos aperfeiçoando dribles, domínio da bola e nos especializando em realizar assistências. Marcamos gols, mas vão se tornando raros porque essa tarefa cabe aos destros, altos e egoístas que ficam parado lá ns frente e poucos voltam para ajudar na marcação.

E quando você vai para o campo, se afasta ainda mais do gol por ser ponta esquerda. As orientações eram para chegar à linha de fundo e cruzar no segundo pau para o Flávio, Mickey, Té, Artime, Manfrine e até o Dionísio, o Bode Atômico.

Como estava jogando no Rio, e Três Rios é pertinho, acabava o jogo voltava para os braços da mamãe. Era o filhinho querido, diziam meus irmãos, por sair de casa mais cedo e blá, blá, blá….

Acusado, injustamente, por uns de que era seu puxa-saco, e denunciado por outros como cínico, tudo bem, aí encontraram indícios, suposições …mas prescreveu.

Até que fui parar em Recife. Foram dois anos e meio defendendo o Santa Cruz. Sem Internet, telefone tinha que entrar na fila para ter acesso à cabine, só restava para minha mãe nos ver nos Gols do Fantástico. Como não fazia gols, ela suplicava aos domingos: “Cadê você, meu filho!”.

Nunes, Betinho e Luiz Fumanchú não tinham esse problema. Nunes, então, começando, aparecia mais no Fantástico do que Michael Jackson e Sônia Braga. Só tinha um jeito: treinar piques rápidos em direção aos meus artilheiros.

E quando Léo Batista descrevia os seus gols, minha mão já estava agarrada aos seus pescoços. A outra, acenava do Arruda para Dona Janet. “Oi, mãe. Estou bem, obrigado. Bjs.”

Sei que ela preferia que os marcasse, mas quem nasce para armandinho se torna, no futebol moderno, um assistencialista. Ser protagonista, autor da obra, que é bom mesmo, era tarefa pra quem sabe marcar e tinha direito de aparecer no Fantástico.

O show da vida para os que foram além das preliminares de um lançamento em profundidade. De um duelo à parte com seus marcadores não transmitidos para todo o país via satélite.

E aprenderam, desde cedo, a atingir o orgasmo quando depositam a bola nos fundos das redes adversárias.

HALL DA FAMA DO OPERÁRIO

por Sullivan Oliveira

O movimento Hall da Fama do Operário foi idealizado em 2022 e está prestes a sair do papel! Agora, no início de 2023, unindo as torcidas operarianas, diretoria do clube e ex-jogadores, o projeto vem para se solidificar pela cultura de respeito aos grandes ídolos do clube.

Vale destacar que o projeto já detém preservadas as marcas dos ídolos Arturzinho (ídolo do Operário de Campo Grande, Fluminense, Bangu, Vasco da Gama, Corinthians, Bahia, Vitória e Democrata de Governador Valadares/MG) Pastoril (ídolo do Pontaporanense, Comercial-MS, Blumenau, Sãocarlense, Operário MS, Fernandópolis, Goiás, Atlético Mineiro, Mixto, Vasco), Cocada (ídolo do Operário de Campo Grande e Vasco) e do goleiro Manga (ídolo do Sport, Botafogo, Nacional, Internacional, Operário de Campo Grande, Coritiba, Grêmio, Barcelona de Guayaquil).

Ainda no mês de janeiro, irão ser coletadas em uma única ação mais de 20 marcas, o que representa um marco nas ações dos clubes de futebol, a nível mundial, pois nunca nenhum clube do planeta fez ação de captação com tantos ídolos em uma única operação.

O Hall da Fama do Operário abre o projeto da edificação do futuro Memorial Operariano que já esta sendo trabalhado para nesse ano ainda estar protegendo o rico legado de conquistas do gigante galo do Mato Grosso do Sul.

O DIA EM QUE BORRACHINHA FEZ O MARACANÃ “TREMER”

por Marcos Vinicius Cabral

Os olhos de Borrachinha – apelido herdado do pai Luís Borracha, goleiro do Flamengo nos anos de 1940 – permaneciam fechados enquanto Perivaldo, China, Mendonça, Búfalo Gil, Renato Sá e o restante dos jogadores do Botafogo enfileirados aguardavam a entrada em campo. Era vida ou morte. Céu ou inferno. Sucesso ou fracasso.

Aquele Botafogo e Flamengo do Campeonato Carioca de 1979, era um daqueles jogos em que o herói entra para a galeria dos imortais do clube ou se torna vilão eterno.

Mas no caso de Borrachinha, herói sem capa e super poderes, nenhum botafoguense que se preze esquece daquela tarde em que o Botafogo venceu o Flamengo por 1 a 0 em partida que só faltou o camisa 1 fazer ‘chover’.

No entanto, aqueles 90 minutos significariam mais um jogo difícil apitado por José Roberto Wright e que consagrariam qualquer um daqueles 22 jogadores que assinaram a súmula do confronto histórico.

Confiante, a Nação Rubro-Negra, cerca de 90% nas arquibancadas do Maracanã, acreditava que o time chegaria à 53ª vitória e manteria a invencibilidade.

Já a exigente torcida alvinegra não confiava no time e muito menos em Borrachinha, reserva de Ubirajara – contundido – e Zé Carlos – que com as pernas fraturadas se recuperava de um acidente de carro em Niterói e não pôde enfrentar Zico & Cia, invictos há 52 jogos.

– Estudava Educação Física na Universidade Castelo Branco, em Realengo, Zona Oeste, quando fui avisado para comparecer à sede do Mourisco, em Botafogo, Zona Sul. Ao chegar, recebi a notícia do acidente do Zé Carlos e fiquei preocupado com ele, mas apesar do susto ele estava vivo e bem! – demonstrou-se preocupado com o triste episódio.

Ferido por dentro com o problema do amigo, Borrachinha, que em nenhum momento deixou de acreditar no potencial e nas qualidades do bom goleiro que era – ora, ninguém sobrevive e sai ileso após enfrentar o Santos de Pelé e Cláudio Adão em começo de carreira, e a Academia do Palmeiras de Ademir da Guia – sabia que mais cedo ou mais tarde uma oportunidade bateria à porta.

– Fui indicado pelo treinador Paulo Amaral, cheguei ao Botafogo em 1977, após ser campeão de um torneio pelo Nacional de Manaus. Dois anos depois, Joel Martins assumiu a equipe principal e me chamou para uma conversa. Eu era o segundo goleiro, mas disse que iria ficar com o Luis Carlos, com quem havia trabalhado nos juniores e que eu, com 28 anos, seria melhor buscar uma outra equipe! – revelou resignado ao lembrar que ficou de 1977 a 1979 treinando no clube sem contrato e na expectativa de surgir um clube interessado.

Mas há quem diga que o goleiro é o médico do futebol e que um erro torna-se mortal. Mas Borrachinha sabia que o par de luvas seria o seu estetoscópio e que em breve seria utilizado para operar milagres.

O destino ia, aos poucos, fazendo com que as coisas fossem, como quebra-cabeça, sendo montadas.

– No jogo contra o Americano de Campos, o Luís Carlos falhou nos dois gols que sofreu no empate. Estava no banco e a torcida não perdoou… sabe como é a vida de goleiro, né? – afirmou confiante de que a hora de mostrar suas qualidades técnicas estava se aproximando.

Faltando duas semanas para o confronto com o Flamengo, até então invicto há 52 jogos, Borrachinha teve a chance tão aguardada e ajudou o Botafogo a vencer o Olaria por 2 a 1 em Marechal Hermes.

Mantido titular, na semana seguinte, no amistoso em Juiz de Fora, embora o resultado fosse um insosso empate sem gols, o novo titular do gol alvinegro foi muito exigido. Deu conta do recado.

Uma semana depois seria o jogo contra o todo poderoso Flamengo, montado por Cláudio Coutinho já visando conquistar o Campeonato Brasileiro, a Taça Libertadores e o Mundial de Clubes.

Enquanto o ambiente na Gávea era o melhor possível, em Marechal Hermes, a interferência da diretoria alvinegra sobre o treinador e o departamento médico chegaram aos ouvidos do elenco.

– Isso pegou muito mal. O Ubirajara e o Luis Carlos estavam contundidos, não tinham a mínima condição de treinar, tampouco jogar. Os médicos, chefiados pelo doutor Lídio Toledo, foram categóricos. O treinador manteve-se firme, não deu a escalação, enquanto trabalhei duro durante aquela semana. Foram sete dias tão especiais que até o Zé Carlos, de muletas, veio me incentivar nos treinamentos! – lembrou emocionado.

Mas o que Borrachinha não esquece foram as palavras incentivadoras do amigo Mendonça na concentração dois dias antes do histórico confronto. Segundo ele, nessa história toda, a relação com o clássico meia de armação alvinegro foi um capítulo à parte.

– Lembro como se fosse hoje. Na noite de sexta-feira, dois dias antes do jogo, na concentração, sentei com o Mendonça e falei: ‘Não me importo se não conseguir outra oportunidade aqui no clube. Eu só quero jogar está partida’. Mendonça disse que ele e os demais jogadores acreditavam em mim e que venceríamos o Flamengo. Foi inesquecível! – diz.

O dia D havia enfim, chegado. Estádio apinhado e tomado por alvinegros e rubro-negros, a expectativa era de um grande jogo. Jogadores de Botafogo e Flamengo chegaram no Maracanã às 14h. Alguns liam jornais, outros ouviam músicas em fitas-cassetes, outros batiam papo e Borrachinha, sempre introspectivo, permanecia reservado Não queria desviar a atenção para outra coisa que não fosse o jogo. Só pensava no Flamengo. Era 100% concentração e ignorava o fato do pai estar como massagista do adversário.

Com camisa e luvas verdes da marca alemã Puma – o time alvinegro todo usava Adidas -, short preto e meiões cinzas, o camisa 1 e agora titular, estava focado. E começará desde cedo a liturgia pré-jogo.

– Me preparei para aquela partida desde o momento em que fiquei sabendo que jogaria. Aquele jogo era o mais importante da minha vida! – contou e relembrou que o Flamengo estava 4.680 minutos sem ser derrotado.

O silêncio sepulcral era quebrado pela ovação dos 139.098 torcedores que entre alvinegros e rubro-negros faziam ‘tremer’ as arquibancadas do Maracanã naquela tarde de 3 de junho de 1979.

Mas havia, havia sim, muita coisa em jogo naquele Flamengo e Botafogo da Taça Guanabara.

– Quando subi as escadas do fosso que dá acesso ao campo, olhei aquele anel gigantesco de alvinegros e rubro-negros e pensei: é hoje que a cobra vai ‘fumar’. A primeira bola que peguei foi no cruzamento do Júlio César Uri Geller. Imediatamente, bateu uma tranquilidade e a adrenalina foi diminuindo. Depois peguei uma outra do Cláudio Adão, que eu conhecia muito bem da época do Santos, já que havia enfrentado esse grande artilheiro do futebol brasileiro, que teve Rubem Feijão como companheiro de ataque na Vila Belmiro naquele que seria o último jogo de Pelé antes dele ir jogar no Cosmos dos Estados Unidos em 1974. Não queria jogar outras partidas bem, eu queria jogar aquele clássico. Era o jogo da minha vida! – confessou e lembrou que o fato de ter começado a carreira na Gávea e enfrentado o Flamengo algumas vezes por outros clubes serviu como um aspecto motivacional.

Aos nove minutos, gol de Renato Sá, que coincidentemente, foi o mesmo jogador que acabaria com a invencibilidade de 52 partidas invictas do Botafogo quando era jogador do Grêmio em 1978 (o recorde mundial pertence ao Glasgow Celtic FC, da Escócia, que permaneceu 62 jogos invicto entre 1915 e 1917).

– Aquele domingo foi um dia atípico, já que saímos da casa do presidente Charles Borer, onde estávamos concentrados, em Jacarepaguá. O ônibus, sem ar condicionado, nos fez sofrer nas quase duas horas de viagem até o Maracanã. Já no vestiário, o concreto tremia na nossa cabeça e lá de baixo a gente só ouvia a torcida gritar: ‘Mengo, Mengo, Mengo…’ e dava um frio na barriga. Deitamos nas banheiras, colocamos os pés para cima e ficamos descansando por uma hora e meia. Sabíamos a pressão que seria enfrentar o Flamengo, invicto há 52 jogos, voando, um timaço e que engolia a nossa torcida nas arquibancadas. O cenário era tão devastador e ao mesmo tempo contraditório! – afirmou Renato Sá.

Contudo, os jogadores foram saudar a torcida alvinegra e Renato Sá, até hoje, acha que a sorte foi determinante para o resultado naquele tarde.

– A verdade é que tivemos sorte. O nosso time do meio para frente estava entrosado com Marcelo Oliveira, eu, Mendonça, Búfalo Gil e Ziza. Fizemos uma jogada pela esquerda do Junior, que jogou uma barbaridade, e quando a bola chegou até a mim, dominei no peito, tirei o Toninho Baiano da jogada e bati de esquerda no cantinho do Cantareli. Ela (a bola) entrou chorando, mas se não for assim não é Botafogo!! – confessou rindo.

Mas a sorte ajuda a quem trabalha. E esteve, segundo Sá, a favor de Borrachinha em partida abençoada.

– A grande figura do jogo chama-se Borrachinha. O homem estava inspirado, fechou o gol e até bola na gaveta do Zico ele defendeu. No fim, foi o melhor em campo e eu tive a felicidade de viver isso! – declarou.

Mas a grande defesa foi mesmo em um chute de Zico, que na entrada da área bateu no ângulo esquerdo.

– Foi um lindo arremate que foi no ângulo. A torcida do Flamengo já gritava gol quando fui lá de mão trocada e espalmei para escanteio! – contou o herói que garantiu a vitória, a quebra da invencibilidade da equipe rubro-negra e manteve o Alvinegro detentor da marca histórica de 52 jogos sem perder.

– Até hoje, passado tanto tempo desse jogo, sonho com a defesa no chute do Zico! – revelou o segredo guardado há mais de 40 anos.

Depois dessa impecável atuação, Borrachinha foi titular no Campeonato Brasileiro no mesmo ano. Já o futuro no clube…

– Foram dois anos de muitos treinos esperando uma oportunidade. Ela veio e aproveitei. Só que na hora de renovar meu contrato, conversei com o vice-presidente, acertamos luvas e salários e a diretoria queria que assinasse o contrato em branco. Pior de tudo foi que contratou o Paulo Sérgio sem que ninguém soubesse. Vai entender! – brincou.

Atualmente, o ex-goleiro Borrachinha, apelido de José Luiz de Moura, tem 73 anos e ensina jovens goleiros em uma academia de futebol em Doha, no Catar, a operarem milagres como os que operou contra o Flamengo há quase 44 anos.

ESTREIA DE SUÁREZ FAZ LEMBRAR A DE RIVELLINO

por Marcos Eduardo Neves

A sensacional estreia de Luis Suárez pelo Grêmio – tudo bem que diante do modestíssimo São Luiz, do interior gaúcho, valendo pela não menos modesta Recopa Gaúcha – fez muita gente recordar a contratação de Rivellino por um outro tricolor nacional. Em baixa, após perder o título paulista de 1974 para o Palmeiras, o então ‘Reizinho do Parque’, ídolo de um Corinthians que, devido à existência de Pelé, não ganhava títulos, o meia trocou o ‘Timão’ pelo ‘timinho’, como era chamado, pejorativamente, o Fluminense da época, principalmente pelas torcidas rivais.

Rivellino, ídolo de Maradona, marcou três gols em seu ex-clube, naquele 8 de fevereiro de 1975. O Tricolor goleou por 4 a 1. Mesmo feito e mesmo placar do primeiro jogo de Suárez pelo novo clube, partida que levou 50 mil torcedores à Arena gremista. Detalhe: o uruguaio precisou de apenas 37 minutos para cravar seu primeiro hat-trick no Brasil.

Temos de parabenizar os times brasileiros que investem em astros estrangeiros. Afinal, nosso futebol é pentacampeão mundial, mas nossas torcidas têm como ídolos craques de diversas nacionalidades. Sem fazer pesquisas, acolhemos jogadores históricos por aqui. Como Gamarra, Figueroa, Darío Pereyra, Lugano, Reyes, Petkovic, Romerito, Asprilla, Rincón, Guerrero, Arrascaeta, Sorín, Seedorf, Loco Abreu, Forlán (pai e filho) e Carlitos Tévez, entre outros – se me estender, não vai caber neste texto a relação. Muitos não deram certo, é verdade. Como Borghi, Fillol e outros craques de renome internacional. Mas Suárez tem bola e coração suficientes para marcar História no Rio Grande do Sul.

De volta à elite do futebol nacional, o Grêmio, que festeja quatro décadas neste ano de seu Mundial Interclubes, abrilhantará os estádios país afora com a presença de Suárez, que tanto fez pelo Barcelona e pelo Uruguai, principalmente na Copa de 2010. Assim como um dos últimos biografados meus, Loco Abreu. Por isso, boa sorte, ‘pistolero’!

ANGÚSTIAS DE 76

por Zé Roberto Padilha

As rádios só tocavam Belchior em 76: ” Estava mais angustiado que o goleiro na hora do gol…”.

E era natural que ao colocar a bola na marca da cal para bater o terceiro pênalti da decisão da Taça Guanabara, entre Flamengo X Vasco, diante de 124 mil pagantes, entre eles toda a minha família que chegara de Kombi, de Três Rios, tenha lembrado da música.

E uma imensa vontade de corrigir aquela letra. Pois ninguém fica mais angustiado que o batedor na hora do pênalti. Se o Mazarópi pega, vira herói. Se eu perco, viro o vilão daquela decisão.

Quando ajeitei a bola e levantei a cabeça, cadê o gol? Cabeças da geral se juntaram as cabeças das cadeiras que encaixaram na dos arquibaldos. Só dava para distinguir os filetes brancos das traves.

E o goleiro vascaíno ainda estava de preto, quase um vulto a proteger aquela tela de Djanira que escondia o alvo fininho das redes.

Para complicar ainda mais os refletores eram precários, lâmpadas de Led eram luzes de tempos distantes. Perante tamanha falta de visão só nos restou a súplica, um último desejo ao destino que me jogara até ali: que não errasse a bola. Tão pequena, branca com a marca Drible e inocente à minha frente.

Depois de haver perdido um pênalti em uma preliminar de juvenis, Lula, ponta esquerda titular do Flu e da seleção, me chamou após um treinamento nas Larajeiras e revelou o seu segredo.

Bater forte com o peito do pé e de curva à direita do goleiro, tendo como referência a trave para a bola realizar uma trajetória contraria ao salto do goleiro.

E quando fui bater na bola, Mazarópi, que nos conhecia das divisões de base, se atirou para aquele canto. E uma tia kardecista, que nunca faltou na minha família, percebeu a manobra e em cima da hora virou meu tornozelo para o outro lado.

A bola caprichosamente encontrou as redes do outro canto. Assustado, confuso e aliviado, voltava para o meio campo quando ouvi de passagem o comentário de um Apolinho da Globo: “Quem sabe, sabe!”

Não, ninguém sabe o que passa na cabeça de um cobrador de pênaltis. Em decisões, então, esquece. São tantas alegrias e tristezas que serão definidas por uma cobrança que ela deveria ser mesmo batida pelo presidente do clube. Se machucado, pelo presidente do Conselho Deliberativo.

Se convertemos, com um gol daquele tamanho, nada mais fizemos do que a nossa obrigação. Perdendo, pergunte ao Marquinhos o que ele sentiu quando acertou a trave da Croácia e nos eliminou da Copa do Mundo do Catar.

Certamente, foram angústias vividas em 2022 que nem o Belchior, essa sim uma perda bem maior, estava entre nós para descrever o que passou na cabeça daquele rapaz latino americano, sem parentes importantes e vindo do interior.

Só quem bateu e perdeu sabe do que estou falando.

A propósito, perdemos a decisão e alcancei a proeza, no Flamengo, de ser vice do Vasco. Minhas tias kardecistas não foram escaladas para todas as penalidades.